Os Chulos

Francisco Martins Rodrigues

1 de Abril de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 1 de Abril de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando A. S. Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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“Este tropel de greves retira aos cidadãos os seus mais elementares direitos", protesta colérica "A Tarde" de sexta-feira, apelando a uma reacção enérgica do Governo.

O Governo faz o que pode. Já mandou dizer umas poucas de vezes que não consente aumentos acima dos 16%. Fez avisos terríficos ao pessoal da Petroquímica para que não insistisse na greve. Mas teve de recuar, que remédio! Tudo mexe nas empresas. Ou melhor, tudo para. Da Sorefame à Cometna, dos marinheiros à Mague, dos STCP à Função Pública, da CEL-CAT à Rodoviária, é um vê se te avias. Plenários e greves, greves e plenários. "Queremos o nosso", é o sóbrio argumento dos trabalhadores.

O caso é que a classe operária está farta de ser chulada à conta da crise económica. O açúcar aumentou 33%, o arroz 40%, o pão vai subir 20%, o leite mais 30%. Porque é que não impõem um tecto aos lucros? É só fazer fortuna à nossa custa?

E ainda vem um dr. Heitor Salgueiro, director da CIP, dizer que "os privilégios concedidos aos trabalhadores pela lei portuguesa afectam gravemente a nossa competitividade face à CEE". Privilégios, hein?

O primeiro ministro está com 64.700$00, fora as despesas de representação e ajudas de custo. O Presidente da República tem a miséria de 60.100$00. O Alberto Jardim, da Madeira. 57.600$00. Até anda com as camisas passajadas, coitado!

Há dias. os deputados do PSD da Madeira, fartos de passar fominha, aprovaram um decreto radical: aumentaram os seus próprios vencimentos de 19.200$00 para 32.300$00. Quase 60%. Foi o tecto salarial pelos ares! E com seis meses de retroactivosl

"Um roubo", resumiu o padre José Martins, da UDP, ao votar contra a escandaleira. Os deputados do PCP. embaraçados, abstiveram-se. "Bom", explicou um deles, "a gente não está de acordo com o aumento. Mas também não estamos em desacordo..."

Por alguma razão há quem lhes chame feijão frade. Funcionam para os dois lados.

E os figurões do Secretariado da CGTP, que ainda há um mês elogiaram nos jornais a "abertura" do Ministério do Trabalho e organizaram uma "semana de luta" tão submarina que ninguém deu por ela, já começam a falar cheios de brios na grande vaga de lutas e no grande 1° de Maio que aí vêm. Apesar de vocês. chiça!


Inclusão 30/05/2018