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Passaram despercebidas entre nós as recomendações para uma nova estratégia americana nos anos 90, divulgadas em Janeiro por uma comissão de alto nível, por encargo do Departamento de Estado e do Conselho Nacional de Segurança dos EUA. No momento em que as atenções se voltam esperançosas para as negociações Reagan-Gorbatchov em Moscovo, seria bom tomarmos em conta o recado contido no relatório produzido pela comissão.
Considerando que as hipóteses de conflito global na Europa parecem afastadas por agora, o relatório prevê o agravamento dos conflitos armados “de fraca intensidade” em países do Terceiro Mundo e propõe novas tácticas de intervenção americana em regiões longínquas, sem depender do apoio de bases militares. Concretamente, pede o reforço do auxílio militar aos regimes “amigos” e a criação de “forças de cooperação”, compostas por destacamentos americanos e aliados para intervir nesses conflitos regionais.
Apoiando vigorosamente a doutrina Reagan, que prevê a criação de movimentos rebeldes anticomunistas, do tipo dos contras da Nicarágua, o relatório afirma:
“Os Estados Unidos deverão apoiar insurreições anticomunistas onde quer que haja interesses americanos a defender e onde se preveja que a nossa intervenção pode ter efeitos positivos”.
Principais zonas visadas: a América Central, a África austral, a região do Golfo e o Sueste asiático.
Além disso, tendo em vista compensar a previsível inferioridade numérica das “forças da liberdade”, o relatório aconselha o seu equipamento com armas convencionais “inteligentes”, armas cuja precisão, potencial destrutivo e longo alcance as equiparam às armas nucleares tácticas.
Desenha-se assim um renascimento da estratégia de “dissuasão” dos anos 50, de que foram mentores Foster Dulles e Kissinger, e que visava a distribuição pelas zonas nevrálgicas do mundo de forças de intervenção rápida. Foi, como se sabe, essa doutrina da resposta “contra-insurreccional” às guerras de libertação que lançou Kennedy na aventura do Vietname. Hoje, esquecido o choque da derrota, e com os novos regimes pós-coloniais atolados na crise, os estrategas do Pentágono começam a sonhar com novas aventuras.
E não se trata apenas de sonho. A simpatia calorosa com que os dirigentes do Partido Democrático encaram estas propostas indica que o risco de novas escaladas agressivas é bem real.
Será que os arautos do pacifismo anti-imperialista ainda não perceberam que a euforia do desanuviamento gorbatchoviano está a abrir a porta a nova onda de crimes americanos, tal como o desanuviamento kruchovista de há 30 anos facilitou o começo da guerra do Vietname?
Inclusão | 23/05/2018 |