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Primeira Edição: Publicado no número 84 da revista Política Operária, Março e Abril de 2002, e no livro O Comunismo que aí vem, Compostela, Abrente Editora, 2004
Fonte: Primeira Linha em Rede
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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O Prof. Immanuel Wallerstein tornou-se um nome obrigatório quando se fala da esquerda “moderna” e há quem veja nos seus ensaios imaginativos e eruditos o marxismo do nosso tempo.
Num artigo publicado na revista marxista americana Monthly Review(1), sob o título “Uma política de esquerda para uma era de transição”, o Prof. Wallerstein apresenta as suas soluções para que a esquerda ultrapasse o estado calamitoso em que se arrasta e aproveite as novas possibilidades de acabar com o capitalismo.
Basicamente, ele encara com optimismo a nova situação mundial, na medida em que “nos libertou da estratégia e da retórica leninista, agora inúteis” e que, ainda por cima, travavam o radicalismo popular com a promessa dos “amanhãs radiosos”.
A velha estratégia da esquerda, que consistia em, primeiro conquistar o poder e em seguida transformar a sociedade, talvez fosse a única possível no século que findou, admite. Mas falhou em toda a linha: tanto os social-democratas, como os comunistas, como os movimentos de libertação nacional chegaram ao poder um pouco por toda a parte no período de 1945-1970, mas não conseguiram mudar o mundo como prometiam.
Daí ter surgido a partir da “revolução mundial de 1968” (?!), a busca de estratégias alternativas por parte de uma grande variedade de movimentos, cujas grandes linhas apontam em sua opinião para:
Num segundo comentário às críticas (estranhamente brandas e cautelosas) que lhe formula a redacção da revista, Wallerstein reafirma que “o estratego Lenine já não é levado a sério”, que a sua estratégia não era afinal muito diferente da da social-democracia visto que o seu discurso sobre a conquista do poder de Estado “despolitizava as massas”.
Não é preciso mais para se entender a estratégia que nos oferece o Prof. Wallerstein. O pecado da esquerda até hoje é ter pensado em tomar o poder de Estado. Acabe-se com essa estratégia “despolitizadora” (!), voltem-se as massas para a conquista de benefícios imediatos e palpáveis, forje-se a união de todos os que querem a democracia – e o sistema entrará no seu colapso inevitável…
Wallerstein reincide assim, com uma linguagem “moderna”, na pecha de sucessivas gerações de eméritos académicos “marxistas”: muita agudeza, muita originalidade, mas uma insuperável cobardia quando se chega ao cerne da luta de classes, à questão do poder. Como não há-de ele detestar Lenine!
Para dar uma aparência coerente à sua construção, o nosso professor tem que forçar os factos: confunde leninismo com social-democratismo, confunde a revolução russa com o aberrante regime que vigorava na URSS, arruma os governos burgueses social-democratas na mesma categoria dos governos revolucionários, omite as causas sociais do fracasso da revolução russa e das revoluções de libertação nacional, descobre uma tendência para “o alastramento da democratização no mundo”, esquece a realidade do imperialismo – e, para baralhar as pistas, cobre-se com um radicalismo de papelão (“acções de massas!”, “arranquemos concessões aos liberais!”, “transformemos as siderurgias em instituições não lucrativas!”).
O reformismo do Prof. Wallerstein, de tão atrevido, é quase desarmante. Mas não é preciso grande investigação para ver a fútil inconsistência das suas propostas “para os próximos dez ou vinte anos”: o mundo que Wallerstein entrevê do alto das suas elucubrações não tem nada a ver com a luta feroz do capital agonizante, com a resistência do proletariado e dos povos e com as gigantescas batalhas de classes que se avizinham.
Num ponto estamos de acordo: a esquerda está num estado calamitoso, e uma prova disso é a desfaçatez com que este “cientista social” anda a oferecer a sua pacotilha reformista sem que ninguém lhe ponha uma etiqueta de charlatão.
Notas de rodapé:
(1) Monthly Review, n° 8/53, Janeiro 2002. 122 West 27th St.., New York, NY 10001. [email protected] (retornar ao texto)
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