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Primeira Edição: Política Operária nº 111, Set-Out 2007
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Où va la Chine? de Peter Franssen. INEM, Bruxelas, 2007. www.marx.be
O n° 78 da revista Études Marxistes, do Partido do Trabalho da Bélgica, é inteiramente preenchido com um bem documentado artigo intitulado “O desenvolvimento do socialismo na China”. Como o título já deixa perceber, o balanço do autor é francamente optimista. Acha que o “socialismo” está a avançar na China e que o PC Chinês continua “fiel” ao marxismo.
Porquê? Pela razão que deixa embevecidos todos os progressistas distraídos — o crescimento fenomenal da China, o avanço por saltos na economia, no nível de vida, na saúde, no ensino. Mas isso, só por si, não prova nada quanto a socialismo. Há três quartos de século também os progressistas, espantados perante a cavalgada da industrialização e da mecanização agrícola na União Soviética, esqueciam-se de perguntar quem estava no poder. Para o senso comum, a equação governo “comunista” + nacionalizações + desenvolvimento económico = socialismo parece indiscutível. Só que há ainda o outro factor a ter em conta — qual a classe que realmente exerce o poder?
A verdade é que eles não querem saber desse pormenor da ditadura do proletariado inexistente. Não há sinais de poder das massas e há muitos sinais de poder dos capitalistas na China? O partido comunista está penetrado pelo espírito do negócio e do lucro? A propaganda sobre a “harmonia social” não consegue disfarçar as contradições de classe que crescem exponencialmente? Não faz mal. Pois não é o próprio PCC que reconhece estar ainda na “primeira fase do socialismo”? Logo, está tudo justificado.
Como, apesar de tudo, não se pode ignorar as realidades brutais da sociedade chinesa, o autor do artigo lamenta, com ingenuidade postiça: “Porque permite o PCC que se desenvolva um importante sector privado, chinês e multinacional? Não se corre o risco de esvaziar pouco a pouco o socialismo da sua substância?” O “risco” de “esvaziar pouco a pouco o socialismo”... Boa piada!
O crescimento da China é positivo no equilíbrio de forças mundial porque pode neutralizar a agressividade do imperialismo americano. Ao povo chinês, ao povo dos EUA, aos povos de todo o mundo, convém que o regime chinês se oponha ao imperialismo. Mas só um marxismo de meia tigela confunde isto com socialismo.
Apetece recordar a advertência de Mao em Maio de 1966: “Os representantes da burguesia que se infiltraram no Partido Comunista negam a necessidade da ditadura do proletariado contra a burguesia. São servidores leais da burguesia e do imperialismo. Esforçam-se por manter a ideologia burguesa de opressão e exploração do proletariado. São um bando de contra-revolucionários que estão contra o Partido Comunista e o povo. Os representantes da burguesia que se infiltraram no partido, no governo, no exército e nos sectores culturais são um bando de revisionistas contra-revolucionários. Se lhes dermos ocasião, transformarão a ditadura do proletariado em ditadura da burguesia. A luta deles contra nós é uma luta de morte. Por isso a nossa luta contra eles deve ser também uma luta de morte.”
O comité central esclareceu depois que isto era um exagero e que havia apenas “pontos de vista diferentes sobre a maneira de construir o socialismo”. Como se viu.
Inclusão | 21/08/2019 |