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1838. Acaba de começar o longo reinado de Vitoria. Unia crise profunda agrava a miséria dos trabalhadores. O ministério whig (liberal) mostrou sua impotência e decepcionou as esperanças do povo. Em Manchester, Richard Cobden cria sua Liga Livre-Cambista. Um comité da Working Men Association (Associação dos Operários) estabelece em seis pontos uma carta popular, que tende principalmente para a instituição do sufrágio universal e a ampliação das liberdades parlamentares.
Mas, apesar do caráter estritamente político dessa carta, o movimento dos cartistas, o cartismo, que se forma e se desenvolve em torno desse documento, nem por isso deixa de ser, como o observa Engels, essencialmente econômico e social: tem sua base nas massas operarias, cujo sofrimento, despertar, espírito de classe nascente, exprime.
Em 1839, a Câmara dos Comuns recusa incluir na ordem do dia uma petição subscrita por mais de um milhão de assinaturas. A agitação dos cartistas torna-se revolucionária, particularmente no País de Gales, e o governo começa a persegui-la.
A agitação renova-se em 1842 e, sobretudo, em 1848, sob a influência dos acontecimentos de Paris. “A terra ao país para o povo” clama o cartista Herney, num meeting londrino. “Para cada homem sua casa, para cada homem seu direito ao voto, para cada homem seu fuzil!” Estalam desordens. A repressão redobra de violência.
No decorrer de um processo intentado contra os cartistas de Londres um dos principais acusados, o operário W. Cuffey, apresenta uma autodefesa que merece ser citada como exemplo.
Recusa o juri burguês e solicita ser julgado por seus pares, isto é, por operários. Estigmatiza um agente provocador, que acaba de confessar cinicamente seu papel, e, sobretudo, os que recorreram ao serviço dessa personagem.
— “Digo, declara Cuffey, que não tendes o direito de me julgar. Embora o processo tenha durado demasiado tempo, não se me fez justiça, e, quando pedi que justiça me fosse feita, quando pedi que fosse julgado por meus pares, não deferistes meu requerimento. Tudo foi posto em celeuma para suscitar preconceitos contra mim. A imprensa deste país e, creio-o, a dos outros países, fez tudo para me cobrir de ridículo. Não peço piedade, não peço graça. Contava ser condenado e não supunha outra coisa, mas não quero piedade. Não, eu é que tenho piedade do governo, do procurador-geral, que empregaram para comigo meios tão baixos. Alas ora: um e outro não podem existir senão em função de tais meios. Procurador geral é uma má denominação; o nome devia ser este: ‘espião geral’ e é uma vergonha para o governo servir-se de tais homens... Não tenho sede de martírio; mas, depois do que ouvi esta semana, creio que poderei suportar não importa qual condenação e até marchar para o cadafalso de cabeça erguida”.
W. Cuffey foi condenado não à morte, mas à deportação perpétua. A firmeza desse precursor iria, não obstante, fazer escola no movimento operário britânico.