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Primeira Edição: Público, 1 de Agosto de 1990
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Curiosamente, no seu perfil de Salazar (PÚBLICO, 27 de Julho), o dr. Mário Soares omitiu a faceta anti-operária do ditador. Ora, se é verdade que portugueses de todas as classes sofreram as consequências da ditadura, é um facto que os operários e assalariados rurais sofreram mais e em maior número — basta consultar uma lista dos presos, torturados e assassinados pela PIDE.
O interesse deste facto é óbvio. Ele manifesta, ao contrário do que escreve o dr. Mário Soares, a elevada consistência ideológica de Salazar, que se traduziu numa linha de rumo inflexível: quebrar a espinha a todas as formas de resistência operária, para assegurar mão-de-obra dócil e barata aos capitalistas. Para isso, proibiu a greve, impôs salários de fome, criou os “Sindicatos Nacionais” e moveu uma guerra sem quartel ao partido que fazia estorvo a essa política, o PCP.
Foi de resto a coerência que granjeou ao salazarismo o apoio activo da classe dos capitalistas e proprietários, assim como dos governos dos Estados Unidos e Inglaterra, factos também omitidos no artigo em questão, embora só eles permitam compreender a invulgar longevidade do regime.
A propósito: não será que a actual moda de reduzir a história do salazarismo a anedotas e mexericos reflecte a incapacidade da nossa burguesia olhar com objectividade o seu próprio passado?
Francisco Martins Rodrigues
Rio de Mouro
Inclusão | 26/08/2019 |