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Lenin fundador do Estado Soviético |
No primeiro dia da vitoriosa Revolução de Outubro, na reunião do Soviet, de deputados trabalhadores e soldados de Petrogrado, soaram as proféticas palavras de Lenin:
"Inicia-se agora uma nova era na história da Rússia, e a atual terceira revolução russa deve, em sua finalidade, trazer a vitória do socialismo."
A Revolução de Outubro de 1917 na Rússia foi uma revolução socialista. O caráter socialista da Revolução de Outubro demonstrou-se, sobretudo, no fato de que a classe operária — a mais revolucionária entre todas as classes oprimidas existentes até estes tempos — tomou o poder e iniciou a construção socialista da sociedade.
"Justamente, por isso — escreve o camarada Stalin — a vitória da Revolução de Outubro significa uma mudança radical na história da humanidade, nos destinos históricos do capitalismo mundial, no movimento libertador do proletariado mundial, nos métodos de luta e formas de organização, no estado e tradições, na cultura e ideologia das massas exploradas de todo o mundo."
A Revolução de Outubro retirou das mãos dos latifundiários e capitalistas os seus meios de produção, transformando-os em propriedade socialista. O proletariado arrancou das mãos da burguesia o nervo básico da vida económica — os bancos —, e depois efetuou a expropriação das fábricas, usinas e transportes que foram entregues ao Governo socialista.
A Revolução de Outubro liquidou o regime estatal burguês e criou um novo regime: a democracia soviética. A Revolução de Outubro, sob a bandeira do internacionalismo a amizade dos povos, libertou os povos da Rússia da opressão nacional-colonial e deu início à criação de um Estado multinacional soviético.
A Revolução de Outubro resolveu problemas que a revolução burguesa de fevereiro não pôde solucionar nem tampouco remediar.
"Há cento e cinqüenta e duzentos e cinqüenta anos atrás — escrevia Lenin — os líderes avançados das revoluções (sem falar de um só tipo nacional comum) prometeram aos povos libertar a humanidade dos privilégios da Idade Média, da desigualdade da mulher, das preferências estatais pela religião (ou em geral da "idéia de religião" ou de "religiosidade"), da desigualdade das nacionalidades. Prometeram e não cumpriram. Não puderam cumprir porque os impedia o "respeito"... à "sagrada propriedade privada" (tomo 27, pág. 26).
"Nós jogamos fora toda a imundície monárquica, como ninguém, como nunca" — escreve Lenin no mesmo artigo. — "Não deixamos pedra sobre pedra, tijolo sobre tijolo no secular edifício de castas (os países mais avançados, como Inglaterra, França, Alemanha, não se libertaram até agora das sobrevivências de casta). Justamente as mais profundas raízes de castas: os resíduos do feudalismo e da servidão na agricultura, foram por nos arrancados pela raiz."
Lenin indicava:
"Para assegurar aos povos da Rússia as conquistas da revolução democrático-burguesa, nos tivemos que ir mais adiante e fomos avançando. Resolvemos os problemas da revolução democrático-burguesa como algo secundário, como um produto colateral do nosso principal e verdadeiro trabalho socialista, proletário, revolucionário."
A completa liquidação dos latifundiários foi um golpe, não só para o regime de servidão agrícola russo, como também para o imperialismo russo, por que as propriedades dos nobres estavam hipotecadas e re-hipotecadas aos bancos, porque os latifundiários estavam estreitamente ligados com o capital financeiro. A saída da guerra imperialista foi um potente golpe no imperialismo, por que ao sair da guerra, a Rússia rompeu as antigas ligações imperialistas e escapou à dependência escravizadora dos poderosos Estados imperialistas. Depois da revolução de fevereiro, seguiu sem interrupção o processo da luta revolucionária da classe operária. Esta, cada vez mais decidida, lutava contra o governo provisório burguês, contra a ordem burguesa, manifestando-se cada vez mais unida, juntando suas forças e as de todos trabalhadores, para derrubar o poder imperialista no país.
Antes da Revolução de Outubro, a Rússia atravessava uma crise nacional. Um dos mais importantes sintomas dessa crise foi o levante camponês.
"Ante a existência do levante camponês, os demais sintomas políticos ainda que fossem contradições que concorressem para o amadurecimento da crise geral nacional, careciam de valor" (tomo 21, pág. 237).
Demonstração de uma crise geral no país foi também o desmembramento cada vez maior do império russo e o movimento de massas contra a política exterior do Governo provisório. A única força capacitada para a solução dos problemas nacionais era o proletariado.
"O problema das nacionalidades e agrário, são problemas radicais no presente momento para as massas pequeno-burguesas da população russa. É indiscutível. E destes problemas não está separado o proletariado. Este tem atrás de si a maioria do povo. Ele é o único capaz de levar adiante uma política decidida, real, "revolucionária e democrática" sobre ambos os problemas, o que assegurará ao Estado proletário, não somente a ajuda da maioria da população, como também despertara uma verdadeira explosão de entusiasmo revolucionário nas massas." (Tomo 21, pág. 254).
A experiência russa demonstrou que os interesses da maioria do povo, da maioria das nações, no momento histórico transitório de preparação e realização da revolução socialista, coincidiam com os interesses do desenvolvimento socialista do país.
Para a Rússia da segunda metade do século XIX e princípios do século XX, a tarefa de vital importância era a supressão da servidão feudal no campo e do atraso medieval na economia e na política do país. Nisto estava interessada a esmagadora maioria do povo, quase toda a nação com exceção de um pequeno círculo de latifundiários. Esta era, justamente, a tarefa necessária para os interesses da nação inteira. E como a servidão e o medievalismo manifestavam-se, sobretudo, nas relações da terra, a solução do problema agrário adquiria uma importância radical de primeira grandeza.
"A história dos anos de 1905-1909 demonstrou o significado radical de primeira magnitude para o país, do problema agrário na afirmação da Revolução burguesa de um tipo definido na Rússia". (Tomo 14, pág. 215).
Os latifundiários aburguesados que compreendiam a necessidade de transformação da antiga estrutura sobre a base da servidão na economia, pretendiam representar os interesses nacionais, porém preferiam efetuar esta transformação a sua maneira: com cuidado, gradativamente e as custas, antes de tudo, do campesinato, com um doloroso e lento processo de empobrecimento e aniquilamento de milhões de camponeses.
Assim tratava Stolypin de resolver os problemas radicais do desenvolvimento da Rússia. Esta era uma política anti-nacional, anti-popular. A tarefa do desenvolvimento burguês na Rússia se resolvia por Stolypin, não a favor dos interesses da grande maioria da nação (campesinato), senão em favor dos interesses dos latifundiários.
A esta maneira de resolver basicamente o desenvolvimento burguês na Rússia do problema agrário contra os interesses da maioria da nação, Lenin chamava o método prussiano do desenvolvimento do capitalismo na economia camponesa. Desta maneira era claro que os latifundiários que tinham adotado o método prussiano do desenvolvimento capitalista não podiam representar os interesses do povo.
Até à Revolução de 1917, o problema agrário foi o problema básico do desenvolvimento burguês da Rússia. Depois da revolução de fevereiro, os problemas de maior importância no desenvolvimento da Rússia adquiriram outro caráter, outro significado.
A guerra imperialista e a revolução de fevereiro aprofundaram e intensificaram todas as contradições na Rússia atando-as em um só novelo. A história colocou diante da Rússia o seguinte dilema: ou perecer ou avançar a todo vapor. Avançar quer dizer marchar pelo caminho da revolução socialista, do desenvolvimento socialista. "Ficar parado na história não é possível, e com maior razão durante a guerra" — escreveu Lenin em 1917. Ou avançar ou retroceder. Avançar na Rússia do século XX, que conquistou a República e a democracia na luta revolucionária, não sendo para o socialismo, é impossível.
Os problemas básicos da revolução burguesa poderiam ser solucionados, somente com o derrubamento da burguesia. A Rússia iniciou a revolução socialista. Principal tarefa para o desenvolvimento subseqüente da Rússia era o problema do poder, de estabelecer a ditadura do proletariado. Todos os demais problemas estavam subordinados a este.
Em setembro de 1917, Lenin sublinhava a radical mudança na colocação do problema agrário:
"A nacionalização da terra no problema agrário inevitavelmente adquire outra determinação. Quer dizer: A nacionalização da terra não é somente "a última palavra" da revolução burguesa, senão também um passo para o socialismo." (Tomo 21, pág. 233).
A única força capaz de solucionar as tarefas que se apresentaram no país era a classe operária, cujos objetivos eram a transformação socialista da sociedade russa. As tarefas nacionais da Rússia coincidiam com as tarefas da classe operária.
A classe operária russa possuía todas as qualidades de líder de massas, de dirigente do movimento revolucionário e de guia na luta revolucionária contra os latifundiários e a burguesia: atividade política, organização, disciplina, capacidade de raciocínio político e teórico, profunda inteligência, o contacto estreito com todas as classes e grupos oprimidos da sociedade russa. Tudo isto facilitava à classe operária russa o cumprimento do seu papel de líder e dirigente das massas populares.
O proletariado russo, que entrou na época do imperialismo mais organizado que a classe operária da Inglaterra, França e Alemanha, criou sob a direção do Partido Bolchevique, organizações combatentes de classe contra os latifundiários e burgueses, com uma força ameaçadora, e guiava e dirigia o campesinato para a luta libertadora.
Egoísta, covarde, conciliadora com o tzarismo, traidora do povo, sem fortes organizações de classe e partidos, sem nenhuma experiência em combinações parlamentares e em lutas políticas, era a burguesia russa.
A classe operária levantou a palavra de ordem de liquidar o tzarismo e imediatamente passar à luta pela liquidação do regime burguês e estabelecer a ditadura do proletariado. O partido da classe operária não escondia que o objetivo do proletariado russo era o estabelecimento de sua ditadura, com a qual poderia vencer a resistência e oposição dos latifundiários e capitalistas derrubados e organizar a construção da sociedade comunista.
Nos interesses de todos os trabalhadores da Rússia estava a vitória do proletariado. No proletariado russo existia o claro convencimento de que as classes e nações oprimidas da Rússia poderiam obter êxito somente quando marchassem pelo caminho que as guiava o proletariado. O Partido Bolchevique, na luta cruel com os inimigos do socialismo, conduziu a todos os que se debatiam sob jugo tzarista pela senda do proletariado.
O proletariado russo e seu Partido assumiram o papel dirigente no movimento popular revolucionário. Justamente porque a classe operária assegurava sua organização de classe, justamente porque ela saiu com seu programa socialista de classe, pôde defender sua independência e conquistar o papel de líder e de força dirigente no movimento revolucionário e na luta contra os donos de terras e capitalistas.
Nesse sentido o ajudou muito, não apenas sua organização independente, como também a capacidade de assimilação e clareza teórica do proletariado russo. Os geniais líderes Lenin e Stalin lhe proporcionaram a arma poderosíssima do marxismo-leninismo. O Partido Bolchevique repeliu as tentativas da burguesia de submeter a classe operaria à sua ideologia e, ao mesmo tempo, com seu abnegado trabalho, limpou o caminho para a penetração da influência e direção proletária no ambiente do campesinato e das camadas pobres da cidade.
A classe operária russa, que formou e cresceu, antes de tudo, dentro dos marcos nacionais, tomou o melhor, o mais avançado das tradições de seu povo, revisou os princípios do nacionalismo e enfrentou a execução das tarefas nacionais.
E esta é a razão pela qual coincidem na Rússia as tarefas socialistas e nacionais. Entretanto somente o movimento socialista proletário, assegurava a legítima, conseqüente e decidida execução das tarefas nacionais.
Desde a segunda metade do século XIX criava-se para a Rússia um perigo verdadeiramente real de escravidão e perda de sua independência como Estado. A Rússia tzarista, cada vez mais atrasada, ficava atrás no desenvolvimento econômico dos países mais avançados e, por conseguinte, caía cada vez mais sob a dependência escravizadora de outros Estados. Cada vez mais aumentava "o papel dependente, tanto do tzarismo como do capitalismo russo em relação ao capitalismo europeu."
Com uma cifra comparavelmente alta de produção na indústria de carvão, a Rússia não tinha indústria de maquinarias pesadas. A indústria têxtil — a única inteiramente nas mãos dos capitalistas russos — também dependia das firmas estrangeiras, pelo fato de que não possuía fabricação própria de máquinas necessárias.
Nas empresas organizadas pelo capital estrangeiro na Rússia, a produção estava disposta de tal maneira que aumentava a dependência técnico-econômica do país. Por exemplo, nas empresas de produção eletrotécnicas, onde prevalecia o capital alemão, faltavam séries completas de produção: importava-se da Alemanha uma quantidade de detalhes. Os capitalistas estrangeiros, com pleno conhecimento de causa freiavam e impediam a construção de maquinaria. Na Rússia tzarista importava-se 60% de maquinaria para a indústria e 58% para a agricultura. Para evitar as barreiras dos direitos alfandegários, o capital estrangeiro emigrou para a Rússia. Na Rússia encontrava força de trabalho barata, a proteção da burocracia tzarista e uma burguesia desorganizada, incapaz de fazer frente ao competidor estrangeiro.
Em suma, o capital estrangeiro abrangeu os principais ramos da indústria russa: metalurgia, 72%; carvão da bacia do Don, 70%; petróleo, 60%; eletrotécnica, 90%. Nas minas da Bacia do Don, nos campos petrolíferos de Bakú, na produção metalúrgica da Ucrânia mandavam os capitais estrangeiros. Os altos funcionários tzaristas ajudavam os acionistas estrangeiros a conquistar posições de mando na economia russa. Até os mais inteligentes dos mandatários tzaristas não viam outra solução para a atrasada situação econômica do país, senão, a da entrada de capitais estrangeiros. É bastante característica a declaração do famoso ministro tzarista Witte: "Se continuamos esperando a criação de empresas produtoras pela via de capitais nacionais, teremos que aguardar largo tempo para certos resultados positivos e neste Ínterim a Europa continuará avançando, deixando-nos mais atrasados." Witte supunha que o capital estrangeiro serviria de certo modo como escola para os capitalistas russos. Compreende-se que este caminho levava somente a transformação da Rússia de país semi-colonial em uma colônia do imperialismo ocidental europeu.
No período da primeira revolução russa, os imperialistas do Ocidente fizeram o bastante para consolidar a escravidão financeira da Rússia e assegurar o regime anti-popular tzarista.
"Todavia em 1906, quando a revolução estava desenvolvendo-se na Rússia, o Ocidente — como indicava o camarada Stalin — ajudou à reação tzarista a levantar-se, fazendo-lhe um empréstimo de dois mil milhões de rublos. E efetivamente o tzarismo se manteve com o preço da escravidão financeira da Rússia ao Ocidente."
O camarada Stalin indicou, não por casualidade, o caráter escravizador destas operações financeiras. Tais empréstimos eram extraordinários. Em si mesmo, um empréstimo não quer dizer que o país se entregue à escravidão. A Inglaterra recebia empréstimos da América, da França, da Alemanha, mas estas eram operações financeiras entre países num mesmo pé de igualdade. A Rússia tzarista aoreceber empréstimos de países estrangeiros, lhes dava um direito ilimitado para a exploração de suas riquezas, o uso das fontes de energia, direção dos bancos e das empresas produtoras. Desta maneira, a influência do capital estrangeiro, na forma de empréstimos escravizava a Rússia no sentido econômico, tomando em conta que esta dependência econômica se convertia também em dependência política.
Assim, o tzarismo se convertia em inimigo do povo, não somente como cabeça dirigente do sistema de servidão agrícola e com seu conseqüente atraso geral, mas também como o instrumento da escravidão estrangeira, agente de capitais estrangeiros, a fim de tirar do povo exausto os milhões necessários para a amortização dos juros dos empréstimos. A autocracia, como indicava o camarada Stalin, deixava caminho livre para o capital estrangeiro, ele que tinha em suas mãos indústrias básicas da economia russa, tais como as de combustível e metalurgia. E é por isso que um verdadeiro patriota devia odiar a autocracia tzarista.
No verão de 1915, o Exército russo sofreu uma série de derrotas. O desastre na frente se complementava com a desordem na retaguarda. A Rússia caminhava direto para o abismo.
Em fevereiro de 1917, o tzarismo foi derrotado. Triunfou a revolução burguesa-democrática; porém depois disto o poder estatal na Rússia caiu, como se sabe, nas mãos dos representantes da burguesia e dos latifundiários aburguesados. A revolução de fevereiro não mudou quase em nada o regime social da Rússia. O estado de servidão não foi destruído. A burguesia, chegando ao poder, conservou inteiramente a essência da política interior e exterior do tzarismo.
Estando destruídas as bases do antigo exército, a revolução de fevereiro não criou um exército novo. O governo provisório burguês não pôde prevenir o perigo ameaçador que se aproximava: a perda da soberania russa. O país seguia pelos mesmos caminhos que inevitavelmente deviam acarretar à perda da soberania.
Estando no poder o cadete Miliukov ou o "socialista" Kerenski, sua política levava sempre impresso um caráter anti-nacional. Tais políticos arrastavam o país à catástrofe. Cadetes, mencheviques, cobrindo-se com uma forte fraseologia "patriótica", fechavam ao país a única saída à inevitável catástrofe. Entregavam a Rússia ao roubo dos acionistas estrangeiros, banqueiros e produtores. Sacrificando "para satisfazer seus patrões", ao exército debilitado, dilacerado e sem preparação no avanço de junho, eles mesmo contribuíram para a sua derrota.
O governo provisório burguês arrastava a Rússia à escravidão estrangeira. Seguindo a política nacionalista do tzarismo, este governo aumentava o desmoronamento do império multinacional.
Mais quem podia indicar ao país, que se encontrava na incerteza, seu caminho histórico? Quem podia unir nesta situação os povos do ex-império tzarista?
Na Rússia existia somente um partido político capaz de levantar as massas e levá-las à ofensiva contra o capitalismo. Quando alguns democratas no Ocidente estranham de que o povo soviético reconheça um só partido — o Partido Bolchevique —, podemos dizer-lhes, no melhor dos casos, que eles não conhecem a história da revolução, a história do país.
Em 1917, todos os partidos saíram da ilegalidade e livremente atuavam no povo. O Partido Bolchevique tinha homens aguerridos na luta, quadros profissionais revolucionários, trabalhadores avançados; porém o total dos bolcheviques, ao começar a revolução não passava de 45 mil, e seus inimigos os estimavam em menos. Brilhante professorado e advogados no Partido Cadete, grande e sólida imprensa burguesa; os políticos parlamentares da Duma, tudo isto. . . devia assegurar indiscutivelmente o êxito ao inimigo. Ademais, os partidos da pequena burguesia — os mencheviques — marchavam cegamente atrás dos cadetes. Depois da derrota do tzarismo, aconselhavam aos camponeses esperar pela terra até a Assembléia Constituinte e depois até que fosse terminada a guerra.
Bresenko, Breschkovskaya, Spiridonovo, Avkientiev, Chernov e outros dirigentes pequeno-burgueses cada um à sua maneira, enganavam o povo com frases de liberdade e democracia. Os mencheviques, da linhagem de Plekanov e Martov, Tzeretely e Seobielev, atacavam como feras aos leninistas e exigiam do governo castigos cruéis para eles. Em julho de 1917, estes partidos organizaram o massacre da manifestação revolucionária em Petrogrado e entregaram o poder nas mãos da camarilha contra-revolucionário de Kornilov e Kerensky.
Depois dos dias de julho, os bolcheviques emergiram na "livre" e "democrática" Rússia como o único partido obrigado a atuar semi-legalmente e esconder seus líderes dos assassinos do governo. Os oradores mencheviques, continuavam discursando e lhes parecia que tudo havia terminado para os bolcheviques.
Mas o povo tinha fé no partido, que dirigiu os trabalhadores e soldados, em fevereiro, o assalto à autocracia e que em junho-julho encabeçou as massas revolucionárias que saíram à rua em Petrogrado. Sob vários nomes continuava saindo o "Pravda" bolchevique. As palavras de Lenin e Stalin, as verdadeiras palavras dos bolcheviques, seguiam — como antes — ressoando no país, chamando para a luta. Os bolcheviques mostravam ao povo a saída revolucionária da guerra, o único caminho correto para a solução do problema agrário, caminho da salvação da grande fome, da catástrofe econômica e da escravidão estrangeira. Para tomar este caminho precisava-se, sobretudo, estabelecer o poder soviético.
Quando o satélite dos imperialistas estrangeiros e a burguesia russa, o general tzarista Kornilov, uniu os setores contra-revolucionários dos inimigos mais recalcitrantes do povo e os lançou sobre Petrogrado, o plano de todas as organizações e partidos anti-soviéticos estava claro! Por meio de Kornilov, a burguesia russa pensou abrir a frente aos alemães e esfregar o capital, aniquilar os soviets e as organizações revolucionárias, exterminar fisicamente os bolcheviques e implantar a ditadura militar. Nos dias do levante de Kornilov, todos os partidos definiram de maneira bem clara sua posição na luta social, suas relações diante da maioria do povo — operários, camponeses e soldados. — O cadete Miliukov, Saviakov, o menchevique Voitinsky, todos tomaram parte ativa na organização da revolta de Kornilov. A que levaria a vitória de Kornilov? Ao triunfo da burguesia contra-revolucionáría, à completa perda da soberania do Estado, da independência nacional, a transformação de milhões de homens russos em escravos coloniais, ao terror dos mais cruéis e ao aniquilamento das organizações revolucionárias. Isto era o que trazia consigo Kornilov. E isto o demonstrou a traiçoeira entrega de Riga aos alemães; isto o demonstraram os fuzilamentos dos soldados bolcheviques na frente de guerra e os empréstimos usurários recebidos pelos kornilovistas no estrangeiro.
Somente um partido se opôs a Kornilov: o partido de Lenin—Stalin.
Os bolcheviques organizaram as massas para a luta armada contra as hostes de Kornilov. Desenvolveram um enorme trabalho político, explicando aos trabalhadores e soldados que os mencheviques ajudavam a traição de Kornilov preparando a ditadura contra-revolucionário. O trabalho abnegado dos bolcheviques isolou as massas dos partidos conciliadores. Perseguido pelos cães de caça de Kerensky e os verdugos de Kornilov, o Partido Bolchevique apareceu nestes memoráveis dias como o salvador de Petrogrado, como o salvador da revolução. A sua autoridade diante das massas era imensa. As indicações do Partindo se cumpriam pelos trabalhadores e soldados sem vacilação.
Sob a direção dos bolcheviques, o complot anti-popular de Kornilov foi completamente desfeito. A luta das massas revolucionárias contra Kornilov não passou sem deixar marcas. Organizando centenas de milhares de homens na luta frente à contra-revolução, os bolcheviques deram uma nova vida aos soviets de deputados operários e soldados e firmaram sua influência no exército e no campesinato.
No dia 31 de agosto, o Soviet de Petrogrado, discutiu a situação do momento. Apresentaram-se duas proposições: a bolchevique e a dos "eserys". Seguros de sua influência, os mencheviques e "eserys" propuseram acelerar o processo de votação da seguinte forma: os que querem votar pela resolução bolchevique devem passar à sala seguinte; os que forem partidários da resolução menchevique devem ficar nos seus assentos. Grande foi a estranheza dos conciliadores quando os deputados, em uma esmagadora maioria, levantaram-se de seus assentos e principiaram a dirigir-se para entrar na sala que haviam indicado para os partidários dos bolcheviques, que era bastante pequena. Neste mesmo dia — 31 de Agosto — o Soviet de Petrogrado aprovou a política do partido Bolchevique.
Iniciou a era do bolchevismo em todo o país.
Entretanto, Kornilov iniciou a rearticulação de suas hostes para atacar os soviets. Entrando em negociações com os Estados da Entente sobre a venda da Rússia, os contra-revolucionários não se envergonharam em buscar ajuda dos imperialistas alemães. Em fins de dezembro, nos poucos diários saiu a declaração do menchevique Rodzianko sobre a necessidade de entregar Petrogrado aos alemães. O lobo mais asqueroso da burguesia russa argumentava que com a tomada de Petrogrado os alemães ajustariam as contas com os soviets e bolcheviques. O fim de Setembro de 1917, traz uma grande mudança na história da revolução russa. Nas aldeias iniciaram-se as sublevações camponesas. Sob a direção dos bolcheviques, multiplicavam-se as forças armadas dos operários. Os exércitos das frentes norte e ocidental e a frota do Báltico, se puseram sob a bandeira de Lenin. O Comitê Central do P. C. decidiu mobilizar todas as forças para a organização da insurreição. Na sessão histórica de 10 de Outubro, o C. C. distribuiu a todas as organizações locais do partido as diretivas sobre todos os problemas práticos na base dos quais a insurreição armada era inevitável e estava completamente madura.
Nestes tempos o Partido aumentou em 6 ou 7 vezes o seu número. 250.000 bolcheviques encabeçaram o ataque das massas contra a fortaleza capitalista.
Todo o país se cobriu com uma rede de organizações revolucionárias de massas, dirigidas pelos bolcheviques. Fábricas, Usinas e Comitês de soldados, organizações juvenis e femininas, companhias de guardas vermelhas, milícias operárias, os setores mais revolucionários dos cossacos e dos marinheiros, milhões de homens unidos por estas organizações pela vontade dos bolcheviques, uniram-se ao grande exército da revolução soviética.
Os outros partidos continuavam atuando; porém haviam perdido para sempre o seu lugar e eram impotentes para canalizar a marcha dos acontecimentos a seu favor.
Já em vésperas da Revolução de Outubro, os partidos burgueses e da pequena burguesia russa perderam a confiança do povo. Foram denunciados pelos bolcheviques como partidos inimigos do povo e anti-nacionais. Assim, crescendo cada vez mais, seguiu desde fevereiro até outubro o constante processo de debilitamento, desmembramento e derrota dos partidos anti-bolcheviques, processo que foi devido à brilhante tática leninista-stalinista de isolamento destes partidos das massas populares.
Ao mesmo tempo, sucedia o processo de enorme crescimento e consolidação do Partido Bolchevique. Os bolcheviques em outubro de 1917, assenhorearam-se de posições chaves que decidiram a situação. Petrogrado e Moscou, as frentes norte-ocidentais e ocidentais, a Frota do Báltico, os Urais e a Bacia do Don, as zonas produtoras do Centro e Sul, todas elas esperavam o sinal do Estado Maior bolchevique para levantar a bandeira da Revolução.
O centro do Partido, com Lenin e Stalin à cabeça, definiu o papel e lugar de cada destacamento revolucionário, a tarefa de cada zona, de cada organização bolchevique. Nas zonas de muita importância, o Comitê Central dos bolcheviques tinha seus representantes, que dirigiam a preparação da insurreição armada, Yaroslavsky e Schkiriakov em Moscou, Kuybychev e Schvernik nas regiões do Volga, Frunze na região central da produção, Kirov no Cáucaso do Norte, Zhdanov nos Urais, Vorochilov na Ucrânia, Schauturiam em Zakavkazie, Miasnikov e Kaganovich na Bielo Rússia, todos estes destacados representantes do Partido Bolchevique executavam o plano leninista-stalinista da insurreição armada.
Quando a 24 de Outubro iniciou em Petrogrado o levante e o governo provisório foi derrubado, todo o país se levantou em ajuda dos guardas vermelhos de Petrogrado. A Segunda Convenção dos Soviets, inaugurada nos dias da vitoriosa insurreição, formou o Governo Soviético Bolchevique com Lenin e Stalin à frente. Desde este momento o povo colocou no poder do Estado da Rússia somente um partido: o Partido Bolchevique.
A experiência histórica demonstrou ao povo que devia ter confiança somente no partido que assegurou a vitória da Grande Revolução de Outubro, que salvou o país da vergonha da escravidão colonial e da dominação dos latifundiários, e que somente nele se pôde ter fé para a construção do novo Estado Soviético: o socialismo.
A Revolução soviética declarou uma guerra de morte ao nacionalismo burguês, ao separatismo, e iniciou uma nova época na história da Rússia, época da união da Rússia Soviética, de criação da poderosa e independente União Soviética dos povos.
O Partido Bolchevique foi o único partido que emergiu com um programa que assegurava aos povos da Rússia a possibilidade da existência de um Estado independente, autônomo e unido ante a ameaça do inimigo externo.
De um só golpe a Revolução Socialista de Outubro terminou com a situação semi-colonial do país e criou condições para o grande desenvolvimento e crescimento da independente e grande Rússia Soviética: a expropriação dos latifundiários e capitalistas, a supressão da propriedade privada da terra, das fábricas e usinas e sua transferência para a propriedade comum de todo o povo, a nacionalização dos bancos e a instituição do monopólio do comércio exterior. Todas estas conquistas da revolução socialista eram uma base sólida para a criação da independência técnico-econômica do Estado soviético.
A revolução liquidou todos os empréstimos onerosos. Assim foram quebradas as cadeias que arrastavam a Rússia para o passado.
Criado no fogo da Revolução de Outubro, o Estado soviético assegurou aos seus povos liberdade e independência. Esta independência teve de defendê-la em cruéis combates com os inimigos da União Soviética durante os anos da guerra civil e mais tarde na luta pela inflexível realização da política de industrialização socialista e coletivização da fazenda camponesa nos anos de construção pacífica.
A revolução abriu diante dos povos da Rússia amplas possibilidades para o livre desenvolvimento socialista e para a liquidação do secular atraso do país. Porém, justamente o caráter socialista da Revolução de Outubro obrigava aos agressores estrangeiros a empregar todas as suas forças para lançar a Rússia ao abismo.
O Partido Bolchevique defendeu a liberdade e independência da Rússia em sua luta contra o imperialismo alemão em 1918.
Depois da derrota dos imperialistas alemães, os círculos reacionários da Entente trabalharam reiteradamente para esmagar pelas armas a União Soviética e escravizar os povos da Rússia. Nesta nefanda empresa, os inimigos exteriores atuavam em conjunto com os russos brancos, trotskistas e bukarinistas. Onde apareciam os exércitos de Koltchak, Denikin e Wrangel, estabelecia-se o regime de escravidão, da violação e ordem colonial.
Em 1919, quando a União Soviética se via ameaçada pelo perigo mortal, o camarada Stalin, com sua habitual penetração, descobriu o caráter da guerra patriótica do povo soviético nos anos de 1918-1920, primeira guerra pela defesa das conquistas da Revolução de Outubro.
"Denikin e Koltchak não constituíam somente o jugo dos latifundiários e capitalistas, como também o jugo dos sacos de ouro anglo-franceses. . . Neste sentido o Governo soviético é o único popular e nacional, na melhor acepção da palavra, porque leva consigo, não somente a libertação dos trabalhadores da capital, como também a libertação de toda a Rússia do jugo do imperialismo mundial, a transformação da Rússia, de colônia em um país independente e livre."
O povo soviético, guiado pelo Partido Bolchevique derrotou os exércitos dos invasores estrangeiros e contra-revolucionários do interior, liquidou suas tentativas de arrebatar as conquistas de Outubro.
Na luta contra a intervenção estrangeira e dos guardas brancos, o Governo soviético obteve uma vitória histórica. O povo soviético defendia a liberdade e a independência de sua pátria na guerra civil. O apoio sólido e inamovível de nossa independência e liberdade, foi o Exército Vermelho, nascido e temperado na luta contra a intervenção estrangeira e os guardas brancos.
O ano de 1917 levou à Rússia o caminho do desenvolvimento socialista. Há um quarto de século, na sessão do Soviet de Berlim — 7 de novembro de 1920 — o camarada Stalin disse:
"A Rússia depois que passou pela água e pelo fogo, forjou o grandioso Estado socialista do mundo. Trocando as conhecidas palavras de Lutero a Rússia poderia dizer: "Aqui estou no limite entre o velho mundo capitalista e o novo mundo socialista. Neste limite eu uni os esforços do proletariado do ocidente com o campesinato do oriente para derrotar o velho mundo. Que o Deus da história me ajude."
Neste quarto de século, a União Soviética percorreu um caminho glorioso de construção da sociedade socialista. Seguindo por esta nova rota, o país soviético se converteu em um poderoso Estado industrial e kolkosiano, que possui todo o necessário para defender sua independência. Na grande guerra pátria de 1941-1945, o povo soviético, na luta contra um poderoso inimigo armado até os dentes, defendeu seu Estado socialista, e uma vez mais, demonstrou sua invencibilidade.
Chegou o tempo com o qual sonharam os melhores homens da Rússia. Toda a humanidade progressista contempla a União Soviética com admiração, alegria e esperança, e trata de seguir os seus exemplos de democracia, humanidade e cultura.
Devemos começar por definir o imperialismo da maneira mais completa e mais exata. O imperialismo é um período histórico peculiar do capitalismo. Tem três particularidades: o imperialismo é: 1) capitalismo monopolista; 2) capitalismo parasitário ou em decomposição; 3) capitalismo agonizante. A substituição da livre concorrência pelo monopólio é a característica econômica fundamental, a essência do imperialismo. O monopolismo se manifesta em cinco aspectos principais: 1) cartéis, sindicatos e trustes; a concentração de produção alcançou o grau que dá origem a estas associações monopolistas de capitalistas; 2) situação monopolista dos grandes bancos: de três a cinco bancos gigantescos manejam toda a vida econômica da América, França e Alemanha; 3) ocupação das fontes de matérias primas pelos trustes e a oligarquia financeira (o capital financeiro é o capital industrial monopolista fundido com o capital bancário); 4) iniciou-se a divisão (econômica) do mundo entre cartéis internacionais. São já mais de cem os cartéis internacionais que dominam todo o marcado municipal e o repartem "amigavelmente" enquanto a guerra não o tenha ainda redistribuído! A exportação do capital, como fenómeno particularmente característico, a diferença de exportação de mercadorias sob o capitalismo monopolista, encerra estreita relação com a divisão econômica e político-territorial do mundo. 5) Terminou a divisão territorial do mundo (colônias).
Lênin
("El imperialismo la escision del socialismo"
— Ediciones en Lenguas Extranjeras
— Moscu, 1940 — pág. 3).