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Primeira Edição: ....
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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A propósito da publicação das actas do colóquio "Impunidade e direito a memória" organizado no ano passado pela Fundação Humberto Delgado, veio o prof. José Mattoso explicar ("O direito à memória". História. Junho 2000) que a Historia nâo se deve ocupar com a "averiguação das responsabilidades morais", porque não é nenhum tribunal: a sua função é "procurar compreender o passado e não julgá-lo". E alerta: "O culto da memóna... conduz a procurar os culpados actuais e, por isso, a transferir as culpas dos criminosos de outrora para os seus presumíveis herdeiros", o que pode tornar a História "um sustentáculo de xenofobia e de preconceitos racistas". Por isso nào se junta ao "coro dos que clamam contra Pinochet, os nazis, as cumplicidades do Vaticano ou as atrocidades dos europeus na Ásia, na África e na América", nem vê porque se há-de relacionar o actual Movimento dos Sem Terra "com as condições da descoberta do Brasil por Cabral".
Pretende o emérito professor que compreendamos o passado sem nomear os crimes que uma longa cadeia de interesses fez passar durante séculos por feitos gloriosos. Inquieta-o o perigo de os dominados (os negros, os índios, os pobres) caírem na xenofobia e no racismo por denunciarem a xenofobia e o racismo de que têm sido e continuam a ser vítimas. Choca-o a falta de elevação histórica dos que clamam contra Pinochet e os nazis... É curioso observar como o distanciamento cientifico do prof. Mattoso, com a sua recusa a avaliar as “responsabilidades morais" do passado, funciona a favor da impunidade dos opressores do presente.
Inclusão | 16/10/2018 |