A Pergunta

Francisco Martins Rodrigues

15 de Janeiro de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 15 de Janeiro de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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O sr. Miguel Urbano Rodrigues tem o condão detransformar em caricatura as análises do dr. ÁlvaroCunhal. Diz por claro aquilo que o secretário-geral do PCP envolve em cautelosas reservas. Por isso é bom ler o diário de vez em quando. Vejam só o que lá encontrei no passado dia 2:

No dia 7 de Dezembro o povo de Portugal deu a sua resposta ao ultimato da reacção. O general RamalhoEanes foi reeleito com 56 por cento dos votos, derrotando fragorosamente o candidato da AD.

Bem se pode falar de acontecimento histórico (...) A heróica classe operária portuguesa soube em circunstâncias de beira do abismo, bater-se com inexcedível firmeza e coragem. (...)

O inimigo não conseguira ultrapassar a penúltima trincheira. Fora detido pela classe operária mais combativa e revolucionária da Europa. A vitalidade da Revolução Portuguesa afirmava-se mais uma vez. A força das suas raízes bem mergulhadas no solo fecundado pelas conquistas de Abril impressionava novamente o mundo".

Só à falta de senso do sr. Urbano Rodrigues lembraria esta de pôr o mundo pasmado para os combates em Portugal (?!), a culminar na salvadora reeleiçáo do general Eanes.

Mas porque inventa ele esta epopeia de papelão! Para ver se cala a pergunta incómoda que lateja no movimento operário e popular: Será que a unica maneira de derrotar Soares Carneiro era a rendição incondicional a Eanes? Porque não houve lugar para uma candidatura de Abril? Como é que tivemos uma “estrondosa vitória da democracia” se se acelera arecuperação capitalista, latifundiária e imperialista?

Os chefes do PCP sabem que a capa de gelo reformista que contém o descontentamento dos pobres é delgada e pode estalar. Sabem com que rapidez imprevista a desmoralização e a apatia podem detonar explosões de indignação.

Por isso se empenham em consolidar os diques de defesa da ordem: convencer os trabalhadores de que a desgraçada vigarice do voto em Eanes foi uma grande vitória, amachucar-lhes a confiança, fazer com que se orgulhem das cedências que os amarguram. E suprimiras vozes incómodas. Para demonstrar que não pretendem cobrar nenhuma factura pela ajuda que deram a Eanes.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha

Inclusão 02/12/2018