MIA > Biblioteca > Trotsky > Novidades
Na nossa época, as viragens tácticas, mesmo as mais importantes, são absolutamente inevitáveis. Elas são o resultado de viragens abruptas na situação objectiva (instabilidade das relações internacionais; flutuações bruscas e irregulares da conjuntura; repercussões brutais das flutuações económicas ao nível político; movimentos impulsivos das massas que têm o sentimento de se encontrar numa situação sem saída, etc.). O estudo atento das mudanças na situação objectiva é hoje uma tarefa muito mais importante e ao mesmo tempo infinitamente mais difícil que antes da guerra, na época do desenvolvimento ''orgânico'' do capitalismo.
A direcção do partido se encontra agora na situação de um motorista que conduz o seu carro sobre um caminho montanhoso em zig-zag. Uma viragem tomada a contra-tempo, uma velocidade excessiva, fazem correr aos viajantes e ao carro perigos muito graves, que podem ser mortais.
A direcção da Internacional Comunista nos deu, estes últimos anos, exemplos de viragens muito bruscas. A última, nós observámos no decurso dos últimos meses. Qual é a razão das viragens da Internacional Comunista depois da morte de Lénine? Deve-se a mudanças da situação objectiva? Não. Pode-se afirmar com toda a certeza que a partir de 1923, a Internacional Comunista não tomou a tempo nenhuma viragem táctica fundada sobre uma análise correcta das mudanças que intervieram nas condições objectivas. Pelo contrário, cada viragem é de facto o resultado de uma agudização insuportável da contradição entre a linha da Internacional Comunista e a situação objectiva. E nós a constatamos hoje ainda mais uma vez.
O IXº plenário do Comité executivo da Internacional Comunista, o VIº Congresso e sobretudo o Xº plenário foram orientados para um desenvolvimento brusco e linear da revolução (''o terceiro período'' ), desenvolvimento que a situação objectiva nessa época excluía totalmente, após as severas derrotas na Inglaterra e em China, o enfraquecimento dos partidos comunistas no mundo inteiro, e sobretudo nas condições de expansão comercial e industrial que conheciam toda uma serie de países capitalistas. A viragem táctica da Internacional Comunista a partir de Fevereiro de 1928 esteve assim em total contradição com o curso real da história. Esta contradição deu lugar às tendências aventureiras, ao isolamento prolongado dos partidos, ao seu enfraquecimento organizacional, etc. A direcção Internacional Comunista não efectuou uma nova viragem senão em Fevereiro de 1930, quando esses fenómenos tinham já um carácter nitidamente ameaçador; essa viragem estava em recuo e à direita em relação à táctica do ''terceiro período''. Por ironia da sorte, sem piedade pelos seguidismo, essa nova viragem táctica da Internacional Comunista coincidiu no tempo com uma nova viragem na situação objectiva. A crise internacional duma gravidade sem precedentes abre sem dúvida novas perspectivas de radicalização das massas e de perturbações sociais. É precisamente nessas condições que uma viragem à esquerda era possível e necessária: era preciso impulsionar um ritmo rápido ao ascenso revolucionário. Isso teria sido bastante correcto e necessário se, durante esses três últimos anos, a direcção da Internacional Comunista tivesse aproveitado, como devia, o período de relançamento económico, acompanhado do reflux do movimento revolucionário, para reforçar as posições do partido nas organizações de massa, e principalmente nos sindicatos. Nessas condições, o motorista teria podido e deveria ter em 1930 passar da segunda à terceira ou, pelo menos, preparar-se a fazê-lo no futuro próximo. De facto, assistiu-se ao processo inverso. Para não cair no precipício, o motorista teve que reduzir para a terceira que ele tinha passado demasiado cedo, para a segunda; se ele tivesse seguido uma linha estratégica justa, ele teria sido obrigado a acelerar.
Tal é a contradição flagrante entre as necessidades tácticas e as perspectivas estratégicas, na qual, consequência lógica dos erros da direcção, se encontram hoje os partidos comunistas de toda uma serie de países.
É na Alemanha que esta contradição se manifesta sob a forma mais nítida e a mais perigosa. Com efeito, as últimas eleições aí revelaram uma relação de forças completamente originais, que é o resultado não somente dos dois períodos de estabilização na Alemanha desde da guerra, mas também dos três períodos de erros da Internacional Comunista.
Hoje a impressa oficial da Internacional Comunista apresenta os resultados das eleições na Alemanha como uma vitória grandiosa do comunismo; esta vitória meteria a palavra de ordem ''a Alemanha dos Sovietes'' na ordem do dia. Os burocratas optimistas recusam meditar sobre o significado da relação de forças que revelam as estatísticas eleitorais. Eles analisam o aumento de votos comunistas independentemente das tarefas revolucionárias e dos obstáculos nascidos da situação objectiva.
O partido comunista obteve cerca de 4 600 000 votos contra 3 300 000 em 1928. Esse aumento de votos de 1 300 000 votos é énorme se nos colocar-mos do ponto de vista da mecânica parlamentar ''normal'', tendo em conta o aumento geral do número dos eleitores. Mas os ganhos do partido comunista parecem pálidos face ao progresso fulgurante dos fascistas que passem de 800 000 votos a 6 4000 000. O facto que a social-democracia, apesar das percas importantes, tenha guardado os seus principais quadros e recolhido mais votos operários que o partido comunista, tem também uma grande importância na apreciação das eleições.
Portanto, se procuramos quais são as condições interiores e internacionais susceptíveis de cair com força a classe operária do lado do comunismo, não se pode dar melhor exemplo que o da actual situação na Alemanha: a dificuldade do plano Young, a crise económica, a decadência dos dirigentes, a crise do parlamentarismo, a maneira assustadora como a social-democracia no poder se desmascara ela própria. O lugar do Partido comunista alemão na vida social do país, apesar do ganho de 1 300 000 votos, continua frágil e desproporcional do ponto de vista das condições históricas concretas.
A fraqueza das posições do comunismo está indissoluvelmente ligada à política e ao funcionamento interno da Internacional Comunista; ela se revela de maneira ainda mais evidente se comparar-mos o papel social actual do partido comunista e suas tarefas concretas e urgentes nas condições históricas presentes.
É verdade que o próprio partido comunista não contava com um tal crescimento. Mas isso prova que com os seus erros e derrotas repetidas, a direcção do partido comunista perdeu o hábito das perspectivas e dos objectivos ambiciosos. Ontem, ela subestimava as suas próprias possibilidades, hoje ela subestima novamente as dificuldades. Um perigo é assim multiplicados por outro.
A primeira qualidade de um autêntico partido revolucionário é saber olhar a realidade de frente.
A cada desvio da estrada da história, a cada crise social, é preciso e sempre reexaminar o problema das relações existentes entre as três classes da sociedade actual: a grande burguesia tendo à cabeça o capital financeiro, a pequena burguesia oscilante entre os dois principais campos, e, enfim, o proletariado.
A grande burguesia só constitui uma ínfima fracção da nação não pode manter-se no poder sem o apoio da pequena burguesia da cidade e do campo, quer dizer entre os últimos representantes das antigas camadas médias, e nas masas que constituem hoje as novas camadas médias. Actualmente, esse apoio reveste duas formas principais, politicamente antagónicas, mas históricamente complementares: a social-democracia e o fascismo. Na pessoa da social-democracia, a pequena burguesia, que está a reboque do capital financeiro, arrasta atrás de si milhões de trabalhadores.
Dividida, a grande burguesia alemã hesita hoje. Os desacordos internos centram-se sobre a escolha do tratamento a aplicar hoje à crise social. A terapia social-democrata afasta uma parte da grande burguesia, porque os seus resultados têm um carácter incerto e que ela arrisca-se a ocasionar enormes despesas gerais (impostos, legislação social, salários). A intervenção cirúrgica fascista aparece à outra parte demasiado arriscada e não justificada pela situação. Noutros termos, a burguesia financeira no seu conjunto hesita quanto à apreciação da situação, porque ela não encontra ainda razões suficientes para proclamar o acontecimento do seu ''terceiro período'', onde a social-democracia deve ceder imperativamente lugar ao fascismo; além disso, todos sabem que quando chegar o momento de fazer contas, a social-democracia será compensada pelos serviços dados pelo progrome geral. As hesitações da grande burguesia – dado o enfraquecimento dos seus principais partidos – entre a social-democracia e o fascismo são o sintoma mais evidente de uma situação pré-revolucionária.
Para que a crise social possa desembocar numa revolução proletária, é indispensável, fora das outras condições, que as classes pequeno burguesas caiam de forma decisiva do lado do proletariado. Isso permite ao proletariado tomar a cabeça da nação, e de a dirigir.
As últimas eleições revelam um avanço inverso, e é aí que reside o seu valor sintomático essencial. Sob os golpes da crise, a pequena burguesia caiu não do lado da revolução proletária, mas do lado da reacção imperialista a mais extremista, arrastando camadas importantes do proletariado.
O crescimento gigantesco do nacional socialismo traduz dos factos essenciais: uma crise social profunda, arrancando as massas pequeno burguesas ao seu equilíbrio, e a ausência de um partido revolucionário que, a partir de agora jogaria perante os olhos das massas um papel dirigente reconhecido. Se o partido comunista é o partido da esperança revolucionária, o fascismo como movimento de massas é o partido do desespero contra-revolucionário. Quando a esperança revolucionária se apodera da massa inteira do proletariado, este último arrasta sem falhar atrás de si, no caminho da revolução, camada importantes e sempre maiores da pequena burguesia. Ora, nesse domínio, as eleições dão precisamente uma imagem oposta: o desespero contra-revolucionário apoderou-se da massa pequena burguesa com uma força tal que ela arrastou atrás de si camadas importantes do proletariado.
Como explicar isso? No passado observámos (Itália, Alemanha) um brusco reforço do fascismo, vitorioso ou pelo menos ameaçador, no seguimento de uma crise revolucionária esgotada ou falhada, no seguimento de uma crise revolucionária, no decurso da qual a vanguarda revolucionária tinha revelado a sua incapacidade em tomar a cabeça da nação, para a mudar a sorte de todas as classes, incluindo a pequena burguesia. É precisamente isso que fez a enorme força do fascismo na Itália. Mas hoje na Alemanha não se trata da saída de uma situação revolucionária mas da sua abordagem. Os funcionários dirigentes do partido, optimistas por função, tiram daí a conclusão que o fascismo chegado ''demasiado tarde'' é condenado a uma rápida e inevitável derrota (Die Rote Fahne ). Essa gente não quer aprender nada. O fascismo chega ''demasiado tarde'', se nos referir-mos às crises revolucionárias passadas. Mas ele aparece bastante cedo – na madrugada – para a nova crise revolucionária.
Que ele tenha tido a possibilidade de ocupar uma posição inicial tão forte na véspera de uma crise revolucionária, e não no seu fim, não constitui o ponto fraco do fascismo mas o ponto fraco do comunismo. A pequena burguesia, por consequência, não necessita de novas desilusões quanto à capacidade do partido comunista em melhorar a sua sorte; ela apoia-se na experiência do passado, ela lembra-se das lições do ano 1923, dos saltos caprichosos do curso ultra esquerda de Maslow-Thaelmann, a impotência oportunista do mesmo Thaelmann, a conversa oca do ''terceiro período'', etc. Enfim, e é essencial, a sua desconfiança pela revolução proletária se alimenta da desconfiança dos milhões de operários sociais democratas que sentem em relação ao partido comunista. A pequena burguesia, mesmo se os acontecimentos arrancaram-na completamente à orientação conservadora, não pode se virar para o lado da revolução social a não ser que esta última tenha a simpatia da maioria dos operários. Esta condição muito importante falta precisamente na Alemanha, e não é por acaso.
A declaração programática do Partido comunista alemão antes das eleições foi inteiramente e unicamente consagrada ao fascismo como inimigo principal. Todavia, o fascismo saiu vencedor das eleições, tendo reunido não somente milhões de elementos semi-proletários, mas também centenas de milhares de operários da indústria. Isso mostra que, apesar da vitória parlamentar do partido comunista, a revolução proletária sofreu globalmente nessas eleições uma grave derrota, que não é evidentemente decisiva, mas que é preliminar, e que deve servir de aviso e de cautela. Ela pode tornar-se decisiva, e tornar-se-á inevitável, se o partido comunista não é capaz de apreciar a sua vitória parlamentar parcial em ligação com esta derrota ''preliminar'' da revolução, e de tirar todas as conclusões necessárias.
O fascismo tornou-se na Alemanha um perigo real; ele é a expressão do impasse agudo do regime burguês, do papel conservador da social-democracia face a esse regime, e da fraqueza acumulada do partido comunista, incapaz de derrubar esse regime. Quem nega isso é um cego ou um fanfarão.
Em 1923, Bradler, apesar de todos os avisos, sobrestimou monstruosamente as forças do fascismo. Desta falsa apreciação da relação de forças nasceu uma política defensiva, feita de espera, de subterfúgio e de cobardia. Foi o que perdeu a revolução. Tais acontecimentos deixam traços nas consciências de todas as classes da nação. A sobre-estimação do fascismo pela direcção comunista criou uma das causas do reforço ulterior do fascismo. O erro inverso, quer dizer a sub-estimação do fascismo pela direcção actual do partido comunista, pode levar a revolução a uma derrota ainda mais grave por longos anos.
A questão do ritmo de desenvolvimento que, evidentemente, não depende unicamente de nós, confere a esse perigo uma atenção particular. Os aumentos de febre registados pela curva das temperaturas politicas e reveladas nas eleições, permitem pensar que o ritmo do desenvolvimento da crise nacional pode ser muito rápida. Noutros termos, o curso dos acontecimento pode, num futuro próximo, fazer resurgir na Alemanha, num novo momento histórico, a velha contradição trágica entre a maturidade da situação revolucionária por um lado, a fraqueza e a carência estratégica do partido revolucionário por outro lado. É preciso dizer claramente, abertamente e, sobretudo, suficientemente cedo.
Seria um erro monstruoso consolar-se dizendo que o partido bolchevique que, em Abril 1917, após a chegada de Lénine, começava a se preparar a conquistar o poder, tinha menos de 80 000 membros e mobilizava, mesmo em Petrogrado, apenas o terço dos operários e uma parte ainda mais fraca dos soldados. A situação na Rússia era completamente diferente. Foi só em Março que os partidos revolucionários tinham saído da clandestinidade, após três anos de interrupção da vida política, mesmo abafada, que existia antes da guerra. Durante a guerra a classe operária tinha-se renovado aproximadamente por 40%. A esmagadora maioria do proletariado não conhecia os bolcheviques, nem jamais tinha ouvido falar deles. O voto pelos mencheviques e os socialistas-revolucionários, em Março e Junho, foi simplesmente a expressão dos seus primeiros passos hesitantes após o seu despertar. Nesse voto, não havia sombra de decepção em relação aos bolcheviques, ou de uma desconfiança acumulada, que não pode ser senão o resultado dos erros do partido, verificados concretamente pelas massas. Pelo contrário, cada dia da experiência revolucionária de 1917 afastava as massas dos conciliadores e as empurrava para o lado dos bolcheviques. Daí o crescimento tumultuoso, irresistível do partido e sobretudo da sua influência.
Fundamentalmente, a situação na Alemanha difere nesse ponto e sobre muitos outros. O aparecimento na cena política do Partido Comunista alemão não data de ontem, nem de anteontem. Em 1923, a maioria da classe operária estava atrás dele, abertamente ou não. Em 1924, num período de refluxo, ele recolhia 3 600 000 votos, quer dizer uma percentagem da classe operária superior à de hoje. O que significa que os operários que ficaram com a social-democracia, como os que votaram desta vez pelos nacional-socialistas, agiram assim não por simples ignorância, não porque o despertar data de ontem, não porque eles ainda não sabem o que é o partido comunista, mas porque eles não acreditam nele na base da sua própria experiência destes últimos anos.
É preciso não esquecer que em Fevereiro de 1928 o IXº plenário do Comité Executivo da Internacional Comunista deu o sinal de uma luta reforçada, extraordinaria e implacável, contra os ''sociais-fascistas''. A social-democracia alemã, durante quase todo esse período, esteve no poder, e cada uma das suas acções revelava às massas o seu papel criminoso e infame. Uma crise económica gigantesca coroa tudo. É difícil imaginar condições mais favoráveis ao enfraquecimento da social-democracia. Portanto, esta última manteve no seu conjunto as suas posições. Como explicar esse facto surpreendente? Pelo simples facto que a direcção do partido comunista ajudou pela sua política a social-democracia, apoiando-a na sua esquerda.
Isso não significa de forma alguma que o voto de cinco a seis milhões de operários e operárias na social-democracia exprima sua confiança completa. Não se tome os operários sociais democratas por cegos. Eles não são tão ingénuos em relação aos seus dirigentes, mas eles não vêm outra saída na situação actual. Nós falamos evidentemente, dos simples operários, e não da aristocracia e da burocracia operária. A política do partido comunista não lhes inspira confiança, não porque o partido comunista é um partido revolucionário, mas porque eles não acreditam que ele possa obter uma vitória revolucionária e não querem arriscar a sua cabeça em vão. Ao votar, de coração apertado, pela social-democracia, esses operário não lhe manifestam sua confiança; em contrapartida eles exprimem a sua desconfiança em relação ao partido comunista.
É nisso que reside a enorme diferença entre a situação dos comunistas alemãs e a dos bolcheviques russos em 1917.
Mas as dificuldades não se limitam a esse problema. Uma desconfiança surda em relação à direcção acumulou-se no interior do partido e sobretudo entre os operários que o apoiam ou simplesmente votam por ele. O que aumenta o que se chama a ''desproporção'' entre a influência do partido e os seus efectivos; na Alemanha, uma tal desproporção existe se qualquer dúvida, ela é particularmente nítida ao nível do trabalho nos sindicatos. A explicação oficial da desproporção é a tal ponto errada que o partido não está em situação de ''reforçar'' ao nível organizativo a sua influência. A massa aí é considerada como um material puramente passivo, cuja adesão ou não-adesão ao partido depende unicamente da capacidade do secretário a forçar a mão a cada operário. O burocrata não compreende que os operários têm o seu próprio pensamento, a sua própria experiência, a sua própria vontade e a sua própria política activa ou passiva em relação ao partido. Ao votar pelo partido, o operário vota pela sua bandeira, pela Revolução de Outubro, pela sua revolução futura. Mas, ao recusar de aderir ao partido comunista ou segui-lo na luta sindical, ele exprime a sua desconfiança em relação à política diária do partido. Esta ''desproporção'' é no fim de contas um dos canais por onde se exprime a desconfiança da massas em relação à direcção actual da Internacional Comunista. E esta desconfiança, criada e reforçada pelos erros, derrotas, o simulação e os enganos cínicos das massas de 1923 a 1930, representa um dos principais obstáculos no caminho da vitória da revolução proletária.
Sem confiança em si, o partido não ganhará a classe. Se ele não ganha o proletariado, ele não arrancará as massas pequeno burguesas ao fascismo. Esses dois factos estão indissoluvelmente ligados.
Se se adopta a terminologia oficial do centrismo, é necessário formular o problema da maneira seguinte. A direcção da Internacional impôs às secções a táctica do ''terceiro período'', quer dizer, a táctica do levantamento revolucionário imediato, numa época (928) que se caracterizava essencialmente por traços do ''segundo período'': estabilização da burguesia, refluxo e declínio da revolução. A viragem que se operou em 1930 marcou a recusa da táctica do ''terceiro período'' e o regresso à táctica do ''segundo período''. Enquanto que essa viragem fazia caminho no aparelho burocrático, sintomas muito importantes testemunhavam claramente, pelo menos na Alemanha, a aproximação efectiva do ''terceiro período''. Isso não prova a necessidade de uma nova viragem a caminho da táctica do ''terceiro período'', que acabou de ser abandonada?
Nós recorremos a esses termos para tornar mais acessível o enunciado do problema àqueles cuja consciência é estorvada pela metodologia e terminologia da burocracia centrista. Mas em nenhum caso não fazemos nossa esta terminologia que máscara a combinação do burocratismo estalinista com a metafísica bukhariniana. Rejeitamos a concepção apocalíptica do ''terceiro período'' como a última: o seu número até à vitória do proletariado é uma questão de relações de forças e de mudanças na situação; todo isto não pode ser verificado senão através da acção. Mas nós rejeitamos mesmo a essência do esquematismo estratégico, com os seus períodos numerados. Não há táctica abstracta, afinada antecipadamente, que seja para o ''segundo'' ou ''terceiro'' período. Naturalmente não se pode chegar à vitória e à conquista do poder sem levantamento armado. Mas como chegar ao levantamento?
Os métodos e o ritmo da mobilização de massas dependem não somente da situação objectiva em geral, mas também e antes de tudo, do estado no qual se encontra o proletariado no início da crise social no país, das relações entre o partido e a classe, entre o proletariado e a pequena burguesia, etc. O estado do proletariado no patamar do ''terceiro período'' depende por seu lado da táctica aplicada pelo partido no período precedente.
A mudança de táctica normal e natural, correspondente à viragem actual na situação na Alemanha, teria sido uma aceleração do ritmo, uma progressão das palavras de ordem e dos métodos de luta. Mas essa viragem táctica teria sido normal e natural se o ritmo e as palavras de ordem da luta de ontem tivessem correspondido às condições do período precedente. Mas isso estava fora de questão. A contradição aguda entre a política ultra-esquerda e a estabilização da situação é uma das causas da viragem táctica. É por isso, no momento onde a nova viragem da situação objectiva, paralelamente ao reagrupamento geral desfavorável das forças políticas, levou ao comunismo um aumento de votos, o partido mostrou-se estrategicamente e tacticamente mais desorientado, embaraçado e derrotado como nunca esteve.
Para explicar a contradição na qual caiu o Partido Comunista alemão, como a maioria das outras secções da Internacional Comunista, mas muito mais profundamente que elas, tomemos a simples comparação. Para saltar uma barreira, é preciso primeiro tomar balanço, correndo. Mais a barreira é alta, mais importante é começar a correr a tempo, nem muito tarde nem demasiado cedo, para atingir o obstáculo com a força necessária. Todavia, desde Fevereiro de 1928, e sobretudo desde Junho 1929, o Partido comunista alemão tem tomado balanço. Nada de estranho pelo facto que o partido tenha começado a perder o fôlego e a arrastar os pés. A Internacional Comunista deu enfim uma ordem: ''mais devagar!'' Mal o partido, sem fôlego, encontrou num ritmo mais normal, surgiu aparentemente diante dele uma barreira não imaginária, real, que riscava exigir um salto revolucionário. A distância bastaria para tomar balanço? Seria necessário renunciar à viragem e a substitui-la por uma contra-viragem? - tais são as questões tácticas e estratégicas que se colocam ao partido alemão com todo o seu acuidade.
Para que os quadros dirigentes do partido estejam em condições de encontrar uma resposta correcta a essas questões, eles devem ter possibilidade de apreciar o caminho a seguir, em ligação com a análise da estratégia dos últimos anos e das suas consequências, tais como elas surgiram nas eleições. Se, fazendo contrapeso a isso, a burocracia conseguisse pelos seus gritos de vitória amordaçar a voz da autocrítica política, o proletariado seria inevitavelmente arrastado numa catástrofe mais medonha que a de 1923.
A situação revolucionária, que coloca ao proletariado o problema imediato da conquista do poder, é composta de elementos objectivos e subjectivos, que estão ligados entre eles e se condicionam mutuamente numa larga medida. Mas esta interdependência é relativa. A lei do desenvolvimento desigual aplica-se também inteiramente aos factores da situação revolucionária. O desenvolvimento insuficiente de um deles pode conduzir à seguinte alternativa: seja a situação revolucionária não chega a explodir e se reabsorbe, seja, chegada à explosão, ela se termina pela derrota da classe revolucionária. Qual é, a este sujeito, a situação na Alemanha de hoje?
Noutros termos, estamos em presença de condições objectivas fundamentais da revolução proletária; uma dessas condições políticas existe (estado da classe dirigente ); a outra condição política (estado do proletariado) apenas começa a evoluir no sentido da revolução, mas, pelo facto da herança do passado, não pode evoluir rapidamente; enfim, a terceira condição política (estado da pequena burguesia ) tende não do lado da revolução proletária mas para o lado da contra-revolução burguesa. Esta última condição evoluirá se mudanças radicais intervêm mesmo no seio do proletariado, isto é, se a social-democracia é liquidada politicamente. Estamos confrontados assim a uma situação profundamente contraditória. Algumas das suas componentes metem na ordem do dia a revolução proletária; mas outras excluem toda possibilidade de vitória num período muito próximo, porque elas implicam uma profunda modificação prévia da relação de forças políticas.
Certas variantes na evolução ulterior da situação actual na Alemanha essas variantes dependem tanto das causas objectivas, cuja política dos inimigos de classe, como da atitude do próprio partido comunista. Indicamos esquematicamente quatro variantes possíveis do desenvolvimento.
Seria completamente inútil procurar adivinhar qual destas variantes tem mais possibilidades de se realizar num período próximo. É lutando e não entregar-se a conjunturas que resolvemos tais questões.
Uma luta ideológica implacável contra a direcção centrista da Internacional Comunista é um elemento indispensável desse combate. Moscovo já deu sinal de uma política de prestígio burocrático, que obre os erros passados e prepara os erros de amanhã, pelos seus gritos hipócritas sobre o novo triunfo da linha.
Em exagerando de maneira inverosimilmente a vitória do partido, ao minimizar de maneira não menos inverossímil as dificuldades e interpretando mesmo o sucesso dos fascistas como um factor positivo da revolução proletária, a Pravda emite todavia uma pequena reserva. ''Os sucessos do partido não lhe dever dar voltas à cabeça.'' A política pérfida da direcção estalinista é aqui ainda fiel a ela própria. A análise da situação é feita no espírito da ultra-esquerda acrítica. O que leva conscientemente o partido na via do aventureirismo. Ao mesmo tempo, Estaline se prepara um alibi com a frase ritual sobre ''a vertigem do sucesso''. É precisamente esta política de vistas curtas e sem escrúpulos que pode perder a revolução alemã.
Em cima, fizemos uma análise sem qualquer rodeio nem indulgência das dificuldades e dos perigos que dependem inteiramente da esfera política subjectiva; eles decorrem principalmente dos erros e dos crimes da direcção dos epígonos e, hoje, comprometem manifestamente a nova situação revolucionária que, na nossa opinião, está em vias de se criar. Os funcionários ou ignoram a nossa análise, ou renovam seus estoques de injúrias. Mas não se trata desses funcionários incuráveis, mas da sorte do proletariado alemão. No partido, incluindo o aparelho, há um bom número de gente que observa e reflecte, e que o carácter agudo da situação forçará a reflectir amanhã com uma intensidade redobrada. É a eles que nós destinamos a nossa análise e as nossas conclusões.
Toda a situação de crise contém factores importantes de indeterminação. Os estados de espírito, as opiniões e as forças, tanto as hostis como as aliadas, se formam no próprio processo da crise. É impossível prevê-las antecipadamente de maneira matemática. É preciso considerá-las na luta, pela luta, e fazer as correcções necessárias fundando-se sobre essas considerações tiradas da vida.
Pode-se considerar antecipadamente a força da resistência conservadora dos operários sociais democratas? Não. À luz dos acontecimentos dos últimos anos esta força aparece gigantesca. Mas no fundo do problema é que a política errada do partido, que encontrou a sua expressão final na teoria absurda do social-fascismo, é o que mais favoreceu a coesão da social-democracia. Para medir a capacidade real da resistência da social-democracia, é preciso encontrar outro instrumento de medida, quer dizer que os comunistas se dêem como táctica correcta. Se esta condição é preenchida – e já é bastante – descobrir-se-á relativamente a curto prazo, a que ponto a social-democracia é comida pelo interior.
O que foi dito acima aplica-se igualmente ao fascismo, mas sob outra forma. Desenvolveu-se nas condições diferentes, graças ao fermento da estratégia zinovievo-estalinista. Qual é a sua força ofensiva? Qual é a sua estabilidade? Atingiu o seu ponto culminante, como nos afirmam os optimistas profissionais, ou inicia apenas os seus primeiros passos? É impossível prever mecanicamente. Só se pode determinar através da acção. É precisamente em relação ao fascismo, que é uma lâmina nas mãos do inimigo de classe, que uma política errada do partido comunista pode, num curto prazo, conduzir a um resultado fatal. Aliás, uma política justa pode – é verdade a muito mais largo prazo – minar as posições do fascismo.
No momento das crises do regime, o partido revolucionário é muito mais forte na luta de massas extra-parlamentar, que no quadro do parlamentarismo. Com uma só condição, todavia: que ele compreenda correctamente a situação e que ele seja capaz de ligar praticamente as necessidades reais das massas às tarefas da conquista do poder. Actualmente, tudo conduz a isso.
Também seria um erro grave só ver na situação alemã actual dificuldades e perigos. Não, a situação oferece igualmente enormes possibilidades com a condição que ela seja analisada em profundidade e utilizada directamente.
O que é preciso para isso?
A palavra de ordem de unificação proletária da Europa ao mesmo tempo uma arma muito importante na luta contra o chauvinismo abjecto dos fascistas, contra a sua cruzada contra a França. A política mais perigosa e a mais incorrecta é aquela que consiste a adaptar-se passivamente ao inimigo, a se fazer passar por ele. Às palavras de ordem de desespero nacional e de loucura nacional, é preciso opor as palavras de ordem que propõem uma solução internacional. Mas para isso, é indispensável limpar o partido do veneno do nacional-socialismo cujo elemento essencial é a teoria do socialismo num só país.
Para condensar tudo o que foi dito acima numa formula simples, coloquemos a questão da maneira seguinte: a táctica do Partido comunista alemão deve, no imediato período, ser colocada sob o sinal da ofensiva ou da defensiva? A isso nós respondemos: defensiva.
Se a confrontação tivesse lugar hoje, consequência da ofensiva do partido comunista, a vanguarda proletária fracassava-se contra o bloco constituido pelo Estado e o fascismo, a maioria da classe operária se colocando numa neutralidade temerosa e perplexa, a pequena burguesia, quanto a ela apoiando na sua maioria directamente o fascismo.
Uma posição defensiva implica uma política de aproximação com a maioria da classe operária alemã e a frente única com os operários sociais democratas e sem partido contra o perigo fascista.
Negar esse perigo, minimizá-lo, tratá-lo com ligeireza é o maior crime que se possa cometer hoje contra a revolução proletária na Alemanha.
O que vai ''defender'' o partido comunista? A constituição de Weimar? Não, nós deixamos esse cuidado a Brandler. O partido comunista deve apelar para a defesa das posições materiais e intelectuais que a classe operária já conquistou no Estado alemão. É a sorte dessas organizações políticas e sindicais, dos seus jornais e das suas tipografias, dos seus clubs e das suas bibliotecas, que está em jogo. O operário comunista deve dizer ao operário social-democrata: "A política dos nossos partido é inconciliável; mas se os fascistas vêm esta noite destruir o local da tua organização, virei ajudar-te, de armas na mão. Prometes que em caso onde esse mesmo perigo ameace a minha organização virás em meu socorro?'' Tal é a quintessencia da política do período actual. Toda agitação deve ser levada neste espírito.
Mais nós desenvolvemos esta agitação com perseverança, com seriedade, com reflexão, sem gritaria ou fanfarronice com a qual os operários se cansaram, mais as medidas organizacionais defensivas que nós proporemos em cada fábrica, em cada bairro popular, serão pertinentes, menor será o perigo que o ataque dos fascistas nos apanhem de surpresa, maior será a segurança que este ataque nos unirá e não dividirá as fileiras operárias.
Com efeito, os fascistas, do facto do seu sucesso vertiginoso, do facto do carácter pequeno burguês, impaciente e indisciplinado do seu exército, terão tendência a passar ao ataque num período próximo. Procurar a concorrenciá-los actualmente nesta via seria uma medida ao somente desesperada mas também mortalmente perigosa. Mais os fascistas aparecerão aos olhos dos operários sociais democratas e ao conjunto das massas trabalhadoras como o campo que ataca, maiores serão as oportunidades não somente de esmagar a ofensiva dos fascistas, mas também de passar à contra-ofensiva vitoriosa. A defesa deve ser vigilante, activa e corajosa. O estado-maior deverá considerar todo o campo de batalha e ter conta de todas as mudanças para não deixar passar uma nova reviravolta da situação quando se tratar de dar o sinal do assalto geral.
Há estrategas que se pronunciam sempre e não importa quais circunstâncias pela defensiva. Os brandlerianos, por exemplo, são desses. Admirar-se de que ainda hoje eles falarão da defensiva, seria completamente pueril. Os brandlerianos são um dos porta-vozes da social-democracia. Nós devemos em contra-partida nos aproximar dos operários sociais democrata no terreno da defensiva para os mobilizar a seguir numa ofensiva decisiva. Os brandlerianos são completamente incapazes disso. Quando a relação de forças se modificará de maneira radical em favor da revolução proletária, os brandlerianos aparecerão novamente como um peso morto e como um travão da revolução. É a razão pela que uma política defensiva visando a aproximação com as massas sociais democratas não deve em qualquer caso implicar um enfraquecimento das contradições com o estado-maior brandleriano, por detrás do qual não há nem haverá nunca as massas.
No quadro do reagrupamento de forças, caracterizado acima, e as tarefas da vanguarda proletária, os métodos de repressão física aplicada pela burocracia estalinista na Alemanha e noutros países contra os bolcheviques-leninistas, tomam um significado particular. É um serviço directo dado à polícia social-democrata e às tropas de choque do fascismo. Em contradição total com as tradições do movimento revolucionário proletário, esses métodos respondem perfeitamente à mentalidade dos burocratas pequeno burgueses, que têm o salário garantido do alto e que temem perdê-lo com a irrupção da democracia no interior do partido. As infâmias dos estalinistas devem ser alvo de um largo trabalho de explicação, o mais concreto possível, visando desmascarar o papel dos funcionários os mais indignos do aparelho do partido. A experiência da URSS e de outros países prova que os que lutam com a maior frenesim contra a oposição de esquerda, são os tristes fulanos que necessitam absolutamente de dissimular à direcção os seus erros e seus crimes : delapidação dos fundos comuns, abusos de função, ou simplesmente incapacidade total. É completamente claro que a denunciação dos actos brutais do aparelho estalinista contra os bolcheviques-leninistas será tanto mais coroado de sucesso que nós desenvolveremos mais largamente a nossa agitação geral sobre a base das tarefas expostas acima.
Se examinamos o problema da viragem táctica da Internacional Comunista unicamente à luz da situação alemã é porque a crise alemã coloca o Partido comunista alemão mais uma vez no centro da atenção da vanguarda proletária mundial, e porque à luz desta crise todos os problemas aparecem com um grande destaque. Não seria difícil mostrar que o que é dito aqui se aplica, mais ou menos, também aos outros países.
Em França, todas as formas tomadas pela luta de classes desde da guerra têm um carácter infinitamente menos agudo e decisivo que na Alemanha. Mas as tendências gerais do desenvolvimento são as mesmas, sem falar, evidentemente, da dependência directa que liga a sorte da França à da Alemanha. As viragens da Internacional Comunista têm em qualquer caso um carácter universal. O Partido comunista francês, proclamado por Molotov desde 1928 primeiro candidato ao poder, levou estes dois últimos anos uma política completamente suicidária. Ele não conheceu em particular o desenvolvimento económico. Uma viragem táctica foi anunciada em França no momento onde a recuperação económica cedia lugar a uma crise. Assim as mesmas contradições, as mesmas dificuldades e as mesmas tarefas, das quais falámos a propósito da Alemanha, estão também na ordem do dia em França.
A viragem da Internacional Comunista, em ligação com a viragem da situação, coloca a Oposição comunista de esquerda diante de tarefas novas e extremamente importantes. Suas forças são reduzidas. Mas cada corrente se desenvolve paralelamente às suas tarefas. Compreendê-las claramente, é possuir um dos trunfos mais importantes da vitória.
Inclusão | 21/11/2017 |