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O Marxismo, até agora, ajudou a iluminar a natureza e a direção da luta negra mais do que qualquer outra teoria. Desde Marx, o marxismo iluminou as raízes econômicas do racismo e o funcionamento da estrutura de poder capitalista que oprime o povo negro, a qual deve ser derrubada para atingir o fim desta opressão. Desde Lenin e Trotsky, ficou nítida e ilustrada a progressão dos aspectos nacionalistas e raciais do movimento Negro. E em nosso tempo, o Partido dos Trabalhadores Socialistas está dando duro para compreender e explicar as tendências atuais e combiná-las num programa realista para nossa emancipação.
Harold Cruse (em "Liberator", maio e junho) nos acusa de abrigar um "mistério" em relação à mão de obra branca, o que não nos foi difícil de refutar porque nós somos contra preconceitos em relação a qualquer cor. Seguindo o mesmo raciocínio, ele cria uma mística ele próprio quando fala das “características desconhecidas” do Movimento Negro, como se eles de alguma forma desafiassem a análise lógica e científica.
Em nossa convenção de 1963, em que Cruse persistentemente recusa-se a confrontar, nós fizemos uma análise das próprias características que o mesmo chama de desconhecidas (separatismo, assimilacionismo, nacionalismo, autodeterminação, independência, etc.). Nossa análise pode não ser perfeita ou completa, mas já provou-se frutífera. Futuros progressos podem ser realizados através de testes, aprofundando e estendendo esta análise, não através da categorização das condições estudadas como desconhecidas e implicando que as mesmas não podem ser descobertas.
Em outro lugar, Cruse diz que “se o materialismo histórico ou a dialética for considerada realmente científica, eles então devem ser desenvolvidos e verificados na vida real pela inclusão dos experimentos sociais, da história, das ideias e filosofias políticas, os pontos de vista dos povos atrasados” (entre as quais ele inclui os negros americanos). Bem, isto é o que já estávamos dizendo também, antes mesmo que Cruse dissesse. Isto é simplesmente o que estávamos tentando fazer quando nos comprometemos a enegrecer o Marxismo. Os escritos de Robert Vernon sobre o gueto negro em "The Militant" é um ótimo exemplo do valor desde ponto de vista.
Porém, quando somos nós a realizarmos, Cruse recusa-se a sequer comentar sobre o resultado. Nós esperamos que outros radicais negros que não tenham quaisquer machados antimarxistas para afiar, se familiarizem com nosso trabalho e juntem-se a ele.
Enquanto nós recomendamos o marxismo como a melhor teoria agora disponível e que a defendemos de ataques como o de Cruse, nós sabemos que nenhuma teoria, nem mesmo a melhor delas, é perfeita. Se não, isto implicaria que seria possível saber absolutamente tudo sobre uma situação específica, o que é impossível. Nenhuma teoria automaticamente proporciona todas as respostas, chegar a elas toma trabalho. Ninguém ganha acesso às respostas meramente por adotar uma teoria ou por dizer que é Marxista, ou um nacionalista ou qualquer outro tipo de "ista".
Até mesmo a melhor teoria do mundo não protege ninguém ou qualquer movimento de cometer erros e de acabar retardando-se perante as mudanças na realidade. A questão é se a sua teoria te permite evitar que erros fatais sejam cometidos, se ela providencia aprendizado de seus erros, criando correções para os problemas e evitando que se repitam. Neste aspecto, o Marxismo é superior aos outros.
Anos de isolamento e ataque por retrógrados e refugiados do Marxismo tanto como por representantes capitalistas, e a necessidade de manter-se firme perante eles, infelizmente causaram a tendência de se criar a impressão de que marxistas são pessoas rígidas que pensam que sabem de tudo: “Aqui está uma ciência finalizada com todas as respostas prontas, agora senta e estuda”; mas esse não é o caso, e Marxistas maduros não pensam dessa forma.
Nós não temos todas as respostas. Nós achamos que temos o método para encontrá-las, e não temos uma patente em cima disso. Com o objetivo de encontrar as respostas através deste método, nós urgentemente precisamos e queremos a colaboração ativa e a ajuda dos que mais tem a ganhar da revolução, o povo que é menos privilegiado e menos corrompido por esta sociedade – as massas negras e os pensadores radicais que mais autenticamente os representam. Nós achamos que o artigo de Cruse é prejudicial pois o mesmo tenta, através da má interpretação do marxismo, desencorajar esta colaboração.
Outra impressão que buscamos dissipar é a de que o Marxismo é uma teoria e filosofia para pessoas brancas. Nós sabemos que não é, mas é o que parece para várias pessoas negras, especialmente neste país, que é (de forma completamente justificável) desconfiado de ideias e influências vindas de pessoas brancas pois as mesmas são geralmente opressoras em relação aos negros.
Cruse tenta levantar ainda mais esta ideia contra o Marxismo de forma a prevenir um exame justo de nossas ideias.
É verdade que Marx fora classificado como branco, e que o desenvolvimento inicial do marxismo ocorreu majoritariamente entre pessoas brancas em países capitalistas desenvolvidos. Porém, o Marxismo é e pretende ser uma ferramenta e arma para os revolucionários de todas as cores, e não deve ser rejeitado em primeira mão da mesma forma que rebeldes negros na África do Sul não rejeitariam uma arma só porque foi manufaturada por trabalhadores brancos.
De qualquer forma, as coisas mudaram desde o tempo de Marx, e no mundo hoje os milhões de não brancos que se consideram marxistas e apoiadores do marxismo superam a quantidade de pensadores brancos. Como Clifton DeBerry perguntou, em um artigo onde Liberator o solicitou que escrevesse, mas que não chegou a ser publicado: “Se o marxismo é para brancos, ocidental e obsoleto como Cruse coloca, como então ele lida com o fato de que desde a China até Cuba, onde o capitalismo foi abolido por revolução popular, isto foi feito debaixo da bandeira do Marxismo”? Como ele explica o fato de que o socialismo tem se tornado o maior credo popular em quase todos os países e continentes onde pessoas de outras raças estão lutando por liberdade?
Porque Cruse considera a luta do negro americano uma revolta semicolonial, DeBerry foi ainda mais longe: “Se o Marxismo foi tão útil e correto como um guia na luta contra o imperialismo e a supremacia branca no mundo colonial, o que previne este método de ser igualmente eficiente na luta do Freedom Now aqui no próprio coração do imperialismo e da supremacia branca?”
Cruse diz que “o real problema é: quem é destinado a ser a força radical dominante e decisiva na América - Radicais Negros ou Radicais Brancos?” Nós não vemos como este é o real problema. Mais importante que isso é a questão de como os radicais, tanto negros quanto brancos, podem juntar suas forças para virar sua mira contra os inimigos em comum.
O pensamento de Cruse que vemos aqui é de que Marxistas são opostos à liderança negra, mas isto simplesmente não é verdade. Nós não nos importamos com a cor da liderança da revolução americana, o único fator relevante é que seja uma liderança com um cronograma eficiente e que seja capaz de guiar as massas para a abolição do capitalismo.
Nós esperamos que tal liderança incluirá membros de todas as raças deste país, tanto de forma organizada em apenas um partido revolucionário, ou numa aliança de diversas delas, porém de qualquer forma nossa esperança é de que os negros terão sua parte proporcional desta liderança, e de que serão a maioria. Independente do caso, é absolutamente certo de que a luta dos negros hoje, na revolução que se aproxima e após ela, será guiada pelos próprios negros.
Quando nós dizemos que radicais, tanto brancos quanto negros, tem alvos em comum e portanto deveriam ser capazes de trabalhar juntos, não queremos minimizar as diferenças que existem entre muitos radicais negros e o Partido dos Trabalhadores Socialistas. A parte de nossas diferenças sobre o futuro dos trabalhadores brancos, aqui estão outras três que devem ser mencionadas:
Uma fraqueza de alguns intelectuais negros, como Cruse, é que eles procedem com suas análises e chegam a suas conclusões assumindo perpetuações indefinidas das condições presentes da luta e dificuldades das relações das forças sociais em escala nacional e mundial. Eles não enxergam além dos estágios iniciais da terceira revolução americana.
Eles são empíricos em seu raciocínio, um método consistente com o liberalismo e reformismo, mas inconsistente com um ponto de vista completamente revolucionário. Este método é falho e pode ser fatal porque deixa seus seguidores despreparados para viradas abruptas no rumo das coisas, deixando-se vulneráveis para serem pegos de surpresa. Esta é uma das razões para esta rejeição ao marxismo, que vê todas as coisas em seu desenvolvimento contraditório.
Outras diferenças que marxistas têm com alguns radicais negros nos preocupa a partir de uma perspectiva básica. Como nós dissemos, acreditamos que os negros não alcançarão a igualdade ou liberdade numa América capitalista, mas sim que isto será possível através da revolução socialista ou por separação ou migração. Isto flui a partir de nossa análise do capitalismo americano em seu estado de monopólio e a partir de nossa análise do personagem do Negro Proletário.
E o que podemos dizer sobre aqueles que veem apenas um lado desse personagem dúbio, apenas o lado nacional-racial e não o lado proletário? (vamos chamá-los de pura e simplesmente '‘nacionalistas’', para distingui-los dos nacionalistas negros que tem uma visão mais ampla, incluindo socialistas-nacionalistas) Alguns deles acham que a igualdade negra pode ser vencida neste país sem a abolição do capitalismo, outros deixam esta possibilidade em aberto. Nenhum, em nossa opinião, realmente se dedicou a pensar nesta questão.
Se os capitalistas podem fornecer emprego, educação, habitação e um fim a brutalidade policial, segregação e discriminação a 20 milhões de negros que estão na sola da estrutura social, então o capitalismo americano teria sido vitorioso em eliminar o mal econômico e social mais fundamental e urgente de nossos tempos. Isto até o permitiria, alguns até diriam, que durasse indefinidamente.
Aceitação de tal possibilidade, ou mesmo uma mera esperança disto, implica na adoção de uma perspectiva não revolucionária e em uma linha de pensamento reformista. Assim não seria mais necessário se engajar em uma luta inflexível por uma mudança básica nas estruturas de poder e relações sociais. Seria, como comparação, o suficiente para uma tripulação se se agitassem o suficiente no navio para exercer pressão no capitão em vez de organizar um motim para se livrar do mesmo e de seu navio escravocrata de uma vez por todas.
Uma perspectiva nacionalista pura e simples, que ignora o elemento da classe trabalhadora na luta negra e suas dinâmicas, isto é, nas suas tendências anticapitalistas implícitas, corre o risco de ser descarrilhada em algum momento pois falhou em prever a direção do movimento das massas, negras e brancas, e o tipo de resistência que deve encontrar dos capitalistas. Os negros farão um papel de fronte em qualquer revolução anticapitalista neste país, porém esta não será bem-sucedida se eles forem a única forca anticapitalista envolvida.
Uma terceira diferença existe entre nós e aqueles como Cruse que assumem que não apenas as ideias e atitudes dos trabalhadores brancos remanescerão substancialmente estáticas, mas que as ideias dos militantes negros também. Eles desvalorizam e até excluem a influência das ideias socialistas como formuladas pelo marxismo nos estágios atuais da luta pela liberdade.
Existem, na verdade, três componentes, muito desigualmente desenvolvidos até esse ponto que estão ativos no movimento Negro: É a composição proletária, o nacionalismo e o socialismo. Os primeiros dois já são óbvios, o terceiro ainda é grandemente latente mesmo que distintivamente implícito em sua orientação prática. O elemento socialista é pequeno e embrionário no presente momento, da mesma forma que os socialistas conscientes e declarados são poucos. Será que isto permanecerá desta forma?
Inclusão | 19/11/2017 |