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Primeira Edição: Política Operária nº 10, Maio-Junho 1987
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
No tempo do fascismo, os "republicanos" eram uns pândegos que discursavam nos períodos eleitorais, iam em romagem no 5 de Outubro pôr flores no cemitério e, em casos extremos de bravura, assinavam petições a favor dos presos políticos. Abominavam Salazar e tinham muita pena dos operários mas eram decididamente contra toda a violência extremista. Não passavam duns cágados manhosos que ajudaram o fascismo a durar 50 anos e ainda ficaram com fama de mártires.
A espécie não se extinguiu. Os republicanos de hoje são esta “esquerda” que fala da “revolução dos cravos” de lágrima ao canto do olho, mas que não vê motivo para efervescências. Reprovam o rumo seguido pelo regime mas têm uma confiança inesgotável nas virtualidades das instituições. Lutam contra a lei da segurança e o trabalho infantil marchando garbosamente no 25 de Abril, entre o tenente-coronel Vítor Alves, a D. Helena Roseta e o poeta Manuel Alegre. Fazem colóquios impregnados de espírito democrático e são inabalavelmente solidários com os povos em luta, sobretudo com os que ficam no outro lado do mundo. São firmemente anti-imperialistas mas acham obsoleto falar contra a NATO e a CEE. Combatem o avanço da direita a golpes de almoços de desagravo ao brigadeiro Vasco Lourenço.
Desdenham do Cavaco, riem-se do PS, enjoam-se com o PC, mas acima de tudo envergonham-se do seu esquerdismo passado e têm horror a tudo o que chcire a esquerdismo actual.
Foram os primeiros a descobrir que Eanes era um democrata tímido demais para o demonstrar. Não descansaram enquanto não conseguiram “civilizar” a UDP, até a transformar nesse mono de fato e gravata que por aí anda a apelar ao “governo nacional”. Emocionaram-se em 85 com o discurso humanista de Lurdes Pintasilgo e provaram aos cépticos que ela era a continuadora do otelismo de 76. Auto-intoxicaram-se de tal maneira com a “vitória democrática” de Mário Soares que acabaram por acreditar nela e ficaram muito admirados quando não apareceu a “viragem”.
E vão continuar. Vão continuar a dar a cobertura da sua desaprovação civilizada ao triunfo da direita, Vão continuar a paralisar o nascimento da esquerda em nome da esquerda. Porque se os outros tinham razão para recear uma insurreição da populaça contra o fascismo, estes agora têm vinte vezes mais razões para recear que um dia os operários se fartem do capitalismo.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.
Inclusão | 06/02/2018 |