MIA> Biblioteca> Temática > Novidades
A mim, foi o 25 de Novembro que me trouxe para a política. Antes disso era muito novo e fui só um espectador dos acontecimentos. Foi quando começou a repressão depois do golpe do Eanes que senti a necessidade de intervir em defesa dos interesses dos trabalhadores.
A única recordação que me ficou dos meses revolucionários foi a ocupação de casas. Eu morava em Cheias e aquelas famílias que viviam em barracas lançaram-se a ocupar casas dos bairros económicos que estavam vagas, destinadas a ser distribuídas a pessoas afectas ao regime, polícias, etc. Muitas ainda não tinham reboco, estavam no tijolo, mas foi tudo ocupado. Também foram ocupadas casas de senhorios privados, o que deu algumas confrontações com os proprietários. Vinha o COPCON mas não reprimia, só aconselhava a não irem para prédios privados: “Vocês têm muitas casas do Estado que podem ocupar”.
No 28 de Setembro, estava eu na Escola de Fuzileiros de Vila Franca, distribuíram a cada aluno uma arma sem munições, ficámos de prevenção por causa da “maioria silenciosa”, mas ninguém nos explicou nada.
Apesar do passo histórico que foi o reconhecimento da independência das colónias, apesar das conquistas dos trabalhadores, ficou-se pelos direitos de expressão e de organização sindical e não se conseguiu ir mais além. Teria sido possível uma vitória revolucionária? Hoje tenho muitas dúvidas. Uma revolução sem o apoio do resto da Europa teria sido facilmente esmagada. Mas a falta de orientação revolucionária nessa altura deu origem a um profundo recuo e à perda de confiança dos trabalhadores nas suas próprias forças.
★★★
ARCEBISPÍADA
Pregais o Cristo de Braga
Fazeis a guerra na rua
Sempre virados pr'ó céu
Sempre virados pr'á Virgem
A Santa Cruzada manda
Matar o chibo vermelho
Contra a foice e o martelo
Contra a alfabetização
Curai de ganhar agora
Os vossos novos clientes
Além do pide e do bufo
Amigos do usurário
Além do latifundiário
Amigo do Capelão
“Abre Nuncio Vade Retro
Querem vender a nação”
“A medicina é ateia
Não cuida da salvação”
Que o diga o facultativo
Que o diga o cirurgião
Que o digam as criancinhas
“Rezas sim, parteiras não”
Se Pinochet concordasse
Já em Fátima haveria
Mais de trinta mil vermelhos
A arder de noite e de dia
Caridade, a quanto obrigas
Só trinta mil voluntários
“Cristo reina, Cristo vinga”
Nos vossos santos ovários
E também nos lampadários
E também nos trintanários
Abre Nuncio Vade Retro
Querem vender a nação
Ó Carnaval da capela
Ó liturgia do altar
Já lá vem Camilo Torres
Com o seu fuzil a sangrar
Igreja dos privilégios
Mataste o Cristo a galope
Também Franco, o assassino
Mandou benzer o garrote
José Afonso
Inclusão | 23/11/2018 |