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Primeira Edição: Em Marcha, 7 de Abril de 1982
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A economia portuguesa continuar a meter água por todos os rombos, avisa a imprensa financeira inglesa e alemã. As dívidas sobem em castelo. A Europa cada vez nos compra menos e nos vende mais. Coitados, também têm a crise deles a dar-lhe dores de cabeça. Cada um que se desenrasque. é a lei. Agora, até demos em comprar aos espanhóis o peixe que vêm pescar na nossa costa. Vamos a caminho da bancarrota.
As reservas de ouro vão ter que entrar na dança. Vai ser preciso pedir ao FMI que empreste mais uns dinheiros para pagar os juros atrasados. Depois, logo se vê.
O problema é de estrutura, dizem os entendidos. Há que resolver qual o projecto de desenvolvimento a escolher. O eng. Rogério Martins, que já foi ministro de Marcelo Caetano, tem um modelo: mais respeito pela propriedade privada, mais segurança para o capital privado, mais oportunidades para a iniciativa privada. Quem fala assim não é gago. O dr. Alexandre Vaz Pinto propõe que se faça propaganda dos bons lucros que têm arrecadado as empresas estrangeiras, para as animara investir mais. Nada parvo. O eng. Ferraz da Costa, da CIP, diz que se lhe derem as nacionalizações não tem medo nenhum da CEE.
Enquanto não se escolhe o modelo, os empreendedores vão fazendo pela vida, que remédio! Vejam o Azinhais Nabeiro, imperador dos cafés de Espanha e Portugal. Arranjou um rapaz prestável para dar descaminho às guias de importação. Poupou 90$00 por quilo de café, um balúrdio de um milhão de contos. O processo vai ser julgado, é claro, a legalidade democrática não é nenhuma brincadeira. Mas o milhão de contos, esse, aposto que mais ninguém lhe põe a vista em cima. Estão a ver como se salva a economia?
Vejam os manos Hortas ministros, a proteger a COSIDER com o exclusivo da importação de chapa de aço. Exclusivo, notem bem. não é nenhum monopólio, isso já acabou cá na terra desde 1975. Vejam os negócios dos medicamentos, da batata, dos azeites. E ainda há quem diga que não há saída para a crise!
Quando o barco mete água, são os de baixo os primeiros a afogar-se, é sabido. Os trabalhadores portugueses já levam água pelo pescoço, mas ainda há quem os aconselhe a pedir providências ao comandante. Esperem pelas providências! Se não houver um motim a bordo ninguém se salva.
Inclusão | 22/08/2019 |