As Contradições no Komsomol

J. V. Stálin

3 de Abril de 1924


Primeira Edição: Discurso pronunciado na Conferência realizada junto ao C.C. do P.C. (b) da Rússia, a 3 de abril de 1924, sobre as questões do trabalho entre a juventude.(1)
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 63 - Nov de 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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Devo, em primeiro lugar, dizer algumas palavras sobre a posição assumida pelo Comitê Central da Juventude na questão dos debates realizados pelo Partido. Constituiu um erro o fato de o C.C. da U.J.C, da Rússia haver mantido obstinado silêncio depois de as posições já se acharem perfeitamente definidas. Seria errôneo, porém, considerar o silêncio do C.C. da União como neutralidade. O que se constata, simplesmente, é que o C.C. pecou por excesso de zelo.

Desejo, agora, dizer algumas palavras sobre os debates. Sou de opinião que realmente não há divergências de princípios entre nós. Estudei vossas teses e artigos; aí não encontrei, porém, divergências de princípios. Por outro lado, existem, no entanto, uma certa confusão e um amontoado de contradições rebuscadas e "inconciliáveis".

A primeira contradição é a contraposição entre a União como "reserva" e a União como "instrumento" do Partido. Que é a União? — reserva ou instrumento? Uma coisa e outra. Isso está claro; até mesmo nossos próprios camaradas o disseram em seus discursos. A União da Juventude Comunista é uma reserva — uma reserva de camponeses e operários —, aonde o Partido vai buscar elementos para preencher os claros que se verificam em suas fileiras. É, porém, ao mesmo tempo, um instrumento — um instrumento nas mãos do Partido, que estende sua influência às massas da juventude. Poderia dizer-se mais concretamente que a União é um instrumento do Partido, um instrumento auxiliar do Partido, de vez que o corpo de ativistas do Komsomol é um instrumento do Partido por meio do qual este exerce sua influência sobre a juventude que se encontra fora da União. Esses conceitos não se contradizem um ao outro e não podem ser contrapostos um ao outro.

A segunda contradição pretensamente inconciliável reside em que — segundo a opinião de alguns camaradas — "a política de classes da União é determinada não pelos elementos que a compõem, mas pela firmeza das pessoas que se acham à sua frente". Essa firmeza é contraposta à composição da União. Essa contradição é também imaginária, uma vez que a política de classes da União da Juventude Comunista da Rússia é determinada tanto pelos elementos que compõem a União como pela firmeza de seus dirigentes. Se os elementos firmes deixam influenciar-se por uma composição estranha ao espírito da União, cujos membros gozam dos mesmos direitos, então a existência de uma tal composição não pode deixar de se refletir no trabalho e na política da União. Por que o Partido orienta sua composição? Porque sabe que sua composição exerce influência sobre seu trabalho.

Finalmente, há mais uma contradição também imaginária: a que diz respeito ao papel da União e a seu trabalho entre os camponeses. Alguns colocam a questão dando a entender que a tarefa da União consistiria em "aumentar" sua influência entre os camponeses e não em a ampliar, enquanto que outros desejariam "ampliar sua influência", mas fortalecendo os elementos discordantes. É nessa base que desejam estabelecer sua plataforma no decorrer dos debates. É claro que a contraposição dessas duas tarefas é artificial, uma vez que todos compreendem muito bem que a União deve, ao mesmo tempo, tanto fortalecer como ampliar sua influência no campo. É verdade que em determinado trecho das teses do C.C. da U.J.C.R. há uma frase mal formulada relativamente ao trabalho entre os camponeses. Mas nem Tarkhanov nem outros representantes da maioria do C.C. da U.J.C.R. insistem sobre essa tolice, e estão de acordo em a corrigir. Depois disso, valerá a pena discutir por ninharias?

Há, porém, na vida e na atividade da União da Juventude Comunista uma contradição — uma contradição real, e não imaginária — sobre a qual eu desejaria dizer algumas palavras. Refiro-me à existência de duas tendências na União: a operária e a camponesa. Refiro-me à contradição existente entre essas tendências, contradição essa que se faz sentir e que não pode ser desprezada. O problema dessa divergência constitui o ponto mais fraco dos discursos dos oradores que aqui se fizeram ouvir. Todos dizem ser necessário tornar mais amplo o recrutamento dos operários para a União, mas todos tropeçam quando passam ao campesinato — à questão do recrutamento do campesinato. Até mesmo os oradores que não usaram de sutileza e argúcia tropeçaram nessa questão.

Evidentemente dois problemas se apresentam à União da Juventude Comunista da Rússia: o problema operário e o problema camponês. Uma vez que o Komsomol é uma União operária e camponesa, é evidente que essas duas tendências e essas contradições continuarão a existir. Alguns — silenciando a respeito do campesinato — afirmarão que é preciso recrutar operários; outros — subestimando a importância do elemento proletário da União como elemento dirigente — afirmarão que é preciso recrutar camponeses. Trata-se de uma contradição interna, que faz parte da própria natureza da União, e que leva os oradores a tropeços. Em seus discursos foram feitos paralelos entre o Partido e o Komsomol. a questão está, porém, em que, na realidade, tal paralelismo não existe, uma vez que nosso Partido é um Partido operário e não operário-camponês, enquanto que o Komsomol é uma união operário-camponesa. Por isso é que o Komsomol não pode ser apenas uma União operária; deve ser, ao mesmo tempo, uma União tanto operária como camponesa. Uma coisa é clara: em vista da estrutura real da União, continuarão a ser inevitáveis as contradições internas e a luta entre as tendências.

Estão certos os que afirmam ser necessário recrutar para o Partido a juventude camponesa média; precisamos, porém, ser cuidadosos a esse respeito: não podemos cair na posição de um Partido operário-camponês — posição que muita vez assumem até mesmo alguns militantes responsáveis. Muitos exclamaram: "Vocês recrutam os operários; por que não recrutam para o Partido, na mesma proporção, os camponeses? Recrutemos cem ou duzentos mil camponeses!". o C.C. é contra isso porque nosso Partido deve ser um Partido operário. 70% ou 80% de operários e 20% a 25% de elementos não operários — eis aproximadamente, qual deve ser a correlação no Partido. Quanto ao Komsomol, o problema se apresenta de maneira um pouco diferente. A União da Juventude Comunista é uma organização voluntária e livre dos elementos revolucionários da juventude operária e camponesa. Sem os camponeses, sem a massa da juventude camponesa, ela deixa de ser uma União operário-camponesa. Nesse sentido é preciso colocar, porém, a questão, de modo que o papel dirigente seja representado pelos elementos proletários.


Nota da Redação:

(1) A 3 de abril de 1924, junto ao C.C. do P.C.(b) da Rússia, teve lugar uma conferência sobre o trabalho entre a juventude, conferência que contou com a participação dos membros do C. C. do Partido, dos membros e candidatos do C.C. da U.J.C. da Rússia e de representantes de dez grandes organizações provinciais da U.J.C.. Essa conferência fêz um balanço dos debates sobre as tarefas imediatas do Komsomol, debates esses iniciados em princípios de 1924. Apreciando os resultados da conferência, o C.C. do P.C.(b) da Rússia propôs que os organismos locais do Partido e as organizações locais do Komsomol trabalhassem pela unidade e harmonia dos trabalhos da U.J.C. da Rússia, conclamando os dirigentes do Komsomol a que trabalhassem em perfeito acordo para cumprimento das tarefas estabelecidas pelo Partido. (retornar ao texto)

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Inclusão 22/07/2011