Editorial(1)

J. V. Stálin

Setembro de 1901


Primeira Edição: Jornal "Brdzola" (A luta), n.° 1. Setembro de 1901..
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 1º vol., pg. 21 a 27. Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo.
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capa

Convencidos de que um jornal livre é questão de importância capital para os leitores georgianos conscientes; convencidos de que hoje tal questão deve ser resolvida e de que um ulterior adiamento só poderia ser prejudicial à causa comum; convencidos de que cada leitor consciente acolherá com satisfação uma publicação deste gênero e a auxiliará por todos os meios, nós, um grupo de social-democratas revolucionários, vimos ao encontro dessa necessidade, procurando satisfazer, na medida de nossas forças, o desejo do leitor. Apresentamos o primeiro número do primeiro jornal livre georgiano: Bradzola(2).

Algumas palavras, a fim de que o leitor possa formar uma opinião exata da nossa publicação e de nós mesmos, em particular.

O movimento social-democrático penetrou em cada canto de nosso país. Não lhe escapou sequer aquela região da Rússia a que chamamos Cáucaso, e, junto com o Cáucaso, não lhe escapou sequer a nossa Geórgia. Na Geórgia, o movimento social-democrático é um fenômeno recente; data de poucos anos apenas; para sermos exatos, suas bases foram lançadas somente em 1896. Também entre nós, nos primeiros tempos, como por toda a parte, o trabalho não saía dos limites da ilegalidade. A agitação, a vasta propaganda, tal como as vemos nos últimos tempos, eram impossíveis, e, queira-se ou não, todas as forças estavam concentradas em poucos circulos. Atualmente, esse período foi ultrapassado, as idéias social-democráticas difundiram-se entre as massas operárias, e também o trabalho saiu dos estreitos limites da clandestinidade, abrangendo um número importante de operários. Iniciou-se a luta aberta. A luta apresentou aos primeiros militantes muitas questões que até o presente momento tinham permanecido na sombra, pois não se sentira grande necessidade de esclarecê-las. Antes de mais nada, surgiu com toda a sua força a questão: de que meios dispomos para desenvolver amplamente a luta?

Com palavras, é muito fácil e simples responder. Com fatos, é muito diferente.

É evidente que para o movimento social-democrático organizado o meio principal é uma vasta agitação e propaganda das idéias revolucionárias. Mas as condições em que o revolucionário deve lutar são de tal maneira contraditórias, difíceis e exigem sacrifícios tão grandes, que, no início do movimento a agitação e a propaganda se tornam o mais das vezes impossíveis na forma necessária.

O trabalho nos círculos com livros e folhetos se torna impossível, antes de tudo pela vigilância policial e também pela própria condição do trabalho. A agitação debilita-se desde as primeiras prisões. A ligação e os contatos freqüentes com os operários se tornam impossíveis, e, no entanto, os operários esperam a solução de numerosos problemas palpitantes. Desenvolve-se, em torno do operário, uma luta feroz: todas as forças do governo são voltadas contra ele e este não tem a possibilidade de apreciar de modo crítico a situação existente, está completamente no escuro quanto à substância da questão, e, muitas vezes, basta um revés sem importância em qualquer estabelecimento vizinho para fazer esfirar seu impulso revolucionário, para lazer com que perca a fé no futuro; e então é necessário que o dirigente, novamente, o atraia para o trabalho.

A agitação por meio de folhetos que esclarecem apenas esta ou aquela questão concreta, é, na maior parte dos casos, pouco eficaz. Cumpre, doravante, dar vida a publicações que esclareçam as questões cotidianas. Não nos deteremos em demonstrar esta verdade universalmente conhecida. No movimento operário georgiano já chegou o momento em que a publicação de um jornal é um dos meios principais do trabalho revolucionário.

Para informação de alguns leitores inexperientes, julgamos indispensáveis algumas breves considerações sobre os jornais legais. Seria, em nossa opinião, um erro grave se qualquer operário pensasse que um jornal legal, de qualquer tendência e sejam quais forem as condições em que é publicado, possa exprimir os seus interesses de operário. O governo, "cheio de atenções" para com os
operários, sente-se perfeitamente à vontade com a imprensa legal. Toda uma matilha de funcionários, chamados censores, é imposta a essa imprensa, e segue-a com atenção, recorrendo à tinta vermelha e à tesoura, cada vez que, por uma fresta, se insinue um só clarão de verdade. Uma após outras, vão chegando as circulares ao comitê da censura: "não deixar passar nada que se refira aos operários, impedir a publicação deste ou daquele acontecimento, desta ou daquela decisão", etc, etc. Em tais condições, não é possível, certamente, fazer um jornal como se deve, e o operário procuraria em vão, mesmo nas entrelinhas, informações e opiniões sobre a sua causa. Pensar que o operário possa tirar algum proveito das poucas linhas que neste ou naquele jornal legal tocam de relance na sua causa, e que só por engano os carrascos da censura deixaram passar, depositar as próprias esperanças nesses fragmentos e erigir sobre essas insignificâncias qualquer sistema de propaganda, constituiria a prova evidente de nada se ter compreendido quanto à questão.

Diga-se isso, repetimos, apenas para informação de alguns leitores inexperientes.

Um jornal georgiano livre é, portanto, uma necessidade inapelável do movimento social-democrático. Resta agora apenas o problema de organização do jornal, de sua orientação e do que deverá dar aos social-democratas georgianos.

A primeira vista, a questão da existência de um jornal georgiano e, em particular, do seu conteúdo e de sua diretriz, pode parecer que se resolverá por si mesma de modo simples e natural: o movimento social-democrático georgiano não é um movimento operário isolado, exclusivamente georgiano, com um programa próprio, mas caminha ombro a ombro com todo o movimento da Rússia
e é assim subordinado ao Partido Social-Democrata da Rússia; é claro, portanto, que o jornal social-democrático georgiano deve ser apenas um órgão local, que trata preferentemente dos problemas locais e reflete o movimento local. Semelhante solução encerra, entretanto, uma dificuldade que não podemos evitar e contra a qual, cedo ou tarde, inelutàvelmente nos chocaremos. Trata-se da dificuldade relativa à lingua. Enquanto o Comitê Central do Partido Social-Democrata da Rússia tem a possibilidade de ilustrar todas as questões gerais através do órgão central do Partido, deixando aos seus comitês regionais a tarefa de tratar somente das questões locais, um jornal georgiano se encontra em situação difícil no que se refere ao conteúdo. O jornal georgiano deverá simultaneamente assumir a função de órgão central e de órgão regional, local, do Partido. Já que a maioria dos leitores, operários georgianos, não pode ler correntemente o jornal russo, os dirigentes responsáveis pelo jornal georgiano não têm o direito de deixar de ilustrar todas as questões de que o órgão central do Partido, em língua russa, trata e tem o dever de tratar. O jornal georgiano deve portanto pôr o leitor ao corrente de todas as questões de princípio, teóricas e táticas. Deve, ao mesmo tempo, guiar o movimento local, ilustrar devidamente cada acontecimento, não deixando um único fato sem explicação, esgotando todas as questões que agitam os operários do lugar. O jornal georgiano deve congregar e unir os operários georgianos e russos que estão lutando. Deve informar os leitores de todos os acontecimentos que lhes interessam, da vida local, russa e estrangeira.

Esta é, de modo geral, nossa opinião relativamente ao jornal georgiano.

Algumas palavras sobre o conteúdo e a diretriz do jornal.

Devemos exigir que, na sua qualidade de jornal social-democrático, se interesse primordialmente pelos operários em luta. Consideramos supérfluo dizer que, na Rússia, e em geral em toda a parte, só o proletariado revolucionário é chamado pela história a libertar a humanidade e dar felicidade ao mundo. É claro que somente o movimento operário se baseia num terreno sólido e somente ele é imune a qualquer mentira utopista. Por conseguinte, como órgão dos social-democratas, o jornal deve dirigir o movimento operário, indicar-lhe o caminho, preservá-lo dos erros. Em suma, o primeiro dever do jornal é conservar-se tão próximo quanto possível da massa operária, ter a possibilidade de influir continuamente sobre ela, tornando-se a seu centro consciente e dirigente.

Mas já que, nas condições atuais da Rússia, além da dos operários, é também possível a ação de outras camadas sociais que lutam "pela liberdade" e já que essa liberdade é o objetivo imediato da luta dos operários russos, o jornal tem a obrigação de abrir espaço a qualquer movimento revolucionário, mesmo quando de origem estranha ao movimento operário. Dizemos "abrir espaço" não somente no sentido de prestar qualquer informação entre as outras ou numa simples crônica; não, o jornal deve, ao contrário, dedicar particular atenção aos movimentos revolucionários que nascem ou estão para nascer entre outros elementos da sociedade.

Cumpre-lhe esclarecer todos os fenômenos sociais e exercer, por isso mesmo, sua influência sobre quem quer que lute pela liberdade. Por esse motivo, o jornal deve seguir com particular atenção a situação política na Rússia, pesar todas as conseqüências dessa situação e encontrar o meio de apresentar mais amplamente o problema da necessidade da luta política.

Estamos convencidos de que ninguém poderá utilizar nossas palavras para demonstrar que seremos favoráveis a estreitar laços e compromissos com a burguesia. Dar o justo valor, assinalar os lados débeis e os erros de um movimento contra a ordem atual, mesmo quando tenha origem na sociedade burguesa, não é coisa que possa manchar de oportunismo um social-democrata. Não devemos esquecer, entretanto, os princípios social-democráticos e os métodos revolucionários de luta. Se medirmos cada movimento com esse metro, permaneceremos imunes a qualquer fantasia bernsteiniana.

O jornal social-democrático georgiano deve, portanto, dar uma resposta clara a todas as questões relacionadas com o movimento operário, explicar as questões de princípio, explicar teoricamente a função da classe operária na luta e iluminar com a luz do socialismo científico todos os fatos relativos ao operário.

Ao mesmo tempo, o jornal deve ser o representante do Partido Social-Democrata da Rússia e informar oportunamente os leitores sobre todas as posições táticas da social-democracia revolucionária da Rússia. Compete-lhe informar o leitor sobre o modo de vida dos operários nos outros países, sobre o que realizam para melhorar as próprias condições, e, no momento exato, chamar os operários georgianos a que passem ao terreno da luta. O jornal não deve descuidar nem deixar sem crítica social-democrática nenhum movimento social.

Esta é a nossa opinião sobre o jornal georgiano.

Não podemos enganar a nós mesmos e aos leitores, prometendo executar inteiramente estas tarefas com as forças de que atualmente dispomos. Para organizar o jornal como é devido, é necessário que os próprios leitores e simpatizantes dêem seu auxílio. O leitor notará no primeiro número da Brdzola numerosas falhas, que, contudo, poderão ser superadas assim que se fizer sentir a ajuda do próprio leitor. Façamos notar principalmente a escassa consistência do noticiário interno. Longe da pátria, estamos privados da possibilidade de seguir de perto o movimento revolucionário na Geórgia e de fornecer informações e indicações oportunas sobre os problemas desse movimento. Para isso é necessária a ajuda da própria Geórgia. Quem desejar auxiliar-nos também com sua colaboração literária, encontrará indubitavelmente a maneira de estabelecer contato direto ou indireto com a redação da Brdzola.

Dirigimos a todos os social-democratas que se batem na Geórgia um apelo a fim de que tomem vivamente a peito o destino da Brdzola, primeiro jornal livre georgiano, uma arma de luta revolucionária.

Jornal "Brdzola" (A luta), n.° 1.
Setembro de 1901.
Artigo sem assinatura.


Notas de rodapé:

(1) É o artigo de apresentação do jornal ilegal social-democrata "Brdzola". (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

(2) Brdzola (A Luta), o primeiro jornal ilegal georgiano do grupo iskrista-leninista da primeira organização social-democrática da Geórgia, "Messame-Dassi", de Tíflis. Stálin foi o idealizador do jornal e conseguiu realizar a iniciativa graças à luta que, desde 1898, a minoria revolucionária (Stálin, Ketskhoveli, Tsulukidze) da referida organização travava contra a maioria oportunista (Jordânia e outros). A Brdzola foi impressa em Baku numa tipografia clandestina, organizada por Ketskhoveli, íntimo colaborador de Stálin e encarregado do trabalho técnico relativo à publicação do jornal. Os artigos de orientação sobre as questões de programa e táticas eram de Stálin. Saíram quatro números da Brdzola: de setembro de 1901 a dezembro de 1902. A Brdzola, que foi, depois da Iskra, o melhor jornal marxista da Rússia, sustentava a unidade da luta revolucionária do proletariado da Transcaucásia com a luta revolucionária da classe operária de toda a Rússia. A Brdzola defendia os fundamentos teóricos do marxismo revolucionário e acentuava, do mesmo modo que a Iskra leninista, a necessidade de passarem as organizações social-democratas à agitação política de massas, à luta política contra a autocracia, e propugnava pela idéia leninista da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa. Em luta contra os economistas, insistia a Brdzola na necessidade da criação de um partido revolucionário e unido da classe operária, e desmascarava a burguesia liberal, os nacionalistas e oportunistas de todos os matizes. A Iskra leninista anunciou o aparecimento do primeiro número da Brdzola como um acontecimento de grande significação. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 22/05/2009
Última alteração 23/11/2010