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DOS 61 ANOS de existência do camarada Santos Soares mais da metade, 32 anos, ele os viveu como dirigente sindical, construtor e militante do Partido Comunista, como líder e chefe dos trabalhadores da extensa faixa fronteiriça do Rio Grande do Sul com o Uruguai e que tem a cidade de Livramento como centro econômico e político. O exemplo de sua vida é uma lição de fidelidade sem limites, de confiança inabalável na vitória da causa da classe operária. Ele conheceu vitórias e reveses, dirigiu memoráveis combates de classe em períodos de ascenço da luta e lhe coube também desenvolver sua ação em momento de refluxo do movimento.
Os anos vincaram sua face, seus cabelos foram ficando brancos. O Partido que ajudou a fundar avançava, recrutava, renovava suas fileiras, enriquecia e ampliava a organização no curso da sua ação combativa. Mas em todo esse longo período, em todos os momentos, em todas as campanhas e lutas, em todas as reuniões importantes, em todas viragens políticas, lá estava Santos Soares. Exemplo de militância ininterrupta, ele não se afastou do combate até seu último alento, encarnando a continuidade da luta, educando os quadros com sua rica experiência de dirigente prático e com o espírito sempre aberto para as viragens e avanços do Partido. Seu vigilante sentimento de classe e arraigado espírito de Partido não permitiram nunca que Santos Soares ficasse para traz, que fosse superado.
Os militantes mais novos lembram-se dele como de um homem que sempre escutava com uma atenção concentrada, procurando continuamente compreender e dominar todos os problemas, Na sua face; já envelhecida e marcada por duros anos de luta, luzia um traço juvenil, irrequieto e às vezes um pouco malicioso. Ele escutava com o espírito crítico aceso aliado à modéstia do revolucionário que sempre tem uma cousa nova a descobrir. Tudo nele traduzia essa atenção concentrada, nas reuniões ou quando era preciso assumir a responsabilidade de uma decisão no curso da ação. Nesses momentos, o velho camarada Soares inclinava um pouco o corpo, os vincos de sua ampla testa pensativa se tornavam mais profundos, seus lábios se comprimiam levemente e um ponto luminoso irradiava um olhar perquiridor de suas pupilas que o tempo teimava em amortecer. Podia se perceber em sua própria atitude física que ele mobilizava tudo o que tinha para jogar-se sobre a questão proposta, como quem salta sobre o lombo dum potro para a doma. Depois, quando lhe tocava a vez de falar, percorria as poucas notas escritas com letra grossa e dura de operário em cujas mãos calejadas o lápis é como um objeto muito fino e delicado. E dava a sua opinião em poucas palavras, procurando sistematicamente tirar uma conclusão prática, uma tarefa para empreender, algo que fazer para materializar tudo o que foi dito.
Santos Soares, pedreiro de profissão, era um homem simples. Dificilmente falava de si mesmo. Alguns dados essenciais de sua biografia só puderam ser obtidos quando o Partido lhe deu a tarefa de contá-los. Mesmo assim, foi necessária a colaboração de vários companheiros de Livramento para que se destacasse do relato toda a importância de sua atuação e influência pessoais. Santos Soares era o oposto do carreirismo.
A PRIMEIRA grande lição da vida de Santos Soares é o internacionalismo proletário. Muito jovem ainda, ele já estava à frente dos movimentos grevistas que sacudiram nosso país logo após a carnificina imperialista de 1914-1918.
— Nós, estávamos entusiasmados com a marcha da luta, contou certa ocasião, em 1945, logo após a legalidade do Partido. Mas ao mesmo tempo sentíamos que faltava alguma cousa. Olhando bem, podia se ver que a simples organização sindical, a conquista das reivindicações não resolvia o problema principal, que era acabar com a exploração. Estava claro que os operários eram uma força. Mas era como um gigante que não sabia acertar o caminho da sua casa. Pois vejam: os dirigentes grevistas, depois de terminada a greve, não sabiam dizer aos operários para onde ir depois de vencida a greve. Foi quando o clarão da revolução russa iluminou o mundo. Todos nós percebemos que a força dos trabalhadores tinha um alvo, pois tinha surgido uma coisa nova, um governo operário. O que nos faltava era uma política operária, um partido dos operários. O nome de Lênin, nas assembléias, incendiava, os corações. Naquele tempo era comum chamar os bolcheviques de maximalistas. Interpretamos assim esta palavra: maximalistas são os que querem o máximo para os trabalhadores, isto é o Poder. Num grande país, os trabalhadores já conseguiram isso. Para que façamos o mesmo quando chegar a vez em nosso país precisamos também aqui de um partido maximalista.
Então se reuniram os mais firmes e capazes ativistas operários, os melhores combatentes para ouvir o primeiro informe político de Santos Soares. Ele demonstrou que a Revolução Proletária estava indicando o que lhes faltava. Foi também seu primeiro esforço para desmascarar as mentiras e calúnias contra o jovem Poder Soviético. Foi mostrando como a luta econômica só chegaria com a vitória ao seu verdadeiro fim se ela tivesse a guiá-la a compreensão política, a compreensão de que a exploração só acabaria quando os explorados substituíssem os exploradores no governo.
E foi assim que em 1918, aos 28 anos de idade, Santos Soares fundou e se colocou à frente da Liga Comunista de Livramento. Essa foi a primeira organização comunista do Rio Grande do Sul. A primeira medida da Liga foi publicar um jornal, que efetivamente circulou em vários números e foi disputado pelos trabalhadores. A sede da Liga Comunista não tardou em ser assaltada pela polícia. Mas ela existiu até a fundação do Partido Comunista do Brasil, em 1922. O jornal enfrentava tremendas dificuldades. Mas Santos Soares não desistia. Ele mesmo não era um homem culto, não pretendia ser um jornalista. Mas rascunhava notícias, ditava coisas, mobilizava gente, cuidava de conseguir oficina em Rivera. E quando demorava muito a saída do jornal, promovia com maior intensidade a leitura do escasso material revolucionário obtido através da fronteira com o Uruguai. Assim animava a chama da solidariedade à União Soviética, mostrava aos trabalhadores «o que nos faltava», o que nós precisamos fazer.
Os quadros da Liga foram recrutados entre os melhores filhos da classe operária, eram homens temperados nas lutas grevistas. Essa foi a escola dos primeiros comunistas de Livramento organizados por Santos Soares. A preocupação com o jornal do Partido foi, dai em diante, uma característica constante de sua atuação. Nesse trabalho, Santos Soares não tardou em compreender a importância dos jovens e dos intelectuais e fazia do jornal um meio de ganhá-los para a causa do comunismo.
A fundação da Liga Comunista de Santana do Livramento não foi um fato isolado. Com pequena diferença de tempo surgem organizações semelhantes em diversos pontos. Funda-se, um centro em Passo Fundo. Os trabalhadores de Porto Alegre editam o Manifesto Comunista de Marx e Engels. Os trabalhadores de Rio Grande inscrevem na fachada da União Operária o lema «Operários de todos os países, uni-vos». O mesmo acontece pelo Brasil afora. A iniciativa de Santos Soares era a de um legítimo representante do melhor e mais alto espírito revolucionário de nosso proletariado que tomou consciência de suas forças em grandes lutas grevistas e se educava politicamente sob a influência do Partido de Lênin e Stálin, ao calor da grande Revolução de Outubro. No trabalho de Santos Soares podemos ver concretamente como o instinto de classe levou os trabalhadores, por assim dizê-lo, instantaneamente, a compreender o caráter internacional da Revolução bolchevique e anecessidade de apoiá-la com todas as suas forças.
Essa iniciativa de fundar ligas e círculos comunistas é uma demonstração da necessidade que os trabalhadores sentem do Partido. A atuação de Santos Soares está na própria raiz da organização do Partido Comunista no Rio Grande do Sul.
NA FOLHA de serviço de Santos Soares à causa do proletariado inscreve-se em relevo a sua atuação como organizador e dirigente da primeira greve contra uma empresa imperialista no Rio Grande do Sul. Foi a greve dos trabalhadores do Frigorífico Armour.
Organizada a Liga, Santos. Soares não permitiu que os comunistas se fechassem num estreito círculo sectário. Esta é a segunda grande lição de sua vida. Ele comparava os efetivos do pequeno núcleo de vanguarda com as massas dispostas à luta e reclamando a direção dos comunistas. O lugar do comunista é no Sindicato.
— De onde é que nós saímos? Não foi da luta sindical? É no Sindicato, lutando pelos interesses dos trabalhadores, que está o ABC.
Assim, com palavras simples, utilizando a própria experiência dos trabalhadores, Santos Soares organizou uma verdadeira campanha de sindicalização. Surgiram organizações sindicais de diversas profissões. Nas assembléias, um jovem tribuno operário inflamava as massas. Aos 28 anos, Santos Soares era um líder querido dos trabalhadores, reconhecido como seu chefe.
Ele não perdia oportunidade e não desprezava nenhum setor. Operários da construção civil, padeiros, pequenos contingentes de trabalhadores de diversas profissões ele unia e organizava em seus respectivos sindicatos e no sindicato de ofícios vários. Participou de diversas diretorias e invariavelmente os trabalhadores exigiam que Santos Soares ficasse responsável pelos fundos e pelo patrimônio das suas organizações. Era a homenagem pública à honestidade dos comunistas representados por Santos Soares.
Mas o jovem dirigente à medida que ia se temperando na luta, aprendendo e acumulando experiência, compreendeu que era preciso dar atenção especial à empresa fundamental. Santos Soares lançou-se à tarefa de organizar e levar à luta os trabalhadores do Frigorífico Armour. Ali era a cidadela dos patrões estrangeiros e dos fazendeiros. Mas ali também era que se concentravam os trabalhadores.
No frigorífico, Santos Soares se defrontou com um inimigo de larga experiência na repressão ao movimento operário, experiência que se aliava aos métodos mais brutais dos senhores feudais das fazendas de gado e contrabandistas da fronteira. Com paciência e tenacidade preparava a luta e a vitória. Cada escaramuça com o inimigo lhe dava a noção das forças dos trabalhadores, do seu amadurecimento para o combate, revelava os homens que deviam ser chamados para o Partido, mostrava erros que era preciso corrigir. Em 1924 estalou a greve no Frigorífico Armour, greve geral. Foi a primeira greve numa empresa imperialista no Rio Grande do Sul e foi vitoriosa. Entre outros futuros dirigentes da classe operária, dela participou o camarada Aladim Rosales, cujo encontro com Santos Soares data dessa época. Aladim Rosales foi assassinado em 1950 por ordem dos anglo-americanos. Pereceram com ele os camaradas Kulman, Abdias e Aristides. Esse crime monstruoso foi executado pela policia dos traidores da pátria Eurico Dutra e Walter Jobim.
Santos Soares procurava capitalizar todas as lutas para o Partido. Sim, dizia, é importante e é necessário conseguir melhorias para a classe operária. Mas não estava se vendo que os fazendeiros e os gringos do frigorífico continuavam donos de tudo, permanecem no governo, com o poder na mão, mesmo quando os operários conseguem uma reivindicação? A importância da luta pelas reivindicações não está só nas melhoras que pode trazer, mas principalmente porque une os trabalhadores, abre seus olhos, mostra que são fortes e que devem empregar essa força contra os patrões sempre prontos a anular as melhorias obtidas na primeira oportunidade. Portanto, em cada luta, para que seja uma luta de verdade, é preciso ter uma perspectiva revolucionária. Somente o Partido garante que todas as lutas reforcem a causa da revolução e impede que forças da classe operária se desmanchem em mil e um pequenos combates que ficam nas pequenas melhorias.
SANTOS SOARES foi um ativo e ardente agitador popular, que sabia colocar o Partido na frente das massas e com seu apoio enfrentar audazmente a reação. E esta é a terceira grande lição de sua vida.
«A ligação com as massas é a melhor defesa do Partido, pois os golpes da reação se tornam mais difíceis. E mais ainda: com o apoio das massas é que podemos ir para adiante»,
costumava dizer com seu falar pausado e calmo.
Em 1930, nas assembléias populares e sindicais, explicava com coragem e habilidade a posição do Partido e o Manifesto de Prestes em face da revolta de Getulio Vargas. A efervescência política da época fazia com que as reuniões públicas fossem muito concorridas, atraindo não só os operários como numerosos jovens estudantes. Com clareza e energia, Santos Soares desfazia as ilusões de classe em Getulio Vargas e mostrava aos jovens que estavam sendo ludibriados. A Aliança Liberal não podia fazer uma revolução de verdade. Tudo continuaria na mesma, com a ascensão de um fazendeiro da fronteira ao Catete. Vargas não era um político diferente dos demais de sua classe, mas exatamente um representante daquela política que muitos brasileiros enganados julgavam ter derrubado. Era um continuador da política dos capitalistas e dos fazendeiros, dos frigoríficos e de todos os monopólios imperialistas. A revolta de 30 não trouxe nem poderia trazer nenhuma, modificação de importância. E por isso, a luta da classe operária não podia arrefecer e muito menos parar. Era preciso continuá-la com crescente vigor.
Quando foi fundada a gloriosa Aliança Nacional Libertadora, Santos Soares foi um dos esteios de seu Diretório local de Livramento. Participou na organização dos núcleos nacional-libertadores nos bairros operários, especialmente no «bairro industrial» onde residiam os trabalhadores do frigorífico, divulgando e propagando o programa da ANL em comícios, assembléias e reuniões de todo tipo. Quando a ANL foi posta na ilegalidade, Santos Soares e outros dirigentes operários organizaram a Liga Eleitoral Proletária, da qual foi candidato à Câmara Municipal. Através da LEP, comunistas e aliancistas, aproveitavam as possibilidades legais oferecidas pela campanha eleitoral para reorganizar o trabalho de massas econtinuar fazendo a agitação e a propaganda do programa nacional-libertador.
Depois de todos os partidos burgueses terem retirado seus comícios no Largo Internacional, a LEP marcou o seu para o mesmo local. A polícia, alegando «ordens» da capital, proibiu o comício no Largo, apenas 24 horas antes de sua realização, designando para novo local a pracinha fronteira à estação ferroviária, o que parecia tornar o comício irrealizável. Muitos companheiros votaram pela realização do comício «de qualquer jeito» no Largo Internacional. A propaganda estava feita, a massa não iria para outro local e, portanto, não era possível ceder. Santos Soares não perdeu a cabeça. Traçou um plano que foi aceito e vitoriosamente cumprido. Em primeiro lugar era preciso reunir o povo. Se o povo soubesse que o seu próprio comício, o comício da Liga Eleitoral Proletária, seria na pracinha da estação, não tivessem dúvidas, pois o povo iria. Não tinha importância que a palavra comício estivesse ligada pela tradição ao Largo Internacional. Era preciso intensificar a propaganda de todas as formas. E 24 horas era tempo suficiente. E realmente a massa popular correspondeu integralmente à confiança do seu dirigente, Antes, nunca fora realizado comício igual em Livramento. Mais de 5.000 pessoas reuniram-se na pracinha da Estação, local em que ninguém se atrevera a realizar um comício. Santos Soares foi o último orador. Fez um ardente discurso de propaganda do programa da Aliança Nacional Libertadora. A transferência do comício, mostrou Santos Soares, foi como o feitiço que virou contra o feiticeiro. De um lado, exclamou, mostrava a necessidade de lutar pela libertação nacional, pela solução dos problemas do povo, contra o fascismo, contra os integralistas, pois o fascismo é a escravidão e a guerra. Mas de outro lado, a realização do comício ali mesmo revelava que nenhum lugar é impróprio para o povo se reunir, quando o povo está disposto à luta. Aquele comício demonstrava que o povo podia despedaçar todas as proibições. E agora era preciso mostrar, portanto, que somos também capazes de manifestar esta vontade de luta também, no Largo Internacional. E convidou o povo, que o aclamava, a realizar uma passeata até o Largo Internacional. De nada adiantaram as ameaças policiais e as demonstrações dos piquetes de cavalaria. O povo desfilou triunfalmente e à sua frente, Santos Soares e demais dirigentes passaram pelo centro da cidade e pelo Largo Internacional. Vivas à Aliança Nacional Libertadora, à Liga Eleitoral Proletária ecoavam poderosamente pela cidade.
Com o mesmo impulso combativo, Santos Soares tomou parte nos comícios anti-fascistas, no desmascaramento da quinta-coluna integralista, na campanha pelo envio da FEB, em 1942. Lutar contra os canibais fascistas, lutar ao lado da União Soviética, lutar contra o bandoleirismo internacional dos incendiários de guerra, foi a bandeira que desfraldou. O vigor, a experiência e o talento de agitador de Santos Soares fazem-se sentir na campanha da anistia em 1944, no Movimento Democrático Progressista, em 1945, e na gigantesca campanha do Partido, já na legalidade, por uma Assembléia Constituinte livremente eleita.
Na campanha eleitoral de 1945, seu nome integra a chapa do Partido, ao lado de Sérgio Holmos, seu discípulo e companheiro de lutas sindicais.
O ESPÍRITO de partido, a luta inflexível em defesa da unidade e da linha política do Partido, o esforço abnegado e constante pela construção do Partido, eis a maior e mais alta lição da vida de Santos Soares. Ninguém era mais paciente do que ele com os quadros novos e inexperientes. Costumava realizar pessoalmente o controle das tarefas e não poucas vezes safou jovens atrapalhados com o «reco reco». Já velho e abatido pela enfermidade que teimava em dizer que não era nada, Santos Soares andava, muitas vezes, várias horas à cavalo para participar de reuniões do Partido. As prisões e os exílios não lhe quebrantavam a fibra revolucionária. Santos Soares voltava sempre.
Santos Soares foi um mestre do trabalho conspirativo.
«Não queiras saber mais do que o necessário para o cumprimento de tua tarefa. Desconfia dos que fingem uma importância que não têm, falando sobre suas ligações. Desconfia dos que são excessivamente curiosos. Um comunista não discute as questões do Partido fora de sua célula»,
repetia freqüentemente.
Quando o Partido veio para a legalidade, o pleno do Comitê Estadual de junho de 1945 elegeu Santos Soares membro efetivo do CE. O Comitê Municipal de Livramento tinha a sua frente um prestigioso dirigente estadual do Partido.
Santos Soares insistia particularmente no papel decisivo da imprensa do Partido. Desde o jornalzinho da Liga Comunista cuidava extremosamente de todos os problemas da imprensa revolucionária. Difundia a «Classe Operária», conseguia exemplares de jornais sindicais e revolucionários através da fronteira, atendia com carinho o órgão legal de massas do Partido do Rio Grande do Sul, a «Voz do Trabalhador». Santos Soares jogou-se com ardor na memorável campanha da imprensa popular e foi um construtor da «Tribuna Gaúcha». Aproveitando o impulso da campanha, dirigiu o Partido à conquista de uma tribuna própria na fronteira. E o combativo jornal «Unidade» surgiu.
Um dos dias mais felizes de sua vida, dizia Santos Soares, foi o do grande comício de Prestes em Livramento, em 1947. Mais de 20.000 pessoas, nesse dia, vieram dos bairros da cidade, das fazendas e municípios vizinhos para saudar e ouvir o Cavaleiro da Esperança.
Foi nessa época que a enfermidade começou a castigá-lo mais severamente . Não era possível contemporizar e o Comitê. Estadual teve que dispensá-lo de suas tarefas. Por fim, Santos Soares foi forçado a guardar o leito. Mesmo assim cometia suas «indisciplinas». No seu quarto de enfermo, o velho revolucionário transformava as visitas em reuniões, ele interrogava todo o mundo, queria saber de tudo o que se passava, informava-se sobre as lutas e a situação política. E sua larga fronte se vincava mais ainda, seu olhar brilhava de novo, sua atenção se concentrava mais uma vez. Quando a chacina de Livramento ameaçou semear a confusão, foi Santos Soares, do fundo da cama da qual não mais se ergueria, quem reanimou e guiou os companheiros, ajudou nas primeiras medidas de reorganização, da solidariedade às famílias das vítimas, do movimento de protestos. O Partido acima detudo, insistia. Eles querem desorganizar nossas fileiras. Jamais consentiremos nisso.
No dia 1.º de janeiro de 1951, às 4 horas da madrugada, seu coração de militante comunista deixou de pulsar. O enterro saiu da casa no exílio, em Rivera, atravessou a linha divisória. Pela última vez o povo percorria aquelas ruas com seu líder, Santos Soares. A beira do túmulo falaram três oradores. Seu Partido lhe rendeu a ultima homenagem. Foi uma despedida de combatentes, em que foi exaltado seu exemplo de construtor do Partido, de lutador incansável da causa da paz e da libertação nacional, de fidelidade incondicional à União Soviética. Aquele enterro foi o último comício do dirigente comunista, do líder operário Santos Soares. Aqueles que ele formou, que lutaram ao seu lado, os que ele ajudou a temperar pelo seu exemplo, os novos e antigos membros do Partido, todos, haurimos de sua existência gloriosa de herói de novo tipo, de herói operário, o exemplo que ensina a lutar até o último átomo de energia pela causa invencível do comunismo.
«Nestas condições, o problema principal na construção de nosso Partido está hoje na sua reconstrução ideológica, o que quer dizer, educar e formar novos quadros proletários e reeducar os membros do nosso Partido, especialmente os elementos revolucionários de origem pequeno-burguesa. Trata-se, pois, de intensificar em todo o Partido a luta contra o oportunismo nas duas frentes, contra os desvios de direita e de esquerda, o que constitui, aliás, a grande lei do desenvolvimento e da formação do Partido do proletariado»
LUIZ CARLOS PRESTES
Inclusão | 26/12/2009 |
Última alteração | 23/02/2015 |