A Doença Infantil do «Esquerdismo» no Comunismo

Vladimir Ilitch Lénine


VI. Deverão os revolucionários trabalhar nos sindicatos reaccionários?


Os «esquerdas» alemães consideram decisiva uma resposta absolutamente negativa a esta questão. Em sua opinião, as declamações e os gritos de cólera contra os sindicatos «reaccionários» e «contra-revolucionários» (isto é em K. Horner particularmente «sério» e particularmente estúpido) bastam para «demonstrar» a inutilidade e até a inadmissibilidade do trabalho dos revolucionários, dos comunistas, nos sindicatos amarelos, sociais-chauvinistas, conciliadores, do tipo dos de Legien, contra-revolucionários.

Mas por muito convencidos que os «esquerdas» alemães estejam do carácter revolucionário de semelhante táctica, ela está, na realidade, radicalmente errada e contém apenas frases ocas.

Para esclarecer isto, começarei com a nossa própria experiência, de acordo com o plano geral do presente artigo, que tem por fim aplicar à Europa Ocidental aquilo que há de universalmente aplicável, importante e obrigatório na história e na táctica actual do bolchevismo.

A correlação entre chefes — partido — classe — massas, e ao mesmo tempo a atitude da ditadura do proletariado e do seu partido relativamente aos sindicatos apresenta-se agora entre nós concretamente da seguinte forma: a ditadura é exercida pelo proletariado organizado nos Sovietes e dirigida pelo partido comunista dos bolcheviques, que, segundo os dados do último congresso do partido (IV. 1920), tem 611 mil membros. O número de membros oscilou muito quer antes quer depois da Revolução de Outubro e anteriormente foi significativamente menor, mesmo em 1918 e 1919(1). Receamos ampliar excessivamente o partido porque os carreiristas e impostores, que não merecem mais que ser fuzilados, procuram inevitavelmente infiltrar-se no partido governante. A última vez que abrimos amplamente as portas do partido — só para os operários e camponeses — foi nos dias (Inverno de 1919) em que Iudénitch se encontrava a algumas verstas de Petrogrado e Deníkine estava em Oriol (a cerca de 350 verstas de Moscovo), isto é, quando a República Soviética era ameaçada por um perigo terrível, mortal, e quando os aventureiros, os carreiristas, os impostores e, em geral, as pessoas instáveis não podiam de modo nenhum contar com uma carreira vantajosa (mas antes podiam esperar a forca e as torturas) da adesão aos comunistas(2). O partido, que realiza congressos anuais (no último: l delegado por 1000 membros) é dirigido por um Comité Central de 19 pessoas, eleito no congresso, e o trabalho corrente em Moscovo é realizado por organismos ainda mais restritos, denominados precisamente Bureau de Organização e Bureau Político, que são eleitos em sessões plenárias do CC e de cada um dos quais fazem parte cinco membros do CC. Encontramo-nos, por conseguinte, em presença da mais autêntica «oligarquia». Nenhuma importante questão política ou organizativa é resolvida por qualquer instituição estatal da nossa república sem as indicações dirigentes do CC do partido.

No seu trabalho, o partido apoia-se directamente nos sindicatos, que contam agora, segundo os dados do último congresso (IV. 1920), mais de 4 milhões de membros e que são formalmente sem partido. De facto, todas as instituições dirigentes da imensa maioria dos sindicatos e em primeiro lugar, naturalmente, o centro ou bureau sindical de toda a Rússia (CCSR — Conselho Central dos Sindicatos de Toda a Rússia) são compostos por comunistas e aplicam todas as directivas do partido. Obtém-se, no conjunto, um aparelho proletário, formalmente não comunista, flexível e relativamente amplo, poderosíssimo, por meio do qual o partido está estreitamente ligado à classe e à massa e por meio do qual se exerce, sob a direcção do partido, a ditadura da classe. É natural que não pudéssemos governar o país e exercer a ditadura, não já 2 1/2 anos, mas mesmo 2 1/2 meses, sem a mais estreita ligação com os sindicatos, sem o seu apoio entusiasta, sem o seu abnegadíssimo trabalho tanto na construção económica como na militar. Compreende-se que esta estreitíssima ligação significa na prática um trabalho de propaganda e agitação muito complexo e variado, oportunas e frequentes reuniões, não só com os dirigentes, mas em geral com os militantes influentes dos sindicatos, uma luta decidida contra os mencheviques, que têm mantido até hoje um certo número de partidários embora muito pequeno, aos quais ensinam todas as maquinações contra-revolucionárias possíveis, desde a defesa ideológica da democracia (burguesa) e a prédica da «independência» dos sindicatos (independência relativamente ao poder de Estado proletário!) até à sabotagem da disciplina proletária, etc., etc.

Reconhecemos que a ligação com as «massas» através dos sindicatos é insuficiente. Durante a revolução, a prática criou no nosso país uma instituição, que por todos os meios procuramos manter desenvolver e alargar, como as conferências de operários e camponeses sem partido, as quais nos permitem acompanhar o estado de espírito das massas, aproximarmo-nos delas, responder aos seus anseios, promover aos postos estatais os seus melhores elementos, etc. Num dos últimos decretos sobre a transformação do Comissariado do Povo do Controlo de Estado em «Inspecção Operária e Camponesa» é conferido às conferências sem partido deste tipo o direito de elegerem membros do Controlo de Estado para diferentes tipos de fiscalização, etc.

Além disso, como é natural, todo o trabalho do partido se realiza através dos Sovietes, que agrupam as massas trabalhadoras sem distinção de profissões. Os congressos de uezd dos Sovietes constituem uma instituição democrática como nunca se viu nas melhores repúblicas democráticas do mundo burguês, e através desses congressos (que o partido procura acompanhar com a maior atenção possível), bem como pela nomeação constante de operários conscientes para toda a espécie de cargos no campo, exerce-se o papel dirigente do proletariado relativamente ao campesinato, exerce-se a ditadura do proletariado urbano, a luta sistemática contra o campesinato rico, burguês, explorador e especulador, etc.

Tal é o mecanismo geral do poder de Estado proletário examinado «de cima», do ponto de vista do exercício prático da ditadura. É de esperar que o leitor compreenda por que motivo o bolchevique russo, que conhece este mecanismo e viu nascer este mecanismo dos pequenos círculos ilegais, clandestinos, ao longo de vinte e cinco anos, não pode deixar de considerar um absurdo ridículo e pueril todas as conversas sobre a ditadura «de cima» ou «de baixo», a ditadura dos chefes ou a ditadura da massa, etc., a semelhança de uma discussão sobre se será mais útil para o homem a perna esquerda ou o braço direito.

Igualmente não podem deixar de nos parecer um absurdo ridículo e pueril as conversas muito sábias, importantes e terrivelmente revolucionárias dos esquerdas alemães acerca do tema de que os comunistas não podem nem devem trabalhar nos sindicatos reaccionários, de que é permissível recusar-se a este trabalho, de que é preciso sair dos sindicatos e criar obrigatoriamente uma «união operária», muito novinha, muito limpinha, inventada por comunistas muito simpáticos (e na maioria dos casos, provavelmente, muito jovens), etc., etc.

O capitalismo lega inevitavelmente ao socialismo, por um lado, as velhas diferenças profissionais e de tipo artesanal entre os operários, formadas ao longo dos séculos, e, por outro lado, os sindicatos, que só muito lentamente, durante anos e anos, se podem transformar e se transformarão em sindicatos de indústria mais amplos, menos corporativos (que englobem indústrias inteiras e não apenas corporações, ofícios e profissões), e depois, através destes sindicatos de indústria, passar-se-á à supressão da divisão do trabalho entre os homens, à educação, ensino e preparação de homens universalmente desenvolvidos e universalmente preparados, homens que saberão fazer tudo.

Para isso caminha, deve caminhar e a isto chegará o comunismo, mas só dentro de muitos anos. Tentar hoje antecipar-se na prática a esse resultado futuro de um comunismo plenamente desenvolvido, plenamente consolidado e organizado, plenamente acabado e maduro, é o mesmo que querer ensinar matemáticas superiores a uma criança de quatro anos.

Podemos (e devemos) começar a construir o socialismo não com um material humano fantástico nem especialmente criado por nós, mas com o que nos legou o capitalismo. Escusado é dizer que isso é muito «difícil», mas qualquer outra abordagem do problema é tão pouco séria que não merece a pena falar dela.

Os sindicatos foram um gigantesco progresso da classe operária no começo do desenvolvimento do capitalismo, como passagem da dispersão e da impotência dos operários aos rudimentos da união de classe. Quando começou a crescer a forma superior de união de classe dos proletários, o partido revolucionário do proletariado (que não merecerá o seu nome enquanto não aprender a ligar os chefes com a classe e as massas num todo único, em algo de indissolúvel), os sindicatos começaram a manifestar fatalmente certos traços reaccionários, certa estreiteza corporativa, certa tendência para o apoliticismo, certa rotina, etc. Mas o desenvolvimento do proletariado não se efectuou nem pôde efectuar-se em nenhum país a não ser por meio dos sindicatos, por meio da sua interacção com o partido da classe operária. A conquista do poder político pelo proletariado é um gigantesco passo em frente do proletariado como classe, e o partido deve educar mais ainda, e de uma maneira nova e não apenas à maneira antiga, os sindicatos, dirigi-los, sem esquecer ao mesmo tempo que estes são e serão durante muito tempo uma necessária «escola do comunismo» e uma escola preparatória dos proletários para o exercício da sua ditadura, a associação necessária dos operários para a passagem gradual da gestão de toda a economia do país para as mãos da classe operária (e não de determinadas profissões), e depois para as de todos os trabalhadores.

Sob a ditadura do proletariado, é inevitável um certo «reaccionarismo» dos sindicatos no sentido indicado. Não o compreender significa não compreender em absoluto as condições fundamentais da transição do capitalismo para o socialismo. Temer este «reaccionarismo», tentar prescindir dele, saltar por cima dele, é a maior estupidez, pois significa recear o papel da vanguarda proletária que consiste em instruir, ilustrar, educar, atrair a uma nova vida as camadas e as massas mais atrasadas da classe operária e do campesinato. Por outro lado, adiar a realização da ditadura do proletariado até que não reste nem mais um só operário de estreito espírito profissional, nem um só operário com preconceitos trade-unionistas e corporativos, seria um erro ainda mais profundo. A arte do político (e a compreensão acertada das suas tarefas pelo comunista) consiste precisamente em saber apreciar correctamente as condições e o momento em que a vanguarda do proletariado pode tomar com êxito o poder, em que pode, durante isto e depois disto, conseguir um apoio suficiente de camadas suficientemente amplas da classe operária e das massas trabalhadoras não proletárias, em que pode, depois disto, manter, reforçar e alargar o seu domínio, educando, instruindo e atraindo massas cada vez mais amplas de trabalhadores.

Continuemos. Em países mais avançados que a Rússia revelou-se, e devia revelar-se sem dúvida muito mais fortemente do que no nosso país, um certo reaccionarismo dos sindicatos. No nosso país os mencheviques tinham (e em parte ainda têm em pouquíssimos sindicatos) apoio nos sindicatos, graças precisamente à estreiteza corporativa, ao egoísmo e oportunismo profissionais. Os mencheviques do Ocidente «entrincheiraram-se» muito mais solidamente nos sindicatos, surgiu ali uma camada muito mais forte do que no nosso país de «aristocracia operária» profissional, estreita, egoísta, insensível, ávida, filistina, de espírito imperialista e comprada pelo imperialismo, corrompida pelo imperialismo. Isto é indiscutível. A luta contra os Gompers, os senhores Jouhaux, Henderson, Merrheim, Legien e Cª na Europa Ocidental é muito mais difícil do que a luta contra os nossos mencheviques, que representam um tipo social e político absolutamente homogéneo. É preciso travar essa luta implacavelmente e levá-la obrigatoriamente, como nós levámos, até cobrir de vergonha e expulsar dos sindicatos todos os chefes incorrigíveis do oportunismo e do social-chauvinismo. É impossível conquistar o poder político (e não se deve tentar tomar o poder político) enquanto essa luta não tiver atingido um certo grau, e este «certo grau» não é igual em diversos países e em diferentes condições, e só dirigentes políticos ponderados, experimentados e competentes do proletariado podem determiná-lo com acerto em cada país. (Na Rússia a medida do êxito nesta luta foram, entre outras coisas, as eleições de Novembro de 1917 para a Assembleia Constituinte, uns dias depois da revolução proletária de 25.X.1917, e nestas eleições os mencheviques foram totalmente derrotados, tendo obtido 0,7 milhões de votos — 1,4 milhões acrescentando os da Transcaucásia — contra os 9 milhões de votos recolhidos pelos bolcheviques: ver o meu artigo As Eleições para a Assembleia Constituinte e a Ditadura do Proletariado(3), no n.º 7-8 de A Internacional Comunista(4).)

Mas travamos a luta contra a «aristocracia operária» em nome da massa operária e para a atrair para o nosso lado; travamos a luta contra os chefes oportunistas e sociais-chauvinistas para atrair a classe operária para o nosso lado. Seria uma estupidez esquecer esta verdade elementaríssima e evidentíssima. E essa é, precisamente, a estupidez cometida pelos comunistas alemães «de esquerda», os quais deduzem do carácter reaccionário e contra-revolucionário das cúpulas dos sindicatos a conclusão de ... sair dos sindicatos!!, recusar o trabalho neles!!, criar formas novas, inventadas, de organização operária!! Isto é uma estupidez tão imperdoável que equivale ao melhor serviço que os comunistas podem prestar à burguesia. Porque os nossos mencheviques, como todos os chefes oportunistas, sociais-chauvinistas e kautskistas dos sindicatos, não são mais que «agentes da burguesia no movimento operário» (como sempre dissemos contra os mencheviques) ou os «lugares-tenentes operários da classe dos capitalistas» (labor lieutenants of the capitalist class), segundo a magnífica e profundamente exacta expressão dos discípulos de Daniel De León na América. Não trabalhar dentro dos sindicatos reaccionários significa deixar as massas operárias insuficientemente desenvolvidas ou atrasadas sob a influência dos chefes reaccionários, dos agentes da burguesia, dos aristocratas operários ou «operários aburguesados» (ver Engels em 1858 na carta a Marx acerca dos operários ingleses(5)).

Precisamente a absurda «teoria» da não participação dos comunistas nos sindicatos reaccionários mostra do modo mais evidente com que leviandade esses comunistas «de esquerda» consideram a questão da influência nas «massas» e de que modo abusam dos seus gritos acerca da «massa». Para saber ajudar a «massa» e conquistar a simpatia, a adesão e o apoio da «massa» é preciso não temer as dificuldades, as chicanas, as armadilhas, os insultos e as perseguições da parte dos «chefes» (que, sendo oportunistas e sociais-chauvinistas, estão na maior parte dos casos directa ou indirectamente ligados à burguesia e à polícia) e trabalhar obrigatoriamente onde está a massa. É preciso saber suportar toda a espécie de sacrifícios e superar os maiores obstáculos para levar a cabo uma propaganda e uma agitação sistemáticas, tenazes, perseverantes e pacientes precisamente nas instituições, sociedades e sindicatos, por mais reaccionários que sejam, onde esteja a massa proletária ou semiproletária. E os sindicatos e as cooperativas operárias (estas últimas em alguns casos, pelo menos) são precisamente as organizações onde está a massa. Na Inglaterra, segundo dados do jornal sueco Folkets Dagblad Politiken(6) (de 10.III.1920), de fins de 1917 a fins de 1918 o número de membros das trade-unions subiu de 5,5 milhões para 6,6 milhões, isto é, aumentou em 19%. Em fins de 1919, os seus efectivos eram calculados em 7,5 milhões. Não tenho à mão os dados correspondentes à França e à Alemanha, mas factos absolutamente indiscutíveis e conhecidos por todos testemunham o grande crescimento do número de membros dos sindicatos também nesses países.

Estes factos dizem com a maior clareza algo que é confirmado também por mil outros sintomas: o crescimento da consciência e dos anseios de organização precisamente nas massas proletárias, nas «camadas inferiores», entre os atrasados. Na Inglaterra, França e Alemanha, milhões de operários passam pela primeira vez da completa falta de organização para a forma elementar, inferior, mais simples e acessível (para os que se acham ainda impregnados por completo dos preconceitos democrático-burgueses) de organização, precisamente para o sindicato — e os comunistas de esquerda, revolucionários, mas insensatos, ficam de lado, gritam «Massa», «Massa»! — e recusam-se a trabalhar dentro dos sindicatos!! recusam-se sob o pretexto do seu «reaccionarismo»!! inventam uma «união operária» novinha, limpinha, inocente dos preconceitos democrático-burgueses, que não cometeu os pecados da estreiteza profissional e do corporativismo, que pretensamente será (será!) ampla e para a participação na qual se exige apenas (apenas!) o «reconhecimento do sistema soviético e da ditadura» (ver a citação atrás)!!

É impossível conceber maior insensatez, maior dano para a revolução causado pelos revolucionários «de esquerda»! Se actualmente na Rússia, depois de 2,5 anos de vitórias sem precedentes sobre a burguesia da Rússia e da Entente, estabelecêssemos como condição para o ingresso nos sindicatos o «reconhecimento da ditadura», cometeríamos uma estupidez, deitaríamos a perder a nossa influência sobre as massas, ajudaríamos os mencheviques. Pois toda a tarefa dos comunistas consiste em saber convencer os atrasados, em saber trabalhar entre eles, e não em isolar-se deles mediante palavras de ordem inventadas e infantilmente «esquerdistas».

É indubitável que os senhores Gompers, Henderson, Jouhaux e Legien estão muito reconhecidos a esses revolucionários «de esquerda», que, tal como a «oposição de princípio» alemã (Deus nos livre de semelhantes «princípios»!) ou alguns revolucionários dos «Operários Industriais do Mundo»(7) americanos, pregam a saída dos sindicatos reaccionários e a recusa a trabalhar neles. E indubitável que os senhores «chefes» do oportunismo recorrerão a todas as maquinações da diplomacia burguesa, à ajuda dos governos burgueses, dos padres, da polícia e dos tribunais para não admitir comunistas nos sindicatos, para os expulsar deles por todos os meios e tornar o mais desagradável possível o seu trabalho dentro dos sindicatos, para os ofender, acossar, perseguir. É preciso saber fazer frente a tudo isso, estar disposto a todos os sacrifícios, empregar mesmo — em caso de necessidade — todos os subterfúgios, astúcias e métodos ilegais, silenciar e ocultar a verdade com o fim de penetrar nos sindicatos, permanecer neles e aí realizar, a todo o custo, um trabalho comunista. Sob o tsarismo antes de 1905 não tivemos nenhumas «possibilidades legais», mas quando Zubátov, agente da Okhrana(8), organizou as suas assembleias operárias e associações operárias cem-negristas para caçar os revolucionários e lutar contra eles, enviámos para estas assembleias e associações membros do nosso partido (recordo entre eles o camarada Bábuchkine, destacado operário de Petersburgo, fuzilado em 1906 pelos generais tsaristas), que estabeleceram ligação com a massa, conseguiram realizar a sua agitação e arrancar os operários à influência dos zubatovistas(9). Naturalmente, é mais difícil fazer tal coisa na Europa Ocidental, particularmente impregnada de preconceitos legalistas, constitucionais e democrático-burgueses particularmente arraigados. Mas pode-se e deve-se fazê-lo, e fazê-lo sistematicamente.

O Comité Executivo da III Internacional deve, na minha opinião pessoal, condenar abertamente e propor ao próximo congresso da Internacional Comunista que condene em geral a política de não participação nos sindicatos reaccionários (fundamentando pormenorizadamente a insensatez de tal não participação e seu extremo dano para a causa da revolução proletária), e, em particular, a linha de conduta de alguns membros do partido comunista holandês, que — não importa se directa ou indirectamente, aberta ou dissimuladamente, total ou parcialmente — têm apoiado essa política falsa. A III Internacional deve romper com a táctica da II, e não eludir nem ocultar as questões delicadas, mas colocá-las com toda a decisão. Dissemos cara a cara toda a verdade aos «independentes» (Partido Social-Democrata Independente da Alemanha), é preciso dizer cara a cara toda a verdade também aos comunistas «de esquerda».