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Primeira Edição: ....
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Encarregado da espinhosa tarefa de situar Salazar na galeria dos “Grandes protagonistas da história de Portugal”, António Paço defendeu-se o melhor que pôde. Os factos políticos, escrupulosamente coligidos (e completados por uma boa cronologia), não deixam lugar para o revisionismo histórico agora na moda; ao leitor não ficam dúvidas sobre a natureza ditatorial do regime salazarista. Porém, mesmo tendo em conta que numa colecção de “grande divulgação” como esta não há lugar para ir ao fundo das questões, ficamos com a sensação de que se podia ter ido mais longe.
O que faz o eixo da obra são os episódios e anedotas dos círculos do poder, as remodelações ministeriais, as relações com a Igreja, as biografias dos figurões do regime, e o que se perde é a natureza social desse meio século da história de Portugal. Da resistência antifascista emergem breves linhas sobre o 18 de Janeiro, a revolta dos marinheiros, as candidaturas oposicionistas de Norton de Matos e Humberto Delgado, o movimento estudantil de 61. Fala-se também, obviamente, das guerras coloniais. Mas não se tenta, nem por breves pinceladas, mostrar os conflitos sociais que geraram esses protestos e revoltas: a exploração desenfreada nas empresas e nos campos, a vigilância nas ruas, a censura, as prisões, os crimes da PIDE, da GNR e da PSP, a brutal opressão sobre os povos coloniais, transformada, a partir de 1961, em guerra feroz. Nem se percebe como se pode fazer a história desses anos ignorando o impacto da acção clandestina do PCP - praticamente ignorado ao longo do texto. Inclusive as revoltas militares de 1927-31, fruto de um amplo movimento de rejeição da ditadura, são desvalorizadas numa dúzia de linhas como o “reviralho”. A ponto de nos perguntarmos: meio século de ditadura porquê? E sobre quem?
Inclusão | 21/08/2019 |