O Reboque

Francisco Martins Rodrigues

3 de Junho de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 3 de Junho de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando A. S. Araújo.

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Longe de mim pensar que os rapazes da "UDP-Nova" não querem lutar contra a AD. Querem. O mal deles é a tendência para se pendurarem em reboques.

Dizem eles: "Se fôssemos com o Cunhal, que vai para o mesmo lado, não era muito mais fácil?" A primeira vista, parece uma pechincha. O pior é que o Cunhal pensa assim: "Se formos juntos com o Eanes, que também não grama a AO, não será muito mais fácil?" E o Eanes diz para o Letria: "Se isto fosse junto com os moderados da AD é que era uma maravilha."

E aí ficávamos nós à espera do Alcobia, que ficava à espera do Cunhal, que ficava à espera do Zenha, que ficava à espera do Eanes, que ficava à espera do Balsemâo... Chiça! Parvos, mas não tanto!

Querem ouvir uma história? Aqui há uns 25 anos, havia tanta gente a conspirar contra o Botas de Santa Comba, que os chefes do PCP perderam a cabeça. "Finalmente, acabou o duro!" — exclamaram. "Se manobrarmos com jeito, o fascismo cai em dois tempos".

E vá de irem ter com uns democratas históricos, que lhes confirmaram que as perspectivas eram boas. "Já temos aí uns oficiais falados. Mas vocês baixem a bola, se não os homens espantam-se e lá vai tudo por água abaixo".

Dito e feito. O Avante! começou a falar muito doce no fim dos ódios, na reconciliação da família portuguesa, no afastamento pacífico de Salazar. A coisa resultou: legionários patriotas. monárquicos democratas, salazaristas de esquerda — desde o Octávio Pato ao Craveiro Lopes era tudo da Oposição. Nunca se tinha visto uma coisa assim. É claro, não faltavam operários a rosnar que a direcção do partido "estava feita com a PIDE". Mas que percebiam eles de táctica ampla?

Estava-se nisto quando o Salazar burlou as eleições ao general Delgado, prendeu uns milhares, promoveu uns coronéis.. e foi quando se viu que a Oposição não funcionava: tinha sido montada ao contrário — da direita para a esquerda, em vez de ser da esquerda para a direita.

A única coisa que mudou foi o velho PCP, que no meio da confusão passou a "PCP-Novo".

Moral da história: a gente quer uma UDP ampla, uma Oposição amplíssima. Mas com a esquerda, os proletas, a marcar a passada. Para ter a certeza de que não caímos por nenhuma ribanceira. Certo. Alcobia amigo?


Inclusão 26/08/2018