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Primeira Edição: Em Marcha, 3 de Março de 1982
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Dizia-me no outro dia um militante operário do PCP que nós, os da esquerda, não temos razão para criticar o seu partido por apelar ao general Eanes para a solução da crise e por se contentar com uma mudança para um governo género Pintasilgo.
E comentava com finura:
“Lá porque tomamos essas posições em público, vocês julgam que temos ilusões? Nós cá dentro do partido sabemos muito bem que o Eanes não presta e que vai ser precisa uma revolução com armas e a ditadura do proletariado. Só não falamos nisso porque tacticamente não convém. Ia ser aproveitado pela reacção para assustar muita gente. Nós não fazemos alarido como vocês, mas vamos avançando por pequenos passos”.
Assim mesmo, o inocente. Até faz dó. Num tempo em que já ninguém cai no vigário da cautela premiada, não faltam no PCP os operários convencidos de que estão a ajudar a fazer uma revolução às escondidas e em prestações suaves. Se o Lenine fosse vivo, boa descasca lhes dava.
Essa de pôr os operários a fazer força para as reformas dizendo-lhes que é para bem da revolução, é um truque já com barbas. “Abandonarmos as nossas reivindicações revolucionárias com a ideia de facilitar as reformas é uma ilusão”, pregava Lenine.
“Ao buscar simpatia da burguesia, enfraquecemos a consciência revolucionária das massas e acabamos por não ter nem revolução nem reformas”.
E martelava:
“A verdadeira força que gera as reformas é a do proletariado revolucionário, da sua consciência, da sua coesão, da sua firmeza inabalável na luta”.
Os operários do PCP estão a ser mais uma vez vigarizados. Mas estas histórias que lhes contam são um bom sinal. Mostram que o ambiente lá dentro começa a aquecer.
Agora que os controleiros do PCP descobriram de repente a sua simpatia por nós, é boa altura para lhes pregar a partida. Vamos aproveitar a pausa na campanha de insultos e calúnias contra nós para explicar serenamente aos operários desse partido que não há revoluções secretas. E que no sábado vamos todos unidos para a rua, não para fazer ver ao Eanes mas para darmos mais um abanão à AD. Por nossa conta. Para a revolução operária e popular.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha
Inclusão | 02/12/2018 |