Carta a Friedrich Adolph Sorge
(em Hoboken)

Friedrich Engels

12[-17] de Setembro de 1874

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Primeira Edição: Publicado pela primeira vez de forma abreviada no livro: Briefe und Auszuge aus Briefen von Joh. Phil. Becker, Jos. Dietzgen, Friedrich Engels Karl Marx und A. an F. A. Sorge und Andere, Stuttgart, 1906; de forma completa, em russo, nas Obras de K. Marx e F. Engels, 1.ª edição, t. XXVI, 1935. Publicado segundo o manuscrito.Traduzido do alemão.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial "Avante!" - Edição dirigida por um colectivo composto por: José BARATA-MOURA, Eduardo CHITAS, Francisco MELO e Álvaro PINA, tomo II, pág: 471-472.
Tradução: José BARATA-MOURA e João Pedro GOMES.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.


capa

Londres, 12[-17] de Set[embro] de 1874

... Além do mais, com a tua saída[N323], a velha Internacional acabou completamente, chegou ao fim. E isso é bom. Ela pertencia ao período do Segundo Império[N324], quando a pressão dominante em toda a Europa obrigava o movimento operário, que estava precisamente a renascer, à unidade e à abstenção de toda a polémica interna. Era o momento em que os interesses cosmopolitas comuns do proletariado podiam passar ao primeiro plano. Alemanha, Espanha, Itália, Dinamarca, tinham acabado de entrar no movimento ou estavam a entrar nele. Em 1864, o carácter teórico do próprio movimento era na realidade ainda muito pouco claro em toda a Europa, i. e., entre as massas; o comunismo alemão não existia ainda como partido operário; o proudhonismo era demasiado fraco para poder cavalgar sobre as suas manias especiais; a nova mistela de Bakúnine ainda não existia nem sequer na sua própria cabeça; e mesmo os chefes das trade unions inglesas criam poder integrar-se no movimento na base do programa expresso nos Considérants(1) dos Estatutos.(2) O primeiro grande êxito tinha de fazer rebentar esta ingénua conjunção de todas as fracções. Esse êxito foi a Comuna, incondicionalmente filha intelectual da Internacional, embora a Internacional não tenha mexido um dedo para fazê-la, e da qual tem sido, até certo ponto, também com toda a razão, feita responsável. Quando, através da Comuna, a Internacional se tornou uma força moral na Europa, de pronto começou o barulho. Cada orientação queria explorar o êxito a seu favor. Sobreveio a desagregação, que não se podia evitar. A inveja perante a força crescente das únicas pessoas que realmente estavam prontas a continuar a trabalhar na base do amplo antigo programa — os comunistas alemães — empurrou os proudhonianos belgas para os braços dos aventureiros bakuninistas. Com o Congresso da Haia,[N251] tudo chegou, de facto, ao fim — e para ambas as partes. O único país onde ainda se podia fazer alguma coisa em nome da Internacional era a América, e um feliz instinto transferiu para aí a direcção suprema. Agora, também aí o seu prestígio se esgotou, e qualquer esforço ulterior para a galvanizar com nova vida seria um disparate e um desperdício de forças. A Internacional dominou dez anos da história europeia segundo um aspecto — o aspecto em que reside o futuro — e pode olhar orgulhosamente para o seu trabalho. Mas na sua velha forma tornou-se antiquada. Para produzir uma nova Internacional à maneira da antiga, uma aliança de todos os partidos proletários de todos os países, seria necessária uma repressão geral do movimento operário como a que predominou de 1849 a 1864. Mas o mundo proletário tornou-se agora demasiado grande, demasiado amplo, para tal. Creio que a próxima Internacional será — depois de os escritos de Marx exercerem a sua influência durante alguns anos — directamente comunista e proclamará precisamente os nossos princípios...


Notas de rodapé:

(1) Em francês no texto: Considerandos. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(2) Ver o presente tomo, pp. 14-15. Estatutos Gerais da Associação Internacional dos Trabalhadores (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

[N251] [N251] O Congresso da Haia da Associação Internacional dos Trabalhadores realizou-se de 2 a 7 de Setembro de 1872. Nele participaram 65 delegados de 15 organizações nacionais. O trabalho do Congresso foi pessoalmente dirigido por Marx e Engels. O Congresso coroou o combate de muitos anos de Marx e Engels e dos seus companheiros de luta contra todos os tipos de sectarismo pequeno-burguês no movimento operário. Foi condenada a actividade cisionista dos anarquistas e os seus dirigentes (Bakúnine, Guillaume e outros) foram expulsos da Internacional. As decisões do Congresso da Haia lançaram as bases para a criação no futuro de partidos políticos da classe operária independentes nos diferentes países. (retornar ao texto)

[N323] Sorge saiu do Conselho Geral em Agosto de 1874, facto de que informou Engels em 14 de Agosto de 1874; seguiu-se a sua demissão oficial em 25 de Setembro de 1874. (retornar ao texto)

[N324] Referência ao império de Napoleão III em França (1852-1870). (retornar ao texto)

Inclusão 10/03/2011