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Primeira Edição: Bandeira Vermelha nº 179, 21 Maio 1981. Texto assinado com o pseudónimo de João Braz
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Para ganhar a si a maioria da classe operária, os comunistas só tinham um caminho: agir nos sindicatos, nas fileiras da CGT, dominada pelos anarquistas. Era uma tarefa difícil para um partido jovem, sem experiência e sem quadros. A tendência para a fuga sectária ao trabalho de massas levou o PCP a desviar-se das orientações da Internacional Comunista e a precipitar a cisão sindical em 1925. Lição a ter em conta nos dias de hoje.
O movimento sindical crescera em luta contra a política reformista do PS. A maioria dos operários activos, desconhecedores do marxismo, consideravam a política como coisa da burguesia e acreditavam que o sindicalismo, por si só, os conduziria à revolução. Por isso, a reacção da massa operária ao PCP, passado o primeiro movimento de interesse, não foi muito animadora. Os preconceitos espalhados pelos chefes anarquistas contra os “políticos que vinham dividir o movimento operário” encontravam eco na cabeça de muitos trabalhadores. O desalento e a vacilação começaram a tomar conta do Partido.
Em Outubro de 1922, reuniu na Covilhã o 3º Congresso Operário Nacional. Os comunistas, ainda sem nenhum trabalho sério dentro dos sindicatos, acreditaram na via do êxito fácil. Conseguiram que a Comissão Organizadora do Congresso adoptasse uma proposta para a filiação da CGT na Internacional Sindica. Assim, pensavam, o movimento sindical português passaria em bloco para a esfera de influência do PCP!
Depressa perderam as ilusões. Os anarco-sindicalistas, em esmagadora maioria no congresso, rejeitaram a proposta, alegando que a ISV “moscovita” seguia uma orientação contrária à do sindicalismo libertário.
A tarefa de ganhar posições no movimento sindical através de uma paciente e tenaz acção diária não podia ser adiada por mais tempo.
Em fins desse ano de 1922, o 4º Congresso da Internacional Comunista fez uma crítica que assentava como uma luva aos comunistas portugueses: tanto a conciliação com os chefes sindicais como a cisão precipitada resultavam da tendência para fugir ao trabalho sindical de massas, diário. Era esse o único caminho.
1923 marcou uma viragem na prática sindical do PCP Ao longo do ano foi tomando corpo a corrente sindical revolucionária, autónoma dentro da CGT.
Em Julho, 21 sindicalistas bastante conhecidos lançaram um manifesto a favor da filiação na ISV. Em Setembro estava constituido o agrupamento dos Partidários da ISV, com muitas dezenas de aderentes e com o seu Comité Executivo Em Novembro começou a publicar-se o seu semanário, “A Internacional”, dirigido por João Pedro dos Santos, do Arsenal do Exército. Até Fevereiro de 1927, data em que foi suprimida pela ditadura, “A Internacional” publicou 77 números, de propaganda eficaz da linha sindical revolucionária e de crítica ao anarco-sindicalismo.
Nos sindicatos, os leninistas, como então eram conhecidos, organizavam-se em núcleos sindicais revolucionários. Algumas direcções foram ganhas. Em Setembro de 1924, quando dum referendo organizado pela CGT, seis sindicatos votaram pela filiação na ISV. Eram só os primeiros passos mas entrara-se no caminho certo.
Os progressos, contudo, eram arrancados à custa de esforços tremendos. O movimento sindical entrara em refluxo. Os dirigentes da CG, incapazes de ganhar as grandes massas para o combate ao terrorismo patronal e à ameaça fascista, enveredavam pelos grupos de “acção directa”, pelos atentados, que só reforçavam a passividade da maioria dos trabalhadores.
Para esconder o seu fracasso, culpavam os “vermelhos”. O sectarismo tomava proporções histéricas. Os comunistas, alcunhados de “ditadores” e “moscovitários”, eram escorraçados das assembleias, agredidos nos comícios.
Crescia nos Partidários da ISV a tendência espontânea para fugir da CGT E era isso mesmo que queriam os chefes anarquistas.
No 18 de Abril de 1925, perante o golpe militar que só por pouco não tomou o poder, o Partido Comunista e os Partidários da ISV apelaram a uma frente única antifascista das organizações populares. O Conselho Confederal da CGT recusou, com o velho argumento de que não interessa aos trabalhadores meter-se em política. No ambiente de emoção desencadeado por esta atitude, os Sindicatos dos Arsenais do Exército e da Marinha e a Federação Marítima, principais bastiões vermelhos, entraram em conflito com o Conselho Confederal. Quatro meses depois abandonavam a CGT, apesar dos apelos em contrário do Comunista(1). Consumara-se a cisão que os chefes anarquistas procuravam.
Os partidários da ISV — comentou mais tarde Bento Gonçalves — cometeram um duplo erro: previram mal, porque a CGT continuava a existir, e dividiram o proletariado, o que era um crime.
Os sindicalistas vermelhos, contudo, não se apercebiam do erro cometido. Em Janeiro de 1926, “A Internacional” noticiava a preparação de uma conferência de sindicatos para criar uma nova central. Contava-se com 19 sindicatos. Foi necessário que a Internacional Sindical Vermelha interviesse. Numa mensagem, a 6 de Março, fazia notar o perigo de os sindicalistas revolucionários portugueses se isolarem da massa dos trabalhadores, deixando-os entregues à influência anarquista. A mensagem propunha a imediata criação de um comité de acção pró-unidade sindical e terminava: “Viva a futura CGT portuguesa unificada!”
Era tarde, porém, para remediar os erros da nossa corrente sindical vermelha. Poucas semanas depois, o golpe fascista do 28 de Maio vinha colocar à classe operária tarefas bem mais pesadas.
Notas de rodapé:
(1) “Unidade sindical”, no Comunista n°. 35, de 20 de Junho, e n°. 37, de 1 de Agosto de 1925. (retornar ao texto)
Inclusão | 16/10/2018 |