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Primeira Edição: O Jornal, 15 Fev 1991
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Tirando os imbecis entusiastas da guerra americana (e tantos que eles são, neste momento!), a maioria lamenta o conflito, mas acha que, em última análise, Saddam é o culpado de tudo — não foi ele o primeiro a atacar?
Só que essa busca de quem começou pode levar-nos muito longe. Antes de o Iraque ocupar o Koweit já o Ocidente tinha apoiado Israel no genocídio palestiniano, manipulado os preços do petróleo, armado o mesmo Saddam até aos dentes, atribuindo-lhe a missão de polícia contra o Irão… Os apaixonados pelas descobertas das origens deveriam pensar nestes pormenores (já sem falar na invasão americana do Panamá, etc., etc..).
É claro que estes factos óbvios estão fora de moda: não é elegante invocá-los. Só que são eles que dão o enquadramento ao que está a suceder: uma nova aventura imperialista pelo controlo do petróleo, em que os Estados Unidos conseguiram envolver os seus aliados e os seus inúmeros satélites.
A famigerada resolução 678 do Conselho de Segurança não passou duma folha de parra, que vai cobrir de ridículo os que se agarraram à “legitimidade” assim conferida à guerra. Uma guerra provocada pelos Estados Unidos, há lá nada mais cómodo! Se Perez de Cuellar fosse algo mais do que um caixeiro viajante da finança internacional já se tinha demitido.
E os nossos dirigentes? Ansiosos por se mostar prestáveis, não sabem que mais oferecer ao “grande aliado americano” além das Lajes e da RTP. Pois ofereçam-se para ir para o Golfo, que nós prometemos ir ao aeroporto, à despedida.
Inclusão | 21/08/2019 |