Absentismo

Francisco Martins Rodrigues

19 de Agosto de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 19 de Agosto de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Sem acabar com o absentismo e a baixa produtividade do trabalho não haverá recuperação económica nacional. A afirmação — do dr. João Salgueiro, presidente do Banco de Fomento Naciopal e possível futuro primeiro-ministro — impressionou-me tanto que me pus a estudar um plano para combater esse terrível flagelo. Redigi mesmo um projecto de decreto-lei, que aqui revelo em primeira mão aos leitores do “Em Marcha”.

“Considerando a urgência de fazer economias e elevar a produtividade, o governo decreta:

1°. Com o objectivo de prestigiar ainda mais as funções de chefia, são determinados para os gestores, administradores, quadros e ofícios correlativos os seguintes estímulos de assiduidade: até uma hora de atraso na comparência ao serviço — perda de um dia de vencimento; mais de uma hora de atraso — perda de uma semana de vencimento.

2°. Os quadros dirigentes dos serviços públicos e das empresas passam a beneficiar de uma redução de 50% nos seus vencimentos.

3°. A fim de permitir aos trabalhadores intelectuais uma actividade mais equilibrada, ser-lhes-á atribuído um período de duas horas diárias (das 8 às 10) de trabalho compatível com as suas habilitações (cobradores, cantoneiros de limpeza, caixeiros, serventes nas obras, etc.).

4°. Todo o assalariado que utilize para fins particulares os meios de transporte das empresas e serviços públicos, será punido com despedimento.

§ único — Esta medida é extensiva às chefias.

5º. Os membros das Forças Armadas e militarizadas que o desejem, poderão desempenhar tarefas produtivas na obra da barragem do Alqueva.

§ único — Os vencimentos destes servidores do Estado passarão a ser pagos mediante prova de terem feito um mínimo de 150 horas mensais nessas actividades.

6°. É criada a Inspecção-Geral de Produtividade. Será composta por representantes de todos os sindicatos e tem como funções suprimir os cargos inúteis e recolocar os trabalhadores assim libertados em tarefas produtivas.

A Bem da Nação”

Isto é só um esboço, claro. Mas com este sistema, e pelos meus cálculos, poderiam ganhar-se uns oito milhões de horas de trabalho diárias, ou seja, uns três biliões de horas de trabalho anuais. Uma pechincha! Acham que será aceite?


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha

Inclusão 02/12/2018