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Primeira Edição: Política Operária, nº 96, Set-Out 2004
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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Os portugueses estavam tão eufóricos a festejar a boa figura da equipa nacional no Euro 2004 que foram apanhados de surpresa: em dois tempos, o desacreditado Barroso, que parecia prestes a cair, trepou para Bruxelas e deixou a pasta a um aventureiro ainda mais atrevido e descarado. A crise do governo de direita resolveu-se por um governo mais à direita.
Estupefactos com a golpada e com a catadupa de leis celeradas que se sucedem, os democratas lamentam-se: “E Isto acontece no país do 25 de Abril? E o Presidente consente?!” Melhor seria concluir que, se nos acontece isto a nós, é sinal de que o regime Já não é nada daquilo que julgamos.
Se nos dão como governo o trio Santana-Portas-Bagão, se o PS só pensa em “modernizar-se” para merecer a alternância, se o presidente se comporta como uma dócil marioneta —, é porque o regime se tomou simples gestor dos negócios graúdos. O que nem espanta, tendo em conta o abismo entre os apetites da burguesia e a capacidade de resposta do proletariado.
O grande desígnio que os homens do capital têm vindo a perseguir sem descanso, desde há trinta anos, está agora em cima da mesa. Com as costas quentes pelos magnates de Bruxelas, eles exigem tudo o que em tempos foram forçados a ceder e mais ainda! Os trabalhadores que paguem a crise!
Querer travar este assalto só com os meios autorizados pelos próprios salteadores é próprio de mentecaptos ou de aspirantes a ministros. Só quando se libertar a indignação das massas amordaçadas - que a burguesia finge desprezar mas que receia mais que tudo - alguma coisa mudará no rumo da política nacional.
Inclusão | 18/08/2019 |