Cimeira do Desemprego

Francisco Martins Rodrigues

Março/Abril de 2000


Primeira Edição: Política Operária, nº 74, Mar-Abr 2000

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Poucos se terão deixado iludir sobre o real conteúdo da chamada Cimeira do Emprego, reunida em Lisboa em Abril. Para além do desavergonhado paleio de consumo debitado pelo primeiro ministro, dois simples documentos clarificaram o que está em Jogo. Duas semanas antes da Cimeira, um estudo ide uma agência especializada previu, até 2005, o encerramento de 700 a 800 empresas têxteis nacionais, com o despedimento de 80 a 100 mil trabalhadores. E uma escassa semana depois da reunião, uma “recomendação” da Comissão Europeia veio reclamar que Portugal torne mais “flexíveis” os despedimentos, as contratações e os horários de trabalho.

O que isto significa é que a ilusão de que Portugal estaria ao abrigo da onda do desemprego, ilusão alimentada pela situação marginal do país relativamente à economia europeia, está prestes a desfazer-se fragorosamente. O capitalismo selvagem, a que agora se chama a "nova economia", não admite limitações ao trabalho precário e aos despedimentos e é pela mão de um governo "socialista" que os trabalhadores portugueses são Introduzidos nessa crua realidade.

Plenamente Justificada foi, pois, a grande manifestação convocada pela CGTP para assinalar o protesto do mundo do trabalho contra a Cimeira de Lisboa. E abre boas perspectivas a firmeza com que os trabalhadores dos transportes urbanos estão a bater-se pela actualização dos seus contratos colectivos. Só a radicalização da luta dos assalariados pode chamar para primeiro plano os verdadeiros problemas do pais. calando as reles intrigas partidárias e soaristas que vêm fazendo as vezes de luta política.


Inclusão 18/08/2019