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Primeira Edição: Em Marcha, 16 de Setembro de 1981
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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O PS adiou a ofensiva da Outono. Maldito azar! E eu que já me via a desfilar ao lado do camarada Mário Soares, na manifestação do dia 28, a gritar com ele contra os mafiosos da AD, a esquadra da NATO e os contratos a prazo!
Afinal ainda não é desta! Parece que o calendário de lutas do PS já está demasiado sobrecarregado. Também, não se pode viver só na nostalgia da luta de classes, lá disse o camarada Torres Couto.
Agora, a prioridade das prioridades vai para a revisão da Constituição. O nosso camarada doutor Almeida Santos já veio à televisão dizer que há muito que tratar com a AD. Se eu não o conhecesse tão bem, até dizia que o PS anda feito com a direita. Mas não! Longe de mim tal ideia. O camarada Mário lá tem a sua fisgada.
O Álvaro, é claro, continua com as propostas de aliança. Ele bem sabe que dai não leva nada, mas de alguma maneira tem de entreter o pessoal dele. Mas o camarada, desculpe que lhe diga, também é duro demais com ele.
Diz que ele foi extremista em 1975. Não é justo! O Álvaro fez o que pôde. É preciso não esquecer que o povo, ninguém o segurava. O gonçalvismo, tem que se reconhecer, doutor, ainda foi a única maneira disto não descambar. O Vasco chorava pela revolução socialista e depois mandava o pessoal para a batalha da produção. Você deve estar lembrado, que diabo!
Que o Álvaro continua inadaptado à democracia pluralista, diz você. Também não é justo. Ele tem sido impecável, na Reforma Agrária, nas greves, na Assembleia. Oposição, sim, linguagem dura mas sempre civilizado. Você não lhe pode apontar um acto irreflectido, um incitamento à desordem, nada!
Quer que lhe diga? Você e o Álvaro completam-se, cada um no seu estilo. Você talvez amanhã de novo no governo da democracia possível, ele na oposição a que temos direito, podem juntos fazer frente a borrasca que por aí vem. Pelo menos, estou certo de que vão fazer o que estiver ao vosso alcance para o poder não cair na rua.
Agora o que me fez chegar as lágrimas aos olhos foi a franqueza e a modéstia com que você falou no Brasil. Disse você: “A direita que me acusou de não saber administrar a economia nacional, tem demonstrado uma incompetência ainda maior”. É a pura verdade. Mário. Eles são ainda mais incompetentes do que você. E mais reaccionários, também. Não tenha dúvida.
Inclusão | 06/09/2019 |