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Declaro aberta a primeira Conferência dos dirigentes da Inspeção Operário-Camponesa de Toda a Rússia.
Camaradas! Antes de passar aos trabalhos da Conferência, permiti-me exprimir a opinião do Comissariado do Povo para a Inspeção Operário-Camponesa sobre estas questões: num Estado operário e camponês é necessária a inspeção, e, no caso de que o seja, quais devem ser suas tarefas fundamentais?
A Rússia é o único país no qual os operários e os camponeses tomaram o Poder. Constituiu premissa para a tomada do Poder a mais profunda revolução que já se verificou no mundo, à qual se seguiu a liquidação dos velhos aparelhos do Poder estatal e o surgimento de novos aparelhos. No passado acontecia habitualmente que os operários trabalhavam para o patrão e os patrões administravam o país. É isso que, justamente, explica por que antes da revolução toda a experiência de direção do país estava concentrada nas mãos das classes dominantes. Mas após a Revolução de Outubro foram para o Poder os operários e os camponeses, os quais não haviam nunca exercido funções de direção, os quais conheciam somente o trabalho em proveito de outros e não tinham suficiente experiência para poderem dirigir o país.
Essa é a primeira circunstância que deu origem àquelas deficiências de que agora sofrem os aparelhos de administração estatal do país dos soviets.
Além disso, com a liquidação dos velhos aparelhos da administração estatal, a burocracia foi destruída, mas os burocratas ficaram. Disfarçados de funcionários soviéticos, entraram para os nossos aparelhos estatais e, aproveitando-se da insuficiente experiência dos operários e dos camponeses que haviam só então tomado o Poder, começaram a tramar as antigas maquinações para dilapidar os bens do Estado e introduziram em nossos aparelhos os velhos costumes burgueses.
Essa é a segunda circunstância que gerou as deficiências dos nossos aparelhos estatais.
Enfim, o novo Poder herdou do velho um aparelho econômico completamente destruído. Tal destruição foi agravada em conseqüência da guerra civil imposta à Rússia pela Entente. Essa circunstância foi também uma das condições que determinaram os defeitos e as deficiências no mecanismo administrativo.
Essas, camaradas, são as condições fundamentais que geraram as deficiências existentes em nossos aparelhos estatais.
É claro que enquanto essas condições existirem, enquanto nos aparelhos estatais permanecerem deficiências, teremos necessidade da Inspeção.
Naturalmente, a classe operária esforçar-se-á para adquirir experiência na direção do país; contudo, até agora a experiência dos representantes da nova classe que subiu ao Poder ainda não é suficiente.
Naturalmente, os burocratas que se disfarçaram e penetraram em nossos aparelhos serão agarrados pela gola, mas ainda não o estão sendo na medida necessária.
Naturalmente, a desordem que temos diante de nós diminui graças à atividade febricitante dos nossos órgãos estatais, mas ainda continua.
Justamente por isso, enquanto essas condições continuarem, enquanto houver essas deficiências, é necessário um aparelho estatal especial que estude essas deficiências, corrija-as e ajude nossos órgãos estatais a progredir no caminho do aperfeiçoamento.
Quais são pois as tarefas fundamentais da Inspeção ?
As tarefas fundamentais são duas.
A primeira consiste nisto: na conclusão ou no curso de seu trabalho de controle, os funcionários da Inspeção devem ajudar nossos camaradas que se encontram no Poder, seja no Centro seja nas regiões periféricas, a fixar as formas mais apropriadas para o cálculo da propriedade estatal, devem ajudá-los a estabelecer as formas mais racionais de contabilidade, a organizar os aparelhos de aprovisionamento, os aparelhos do tempo de paz e os do tempo de guerra, os aparelhos econômicos.
Essa é a primeira tarefa fundamental.
A segunda tarefa fundamental consiste nisto: a Inspeção Operário-Camponesa no curso do seu trabalho deve preparar instrutores operários e camponeses que possam assenhorear-se de todo o aparelho estatal. Camaradas, na realidade um país não é dirigido pelos que elegem os seus representantes ao parlamento, num regime burguês, e aos congressos dos soviets, num regime soviético ; ele é de fato dirigido pelos que realmente se assenhorearam dos aparelhos executivos do Estado e que dirigem esses aparelhos. Se a classe operária deseja efetivamente assenhorear-se do aparelho estatal para dirigir o país, deve ter emissários peritos não só no Centro, não só nos locais onde são discutidas e resolvidas as questões, mas também nos lugares onde as decisões são postas em prática. Só então se poderá dizer que a classe operária assenhoreou-se efetivamente do Estado. Para conseguir isso, é necessário ter um número suficiente de instrutores preparados, que formem os dirigentes do país. A tarefa fundamental da Inspeção Operário-Camponesa consiste em instruir e preparar esses quadros, atraindo para a órbita de sua atividade amplas camadas de operários e camponeses. A Inspeção Operário-Camponesa deve ser uma escola para esses quadros operários e camponeses.
Essa é a segunda tarefa da Inspeção Operário-Camponesa.
Daqui surgem os métodos de trabalho que devem ser adotados pela Inspeção Operário-Camponesa. Na época antiga, na época anterior à revolução, o controle ficava fora dos organismos estatais, era uma força externa, que, pondo em prática os controles nas instituições, se esforçava e se contentava com apontar os culpados, os delinqüentes. Tratava-se de um método, por assim dizer, policialesco, do método da descoberta dos culpados, dos desmascaramentos sensacionais, para dar ensejo à imprensa de fazer barulho. Esse método deve ser posto de lado: não é o método da Inspeção Operário-Camponesa. A nossa Inspeção deve considerar as instituições que controla, não como instituições estranhas a ela, e sim como instituições que lhe são caras, que é preciso instruir e aperfeiçoar. A coisa mais importante não consiste em descobrir os delinqüentes isolados, mas antes de mais nada em estudar as instituições que são controladas, em estudá-las ponderada e seriamente, em estudar suas deficiências e seus méritos e em fazer progredir a obra de aperfeiçoamento dessas instituições. A coisa mais feia e indesejável é que a Inspeção propenda para os métodos policialescos, que se ponha a cavilar com a instituição de que se ocupa, que comece a procurar cabelo num ovo e se detenha no aspecto exterior dos fenômenos, omitindo os defeitos fundamentais.
Os métodos de trabalho da Inspeção Operário-Camponesa devem consistir em descobrir os defeitos fundamentais. Sei que esse caminho é muito difícil, que ele suscita muitas vezes o descontentamento em alguns dirigentes dos organismos controlados, sei que muitas vezes funcionários honestíssimos da Inspeção Operário-Camponesa atraem para si o ódio de empregados cheios de presunção, e também de alguns comunistas que erroneamente vão nas águas destes últimos. Mas a Inspeção Operário-Camponesa não deve temer isso. Ela deve ater-se sempre ao imperativo fundamental: não dispensar atenções especiais a nenhum indivíduo, qualquer que seja o posto que ocupe, dispensar atenção especial somente à causa, somente aos interesses da causa.
Essa tarefa é difícil e delicada, e requer uma grande firmeza e uma grande honestidade, uma irrepreensível honestidade. Com profundo pesar, devo dizer que, na realidade, ao procederem à inspeção de algumas instituições, justamente aqui em Moscou, os próprios agentes do controle não se mostraram à altura da tarefa. Devo declarar que contra esses agentes o Comissariado será inexorável. Ele exigirá que lhes sejam aplicadas as mais severas medidas punitivas, uma vez que eles maculam a honra dos que fazem parte da Inspeção Operário-Camponesa. Se à Inspeção Operário-Camponesa tocou a elevada tarefa de corrigir as deficiências das nossas instituições, de ajudar os colaboradores dessas instituições a progredir, a melhorar, se a ela foi atribuída a tarefa de não ter atenções especiais para com ninguém, mas somente para com os interesses da causa, é evidente que os seus próprios funcionários devem ser puros, irrepreensíveis e impiedosos na sua justiça. Isso é absolutamente necessário a fim de que possam ter o direito, não só formal como também moral, de controlar os outros e instruí-los.
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Inclusão | 21/04/2008 |