O Sítio

Francisco Martins Rodrigues

20 de Janeiro de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 20 de Janeiro de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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Somos uma nação independente ou um sítio? A dúvida, que há duzentos anos tira o sono aos portugueses, está em vias de ser esclarecida. Das últimas idas e vindas de altas personalidades, apura-se o seguinte: os americanos querem ampliar as Lajes para estacionar a sua Força de Intervenção Rápida, destinada ao Médio Oriente. Querem passar a usar a base de Beja para bombardeiros. Querem uma base aeronaval em Porto Santo. Querem estacionar um porta-aviões nuclear num ponto da costa, Setúbal, Sines ou Lagos. Querem ainda, ao que se supõe, apoio de Portugal para o relançamento da UNITA em Angola. Só isto!

E os figurões do Governo e do Estado-Maior como reagem? Azevedo Coutinho congratula-se pelas novas perspectivas de receber armas dos Estados Unidos. Melo Egídio volta eufórico da reunião de Bruxelas. Firmino Miguel pede aberturas não vá o Pentágono virar-se para Espanha. Só não explicam que o preço é a entrega de Portugal ao Exército norte-americano.

Quem não está com meias medidas é "O Dia", que já pergunta: "Qual é o espanto se a Força de Intervenção Rápida estacionar em território nacional?" De facto, qual é o espanto?

Entusiasmados com o negócio, os homens já nem sequer se dão ao trabalho de salvar as aparências. O secretário da Defesa Weinberger reúne no Estado-Maior em Lisboa, com os oficiais superiores das Forças Armadas portuguesas, para dar andamento à operação. E o ministro Azevedo Coutinho, no regresso de Bruxelas, aproveita uma boleia num avião da Força Aérea dos USA...

Que fazer? Evidentemente, exigir a saída da NATO, agora. Criar um tal tumulto que torne impossível ao governo levar a tramóia por diante.

Pois é! Mas vão lá perguntar quantos são os partidos dispostos a pegar na questão. [falha no original] pegas! Uns por "idealismo", outros por realismo", quase todos se põem de parte.

Vivemos um momento em que aqueles não são cúmplices na pouca vergonha têm que ter a audácia de vir para a rua gritar a verdade. O povo compreenderá se lhe dissermos: Isto aqui não é um corredor de passagem de tropas, nem um triângulo ibero-atlântico, nem um polígono de mísseis. Não somos um sítio. Somos um país!


Inclusão 22/08/2019