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Sabe-se que, a 23 de dezembro, quando o Tribunal pronunciara a sentença de absolvição fundada, como há muito se esperava, na “insuficiência de provas”, Dmitrov, indignado, pediu em vão a palavra para julgar, por sua vez, o julgamento de seus juízes. Estes, porém, fugiram da sala. Relede as notas que Dmitrov tinha tomado febrilmente durante a leitura dos motivos e sobre os quais ainda esperava poder falar.(1)
Nelas compara a mesa do tribunal, o Tribunal, a “uma mãe que teve um aborto”(2). E apresenta o julgamento como uma “tentativa infeliz de resolver este problema insolúvel: saciar o lobo sem que seja devorado o cordeiro”(3). Mas o lobo hitleriano e o Mefistófeles não escaparão à sua sorte de traidores.
Que tons encontra Dmitrov para lhes dizer, com desprezo da própria vida, de que lado tinha sido cometida a traição:
— “Alta traição? Não! Traição do povo, isto é, traição para com o povo alemão! Ditadura fascista. Ditadura do capital de Thyssen e de Krupp!(4) A revelação do que estava oculto e a condenação dos autores, do Mefistófeles, ficam reservados para o tribunal da ditadura próxima do proletariado”.(5)
Tal a profecia terrível que aqueles senhores tiveram medo de ouvir!
Quem não se lembra ainda da alegria com que foi acolhida no mundo inteiro a notícia da absolvição? E quem não se lembra da cólera e da angustia que nos invadiram a todos, quando a imprensa nos anunciou que os quatro absolvidos, longe de serem postos em liberdade, eram objeto de uma medida de detenção “protetora”. Esta angustia agravou-se quando os três búlgaros foram transferidos, em Berlim, para a prisão subterrânea da Gestapo, e quando as arbitrariedades recomeçaram.
Dmitrov, isolado, doente, retomou o combate, bombardeou com cartas o prefeito de polícia de Leipzig e o ministro de Interior: essas cartas são modelos de clareza, de firmeza, de autodomínio: na última, datada de 7 de fevereiro de 1934,(6) (um mês e meio depois da sentença), exige sua expulsão sem demora para a URSS, ou para outro país limítrofe da Alemanha e, no caso de não ser deferida sua petição, afirma sua intenção de fazer greve de fome:
— “Antes um fim horrível do que um horror sem fim. Há exatamente 11 meses que sofro esta pavorosa detenção”.(7)
Oito dias depois, o governo da URSS concedia aos três búlgaros, a cidadania soviética. Doze dias depois, era a libertação! Uma libertação tão precipitada que, em sua confusão, a administração penitenciaria se esqueceu de datar a ordem de expulsão, se esqueceu de vistoriar as bagagens: graças ao que pôde Dmitrov trazer todos os documentos que tinha tido o cuidado de conservar.
Notas de rodapé:
(1) Idem, ps. 148 e segs., documento n. 38. (retornar ao texto)
(2) Idem, p. 149. (retornar ao texto)
(3) Idem, p. 148. (retornar ao texto)
(4) Idem, p. 150. (retornar ao texto)
(5) Idem, p. 148. (retornar ao texto)
(6) Idem, ps. 15 e segs., documento n. 48. (retornar ao texto)
(7) Idem, p. 162. (retornar ao texto)