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Primeira Edição: Tribuna do Congresso nº 8, 25 Out 1982 (boletim interno de debate para o 4º Congresso do PC(R)
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Tem-se dito durante o debate que a política de hegemonia do proletariado defendida na minha carta ao Comité Central é estreita, tenderia a substituir a táctica pela estratégia, conduziria ao isolamento da classe operária, a uma espécie de hegemonia da classe operária “sobre si mesma”, afastaria o Partido do centro da luta política, reduzir-nos-ia a uma seita de agitação e propaganda, etc.
O que estes argumentos exprimem, quanto a mim, é uma incompreensão de fundo sobre o que é a hegemonia do proletariado e um receio confuso a uma política operária independente. Aos camaradas que assim raciocinam é preciso mostrar que a nossa política não produziu até hoje nenhuma hegemonia da classe operária, mas pelo contrário, uma sujeição cada vez maior dos operários à hegemonia reformista e revisionista da pequena burguesia, é preciso reconhecer este saldo negativo, ao fim de sete anos de existência do Partido, e procurar-lhe remédio.
O ponto de partida para a viragem política que se exige do 4º Congresso está na crítica de princípios, crítica clara, dura e sem meias tintas, à linha política do 2° Congresso. Há que voltar a debater as lições da crise revolucionária para chamar a primeiro plano a lição fundamental, apagada pelo 2º Congresso: o proletariado, apesar das suas históricas iniciativas, revelou menoridade política, porque acreditou que as conquistas podiam ser defendidas pelos governos reformistas pequeno-burgueses; privado do seu partido, não viu aquilo que era essencial — a conquista do poder político.
Pela sua parte, a pequena burguesia “de Abril” demonstrou o seu medo à revolução a sua tendência para conter e frustrar o movimento operário e popular com reformas e promessas, para o desviar de um confronto decisivo com a reacção e o imperialismo, para salvar o aparelho de Estado burguês, fazendo assim cama à contra-revolução.
Partindo desta lição, haverá que dizer claramente aos operários que uma nova crise revolucionária, que pode surgir num prazo não muito longínquo, só terá um desenlace positivo se o proletariado, sob a direcção do seu partido marxista-leninista, estiver em condições de se soltar do abraço pequeno-burguês e de tomar a cabeça da luta popular pelo derrube do regime novembrista, isto é, do regime capitalista. O “caminho do 25 de Abril do povo” e a perspectiva do Governo de Unidade Popular, como formas de transição gradual, devem ser criticados como concessões ao reformismo, semeador de ilusões pacifistas castradoras do espírito revolucionário da classe operária.
Este é o alicerce sobre o qual se poderá erguer uma política de hegemonia do proletariado. Sem clareza nesta questão, nem um passo poderemos dar para sair da crise actual do partido. Sintetizar estas ideias em resoluções a aprovar pelo 4º Congresso, fazê-las debater em amplas reuniões do Partido e em assembleias de operários sem partido, é a condição para ganharmos a vanguarda da classe para as ideias da hegemonia do proletariado.
Mas este primeiro passo só não ficará em palavras se o traduzirmos num conjunto de medidas de concentração de forças na classe operária, medidas que chegaram a ser anunciadas pela 3a Conferência Nacional mas que nunca foram seriamente encaradas devido à vacilação política que dominava o CC. Que medidas seriam essas? Adianto aqui algumas primeiras sugestões.
Caberá ao Congresso traçar um plano geral de acção nesse sentido.
Dirão alguns camaradas: pois é isto a política de hegemonia do proletariado? — Façamos a experiência Talvez descubramos um mundo novo.
Inclusão | 02/10/2018 |