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Se para a criação do socialismo é necessário um certo nível de cultura (se bem que ninguém possa dizer qual é esse “certo nível de cultura”) porque não poderíamos nós começar por conquistar, pelos meios revolucionários, as premissas desse certo nível e, somente depois, na base do poder operário e camponês e do regime soviético, pormo-nos em marcha para alcançar a cultura de outros povos?
(LENINE, Sobre Nossa Revolução e a Propósito das Notas de Soukhanov, 16 de janeiro de 1923. Obras, t. XXVII, página 400, ed. russa).
Nossos adversários disseram várias vezes que empreendemos uma obra insensata querendo instaurar o socialismo num país sem bastante cultura. Mas enganaram-se; disseram que começamos pelo fim sem respeitar as regras da teoria (de todos os pedantes) e que entre nós a transformação política e social precedeu essa transformação cultural, essa revolução cultural, diante da qual nos encontramos agora, apesar de tudo.
Essa revolução cultural basta-nos agora para que nos tornamos um país inteiramente socialista, mas, para nós, essa revolução cultural apresenta dificuldades incríveis, não só sob o aspecto propriamente cultural (porque somos iletrados), mas também de ordem material (porque para ser culto é preciso um certo desenvolvimento de meios materiais de produção, é preciso uma certa base material).
(LENINE, Sobre a Cooperação, 6 de janeiro de 1923. Obras, t. XXVII, p. 397, ed. russa).
Não somos utopistas que pensem que a obra de edificação da Rússia socialista pode ser realizada, por não se sabe que homens novos; utilizamos o material que nos deixou o velho mundo capitalista. Colocamos os homens do passado em novas condições, impomos-lhes um controle adequado, submetemo-los à cuidadosa vigilância do proletariado e os obrigamos a realizar o trabalho de que necessitamos. Só assim se poderá construir. Se não pudermos construir um edifício com os materiais que nos deixou o mundo burguês, nada construiremos e não seremos comunistas, mas fazedores de frases inúteis. Para a edificação do socialismo é indispensável utilizar inteiramente a ciência, a técnica, e em geral, tudo aquilo que nos legou a Rússia capitalista.
(LENINE, Informe sobre a política exterior e interior do Conselho dos Comissários do Povo ao Soviet de Petrogrado, em 12 de março de 1919. Obras, t. XXIV, p. 36, ed. russa).
O proletário despojado de tudo que vem da máquina, e o camponês que vem da charrua, não podiam fazer seus estudos universitários nem sob o tsar Nicolau, nem sob o presidente da República, Wilson. A ciência e a técnica eram feitas para os ricos, para os possuidores; o capitalismo só dá cultura a uma minoria. E devemos construir com essa cultura o socialismo. Não dispomos de outros materiais. Queremos construir o socialismo sem demora com os materiais que nos deixou o capitalismo, justamente agora, e não com os homens que serão preparados em estufas, como um divertimento. Temos especialistas burgueses e nada mais. Não temos outros tijolos e não temos com que construir. O socialismo deve vencer e nós, socialistas e comunistas, devemos provar na ação que somos capazes de construir o socialismo com esses tijolos, com esse material, de construir a sociedade socialista com os proletários que puderam, em proporções ínfimas, conseguir cultura e com os especialistas burgueses.
...É preciso tomar toda a cultura que o capitalismo deixou e construir com ela o socialismo. É preciso tomar toda a ciência, todos os conhecimentos, a arte. Sem isso, não poderemos construir a vida da sociedade comunista. E essa ciência, essa técnica e essa arte estão nas mãos e nos cérebros dos especialistas.
(LENINE, Os Sucessos e as Dificuldades do Poder dos Soviets, discurso num comício em Petrogrado, 13 de março de 1919. Obras, t. XXIV, p. 65, ed. russa).
Assim, o objetivo da cultura política, da instrução política, é educar verdadeiros comunistas, capazes de vencer a mentira, os preconceitos, capazes de auxiliar as massas trabalhadoras e vencer a velha ordem de coisas e de levar a bom termo a obra de edificação de Estado sem capitalistas, sem exploradores, sem latifundiários. E como pode isso ser feito? Só se pode fazê-lo depois de ter assimilado toda a soma de conhecimentos que os mestres do ensino herdaram da burguesia. Todas as conquistas técnicas do comunismo seriam impossíveis sem isso e será vão pensar ao contrário.
(LENINE, Discurso na Conferência Pan-Russa dos Trabalhadores de Ensino Politico, em 3 de novembro de 1920, Obras, t. XXV, p. 452, ed. russa. I. E. R I., p. XXV, p. 536).
Engels recomendou, desde há muito tempo, aos dirigentes do proletariado contemporâneo que traduzissem, para difundir na massa do povo, a literatura militante até a do fim do século XVIII(1). Para nossa vergonha, nada fizemos até o presente (uma das múltiplas provas do fato que é muito mais fácil conquistar o poder numa época revolucionaria que saber usar com justeza desse poder). Justifica-se algumas vezes nossa moleza, nossa inação e nossa falta de tacto por toda espécie de considerações de “ordem superior”: por exemplo, parece que a velha literatura ateia do século XVIII é caduca, não científica, pueril, etc. Não há nada pior que tais sofismas pseudocientíficos, que mascaram seja o pedantismo, seja uma incompreensão completa do marxismo. Sem dúvida, encontraremos muitas coisas não científicas e pueris nas obras ateia dos revolucionários do século XVIII. Mas nada impede aos editores dessas obras de abreviá-las e de muni-las de curtas notas indicando os progressos realizados na crítica científica da religião pela humanidade desde o fim do século XVIII, mencionando as obras mais recentes que a elas dizem respeito, etc. O maior e o pior dos erros que pode cometer um marxista é crer que as massas populares, formadas. de numerosos milhões de seres humanos (e principalmente as massas camponesas e artesãos) jogados por toda a sociedade moderna nas trevas, na ignorância e nos preconceitos, não podem sair dessas trevas senão pelo caminho direto de uma instrução puramente marxista. É indispensável dar a essas massas os materiais mais variados de propaganda ateia, de fazer-lhes conhecer os fatos tomados nos terrenos os mais diversos da vida, de abordá-los de todos os modos para interessá-los, tirá-los de seu sonho religioso, sacudi-los de todos os lados pelos meios mais diversos, etc.
A polêmica ardente, viva, cheia de talento, dos velhos ateus do século XVIII, que atacava de maneira espirituosa, aberta, a padraria reinante, consegue ser quase sempre muito mais apta para tirar as pessoas do sono religiosa do que as repetições do marxismo, fastidiosas, áridas, quase inteiramente desprovidas de exemplos habilmente escolhidos que os ilustrem, repetições que dominam em nossa literatura e que (é inútil esconder o fato) deformam quase sempre o marxismo. Todas as obras de alguma importância de Marx e Engels foram traduzidas em nossa língua. O temor de ver que o velho ateísmo e o velho materialismo fiquem entre nós sem os melhoramentos que neles fizeram Marx e Engels, é desprovido de todo fundamento. O essencial — e é justamente aquilo que obtêm o mais das vezes nossos comunistas que se dizem marxistas, mas que, na realidade, só fazem deturpar o marxismo, — o essencial é saber interessar as massas que não têm ainda nenhuma cultura por uma atitude consciente a respeito das questões religiosas e por una critica esclarecida das religiões.
(LENINE, Da Significação do Materialismo Militante. Pod znamenem marxisma, n.° 3, março de 1922. Obras, t. XXVII, pgs. 184-185, ed. russa).
Anteriormente, todo o espírito humano, todo seu gênio criava apenas para dar a uns todos os bens da técnica e privar os outros do indispensável, — da instrução, do desenvolvimento intelectual. Agora, todas as maravilhas da técnica, todas as conquistas da cultura tornar-se-ão o bem de todo o povo, e de agora em diante jamais o espírito nem o gênio humano serão transformados em meios de violência, em meios de exploração. Nós sabemos disto: em nome dessa imensa tarefa histórica, não vale a pena trabalharmos, não vale a pena empregarmos todas as nossas forças? Os trabalhadores realizarão essa tarefa histórica de titãs, porque eles trazem em si as grandes forças latentes da revolução, do renascimento, da renovação.
(LENINE, Discurso ao II Congresso Pan- Russo aos Soviets, em 31 janeiro de 1918. Obras, t. XXII, p. 225, ed. russa).
1. Na República Soviética Operaria e Camponesa, toda a organização do ensino, tanto no terreno da instrução pública em geral, como especialmente no da arte, deve ser penetrada do espírito da luta de classes do proletariado pela realização vitoriosa das finalidades de sua ditadura, isto é, pela derrubada da burguesia, a supressão das classes, a abolição de toda exploração do homem pelo homem.
2. Eis porque o proletariado, representado pela sua vanguarda, o Partido Comunista, como pela massa das diversas organizações proletárias em geral, deve tomar a parte mais ativa e mais importante em toda a obra da instrução pública.
3. Toda a experiência da história contemporanea e, particularmente, a luta revolucionaria durante mais de meio século do proletariado de todos os países desde a publicação do Manifesto Comunista, provaram indiscutivelmente que a concepção marxista é a única expressão justa dos interesses, da atitude e da cultura do proletariado revolucionário.
4. O marxismo adquiriu uma importância histórica mundial como ideologia do proletariado revolucionário, pelo fato de que, longe de rejeitar as conquistas as mais preciosas da época burguesa ele, pelo contrário, assimilou transformando todos os frutos de um desenvolvimento mais de duas vezes milenar do pensamento e da cultura humanos. Só o trabalho ulterior, nessa base e nesse sentido, animado pela experiência prática da ditadura do proletariado, luta final contra toda a explorarão, pode ser reconhecida como constituindo o desenvolvimento de uma cultura verdadeiramente proletária.
5. Apoiando-se inquebrantavelmente nesses princípios, o congresso Pan-Russo do Proletcult repele resolutamente, como teoricamente falsa e praticamente nociva, toda tentativa de inventar uma cultura que nos seja peculiar, de nos fecharmos em nossas organizações particulares, de delimitar os campos de fação do Comissariado do Povo para a Instrução Pública e do proletcult, etc., ou de consagrar a “autonomia” do Proletcult no seio das instituições do Comissariado para a Instrução Pública e outras. Pelo contrário, o congresso torna uma absoluta obrigação para todas as organizações do Proletcult o considerar inteiramente como organismos auxiliares da rede de instituições do Comissariado do Povo para a Instrução Pública o realizar suas tarefas que fazem parte integrante das tarefas da ditadura do proletariado, sob a direção geral do poder dos Soviets (e mais especialmente do Comissariado para a Instrução Pública) e do Partido Comunista da Rússia.
(LENINE, Projeto de Resolução para o Congresso do Proletcult, em 8 de outubro de 1920. Obras, t. XXV, pgs. 409-410, ed. russa. E.S.I., t. XXV, pgs. 486-487).
Com a transformação da velha sociedade capitalista, o ensino, a educação e a instrução das novas gerações chamadas a criar a sociedade comunista, não podem ser aquilo que foram antigamente. Ora, o ensino, a educação e a instrução da juventude têm como ponto de partida os materiais que nos deixou a antiga sociedade. Só transformando inteiramente o ensino, a organização e a educação da juventude conseguiremos que os esforços da jovem geração criem uma nova sociedade diferente da antiga, isto é, uma sociedade comunista. Assim, devemos pensar longamente sobre aquilo que devemos ensinar à juventude e sobre a maneira pela qual ela deve aprender, se quer verdadeiramente justificar seu nome de juventude comunista e sobre a maneira de prepará-la para edificar e terminar o que começamos.
Devo dizer que a primeira resposta, e parece-me, a mais natural, é que a união da juventude, e de maneira geral, toda a juventude desejosa de ser comunista deve estudar o comunismo.
Mas essa resposta: “estudar o comunismo” é muito geral. Que precisamos para aprender o comunismo? Do que devemos abrir mão na soma dos conhecimentos gerais para adquirir conhecimento do comunismo? Estamos ameaçados por toda uma série de perigos que se manifestam a cada instante desde que o problema de estudo do comunismo é mal apresentado ou unilateralmente compreendido.
Parece-me, naturalmente, à primeira vista, que aprender o comunismo é assimilar o conjunto de conhecimentos expostos nos manuais, nas brochuras e obras comunistas. Mas essa definição do estudo do comunismo seria muito grosseira e muito insuficiente. Se o estudo do comunismo consistisse apenas na assimilação do conteúdo das obras comunistas, livros e brochuras, seria muito fácil formar exegetas comunistas ou parlapatões, o que nos prejudicaria a todo momento porque, tendo lido e decorado o conteúdo dos livros e brochuras comunistas, essas pessoas seriam contudo incapazes de assimilar todos os conhecimentos e de se comportarem como exige verdadeiramente o comunismo.
Um dos maiores males, uma das maiores calamidades que nos ficaram da velha sociedade capitalista, é o divórcio completo entre o livro e a prática viva, porque tivemos livros magnificamente escritos e esses livros não representavam mais do que a mentira hipócrita e a mais descarada dando-nos uma falsa ideia da sociedade comunista. Também a simples assimilação livresca do que é dito nos livros sobre o comunismo seria errada até o mais alto ponto. Nossos artigos, hoje, não são uma simples repetição do que dizíamos antigamente do comunismo, porque nossos artigos e nossos discursos se referem a um trabalho quotidiano, abrangendo tudo. Sem trabalho, sem luta, o conhecimento livresco extraído das brochuras e dos livros nada valeria, porque ele faria apenas continuar o antigo divórcio entre a teoria e a prática, que é o traço mais repugnante da velha sociedade burguesa.
Seria mais perigoso ainda começar por só assimilar as palavras de ordem comunista. Se não compreendemos em tempo esse perigo, se não orientamos nosso trabalho de maneira a afastá-lo, a existência de meio milhão ou de um milhão de jovens rapazes e moças que, depois de um tal estudo do comunismo se qualificariam de comunistas, trariam à causa do comunismo um grande prejuízo.
Eis-nos diante de uma questão: como conciliar tudo isso para o ensino do comunismo? Que devemos tomar emprestado à antiga escola, à antiga ciência? A antiga escola declarava querer dar ao homem uma instrução geral, completa, ensinar as ciências em geral. Sabemos que isso era profundamente mentiroso porque toda a sociedade era baseada e repousava na divisão dos homens em classes, em exploradores e oprimidos. Está claro que a antiga escola, inteiramente impregnada de um espírito de classe, dava conhecimentos apenas às crianças da burguesia. Cada palavra era falsificada no interesse da burguesia. Nas escolas, a jovem geração operária e camponesa era mais preparada de acordo com os interesses da burguesia, que propriamente instruída. Educavam de maneira a poder formar para a burguesia, servidores uteis, suscetíveis de dar-lhe lucros sem lhe perturbar a quietude e a ociosidade. Por isto é que, repudiando a antiga escola, nos atribuímos como tarefa não tomar dela mais do que necessitamos para obter uma verdadeira instrução comunista.
Refiro-me aqui às acusações, às reprimendas que se levantam constantemente à antiga escola e que conduzem a interpretações inteiramente falsas. Dizem que a antiga escola foi a do estudo passivo, da amestração, do ensinamento decorado, É verdade, mas é preciso, assim mesmo, distinguir em que ela nos foi útil e no que teve de mau; é preciso saber tirar dela aquilo que é necessário ao comunismo.
A antiga escola era a do estudo passivo, obrigava os homens a assimilar uma porção de conhecimentos supérfluos, inúteis, mortos, que entupiam o crânio e faziam passar a jovem geração pela medida comum dos burocratas. Mas cometereis um grande erro se daí concluirdes que se pode ser comunista sem ter assimilado aquilo que os conhecimentos humanos acumularam. Seria errado pensar que basta assimilar as palavras de ordem comunista e as conclusões da ciência comunista sem assimilar a soma de conhecimentos dos quais o comunismo é, ele próprio, uma consequência. O marxismo é um exemplo que nos mostra como o comunismo surgiu da soma de conhecimentos humanos.
Tendes lido e ouvistes dizer que a teoria comunista, a ciência comunista, principalmente, criada por Marx, o ensinamento marxista deixou de ser obra de um socialista mesmo genial do séc. XIX para tornar-se a doutrina de milhões e dezenas de milhões de proletários no universo inteiro, que nele se inspiram para sua luta contra o capitalismo. Se fizerdes esta pergunta: por que o ensinamento de Marx pôde conquistar milhões e dezenas de milhões de corações da classe mais revolucionaria, só podereis receber uma resposta: — isso aconteceu porque Marx construiu sua doutrina sobre os alicerces sólidos dos conhecimentos humanos adquiridos no regime capitalista. Marx compreendeu, depois de ter estudado as leis do desenvolvimento da sociedade humana, a inelutabilidade do desenvolvimento capitalista que conduz ao comunismo e — isto é o essencial — demonstrou-o unicamente pelo estudo, 0 mais exato, 0 mais minucioso, o mais profundo, da sociedade capitalista, assimilando completamente os frutos da ciência anterior. Tudo o que fora criado pela sociedade humana ele refundiu, submeteu à critica, verificou de acordo com o movimento operário e tirou as conclusões que os homens limitados ou encravados pelos preconceitos burgueses não haviam conseguido tirar.
É preciso ter em vista esse fato quando falamos, por exemplo, da cultura proletária. Sem a nítida compreensão de que não se pode construir a cultura proletária sem conhecimento exato da cultura criada por todo o desenvolvimento da humanidade e sem a transformação dessa cultura anterior, não poderíamos resolver o problema. A cultura proletária não surge perfeita e acabada não se sabe de onde; ela não é uma invenção de homens que se qualificam em especialistas na matéria. Puro absurdo! A cultura proletária deve aparecer (como o desenvolvimento natural da soma de conhecimentos elaborados pela humanidade sob o jugo da sociedade capitalista feudal e burocrática. Todos os caminhos e todos os atalhos levaram, levam e continuarão a levar à ditadura do proletariado, assim como a economia política refundida por Marx nos mostrou aonde deve chegar a sociedade humana, e nos indicou a transição para a luta de classes e para a revolução proletária.
Quando ouvimos muitas vezes os representantes da juventude e certos defensores do novo ensino atacar a escola antiga dizendo que ela era a escola do ensino decorado, dizemos-lhes que devemos tomar da escola antiga aquilo que ela teve de bom. Não devemos tomar emprestado à antiga escola o uso de sobrecarregar o espírito da mocidade de uma quantidade desmesurada de conhecimentos 9% inúteis, e 1% falsificados, isso não significa que possamos nos limitar a inculcar conclusões comunistas e ensinar palavras de ordem comunistas. Não se constrói assim o comunismo. Alguém só se torna comunista quando enriqueceu sua memória com os conhecimentos de todas as riquezas elaboradas pela humanidade.
Não precisamos aprender de cor, temos necessidade de desenvolver e aperfeiçoar a memória do aluno pelo conhecimento dos fatos essenciais, porque o comunismo se tornará uma palavra vazia, um ensinamento supérfluo e o comunista não passará de um parlapatão, se seu espírito não retrabalhou todos os conhecimentos adquiridos. Deveis não somente assimilar, mas assimilar com senso crítico, não para encher vosso cérebro de cousas inúteis, mas para enriquecer-vos pelos conhecimentos indispensáveis à instrução do homem moderno. O comunista, que se vangloriasse de professar 0 comunismo com 0 auxilio de noções recebidas, digeridas, sem realizar um grande trabalho extremamente difícil e sério, sem se deter nos fatos que teve de considerar com um senso crítico, seria um mau comunista. Essa mentalidade superficial nos seria verdadeiramente nefasta. Se sei que sei poucas coisas, conseguirei saber mais; mas se aquele que se diz comunista acrescenta que não precisa saber mais nada de sólido, nunca se parecerá, mesmo de longe, com um comunista.
A escola antiga formava serviçais aos capitalistas; dos homens de ciência fazia homens destinados a escrever e falar como os capitalistas desejavam. Isto quer dizer que devemos liquidá-la. Devemos liquidar essa escola antiga, devemos destruí-la; mas quererá isso dizer que não devamos retirar dela o patrimônio acumulado pela humanidade e necessária aos homens? Quer dizer que não devamos saber distinguir entre 0 que era necessário ao capitalismo e o que é necessário ao comunismo?
Substituiremos o antigo método usado pela sociedade burguesa, contrariamente à vontade da maioria, pela disciplina consciente dos operários e camponeses, que aliam ao ódio da antiga sociedade a resolução, a capacidade e o desejo de unir e organizar as forças para a luta, a fim de forjar da vontade de milhões e centenas de milhões de homens dispersos, espalhados, disseminados num imenso país, uma vontade única sem a qual seriamos inevitavelmente vencidos. Sem essa coesão, sem essa disciplina consciente dos operários e camponeses, nossa causa estará perdida. Sem ela, não venceremos os capitalistas e os latifundiários do universo. Sem ela, não cimentaremos os fundamentos da nova sociedade comunista, e ainda com maioria de razões, não construiremos essa sociedade. Condenando a escola antiga, alimentando contra ela um ódio inteiramente legítimo e necessário, apreciando esse desejo de destruí-la, devemos compreender que temos de substituir o antigo estudo de cor, os antigos métodos pela aptidão para apreender a soma de conhecimentos humanos e apreendê-lo de tal maneira que o comunismo para nós não fique uma coisa apreendida mecanicamente, mas seja o próprio fruto de nosso pensamento, a conclusão inevitável do ensino moderno.
(LENINE, Discurso ao III Congresso das Juventudes Comunistas, em 2 de outubro de 1920. Obras, t. XXV, pgs. 384-389. E.S.I., t. XXV, pgs. 458-462).
Devemos utilizar os livros que temos e organizar uma rede de bibliotecas que permitam ao povo utilizar cada livro em nosso poder, evitar organizações paralelas e criar, segundo um plano, uma organização única. É uma pequena tarefa, porém ela reflete a tarefa essencial de nossa revolução.
(LENINE, Discurso ao 1.° Congresso Pan-Russo de educação extraescolar, em 6 de maio de 1919. Obras, t. XXIV, p. 277 ed. russa).
Se os burgueses franceses aprenderam, desde antes da guerra, a ganhar dinheiro editando romances para o povo não a 3,50 francos, sob a forma de livros para ricos, mas a 10 cêntimos (quer dizer 35 vezes mais barato, e a 4 copeks ao câmbio de antes da guerra) sob forma de publicações proletárias, porque nós não poderemos — nós que estamos no segundo passo do capitalismo para 0 comunismo — aprender a fazer o mesmo? Porque não poderíamos, agindo de modo idêntico, dar ao povo num ano, mesmo no estado de nossa atual pobreza, sob forma de 2 exemplares para cada um das 50.000 bibliotecas e salas de leitura, todos os manuais escolares indispensáveis e todos os clássicos indispensáveis da literatura mundial, da ciência contemporânea, da técnica contemporânea?
É o que faremos.
(LENINE, Sobre o Trabalho do Comissariado da Instrução Pública, “in” Pravda, 9 de fevereiro de 1921. Obras, t. XXVI, p. 167, ed. russa).
Estragamos a língua russa. Empregamos palavras estrangeiras sem necessidade. E as empregamos incorretamente.
...Sem dúvida, quando um homem que acaba de aprender a ler se põe a ler sobretudo jornais e os lê assiduamente, adota involuntariamente 0 modo de dizer dos jornais. Ora, a línguagem dos jornais, precisamente, começa entre nós a corromper-se. Se podemos perdoar a alguém que vem de aprender a ler o empregar, como novidade, palavras estrangeiras, não podermos perdoar isso a literatos. Não é já tempo de declarar guerra aberta ao emprego, sem necessidade, de palavras estrangeiras?
Se reconheço que o emprego sem necessidade de palavras estrangeiras me irrita (porque torna mais difícil nossa influência sobre as massas) certos erros daqueles que escrevem nos jornais me põem verdadeiramente em cólera... Adotar uma linguagem que é uma mistura de francês e de russo de Nijni-Novgorod, é adotar o que há de pior nos piores representantes da classe dos proprietários rurais russos, que aprendiam o francês, mas em primeiro lugar não o aprendiam a fundo e depois estropiavam o russo.
Já não é tempo de declarar guerra a essa maneira de estropiar a língua russa?
(LENINE, Sobre a Depuração da Língua Russa. Obras, t. XXIV, p. 662, ed. russa).
...Mas não precisamos de engenheiros, técnicos e dirigentes quaisquer. Precisamos de dirigentes, de engenheiros e técnicos que sejam capazes de compreender e assimilar a política da classe operária deste país e que estejam dispostos a realizá-la conscientemente. Mas o que isso significa? Isso significa que nosso país entrou numa tal fase de desenvolvimento que a classe operária deve criar seus próprios intelectuais, produtores e técnicos, capazes de representar seus interesses na produção, como interesses da classe dominante.
Nenhuma classe dominante soube fazer face à situação sem possuir seus próprios intelectuais. Não há dúvida que a classe operária da União Soviética não saberá, ela tão pouco, dispensar seus próprios intelectuais produtores e técnicos.
O governo soviético levou em conta esse fato e abriu as portas das universidades em todos os ramos da economia nacional, aos membros da classe operária. Sabeis que dezenas de milhares de jovens operários e camponeses estudam presentemente em nossas universidades. Se antigamente, sob o regime capitalista, as universidades eram um monopólio dos senhores, na hora presente, sob o regime soviético, é a juventude operária e camponesa que constitui a força dominante dessas instituições. Está fora de dúvida que, dentro em pouco, nossas escolas fornecerão milhares de novos técnicos e engenheiros, novos dirigentes para nossa indústria.
Mas isso é apenas uma parte da questão. A outra parte consiste no fato de que os intelectuais produtores e técnicos da classe operária não se recrutarão somente entre as pessoas que frequentaram as universidades, eles serão recrutados também entre os operários qualificados de nossas empresas, entre as forças instruídas da classe operária das usinas, das fábricas, e nas minas, os iniciadores da emulação socialista, os chefes de choque, os iniciadores do entusiasmo pelo trabalho, os organizadores do trabalho neste ou naquele setor da edificação socialista — eis a nova camada da classe operária que deverá formar, ao lado de seus camaradas saídos das universidades, o núcleo intelectual da classe operária, o núcleo dos quadros dirigentes de nossa indústria. A tarefa consiste em não esmagar os camaradas que tenham espírito de iniciativa mas, pelo contrário, ajudá-los a subir aos postos de direção, dar-lhes a possibilidade de manifestar sua capacidade de organização, permitir-lhes ampliar seus conhecimentos e criar-lhes as condições necessárias, sem olhar às despesas.
(STALIN, Discurso a Conferência dos Dirigentes da Indústria, 23 de junho de 1931. Questões do Leninismo, 10.a ed., pgs. 456-457, ed. russa)
Assim, portanto, camaradas, se quisermos superar com êxito a falta de homens e agir de maneira que nosso país possua quadros suficientes, capazes de fazer progredir a técnica e pô-la em ação, devemos, antes de tudo, aprender a apreciar os homens, apreciar os quadros, apreciar cada trabalhador, que possa ser útil à nossa obra comum. É preciso, enfim, compreender que, de todos os capitais preciosos existentes no mundo, o mais precioso, o mais decisivo são os homens, são os quadros. É preciso compreender que, entre nós, nas condições atuais, “os quadros decidem tudo”.
(STALIN, Discurso no Palácio do Kremlin por ocasião da promoção dos alunos da Academia do Exército Vermelho, em 4 de maio de 1935; O Homem, o capital mais precioso, p. 12, Bureau de Edições).
Falam da ciência. Dizem que os dados da ciência, os dados dos relatórios e das informações de instruções técnicas contradizem as exigências dos stahknovistas quanto as novas normas técnicas mais elevadas. Mas de que ciência se trata? Os dados da ciência foram sempre verificados pela prática, pela experiência. Uma ciência que rompeu seus laços com a prática, com a experiência, que vem a ser essa ciência? Se a ciência fosse tal como a representam certos de nossos camaradas conservadores, já era tempo de haver morrido para a humanidade. A ciência precisamente se chama ciência porque não reconhece os fetiches, porque não teme lançar mão de coisas que já tiveram sua época, que são velhas; porque escuta atentamente a voz da experiência da prática. Se fosse de outra maneira, não teríamos a ciência em geral; não teríamos, digamos, a astronomia e continuaríamos acomodados ao sistema caduco de Ptolomeu: não teríamos a biologia e continuaríamos nos consolando com a lenda da criação do homem; não teríamos a química e continuaríamos de acordo com os vaticínios dos alquimistas.
(STALIN, Discurso à Primeira Conferência dos stakanovistas, em 17 de novembro de 1935. Por Uma Vida Bela e Feliz, pgs. 23-24, Bureau de Edições).
Pensam alguns que se pode chegar a suprimir a oposição entre o trabalho intelectual e o trabalho manual por um certo nivelamento cultural e técnico entre trabalhadores intelectuais e manuais, baixando o nível dos operários de qualificarão média. Isso é absolutamente falso. Só os charlatães pequeno-burgueses podem fazer tal ideia do comunismo. Na realidade, não se pode chegar a suprimir a oposição entre o trabalho intelectual e o trabalho manual senão elevando o nível cultural g técnico da classe operária até atingir o nível dos engenheiros e técnicos. Seria ridículo pensar que essa elevação é irrealizável. Ela é perfeitamente realizável nas condições do regime soviético, no qual as forças produtivas do país foram libertadas das cadeias do capitalismo, no qual o trabalho está livre do jugo da exploração, no qual a classe operária está no poder e no qual a nova geração tem todas as possibilidades de obter uma instrução técnica suficiente. Não há nenhuma razão para duvidar que somente tal desenvolvimento cultural e técnico da classe operária pode destruir as bases da oposição entre o trabalho intelectual e o trabalho manual; que só ele pode assegurar a alta produtividade do trabalho e a abundância dos artigos de consumo, necessários para se começar a passar do socialismo ao comunismo.
(STALIN, Discurso na Primeira Conferência dos stakanovistas em 17 de novembro de 1935. Por uma Vida Bela e Feliz, pgs. 11-12, Bureau de Edições).
Notas de rodapé:
(1) Lenine alude a um artigo de Engels: Programa dos Refugiados Blanquistas da Comuna, aparecido em Volkstaat (1874). Ver a primeira parte deste volume. (retornar ao texto)
Inclusão | 03/07/2019 |