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Primeira Edição: Em Marcha, 26 de Maio de 1982
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A imprensa do centro, do "Diário" ao "Portugal Hoje" passando pelo "Jornal", adverte gravemente a AD de que não deve tentar capitalizar a seu favor a visita do Papa. porque ela não lhe pertence; que João Paulo trouxe uma mensagem de humanismo e tolerância, a que a direita é alheia, etc., etc.
Trabalho perdido. A direita, eufórica, pergunta como é que aqueles que defendem ou colaboram com o "marxismo ateu" se atrevem a invocar os ensinamentos espirituais do Papa.
Quem tem razão, afinal? Eu. que não sou parte interessada do negócio, acho que têm ambos e que o justo é dividir a meias os lucros políticos desta realização: 50% para Eanes, 50% para Freitas do Amaral.
O Papa. diz-se. não faz política. A sua missão é "abalar as consciências": amai-vos uns aos outros, elevai o vosso espírito, salvai as vossas almas... e assim por ai fora.
É uma receita que fica barata e de sucesso sempre garantido. Nunca faltam inocentes para se comover com estes bons conselhos. Nem reparam que, enquanto olham para o umbigo, a luta de classes continua, e enquanto põem os olhos no céu, alguém lhes mete a mão na carteira.
O Papa faz política e não é pouca. Senão, oiçam-no: os governantes devem preocupar-se com o bem comum, os ricos devem ser caridosos, os juízes benévolos, os polícias meigos, os trabalhadores, diligentes e moderados...
Isto. traduzido em português, quer dizer: que os cordeiros sejam mansos, para abrandar o coração dos lobos. Querem mais política do que isto?
Para não deixar dúvidas a ninguém, o Papa explicou mesmo no Porto que "sem capital não há trabalho", ou seja. que os trabalhadores, sem os "dadores de trabalho", morriam à fome. Se isto não é um programa político, então não sei o que é.
E este programa político é o que defendem tanto Freitas do Amaral como Eanes. É pintar de cor-de-rosa a selva do capitalismo para ficarmos à espera mais mil anos que as coisas melhorem.
Por isso. é justo que entreguemos a mensagem do Papa em partes iguais a Eanes e a Freitas do Amaral. Ficam os operários livres desse peso e podem tratar de coisas mais úteis. Por exemplo, tornar a vida impossível aos nossos irmãos "dadores de trabalho". A ver se os fazemos embarcar para a Suíça, como em 1975. Era cá um destes alívios!...
Inclusão | 22/08/2019 |