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Camaradas:
O nosso camarada Octávio Pato apresentou ao Congresso a composição do Comité Central. Eu gostaria, camaradas, de vos apresentar a composição do nosso Partido. Mas estaria aqui dias para vos contar os anos de militância dos nossos camaradas, os séculos ou milhares de anos de prisão que eles passaram, esses muitos e muitos camaradas que eu vejo entre os delegados, que eu vejo entre os convidados, e que contribuíram, pelos seus sacrifícios, pelo seu trabalho, para a construção do nosso Partido, para que ele possa hoje ser aquilo que é.
O nosso Partido e o seu Comité Central serão aquilo que os seus militantes queiram, serão aquilo que os membros do Partido queiram.
Temos um Comité Central caldeado pelas dificuldades e pela luta, mas não só o Comité Central; temos um Partido que teve a mesma experiência, passou a mesma escola e tem as mesmas características que tem o seu Comité Central.
Nós não devemos esquecer muitas vezes que o que decide o trabalho são os trabalhos modestos, aqueles que não se vêem. Estão aqui camaradas entre os delegados, camaradas que não foram presos, vi há pouco um, calhou-me a vista em cima; esses camaradas que não foram presos, por exemplo, passaram 30 anos na clandestinidade. Os seus nomes possivelmente não são muito conhecidos, mas são camaradas que asseguraram tipografias clandestinas durante mais de 20 anos a seguir na clandestinidade.
Nós falamos dos recursos financeiros do Partido e muitas vezes se pergunta donde é que vêm esses recursos financeiros, mas há pouco, olhando para os camaradas convidados, eu vi a cara de um camarada que vendeu a sua casa, vendeu a sua terra, para dar tudo ao Partido.
Nós estamos aqui, camaradas, a trabalhar e, entretanto, no Centro de Trabalho do Partido, em Lisboa, e noutros centros de trabalho, estão camaradas que ficaram para assegurar a guarda e para assegurar serviços técnicos e naturalmente com muito desgosto não estão aqui. Mas o seu trabalho lá, onde nós não os vemos, é essencial para que nós aqui possamos estar a trabalhar e trabalhar com segurança, e para trabalharmos com segurança foi necessário que estivessem camaradas nossos à guarda das portas, a guarda dos corredores, não vendo aquilo que se passava dentro desta sala.
Isto para dizer, camaradas, que o Partido formam-no todos os membros do Partido, todos os seus militantes. O Partido é um, é uno, e tudo deve estar unido na realização das mesmas tarefas.
Mas mais ainda, camaradas, nós falamos aqui do Comité Central, estamos a falar, enfim, do nosso Partido, tal como ele veio da clandestinidade, portanto um Partido que teve uma experiência, teve uma história, teve uma luta muito difícil e dura. Naturalmente que os camaradas membros do Partido que deram certas provas, há razão para que o Partido tenha confiança neles, para que os escolha para certas tarefas. Mas é necessário, nas novas condições que vivemos, não estabelecer uma barreira entre aqueles que vêm de trás, do fascismo, e aqueles que entram no Partido e dão todas as suas energias para que o nosso Partido possa realizar as suas tarefas.
Nós não queremos que haja no Partido membros do Partido de primeira classe e de segunda classe. Todos os membros do Partido têm direitos iguais, têm deveres iguais, venham do tempo da clandestinidade ou entrem depois do 25 de Abril.
Queremos que venham muitos novos militantes ao Partido e que a esses militantes, segundo as suas qualidades e o seu trabalho, sejam conferidas todas as responsabilidades de que se mostrem merecedores.
Camaradas:
Chegámos ao fim dos trabalhos do nosso Congresso Cumprimos a ordem de trabalhos. O Programa e os Estatutos com as emendas propostas pelo Comité Central, primeiro, e por numerosas organizações do Partido e membros do Partido foram aprovadas.
Foi também aprovada a Proclamação do Congresso Extraordinário que contém integrada a Plataforma de Emergência constante do Capítulo II do Programa.
O Partido tem agora nestes documentos um instrumento político fundamental para a sua actividade. Mas estes documentos não são apenas para a actividade do Partido. Os objectivos de luta definidos neste Congresso não são objectivos que interessem apenas os comunistas, são objectivos que interessam todo o nosso povo, são objectivos que interessam a classe operária, interessam os camponeses, interessam os intelectuais, interessam as camadas médias, interessam todos os que estão hoje empenhados na construção de um Portugal democrático, que estão hoje empenhados numa luta antimonopolista e antilatifundista.
Não somos partidários da teoria das minorias activas, não somos partidários da teoria dos heróis libertadores. A vanguarda revolucionária só pode cumprir as suas tarefas se tem consigo a classe operária e as massas populares e tem consciência de que é a classe operária e são as massas populares que fazem a história.
O nosso Partido levará à classe, levará às massas, o Programa e a Plataforma de Emergência e essa será então a altura em que serão postos à prova os documentos que aprovámos neste Congresso, as decisões que tomámos neste Congresso. Se as conclusões a que chegámos são justas, se são justos os objectivos que definimos, então podemos estar certos de que esses objectivos serão tomados como bandeira pela classe operária e pelas massas populares que lutarão por eles e conseguirão realizá-los.
Mas se não fizerem, então, camaradas, é que nós de facto não acertámos, é que não definimos os objectivos justos nem as formas de os realizar.
Agora é nossa tarefa levar à classe operária, levar às massas populares os documentos que aqui aprovámos, os objetivos que aqui definimos e procurarmos com o trabalho de organização, com a nossa propaganda, que estes objectivos sejam alcançados.
Este nosso Congresso foi uma nova expressão da extraordinária vitalidade do nosso Partido, da inabalável unidade do Partido baseada na consciência política, na fidelidade ao Marxismo-Leninismo, nos métodos democráticos de trabalho, no ambiente fraternal e de respeito mútuo existente entre os quadros, na ligação estreita do Partido com a classe operária, o campesinato, a juventude trabalhadora e estudantil, os intelectuais, em suma, as mais amplas massas populares.
Foi uma nova expressão da força do Partido e haverá certamente alguns a quem não agrade a realização deste Congresso e a força do nosso Partido. Os reaccionários dizem que o povo tem medo dos comunistas, mas este Congresso mostra bem que, ao contrário do que dizem esses reaccionários, o povo português não só não tem medo dos comunistas, como confia neles e está com os comunistas e vê nos comunistas os seus melhores defensores, os melhores defensores do povo e do País.
Da tribuna deste Congresso, falaram militantes de todas as regiões do país. Falaram operários industriais, operários agrícolas, camponeses, intelectuais, jovens trabalhadores e estudantes, mulheres, organizadores de massas, velhos militantes e militantes jovens. Muitos militantes vieram aqui. Cada um teve a sua história para se tornar comunista, e todos eles expressam a riqueza da nossa organização, a riqueza dos homens, mulheres, jovens de que dispõe o nosso Partido. Cada militante é um obreiro da acção do nosso Partido. Não é o Comité Central, não são os organismos de direcção que decidem só por si os destinos do Partido. São todos os militantes. E por isso cada militante deve considerar que está nas suas mãos uma grande parte dos destinos do seu Partido.
Cada militante deve ver a sua actividade ligada à actividade de todos os outros membros do seu Partido e saber que a sua contribuição pode decidir da vitória ou derrota do seu Partido.
O estilo de trabalho tem de responder hoje às exigências que colocam as condições novas em que vivemos e em que lutamos. As decisões têm de ser mais prontas. O controlo directivo e a agitação e propaganda têm de ser mais rápidas e mais operativas. As organizações têm de estar ainda mais profundamente implantadas na classe operária e nas massas populares e tão profundamente implantadas que a actividade do nosso Partido deve acompanhar o pulsar do coração dos trabalhadores e das massas populares, dando resposta a cada um dos seus problemas, das suas inquietações, das suas dificuldades, das suas aspirações.
O Partido tem de encontrar na organização, na agitação, na propaganda, as formas adequadas à situação nova que temos depois do 25 de Abril. Mas deve também saber conservar aquelas características fundamentais dos militantes e do estilo de trabalho que vêm dos anos duros, da dura experiência dos anos de fascismo. Devemos manter e reforçar entre os nossos militantes a dedicação sem limites à causa dos trabalhadores, aos interesses do povo e do País; a combatividade, a tenacidade e a energia; a firmeza perante o inimigo; a capacidade para saber avançar, mas também a capacidade para saber recuar quando se torna necessário; a confiança na vitória mesmo nos momentos mais duros e mais difíceis; a solidariedade e a unidade fraternal dos comunistas e a sua ligação estreita com as massas. Com uma orientação política justa, com um trabalho de organização acertado, com uma propaganda de verdade e de esclarecimento, com um trabalho de massas constante de todas as organizações e militantes, com um estilo de trabalho digno das tradições gloriosas do nosso Partido, podemos estar certos de que a vitória será nossa.
Os trabalhos do nosso Congresso terminam e agora começa o trabalho de cada uma das nossas organizações, de cada um dos nossos militantes, para aplicar na prática as resoluções deste nosso Congresso.
A revolução democrática, camaradas, está em marcha. Avante pois pela consolidação das liberdades, pela realização de eleições livres para uma Assembleia Constituinte, pela instauração de um regime democrático em Portugal, de um regime que permita o avanço do processo revolucionário, até vermos um dia em Portugal aquela sociedade por que sempre lutámos, por que lutamos e lutaremos até à sua realização: a sociedade socialista primeiro e o comunismo depois.