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Primeira Edição: Ordine Nuovo, 25 Agosto 1921
Tradução: Nicole Di Domenico
Fonte: Seção em Inglês do MIA
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A crise do fascismo, cujas causas e origens tanto vem sendo escritas agora, pode facilmente ser explicada através de um exame sério da evolução do movimento fascista a partir dele mesmo.
O Fasci di combattimento nasceu no pós guerra. Eles foram imbuídos com o caráter pequeno-burguês das várias associações de veteranos que afloraram naquele momento.
Devido a sua incisiva oposição ao movimento socialista, eles obtiveram apoio dos capitalistas e das autoridades. Esse aspecto do Fasci foi herdado, em parte, pelo conflito entre o Partido Socialista e as associações ‘intervencionistas’ durante o período de guerra.
Eles surgiram no mesmo período em que os latifundiários sentiam a necessidade de criar uma Guarda Branca para frear as organizações de trabalhadores em crescimento. Os bandos que já estavam organizados e armados pelos grandes latifundiários logo adotaram o rótulo de Fasci para si mesmos também. Com seu desenvolvimento posterior, esses bandos poderiam adquirir o seu próprio caráter diferenciador - como a Guarda Branca do capitalismo contra os órgãos de classe do proletariado.
O fascismo ainda conserva esses traços em sua origem. Mas até recentemente, o fervor de uma armada ofensiva deixou a panos quentes as tensões entre o grupo urbano - sendo este predominantemente pequeno-burgueses, norteados no parlamento e ‘colaboracionistas’, e o grupo rural que consiste em grandes e médios latifundiários e fazendeiros.
Esses grupos rurais estavam comprometidos em uma luta contra os camponeses pobres e suas organizações. Eles são extremamente anti-sindicais e reacionários. E eles tem muito mais fé na ação armada direta do que na autoridade do Estado e eficácia do parlamento.
Nas regiões agrícolas (Emilia, Toscana, Vêneto e Umbria) o fascismo atingiu o maior nível de seu desenvolvimento. Ali, com o suporte financeiro dos capitalistas e proteção das autoridades civis e militares, alcançou um poder sem limites.
A cruel ofensiva contra os órgãos do proletariado serviu bem aos capitalistas. Ao longo de um ano, eles viram os aparatos dos sindicatos socialistas esmagados e tornados impotentes.
Entretanto, essa ofensiva teve também outro resultado. É claro que a violência progressiva provocou violência generalizada contra o fascismo entre as classes média e trabalhadora.
Os episódios em Sarzana, Treviso, Viterbo e Roccastrada impactaram profundamente o grupo fascista na cidade - na figura de Mussolini, que começou a ver perigo nas táticas exclusivamente ofensivas do Fasci na zona rural.
Contudo, é também verdade que essas táticas renderam excelentes frutos — arrastaram o Partido Socialista para um terreno de compromisso e o tornando favorável para colaboração no País e no parlamento.
Por esse ponto, as tensões latentes [entre os grupos fascistas urbano e rural] começou a manifestar com força total.
O grupo urbano colaboracionista acreditou que tinha alcançado seu objetivo. Eles sentiram que o Partido Socialista havia abandonado a ‘intransigência de classe’, e agora esse grupo se apressou em oficializar sua vitória com o pacto de pacificação.
Mas os capitalistas agrários não poderiam renunciar à sua única tática que os assegurava a ‘livre exploração” da classe camponesa - a tática que os livrou das inconveniências dos trabalhadores organizados e de suas greves.
Todos argumentos que estavam em curso no campo fascista, entre aqueles que eram a favor e aqueles que eram contra o pacto de pacificação, vem com força a este racha fundamental. Suas origens estão baseadas nas próprias origens do fascismo.
As alegações de que os socialistas italianos teriam provocado a divisão entre os fascistas com sua hábil política de compromisso serviu meramente para confirmar a demagogia dos socialistas.
Na realidade, a ‘crise’ do fascismo não é nova. Ela sempre existiu. Uma vez que as razões contingentes que mantinham a unidade desses grupos anti-proletários cessaram, era inevitável que seus desacordos latentes entrariam rapidamente em combustão. A crise, deste modo, nada mais é que um esclarecimento das tendências pré existentes.
Essa crise irá provocar uma divisão entre os fascistas. A fração parlamentar, liderada por Mussolini, e baseada na classe média (trabalhadores de escritório, lojistas e pequenos manufatureiros) tentarão organizar politicamente esses ambientes sociais. E, necessariamente, avançarão a uma colaboração entre os socialistas e o ‘populares’.
A fração [rural] intransigente, que expressa uma necessidade por uma defesa direta e armada dos interesses capitalistas agrários, irá levar adiante sua característica anti ação proletária. Para esta fração (a mais importante no que diz respeito à classe trabalhadora), a ‘trégua’ reconhecida como vitória pelos socialistas será inútil.
A ‘crise’ irá apenas sinalizar a saída de uma fração da pequena-burguesia que tentou em vão justificar o fascismo com um programa político geral do ‘partido’. Mas o fascismo - o artigo genuíno que os camponeses e os trabalhadores da Emília, Vêneto e Toscana conhecem através de suas próprias experiências dolorosas dos últimos dois anos do terror branco — vai continuar, mas talvez usando um nome diferente.
Agora há uma pausa nas hostilidades, por conta da discórdia dentro do campo fascista. A tarefa dos trabalhadores e camponeses revolucionários é aproveitar essa pausa para incutir nas massas oprimidas e indefesas um claro entendimento do verdadeiro estado da luta de classes — e os meios necessários para derrotar a arrogante reação capitalista.
Inclusão | 25/06/2018 |