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Primeira Edição: Política Operária nº 71, Set-Out 1989
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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A dar crédito aos analistas, ter-se-ia registado uma viragem à esquerda nestas eleições, uma vez que o crescimento da CDU e a estreia do Bloco de Esquerda se fizeram à custa do PS e este se manteve apesar de tudo maioritário por ter ido buscar votos ao PSD. O deslocamento dos votos é inegável mas suscita uma interrogação: é o eleitorado que se está a deslocar para a esquerda ou são os partidos que deslizam para a direita? Para nós, não sofre dúvida que se trata do segundo caso. O PS, “europeu” e “moderno”, conquista apoios nas classes médias conservadoras, deixando à CDU e ao BE, convenientemente moderados, uma parte dos trabalhadores e jovens de simpatias social-democratas. Os votos com real intenção de esquerda tiveram uma expressão insignificante. No conjunto, a pequena burguesia permanece embalada no sonho europeu e os trabalhadores continuam amordaçados e derrotados. Nada de que nos possamos regozijar.
A radiografia das eleições só será completa, porém, se registar o crescimento acelerado da abstenção (tomando em conta a limpeza dos cadernos eleitorais, esta terá crescido desde 1995 em cerca de 800 mil!). O grande aumento que teve em Lisboa. Porto, Setúbal, torna insustentável a explicação habitual de que seria devida ao eleitorado “idoso e pouco instruído do interior”. Trata-se de repulsa autêntica da massa proletária pobre pelas baixezas da nossa vida “democrática”. Não andaremos longe da verdade se dissermos que existe hoje. nessa massa saturada de atropelos um estado de espírito propício à difusão das ideias revolucionárias.
Inclusão | 18/08/2019 |