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Lembro-me como se fosse hoje. Eu tinha 14 anos, andava no ciclo preparatório da Escola Delfim Santos. Nesse dia levantei-me mais cedo mas não fui às aulas. Perto de minha casa, no bairro Padre Cruz, ficava o Regimento de Engenharia 1, que atravessou dois camiões na estrada da Pontinha. Junto deles estavam soldados com G-3 e capacetes, como se fossem para uma guerra. Os moradores do meu bairro iam comprar comida para os soldados, que não comiam havia muitas horas. As mulheres ofereciam o que cozinhavam, apesar de não terem muitas posses.
Os autocarros que deviam levar os trabalhadores para os seus empregos já não conseguiram passar para o centro. Nesse dia ninguém trabalhou, foi um dia de greve geral contra o regime e de apoio ao 25 de Abril. Passados poucos dias, o povo começou a ocupar as casas que se encontravam devolutas no bairro camarário.
★★★
“Exigimos que saia a lei que considera superlotado todo o prédio em que haja menos de 11 metros quadrados por pessoa, não podendo esses prédios ser subalugados. A nossa luta é para acabar com as colmeias humanas. Temos direito a boas casas.
A lei das rendas de casa publicada pelo Governo Provisório veio tornar ainda mais difícil encontrar casa. É cada vez maior o número de casas particulares que estão de vago, a apodrecer. As casas fazem-se para habitar, não se pode permitir que sirvam para fazer negócio. Os trabalhadores têm direito à habitação, como tal exigem que as casas disponíveis sejam distribuídas como deve ser.” (Comissão de moradores da rua D. João IV, 402, Porto, 22/1/75)
A LUTA DOS BAIRROS CAMARÁRIOS
Os fascistas cá do Porto
fazem bairros camarários
escondem nossa miséria
nas costas dos seus palácios
E a opressão aos moradores
nas costas do alvará
A opressão tem mil caras
tudo rouba e nada dá
A opressão tem mil caras
tudo rouba e nada dá
Em Portugal libertado
tudo isso acabará
Moradores, povo unido
tudo junto lutará
Moradores povo unido
tudo junto lutará
Atiremos para a lixeira
a camioneta e o fiscal
Ajudaremos assim
a libertar Portugal
E gritemos todos juntos
p’rá ajudar o movimento
Abaixo o Abel Monteiro
Mais o seu regulamento!
Inclusão | 23/11/2018 |