O Fascismo, A Pequena Burguesia e a Classe Operária

August Thalheimer

Julho de 1923


Primeira Edição: "Rote Fahne", jornal diário do PCA, julho de 1923

Fonte: Centro de Estudos Victor Myer. Revista Marxismo Militante Exterior N° 2, abril de 1976. Tradução do alemão por Eric Sachs
HTML: Fernando Araújo


Existem hoje na Alemanha apenas três poderes reais e de fato: os grandes trustes capitalistas, o fascismo e o comunismo.

A base social do fascismo é a pequena-burguesia, as camadas médias, enquanto a do comunismo é a classe operária. Está na natureza da pequena-burguesia oscilar entre os pólos do capitalismo e do proletariado. O fascismo é o movimento da pequena-burguesia voltado para o grande capital, que utiliza esse movimento para suas finalidades contra as da classe operária. E por isso a pequena-burguesia é fatalmente enganada. Pois, a ditadura apoiada nos pequeno-burgueses não é a ditadura da pequena-burguesia. Ela é a ditadura do grande capital, como hoje aparece evidente na Itália. Mussolini já jogou às traças o programa pequeno-burguês que lhe auxiliou a conquistar o poder. Isso não significa que Mussolini cairá amanhã. Cairá quando a classe operária tiver acumulado suficiente força para — apoiada no descontentamento crescente da pequena-burguesia — destruir o poder militar do governo fascista.

Na Alemanha a evolução da pequena-burguesia em direção ao fascismo, isto é, ao lado do grande capital, é a consequência direta da traição da Social-Democracia, não apenas dos interesses da classe operária, mas também dos das classes médias. Vinculada à grande burguesia, a Social-Democracia não foi nem sequer capaz de conduzir a pequena-burguesia na luta pela sua existência contra o grande capital.

Desta forma, a Social-Democracia expôs a classe operária ao perigo de um ataque em bloco das classes médias e do grande capital, sob a direção deste último. A dimensão deste perigo só os tolos não enxergam. E só os tolos podem crer poder enfrentar o perigo com a ajuda — com perdão da palavra — do "Exército da República" e, eventualmente, com a colaboração das tropas de choque socialistas; enquanto ao mesmo tempo continua a pilhagem do proletariado e das classes médias pelo grande capital, o roubo através dos impostos, da usura e da desvalorização dos salários.

A vitória política sobre o fascismo, exige uma mudança profunda da atitude política da maioria da classe operária; uma ruptura radical com o grande capital e a vontade resoluta do proletariado em defender até o fim os interesses da pequena-burguesia contra o grande capital. Da mesma forma como o proletariado, a pequena-burguesia sofre o peso dos impostos; suporta a usura do monopolizado comércio por atacado e da grande indústria, como sofre a desvalorização do marco que sugou suas economias, e continuamente deprecia seus rendimentos. E se vai a Bolsa ou ao banco para depositar seus rendimentos, para assim assegurá-los, seguramente sairá de lá esfolada.

O grande capital triturou com a mesma intensidade tanto os pequenos artesãos, pequenos comerciantes, pequenos camponeses, aposentados e trabalhadores intelectuais, deixando — literalmente — morrer à mingua as camadas que sustentam a cultura burguesa.

O Partido Comunista está decidido a realizar uma mudança fundamental nesta situação. O ônus esmagador dos impostos tem de ser tirado dos ombros da pequena-burguesia como dos trabalhadores. Para isso servirá o levantamento dos valores patrimoniais capitalistas. Mas isso só não basta. Todo o nefasto jogo da anarquia econômica e financeira tem que ser abolido mediante a intervenção planificada dos trabalhadores: controle rigoroso da economia, planificação no interesse e através da participação de todos os trabalhadores.

A propriedade pequeno-burguesa, o conhecimento e a capacidade dos intelectuais burgueses encontram lugar numa economia que está nas mãos dos trabalhadores. A palavra de ordem do grande capital consiste em manter-se à custa da miséria do pequeno-burguês e do trabalhador. De fato, durante todos estes anos, o trabalhador foi roubado constantemente de uma parte do valor de sua força de trabalho e o pequeno-burguês foi desapropriado pouco a pouco pelo grande capital. A palavra de ordem do comunismo é: aumento da produtividade através de um emprego maior da técnica; pela planificação e extinção dos intermediários parasitas e de todo o luxo.

Para findar com as penúrias mais urgentes, um governo operário-camponês deverá imediatamente confiscar e distribuir os estoques de móveis, de roupas, de alimentos e as casas dos ricos.

A garantia mínima de existência dos trabalhadores, classes médias produtivas e trabalhadores intelectuais, terá de ser o primeiro e decisivo passo de um governo operário revolucionário.

Só como defensor sincero e intransigente dos interesses da classe média afligida, poderá o proletariado arrancar a arma fascista das mãos do grande capital e, assim, reforçar suas próprias fileiras com todos aqueles destas camadas médias que estejam dispostos a lutar ao lado dos trabalhadores.


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Inclusão 12/10/2013