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Primeira Edição: "Pravda" ("A Verdade"), n.º 100, 23 de maio de 1918.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
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A situação na Transcaucásia torna-se cada vez mais alarmante. A declaração de independência da "Transcaucásia feita pela Dieta (22 de abril), que devia dar mão livre ao "governo" de Tiflís, na realidade jogou-o na armadilha preparada pelos saqueadores internacionais. Como se concluirão os chamados "tratados de paz" de Batum[N19], o futuro próximo o dirá. Uma coisa entretanto é fora de dúvida: a independência dos mencheviques de Tiflís e de seu governo, da revolução da Rússia, se transformará inevitavelmente num estado de dependência servil em relação aos "civilizados" saqueadores turco-alemães, contra a revolução da Rússia. O menchevique, Tchkhenkeli será o futuro Golubóvitch caucasiano. . . Não é um quadro edificante, senhores Mártov e Dan?. . .
Kartchikian, membro da Dieta, comunica de Tiflís:
"Tiflís está em fermentação, os armênios saíram do ministério, os operários e camponeses organizam nas ruas manifestações contra o governo porque declarou a independência da Transcaucásia. Em Kutaís, Khoni, Letchkhum, Gori e Duchet, houve manifestações exigindo um referendum. sobre o problema da independência."
Toda a Armênia protesta contra a usurpação do chamado "governo" de Tiflís, exigindo que seus deputados deixem a Dieta. O centro muçulmano, Baku, cidadela do Poder Soviético na Transcaucásia, que reuniu em torno de si toda a Transcaucásia Oriental, de Lenkorani e Kuba até Elizavétpol, de armas em punho reafirma o direito dos povos da Transcaucásia, os quais, com todas as suas forças, procuram manter os laços com a Rússia Soviética. Para não falar sequer na heróica Abkházia[N20], na costa do Mar Negro, que como um só homem se levantou contra os bandos negros do "governo" de Tiflís e com armas na mão defendeu Sukhum contra os seus assaltos. "Toda a Abkházia se insurgiu, jovens e velhos, contra um bando de dois mil agressores vindos do sul e defende, há já oito dias, a 20 verstas ao sul de Sukhum, os acessos da cidade", escreve o presidente do Comitê Militar Revolucionário Echba. Segundo algumas notícias, o ataque dos destacamentos transcaucásicos é apoiado no mar por uma flotilha de navios-transporte armados e por um grupo de caça-torpedeiros. Além disso, segundo a paz de Brest-Litovsk e segundo a interpretação dada pelos alemães a essa paz. nós não só não deveremos atacar por mar para defender Sukhum, como também não teremos tampouco o direito de nos defender. Este é o apoio real oferecido pelos "pacificadores" alemães aos agressores transcaucasianos. Em tal situação, não é difícil compreender que a sorte de Sukhum está quase selada. A população da Transcaucásia é contra o "governo" de Tiflís. A população da Transcaucásia é contra a separação da Rússia. Os operários e os camponeses da Transcaucásia, a despeito do grupelho dos membros da Dieta, são pelo referendum, porque ninguém, absolutamente ninguém, autorizou a Dieta a separar a Transcaucásia da Rússia.
Assim se apresenta a situação.
Não é sem motivo que os mencheviques que conservaram algum escrúpulo, Jordânia, Tsereteli e até (até!) Gueguetchkori, lavaram as mãos, confiando esse trabalho imundo aos mencheviques ainda menos escrupulosos.
Informam-nos de Tiflís que, quando os armênios cederam a cidade, o comandante do corpo de exército turco de Kars declarou julgar inevitável uma expedição de tropas turcas para a conquista de Baku e a salvação dos muçulmanos daquela zona, no caso de o governo transcaucásico não conseguir fazê-lo em breve prazo e que paralelamente a isso "na carta de Vetchkhib Pachá ao presidente do governo transcaucásico fazia-se compreender que a coisa era inevitável."
Não temos possibilidade de controlar à base de documentos essas informações, mas uma coisa é certa: se os "salvadores" turcos marcharem efetivamente sobre Baku, encontrarão enérgica resistência da parte de largas camadas da população, e antes de mais nada dos operários e camponeses muçulmanos.
É desnecessário dizer, ademais, que o Poder Soviético defenderá com todas as suas forças os imprescritíveis direitos das massas trabalhadoras da Transcaucásia contra as tentativas dos agressores.
Desde 1917 um grupelho de generais norte-caucasianos reformados, do tipo de Filimonov, Karaúlov, Tchermoiev e Bammátov, denominando-se União dos Povos da Montanha, atribuiu-se o título de governo do Cáucaso Setentrional, do Mar Negro ao Mar Cáspio, e preparou-se na surdina para o ataque, juntamente com Kalédin. Em novembro de 1917, depois da vitória do Poder Soviético no centro da Rússia, esse "governo" (se assim pode ser chamado) passou a fazer a corte às missões militares anglo-francesas, procurando torpedear o armistício na frente russo-alemã. No início de 1918, depois do malogro da aventura de Kalédin, esse "governo" enigmático desapareceu do horizonte político, limitando-se a organizar incursões de banditismo contra os trens e ataques traiçoeiros contra pacíficos habitantes das cidades e do campo. Lá pela primavera deste ano todos o haviam esquecido, porque no Cáucaso Setentrional, nas regiões do Kuban e do Térek, os soviets dos deputados efetivamente populares se haviam reforçado e reunido em torno de si amplas camadas de todas as comunidades dos povos do Cáucaso Setentrional, sem exceção. Kabardinos e cossacos, ossétios e georgianos, russos e ucranianos haviam formado um grande anel em torno dos soviets dos deputados do Térek. Os tchetchenos e os inguchos, os cossacos e os ucranianos, os operários e os camponeses haviam lotado com os seus representantes os numerosos soviets dos deputados da região do Kuban. Amplas camadas de trabalhadores de todas essas comunidades e de todos esses povos haviam proclamado publicamente em seus congressos que laços indissolúveis os uniam à Rússia Soviética. Tudo isso não podia deixar de fazer com que o suposto "governo" dos Tchermoiev e dos Bammátov desaparecesse da cena política. Todos julgavam que esse governo estivesse morto e sepultado. É verdade que um amigo íntimo dos Bammátov, o suposto imã do Daguestão, ainda no mês de março havia dado sinal de vida, organizando incursões de banditismo na linha férrea das proximidades de Petrovsk e Derbent. Mas já lá por meados de abril a aventura do imã estava liquidada pelos destacamentos soviéticos dos operários de Baku e dos próprios daguestanos, que tinham obrigado o imã e o seu séqüito de oficiais russos a fugir através das montanhas do Daguestão.
Mas o imperialismo não seria imperialismo se não soubesse invocar do "outro mundo" as sombras dos mortos para os seus fins terrenos. Não faz mais de uma semana que nos foi entregue uma declaração oficial, com as assinaturas dos ressuscitados Tchermoiev e Bammátov, na qual se fala na constituição de um Estado independente (não se faça zombaria!) do Cáucaso Setentrional, do Mar Negro ao Mar Cáspio (nem mais nem menos!)
"A União dos Povos da Montanha do Cáucaso — diz a proclamação desse suposto governo — decide separar-se da Rússia e formar um Estado independente.
O território do novo Estado terá como fronteiras: norte, as mesmas fronteiras geográficas que existiam no ex-império russo, as regiões e as províncias do Daguestão, do Térek, de Stávropol, do Kuban e do Mar Negro; a oeste, o Mar Negro; a leste, o Mar Cáspio; ao sul, uma fronteira que será fixada em seus detalhes de acordo com o governo da Transcaucásia."
E assim o "governo" da Transcaucásia estabelece "relações" com os "libertadores" turco-alemães e o "governo" do Cáucaso Setentrional com o da Transcaucásia. A situação é clara: os aventureiros do Cáucaso Setentrional, iludidos pelos anglo-franceses, contam agora com os inimigos destes últimos. E como a sede de conquista dos turco-alemães não conhece limites, é preciso imaginar que não se deve excluir a possibilidade de um "acordo" entre os aventureiros do Cáucaso Setentrional e os "libertadores" turco-alemães.
Não duvidamos de que estes últimos façam declarações de fidelidade ao tratado alemão, que se mostrem dispostos a manter relações amigáveis, etc., etc. Entretanto, como hoje se tem o hábito de acreditar nos atos e não nas palavras, e os atos desses senhores são mais do que evidentes, o Poder Soviético deverá mobilizar todas as forças para defender os povos do Cáucaso Setentrional de possíveis tentativas de agressão.
O Comissário do Povo
J. Stálin.
Notas de fim de tomo:
[N19] (19) As negociações de paz entre os representantes da Dieta transcaucásica e os da Turquia tiveram início em Batum a 11 de maio de 1918. Após a "débâcle" da República Transeáucasica, verificada a 26 de maio, as negociações foram levadas a efeito em Batum pelo governo menchevique da Geórgia "independente". Em 4 de junho foi assinado o tratado de paz, segundo o qual Batum, o distrito de Akhaltsikh e parte do distrito de Akhalkalak passavam para a Turquia, a qual obtinha além disso o direito de servir-se livremente das ferrovias da Geórgia para transportar suas tropas. (retornar ao texto)
[N20] A insurreição contra a Dieta transcaucásica contra-revolucionária teve início na Abkházia em março de 1918. O Comissariado transcaucásico foi suprimido e o Poder Soviético proclamado. Os mencheviques lançaram consideráveis forças militares contra os insurgentes e, apesar da heróica luta destes últimos, conseguiram quebrar-lhes a resistência. Seguiram-se represálias ferozes também contra a população inernie. (retornar ao texto)
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Inclusão | 21/01/2008 |
Última alteração | 23/11/2010 |