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O único e a sua propriedade, Max Stirner. Trad. João Barrento. Ed. Antígona, Lisboa, 2004. 341 pp. 29 €. “A minha causa sou eu próprio!” Recusando com veemência pôr-se ao serviço da religião, da humanidade, da liberdade, da justiça, Stirner julga romper com todos os dogmas, todos os tabus e as ideias feitas da sociedade do seu tempo.
Estamos em 1844, a crítica do cristianismo por Feuerbach inflama os espíritos, a Alemanha entra em revolução, mas ele rejeita com horror qualquer ideia de reorganização social. A sua crítica que se pretende total recua para um individualismo fundamentalista, para um niilismo esterilizante que ficou talvez como o traço mais característico do anarquismo. No fundo, o que as suas laboriosas demonstrações em tomo do bem e do mal, do moral e do imoral, do humano e do divino, revelam é a perplexidade de quem ficou desamparado pela perda do referencial religioso. Por alguma coisa Marx lhe chamava por gracejo S. Max.
Enfim, estão de parabéns os anarquistas, por terem finalmente em língua portuguesa uma das suas bíblias, com a qual poderão iniciar mais alguns jovens nos santos mistérios da “libertação total do indivíduo”. Quanto aos outros, os não-anarquistas, já tenho mais dúvidas de que colham algum benefício desta iniciativa da Antígona. A “filosofia” de Stirner não passa de uma barafunda ideológica. O prestígio que tem sido alimentado à sua volta tem muito a ver com a denúncia que ele faz do comunismo como o culminar da servidão do “eu”.
Entre os dois ministros prussianos, o que primeiro proibiu o livro como “subversivo” e o que pouco depois o autorizou, considerando-o “demasiado absurdo para ser perigoso”, foi o segundo que teve razão. O excepcional trabalho de João Barrento, conseguindo pôr em linguagem corrente as divagações de Stirner, não pode dar-lhe aquilo que elas não têm.
Inclusão | 10/06/2018 |