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Primeira Edição: Escrito por Engels em inglês para a edição inglesa de The Condition of the Working Class in England in 1844. London, 1892. Publicado segundo o texto da edição inglesa de 1892, cotejado com o da segunda edição alemã de 1892. Traduzido do inglês.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial "Avante!" - Edição dirigida por um colectivo composto por: José BARATA-MOURA,
Eduardo CHITAS, Francisco MELO e Álvaro PINA, tomo III, pág: 490-506.
Tradução: José BARATA-MOURA.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial
"Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.
O livro, de que se republica aqui uma tradução inglesa, saiu pela primeira vez na Alemanha em 1845. Nesse tempo, o autor era jovem, vinte e quatro anos de idade, e a sua produção traz o selo da sua juventude com os seus traços bons e os seus [traços] defeituosos, de nenhum dos quais ele se sente envergonhado. Foi traduzido para inglês, em 1885, por uma senhora americana, a Sr.ª F. Kelley-Wischnewetzky, e publicado no ano seguinte em Nova Iorque. Estando a edição americana praticamente esgotada e nunca tendo sido feita circular extensivamente deste lado do Atlântico, a presente edição inglesa com os direitos reservados [copyright edition] é lançada com o pleno consentimento de todas as partes interessadas.
Para a edição americana, foram escritos em inglês pelo autor um novo prefácio e um apêndice. O primeiro tinha pouco a ver com o próprio livro; debatia o movimento da classe operária americana da altura e, por conseguinte, é aqui omitido por irrelevante; do segundo — o prefácio original — se faz largamente uso nas presentes observações introdutórias.
O estado de coisas descrito neste livro pertence, hoje, sob muitos aspectos, ao passado, tanto quanto à Inglaterra diz respeito. Apesar de não expressamente afirmada nos nossos tratados [oficialmente] reconhecidos, é ainda uma lei da Economia Política moderna que quanto maior é a a escala em que a produção capitalista é empreendida, tanto menos ela pode apoiar os pequenos artifícios de fraude e surripiagem que caracterizam os seus primeiros estádios. Os truques de negócio rabulistas do judeu polaco — o representante na Europa do comércio no seu estádio mais baixo —, esses truques, que lhe serviram tão bem no seu próprio país e lá são generalizadamente praticados, descobre ele que estão fora de moda e deslocados quando chega a Hamburgo ou Berlim; e, uma vez mais, o comissionista [commission agent] que é natural de Berlim ou Hamburgo, judeu ou cristão, depois de frequentar a Bolsa [Exchange] de Manchester durante alguns meses, descobre que para comprar barato fio ou tecido de algodão também ele faria melhor em deixar cair esses ardis e subterfúgios, ligeiramente mais refinados, mas ainda miseráveis, que são considerados o acme da esperteza no seu país natal(1*). O facto é que esses truques já não são mais compensadores num mercado grande, onde tempo é dinheiro e onde está inevitavelmente desenvolvido um certo padrão de moralidade comercial, puramente como um meio para poupar tempo e maçadas. E passa-se o mesmo com a relação entre o manufactureiro [manufacturei] e os seus «braços» [«hands»](2*).
A reanimação dos negócios [trade], depois da crise de 1847, foi a alvorada de uma nova época industrial. A revogação das Corn Laws[N90] e as reformas financeiras subsequentes a isso deram à indústria e comércio [commerce] ingleses todo o campo de manobra que eles haviam pedido. A descoberta dos campos auríferos californianos e australianos seguiu-se-lhe numa sucessão rápida. Os mercados coloniais desenvolveram numa taxa crescente a sua capacidade para absorverem bens manufacturados ingleses. Na Índia, milhões de tecelões manuais foram finalmente esmagados pelo tear mecânico [power-loom] do Lancashire. A China foi sendo aberta cada vez mais. Acima de tudo, os Estados Unidos — então, comercialmente falando, um mero mercado colonial(3*), mas de longe o maior deles todos — sofreram um desenvolvimento económico espantoso, mesmo para esse país rapidamente progressivo. E, finalmente, os novos meios de comunicação introduzidos no término do período precedente — caminhos-de-ferro e vapores oceânicos —-surgiram agora numa escala internacional; realizaram efectivamente o que até então apenas tinha existido potencialmente: um mercado mundial. A princípio, este mercado mundial era composto por um número de países principal ou inteiramente agrícolas agrupados à volta de um centro manufactureiro — a Inglaterra — que consumia a maior parte do produto bruto excedentário deles [surplus raw produce] e lhes fornecia, de volta, a maior parte das suas precisões [requirements] em artigos manufacturados. Não admira que o progresso industrial da Inglaterra tenha sido colossal e sem paralelo, e tal que o nível de 1844 nos pareça agora comparativamente primitivo e insignificante. E na proporção em que este aumento teve lugar, na mesma proporção a indústria manufactureira aparentemente se moralizou. A concorrência de manufactureiro contra manufactureiro por meio de pequenos roubos ao operariado [workpeople] já não compensava mais. O negócio tinha-se tornado grande de mais para semelhantes meios baixos de fazer dinheiro; praticados por milionários manufactureiros não valiam a pena e serviam meramente para manter viva a concorrência de negociantes [traders] mais pequenos, gratos por apanharem um tostão [penny] onde quer que pudessem. Assim, o truck-system(4*) foi suprimido, a Lei das Dez Horas[N279] foi aprovada e introduzido um certo número de outras reformas secundárias — muito contra o espírito do livre-câmbio e da concorrência desenfreada, mas quase tanto a favor do capitalista gigante na sua concorrência com o seu irmão menos favorecido. Além disso, quanto maior é a firma [concern], e com isso o número de braços [hands], tanto maior é a perda e a inconveniência causadas por todo o conflito entre [o] patrão [master] e [os seus] homens [men]; e, assim, um novo espírito sobreveio aos patrões, especialmente aos grandes, que os ensinou a evitar brigas desnecessárias, a aquiescer na existência e poder das Uniões de Ofícios [Trades' Unions] e, finalmente, a descobrir mesmo nas greves — em tempos oportunos — um meio poderoso para servir os seus próprios fins. Os maiores manufactureiros, primeiramente os líderes da guerra contra a classe operária, eram agora os primeiros a pregar a paz e a harmonia. E por uma muito boa razão. O facto é que todas essas concessões à justiça e à filantropia não eram senão meios de acelerar a concentração de capital nas mãos daqueles poucos para quem as somíticas extorsões extra de anteriores anos tinham perdido toda a importância e se tinham tornado efectivos estorvos; e [meios] de esmagar tanto mais depressa e tanto mais seguramente os seus concorrentes mais pequenos, que não se conseguiam aguentar sem semelhantes ganhos eventuais [perquisites](5*). Assim, o desenvolvimento da produção na base do sistema capitalista chegou por si só — pelo menos, nas indústrias principais, porque nos ramos menos importantes isto está longe de ser o caso — para pôr de parte todos aqueles gravames [grievances] menores que agravavam a sorte do operário nos seus primeiros estádios. E, assim, torna-se cada vez mais evidente o grande facto central de que a causa da condição miserável da classe operária há que ser procurada, não nestes gravames menores, mas no próprio sistema capitalista. O operário assalariado vende ao capitalista a sua força de trabalho [labour force] por uma certa soma diária. Após poucas horas de trabalho, reproduziu o valor daquela soma; mas a substância do seu contrato é que ele tem de trabalhar uma outra série de horas para completar o seu dia de trabalho; e o valor que ele produz durante essas horas adicionais de sobretrabalho [surplus labour] é mais-valia [surplus value], que não custa nada ao capitalista e, contudo, vai para a sua algibeira. Esta é a base do sistema que tende cada vez mais a cindir a sociedade civilizada nuns poucos Rotschilds e Vanderbilts, os donos de todos os meios de produção e subsistência, de um lado, e num imenso número de operários assalariados, os donos de nada mais do que a sua força de trabalho, do outro. E que este resultado é causado, não por este ou aquele gravame secundário, mas pelo próprio sistema — este facto foi apresentado em nítido relevo pelo desenvolvimento do capitalismo em Inglaterra desde 1847.
Por outro lado, as visitas repetidas da cólera, tifo, varíola e outras epidemias mostraram ao burguês britânico a necessidade urgente de medidas sanitárias [sanitation] nas suas cidades [towns] e grandes cidades [cities], se quiser salvar-se a si próprio e à família de caírem vítimas de semelhantes doenças. Em conformidade, os abusos mais gritantes descritos neste livro ou desapareceram ou foram tornados menos conspícuos. Foi introduzida ou melhorada a drenagem, foram abertas avenidas largas ao través de muitos dos iores «bairros de lata» que tive de descrever. «Little Ireland» desapareceu e os «Seven Diais»[N280] estão a seguir na lista do para varrer. Mas, e daí? Distritos inteiros que, em 1844, eu podia descrever orno quase idílicos caíram agora, com o crescimento das cidades, 10 mesmo estado de dilapidação, desconforto e miséria. Só os porcos e os amontoados de resíduos não são mais tolerados. A burguesia fez ulteriores progressos na arte de esconder a desgraça da classe operária. Mas que, no que toca aos seus domicílios, não teve lugar qualquer melhoramento substancial é amplamente provado pelo Relatório da Comissão Real «on the Housing of the Poor» [«sobre o alojamento dos pobres»], de 1885. E é também este o caso, sob outros pontos de vista. Regulamentos de polícia foram abundantes, como as amoras-pretas; mas eles apenas podem circunscrever a desgraça dos operários, não a podem remover.
Mas, enquanto a Inglaterra extravasava, assim, do estado juvenil da exploração capitalista por mim descrito, outros países apenas o começavam a alcançar. A França, a Alemanha e, especialmente, a América, são os concorrentes formidáveis que, neste momento — como antevisto por mim, em 1844 —, estão cada vez mais a quebrar o monopólio industrial da Inglaterra. As suas manufacturas são jovens, comparadas com as de Inglaterra, mas estão a crescer a uma taxa de longe mais rápida do que a desta última; e é bastante curioso que, neste momento, tenham chegado aproximadamente à mesma fase de desenvolvimento da manufactura inglesa em 1844. No que toca à América, o paralelo é, efectivamente, muito impressionante. É verdade que as circunstâncias externas em que a classe operária está colocada na América são muito diferentes, mas as mesmas leis económicas estão em acção, e os resultados, se não são idênticos sob todos os aspectos, têm, no entanto, de ser da mesma ordem. Consequentemente, encontramos na América as mesmas lutas por um dia de trabalho mais curto, por uma limitação legal do tempo de trabalho, especialmente das mulheres e das crianças, nas fábricas; encontramos o truck-system em completo florescimento e o cottage-system, em distritos rurais[N281], usados pelos patrões [«bosses»] como um meio de dominação sobre os operários. Quando, em 1886, recebi os jornais americanos com relatos da grande greve de 12 000 mineiros de carvão [coal-miners] da Pensilvânia no distrito de Connellsville[N282], não me parecia senão estar a ler a minha própria descrição da greve dos mineiros de carvão [colliers] do Norte da Inglaterra de 1844. O mesmo aldrabar do operariado com medidas falsificadas; o mesmo truck-system, a mesma tentativa de quebrar a resistência dos mineiros pelo último, mas esmagador, recurso dos capitalistas — o despejo dos homens para fora dos seus domicílios, as cabanas possuídas pelas companhias.
Nesta tradução, não tentei actualizar o livro nem apontar em pormenor todas as mudanças que tiveram lugar desde 1844. E isto por duas razões: em primeiro lugar, para fazer isso como devia ser, o tamanho do livro tinha de ser aproximadamente duplicado; e, em segundo lugar, o primeiro volume de Das Kapital [O Capital] de Karl Marx, de que o público tem uma tradução inglesa, contém uma descrição muito ampla do estado da classe operária britânica tal como estava por 1865, isto é, ao tempo em que a prosperidade industrial britânica alcançava o seu ponto culminante. Eu teria sido, então, obrigado a examinar novamente terreno já coberto pela célebre obra de Marx.
Mal será necessário apontar que o ponto de vista teórico geral deste livro — filosófico, económico, político — não coincide exactamente com o meu ponto de vista de hoje. O socialismo internacional moderno [modern international socialism] — desde então, desenvolvido completamente como uma ciência, principal e quase exclusivamente pelos esforços de Marx — não existia, como hoje, em 1844. O meu livro representa uma das fases do seu desenvolvimento embrionário; e, tal como o embrião humano, nos seus primeiros estádios, ainda reproduz os arcos branquiais dos nossos antepassados-peixes, também este livro exibe por toda a parte os traços da ascendência do socialismo moderno de um dos seus antepassados: a filosofia alemã. Assim, põe-se uma grande ênfase no dito [dictum] de que o comunismo não é uma mera doutrina de partido da classe operária, mas uma teoria que abrange a emancipação da sociedade no seu conjunto, incluindo a classe capitalista, das suas estreitas condições presentes. Isto é bastante verdade em abstracto, mas absolutamente inútil e, muitas vezes, pior, na prática. Enquanto as classes ricas [wealthy], não só não sentirem a necessidade [want] de qualquer emancipação, mas se opuserem estrenuamente à auto-emancipação da classe operária, a revolução social terá de ser preparada pela classe operária, e objecto de luta para a classe operária, apenas. Também os burgueses franceses de 1789 declararam que a emancipação da burguesia era a emancipação de toda a raça humana; mas a nobreza e o clero não o podiam ver; a proposição — apesar de nessa altura, em relação ao feudalismo, ser uma verdade histórica abstracta — em breve se tornou mero sentimentalismo e desapareceu inteiramente da vista no fogo da luta revolucionária. E hoje as mesmas pessoas que, da «imparcialidade» do seu ponto de vista superior, pregam aos operários um socialismo que plana muito acima dos seus interesses de classe e lutas de classe e que tende a reconciliar numa humanidade superior os interesses de ambas as classes contendoras — estas pessoas ou são neófitos que ainda têm que aprender muito ou são os piores inimigos dos operários: lobos com peles de cordeiro.
O período recorrente das grandes crises industriais é afirmado, no texto, ser de cinco anos. Este era o período aparentemente indicado pelo curso dos acontecimentos, de 1825 a 1842. Mas, a história industrial de 1842 a 1868 mostrou que o período real é um de dez anos; que as revulsões intermédias eram secundárias e tendiam cada vez mais a desaparecer. Desde 1868, o estado das coisas mudou de novo; acerca disso falarei mais adiante.
Tomei o cuidado de não riscar do texto as muitas profecias — entre outras, a de uma revolução social iminente em Inglaterra — que o meu ardor juvenil me induziu a aventurar. O espanto é, não que uma boa parte delas se tenha revelado errónea, mas que tantas delas se tenham revelado correctas, e que o estado crítico dos negócios [trade] ingleses, a ser provocado pela concorrência continental e especialmente americana, que eu então antevi — apesar de para dentro de um período demasiado curto —, veio agora efectivamente a acontecer. No que a isto respeita, posso, e estou obrigado a, actualizar o livro, introduzindo aqui um artigo que publiquei no Commonweal[N283] de Londres de 1 de Março de 1885, sob o título: England in 1845 and in 1885» [«A Inglaterra em 1845 e em 885»](6*). Ele dá, ao mesmo tempo, um curto esboço da história da lasse operária inglesa durante estes quarenta anos, e é como segue:
«Há quarenta anos, a Inglaterra esteve confrontada com uma crise, resolúvel, segundo todas as aparências, apenas pela força. O imenso e rápido desenvolvimento das manufacturas tinha excedido a extensão dos mercados estrangeiros e o aumento da procura. Cada dez anos a marcha da indústria era violentamente interrompida por uma quebra [crash] comercial geral, seguida, após um longo período de depressão crónica, por uns poucos anos breves de prosperidade, que terminavam sempre em febril superprodução e num consequente colapso renovado. A classe capitalista clamava por Livre-Câmbio nos cereais e ameaçava forçá-lo mandando a população esfaimada das cidades de volta para os distritos rurais de onde viera, para os invadir, como John Bright disse, não como pobres [paupers] pedindo pão, mas como um exército aquartelado em [território] inimigo. As massas operárias das cidades exigiam a sua parte de poder político — a Peoples Charter[N92]; eram apoiadas pela maioria da pequena classe dos negócios [trading class], e a única diferença entre as duas era se a Carta havia de ser levada [avante] pela força física ou pela [força] moral. Veio então a quebra comercial de 1847 e a fome irlandesa, e com ambas a perspectiva da revolução.
«A revolução francesa de 1848 salvou a classe média inglesa. Os pronunciamentos socialísticos [socialistic pronunciamentos] dos operários franceses vitoriosos assustaram a pequena classe média da Inglaterra e desorganizaram o movimento da classe operária inglesa, mais estreito, mas mais terra-a-terra. No preciso momento em que o Cartismo estava decidido a afirmar-se na sua plena força, soçobrou internamente antes mesmo de soçobrar externamente, em 10 de Abril de 1848[N94]. A acção da classe operária foi atirada para segundo plano. A classe capitalista triunfou em toda a linha.
«A Reform Bill de 1831[N89] tinha sido uma vitória da classe capitalista toda sobre a aristocracia fundiária. A revogação das Corn Laws foi uma vitória do capitalista manufactureiro(7*), não apenas sobre a aristocracia fundiária, mas também sobre aquelas secções de capitalistas cujos interesses estavam mais ou menos ligados com o interesse fundiário — banqueiros, especuladores com acções [stock-jobbers], detentores de fundos [fund-holders](8*), etc. Livre-Câmbio significava o reajustamente de toda a política interna e externa, comercial e financeira, da Inglaterra em consonância com os interesses dos capitalistas manufactureiros — a classe que agora representava a nação. E eles entregaram-se a esta tarefa com determinação. Todo o obstáculo à produção industrial foi impiedosamente removido. A tarifa e todo o sistema de impostos foram revolucionados. Tudo foi feito subordinar-se a um fim, mas àquele fim de maior importância para o capitalista manufactureiro: o embaratecimento de todo o produto bruto [raw produce] e, especialmente, dos meios de vida da classe operária; a redução do custo da matéria-prima [raw material] e a manutenção baixa — se não como agora o abaixamento — dos salários. A Inglaterra havia de tornar-se a "oficina do mundo"; todos os outros países haviam de tornar-se para a Inglaterra aquilo que a Irlanda já era: mercados para os seus bens manufacturados, fornecendo-lhe em troca matérias-primas e alimentos. A Inglaterra, o grande centro manufactureiro de um mundo agrícola, com um número sempre crescente de Irlandas cerealíferas e algodoeiras girando à volta dela, o Sol industrial. Que gloriosa perspectiva!
«Os capitalistas manufactureiros lançaram-se na realização deste seu grande objectivo [object] com aquele forte senso comum e aquele desprezo por princípios tradicionais que sempre os distinguiu dos seus pares do Continente, mais tacanhos. O Cartismo estava a morrer. A reanimação da prosperidade comercial — natural, depois de a revulsão [revulsion] de 1847 se ter gasto — foi levada inteiramente a crédito do Livre-Câmbio. Ambas estas circunstâncias tinham tornado a classe operária inglesa, politicamente, a cauda do "grande partido liberal", o partido dirigido pelos manufactureiros. Esta vantagem, uma vez alcançada, tinha que ser perpetuada. E os capitalistas manufactureiros, da oposição cartista, não ao Livre-Câmbio mas à transformação do Livre-Câmbio numa questão nacional vital, tinham aprendido, e estavam a aprender cada vez mais, que a classe média nunca pode obter um poder político e social completo sobre a nação a não ser com a ajuda da classe operária. Por conseguinte, sobreveio uma mudança gradual nas relações entre ambas as classes. Os Factory Acts [Decretos Fabris], outrora papão de todos os manufactureiros, foram não apenas obedecidos de bom grado, como a sua expansão em decretos regulando quase todos os ofícios [trades] foi tolerada. As Trades' Unions [Uniões de Ofícios], até aí consideradas como invenções do próprio diabo, eram agora acarinhadas e patrocinadas como instituições perfeitamente legítimas e como meios úteis para espalhar doutrinas económicas sãs [sound] entre os trabalhadores. Mesmo as greves, que tinham sido mais nefárias do que nenhuma outra coisa até 1848, eram agora gradualmente consideradas como sendo ocasionalmente muito úteis, especialmente quando provocadas pelos próprios patrões, na altura que lhes convém. De entre os decretos [enactments] legais que colocavam o operário num nível inferior ou em desvantagem em relação ao patrão, pelo menos os mais revoltantes foram revogados. E, praticamente, aquela horrenda "Peoples Charter" tornou-se efectivamente o programa político dos mesmos manufactureiros que até há pouco se tinham oposto a ela. "A abolição do requisito de propriedade" e "voto secreto" ["Vote by Ballot"] são agora lei do país. Os Reform Acts de 1867[N98] e de 1884[N284] aproximam-se de perto do "sufrágio universal" ["universal suffrage"], pelo menos tanto quanto ele existe na Alemanha; a Redistribution Bill [Lei da Redistribuição] agora no parlamento cria "distritos eleitorais iguais" — em geral, não menos desiguais do que os(9*) da Alemanha; "pagamento dos membros" e [parlamentos] mais curtos, se não efectivamente "parlamentos anuais", assomam visivelmente à distância — e ainda há gente que diz que o Cartismo morreu.
«A revolução de 1848, não menos do que muitas das suas antecessoras, teve estranhos companheiros de cama e sucessores. As mesmas pessoas que a derrubaram tornaram-se, como Karl Marx costumava dizer, os seus executores testamentários. Louis Napoléon teve de criar uma Itália independente e unida, Bismarck teve que revolucionar a Alemanha e que restaurar a independência húngara, e os manufactureiros ingleses tiveram que dar força de lei à People s Charter.
«Para a Inglaterra, os efeitos desta dominação dos capitalistas manufactureiros foram a princípio surpreendentes. Os negócios reanimaram-se e estenderam-se num grau inaudito, mesmo neste berço da indústria moderna; as anteriores espantosas criações do vapor e da maquinaria reduziram-se a nada comparadas com a massa imensa de produções dos vinte anos de 1850 a 1870, com os números esmagadores das exportações e importações, de riqueza acumulada nas mãos dos capitalistas e de poder de trabalho humano [human working power] concentrado nas grandes cidades. O progresso foi, de facto, interrompido, tal como antes, por uma crise de dez em dez anos, em 1857 tanto como em 1866; mas estas revulsões eram agora consideradas como acontecimentos naturais, inevitáveis, a que há fatalistamente que submeter-se e que no fim sempre se resolvem bem.
«E a condição da classe operária durante este período? Houve temporariamente melhorias, mesmo para a grande massa. Mas esta melhoria sempre foi reduzida para o nível antigo pelo influxo do grande corpo da reserva desempregada, pelo constante afastamento de braços pela nova maquinaria, pela imigração da população agrícola, agora, também cada vez mais afastada pelas máquinas.
«Uma melhoria permanente só pode ser reconhecida para duas secções "protegidas" da classe operária. Em primeiro lugar, os operários fabris [factory hands]. A fixação, por decreto do parlamento, do seu dia de trabalho dentro de limites relativamente racionais restaurou a sua constituição física e dotou-os de uma superioridade moral, acentuada pela sua concentração local. Estão, sem dúvida, melhor do que antes de 1848. A melhor prova e que, de dez greves que eles fazem, nove são provocadas pelos manufactureiros no seu próprio interesse, como o único meio de assegurar uma produção reduzida. Nunca se consegue fazer os patrões concordar com "pouco tempo" de trabalho, nem mesmo que os bens manufacturados se tornem invendáveis; mas leve-se o operariado para a greve, e os patrões, à uma, fecham as suas fábricas.
«Em segundo lugar, as grandes Uniões de Ofícios. São as organizações daqueles ofícios em que o trabalho de homens adultos predomina, ou apenas ele é aplicável. Aí, nem a concorrência das mulheres e crianças nem da maquinaria enfraqueceu até agora a sua força organizada. Os mecânicos, os carpinteiros e marceneiros, os assentadores de tijolo, são cada um deles um poder, na medida em que, como no caso dos assentadores de tijolo e trabalhadores do tijolo, podem mesmo resistir com êxito à introdução de maquinaria. De que a sua condição melhorou notavelmente desde 1848 não pode haver dúvida, e a melhor prova disso está no facto de que desde há mais de quinze anos, não só os seus empregadores [employers] estão em muitíssimo boas relações com eles, como também eles estão em muitíssimo boas relações com os seus empregadores. Formam uma aristocracia entre a classe operária; conseguiram forçar para eles próprios uma posição relativamente confortável, e aceitam isso como definitivo. São os operários modelo dos Srs. Leone Levi & Giffen(10*), e, hoje em dia, são de facto gente muito simpática para se lidar, para qualquer capitalista sensato em particular e para a classe capitalista toda, em geral.
«Mas, quanto à grande massa do povo trabalhador [working people], o estado de miséria e insegurança em que vive agora é tão baixo como dantes, se é que não mais baixo. O East End(11*) de Londres é um charco, sempre em expansão, de miséria e desolação estagnantes, de fome, quando sem trabalho, e de degradação física e moral, quando com trabalho. E é assim em todas as outras grandes cidades — abstraindo da minoria de trabalhadores privilegiada; e é assim nas cidades mais pequenas e nos distritos agrícolas. A lei que reduz o valor do poder de trabalho [labour power](12*) ao valor dos meios de subsistência [means of subsistence](13*) necessários, e a outra lei que reduz o seu preço médio, em regra, ao mínimo desses meios de subsistência, estas leis actuam sobre eles com a força irresistível de uma máquina automática que os esmaga entre as suas rodas.
«Esta foi, portanto, a posição criada pela política de Livre-Câmbio de 1847 e por vinte anos de dominação dos capitalistas manufactureiros. Mas, então, deu-se uma mudança. A quebra de 1866 foi, de facto, seguida por uma ligeira e curta reanimação por volta de 1873; mas isso não durou muito. Não passámos, de facto, pela crise completa no tempo devido, em 1877 ou 1878; mas tivemos, sempre, desde 1876, um estado de estagnação crónico em todos os ramos dominantes da indústria. Nem a quebra completa virá; nem [tão-pouco] o período de ansiada prosperidade, ao qual costumávamos ter direito antes e depois dela. Uma depressão entorpecente, um abarrotamento [glut] crónico de todos os mercados para todos os negócios [trades], é o que temos estado a viver há quase dez anos. Como é isto?
«A teoria do Livre-Câmbio estava baseada numa suposição: a de que a Inglaterra havia de ser o único grande centro manufactureiro(14*) de um mundo agrícola. E o facto efectivo é que esta suposição se tornou um puro engano. As condições da indústria moderna, força de vapor [steam-power] e maquinaria, podem ser estabelecidas onde quer que haja combustíveis, especialmente carvões. E outros países para além da Inglaterra — a França, a Bélgica, a Alemanha, a América, mesmo a Rússia — têm carvões. E as pessoas de lá não viram vantagem em serem tornadas rendeiros pobres irlandeses [Irish pauper farmers] meramente para maior riqueza e glória dos capitalistas ingleses. Puseram-se resolutamente a manufacturar, não apenas para eles próprios, mas [também] para o resto do mundo; e a consequência é que o monopólio manufactureiro(15*) desfrutado pela Inglaterra durante quase um século está irreparavelmente quebrado.
«Mas o monopólio manufactureiro(16*) da Inglaterra é o eixo do presente sistema social da Inglaterra. Mesmo enquanto esse monopólio durava, os mercados não podiam acompanhar o passo da produtividade crescente dos manufactureiros ingleses; as crises decenais eram a consequência. E os novos mercados estão cada dia a tornar-se mais escassos, a tal ponto que mesmo os Negros do Congo estão agora a ser empurrados para a civilização que acompanha os calicós de Manchester, a cerâmica do Staffordshire e as ferragens [hardware] de Birmingham. Como será quando bens continentais, e especialmente americanos, correram em quantidades sempre crescentes — quando a parte predominante, detida ainda por manufactureiros britânicos, ficar reduzida de ano para ano? Resposta: Livre-Câmbio, panaceia universal!
«Eu não sou o primeiro a apontar isto. Já em 1883, na reunião de Southport da British Association[N285] o Sr. Inglis Palgrave, presidente da secção económica, afirmou abertamente que "os dias de grandes lucros de negócios na Inglaterra tinham acabado, e havia uma pausa no progresso de vários grandes ramos do trabalho industrial. Quase se pode dizer que o país está a entrar no estado não-progressivo"(17*).
«Mas qual há-de ser a consequência? A produção capitalista não pode parar Tem de continuar a aumentar e a expandir-se, ou terá de morrer. Mesmo agora, a mera redução da parte de leão da Inglaterra no fornecimento dos mercados do mundo significa estagnação, desgraça, excesso de capital aqui, excesso de operários desempregados ali. O que é que acontecerá quando o aumento da produção anual for levado a uma paragem completa?
«Eis o sítio vulnerável, o calcanhar de Aquiles, da produção capitalista. A sua base mesma é a necessidade de constante expansão, e esta constante expansão torna-se agora impossível. Termina num beco sem saída. Todos os anos a Inglaterra é levada a confron-tar-se mais de perto com a questão: ou o país cai aos bocados, ou então é a produção capitalista que cai. Qual deles há-de ser?
«E a classe operária? Se mesmo com a expansão comercial e industrial sem paralelo, de 1848 a 1868, ela teve de sofrer uma tal miséria; se mesmo, então, a maior parte dela não experimentou senão, no melhor dos casos, uma melhoria temporária da sua condição, enquanto apenas uma pequena minoria, privilegiada, "protegida", foi permanentemente beneficiada, o que acontecerá quando este período deslumbrante finalmente se encerrar, quando a presente estagnação lúgubre se tornar não só mais intensa, mas esta, essa [sua] condição intensificada, se tornar o estado permanente e normal dos negócios ingleses?
«A verdade é esta: durante o período do monopólio industrial [industrial monopoly] da Inglaterra, a classe operária inglesa participou, até certa medida, dos benefícios do monopólio. Estes benefícios foram muito desigualmente repartidos entre ela; a minoria privilegiada embolsou a maior parte, mas mesmo a grande massa teve, pelo menos, uma parte temporária aqui e ali. E esta é a razão por que, desde a agonia do Owenismo, não tem havido socialismo em Inglaterra. Com o colapso [breakdown] desse monopólio, a classe operária inglesa perderá essa posição privilegiada; encontrar-se-á, em geral — sem excepção da minoria privilegiada e dirigente — ao mesmo nível dos seus companheiros operários no estrangeiro. E esta é a razão por que voltará a haver socialismo em Inglaterra.»
A esta descrição do caso, tal como o caso me parecia em 1885, não tenho senão pouca coisa a acrescentar. Não é preciso dizer que, hoje, há de facto «outra vez socialismo em íhglaterra», e muito — socialismo de todas as tonalidades: socialismo consciente e inconsciente, socialismo prosaico e poético(18*), socialismo da classe operária e da classe média, pois, em verdade, o socialismo, essa abominação das abominações, não só se tornou respeitável [respectable](19*), como efectivamente vestiu fato de noite e se poltroneia preguiçosamente em causeuses(20*) de sala de visitas. Isto mostra a incurável inconstância desse terrível déspota da «sociedade»(21*), a opinião pública da classe média, e justifica uma vez mais o desprezo que nós, socialistas de uma geração passada, sempre tivemos por essa opinião pública. Ao mesmo tempo, não temos qualquer razão para resmungar contra o próprio sintoma.
O que eu considero de longe mais importante do que esta momentânea moda entre os círculos burgueses de afectar um diluído fraco de socialismo, e mesmo mais [importante] do que o efectivo progresso que o socialismo fez em Inglaterra, em geral, é a reanimação do East End de Londres. Esse imenso antro de miséria não é mais o charco esíagnante que era há seis anos atrás. Sacudiu a sua desesperança entorpecida, voltou à vida, e tornou-se o centro daquilo que é chamado o «New Unionism» [«Novo Unionismo»], isto é, da organização da grande massa de operários «não-qualifiçados» [«unskilled»]. Esta organização pode, em grande medida, adoptar a forma das velhas Unions [Uniões] de operários «qualificados», mas é essencialmente diferente pelo carácter. As velhas Unions preservam as tradições do tempo em que foram fundadas, e olham para o sistema de salários [wages system] como um [sistema] estabelecido de uma vez por todas, como um facto definitivo [final], que, no melhor dos casos, eles podem modificar no interesse dos seus membros. As novas Unions foram fundadas num tempo em que a fé na eternidade do sistema de salários estava severamente abalada; os seus fundadores e promotores eram socialistas, ou conscientemente ou por sentimento; as massas, cuja adesão lhes deu força, eram rudes, negligenciadas, olhadas de cima pela aristocracia da classe operária; mas tinham a imensa vantagem de que as suas mentes eram solo virgem, inteiramente livres de preconceitos burgueses «respeitáveis» herdados, que obstruem os cérebros dos «velhos» unionistas, mais bem situados. E, assim, vemos agora essas novas Unions a tomarem a direcção do movimento da classe operária, em geral, e, cada vez mais, a levarem a reboque as ricas e orgulhosas «velhas» Unions.
Sem dúvida os habitantes do East End [East Enders] cometeram asneiras colossais; também os seus antecessores as cometeram, e os socialistas doutrinários que os ridicularizam também as cometem. Uma classe grande [large], tal como uma grande [great] nação, nunca aprende melhor ou mais depressa do que sofrendo as consequências dos seus próprios erros [mistakes]. E, apesar de todas as faltas cometidas no passado, no presente e no futuro, a reanimação do East End de Londres permanece um dos maiores e mais frutuosos factos deste fin de siècle(22*), e eu estou contente e orgulhoso de ter vivido [o suficiente] para o ver(23*).
Notas de rodapé:
(1*) No prefácio à segunda edição alemã desta obra, também de 1892, Engels acrescenta «Sem dúvida que, com o progresso da grande indústria, também na Alemanha muitas coisas devem ter mudado e, nomeadamente, desde a Jena industrial de Filadélfia 278, deve ter caído em descrédito mesmo o princípio fundamental velho-alemão do homem honesto [Biedermann]: mas só pode ser agradável para as pessoas que nós lhes mandemos primeiro boas amostras e depois más mercadorias!» (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(2*) No prefácio à segunda edição alemã já referida, Engels escreve: Arbeiter, operários. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(3*) No prefácio à segunda edição alemã já referida, Engels intercala a seguinte caracterização de «mercado colonial»: «isto é, um país que fornece produtos em bruto [Rohprodukte] e recebe produtos industriais de fora — aqui, da Inglaterra». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(4*) Truck-system: sistema de pagamento do salário aos operários com mercadorias de lojas de fábricas pertencentes aos próprios empresários. Em vez de pagar os salários em dinheiro, os patrões obrigavam os operários a adquirir em tais lojas mercadorias de má qualidade a preços abusivos. (retornar ao texto)
(5*) No prefácio da edição alemã referida, Engels traduz por Extraverdienst, ganhos extra. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(6*) Este mesmo artigo foi também publicado em tradução alemã na Neue Zeit, 3 (1885), n.° 6; é esse texto que Engels reproduz no prefácio à segunda edição alemã já referida. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(7*) No prefácio à segunda edição alemã referida: der industriellen Kapitalisten, dos capitalistas industriais. A tradução alemã, que, noutros passos, Engels costuma apresentar para o inglês manufacturer é Fabrikant. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(8*) No prefácio à segunda edição alemã referida: Rentiers, pessoas que vivem dos rendimentos proporcionados pela detenção de fundos ou papéis, designadamente, públicos. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(9*) No prefácio à segunda edição alemã referida, Engels acrescenta: «da França ou». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(10*) No prefácio à segunda edição alemã referida, Engels acrescenta: «(e também do honesto [Biedermann] Lujo Brentano)». Engels alude aqui aos elogios feitos por Lujo Brentano — designadamente em Die Arbeitergilden der Gegenwart [As Guildas Operárias do Presente], Leipzig 1872, Bd. 2 — às Trade-Unions britânicas como modelares organizações da classe operária que lhe permitiriam, no quadro da manutenção da exploração capitalista, proceder a um melhoramento da sua condição. Perspectivas semelhantes, tendentes a secundarizar a importância e o papel da organização política da classe operária em partido, eram igualmente partilhadas por outros «socialistas de cátedra» (Kathedersozialisten). Ainda sobre Brentano, pode ver-se também: F. Engels, In Sachen Brentano contra Marx wegen angeblicker Zitatsfàlschung. Geschichtserzãhlung und Dokumente [Caso Brentano contra Marx por causa de Pretensa Falsificação de Citação. Relato da História e Documentos]; ver MEW, Bd. 22, S. 93-185. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(11*) East End, literalmente: ponta leste — bairro de Londres habitado predominantemente pelo proletariado e por camadas pobres da população. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(12*) No prefácio à segunda edição alemã referida: «Arbeitskraft», força de trabalho. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(13*) No prefácio à segunda edição alemã referida: «Lebensmittel», literalmente, meios de vida. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(14*) No prefácio à segunda edição alemã citada: «Industriezentrum», centro industrial. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(15*) No prefácio à segunda edição alemã citada: «Industriemonopol», monopólio industrial. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(16*) Cf. Report of the fifty-third meeting of the British Association for the Advancement of Science; held at Southport in September 1883 [Relatório da Quinquagésima Terceira Reunião da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, realizado em Southport, em Setembro de 1883], London, 1884, pp. 608-609. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(17*) No prefácio à segunda edição alemã referida, Engels escreve: «stabil werden», tornar-se estável. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(18*) No prefácio à segunda edição alemã referida: «em prosa e em verso». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(19*) Há passagens — designadamente na sua tradução para a revista Die Neue Zeit do prefácio à edição inglesa de 1892 de Do Socialismo Utópico ao Socialismo (retornar ao texto) FALTA PAG 504 FASA
(20*) Em francês no texto: poltronas (para duas pessoas). (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(21*) Há passagens — designadamente na sua tradução para a revista Die Neue Zeit do prefácio à edição inglesa de 1892 de Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico — onde Engels expressamente aproxima a respectability (respeitabilidade) britânica do Philisterium (filistério) alemão. Veja-se, por exemplo, o presente tomo, pp. 114 e segs. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto) FASA
(22*) Em francês no texto: fim de século. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(23*) No seu prefácio à segunda edição alemã de Die Lage der arbeitenden Klasse in England [A Situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra], Stuttgart 1892, Engels retoma, apenas com ligeiras alterações de que temos vindo a assinalar as mais importantes em notas de pé de página, o prefácio escrito em inglês para a edição inglesa da mesma obra, aparecida em Londres, também em 1892. Todavia, a esse texto, Engels acrescenta, propositadamente para a segunda edição alemã, o seguinte: «Desde que escrevi o presente [texto] há seis meses, o movimento operário inglês deu de novo um bom passo em frente. As eleições para o parlamento, que foram há alguns dias atrás, avisaram em toda a forma ambos os partidos oficiais, os conservadores assim como os liberais, de que, de agora em diante, ambos tinham de contar com um terceiro partido: o partido operário. Este partido operário está apenas em formação; os seus elementos estão ainda ocupados a desembaraçarem-se de preconceitos herdados de toda a espécie — burgueses, das velhas uniões [altgewerkschaftliche], mesmo já doutrinários-socialistas — para, finalmente, se poderem encontrar juntos sobre o solo comum a todos eles. E, no entanto, o instinto que os leva a juntarem-se é já tão grande que produziu resultados eleitorais até aqui inauditos em Inglaterra. Em Londres, apresentaram-se às eleições dois operários(24*) e, na verdade, abertamente como socialistas; os liberais não ousaram opor-lhes nenhum dos seus e os dois socialistas passaram com uma maioria esmagadora e inesperada. Em Middlesborough, apresentou-se um candidato operário(25*) contra um liberal e um conservador e, apesar dos dois, foi eleito; em contrapartida, os novos candidatos operários que concluíram uma aliança com os liberais fracassaram sem remédio, à excepção de um único. De entre os chamados representantes operários de até agora, isto é, as pessoas a quem se perdoava a sua qualidade operária porque elas próprias gostavam de a afogar no oceano do seu liberalismo, o significativo representante do velho unionismo, Henry Broadhurst. fracassou brilhantemente, porque se declarou contra o dia [de trabalho] de oito horas. Em dois círculos eleitorais de Glasgow, num de Salford e ainda em muitos outros, apresentaram-se candidatos operários independentes contra candidatos de ambos os velhos partidos; foram batidos, mas os candidatos liberais também. Em suma, num certo número de círculos eleitorais de grandes cidades e industriais, os operários desligaram-se decididamente de toda a vinculação com ambos os velhos partidos e. com isso, alcançaram êxitos directos ou indirectos como em nenhuma eleição anterior. E a alegria em virtude disso entre os operários é indescritível. Pela primeira vez, viram e sentiram aquilo que podem quando utilizam o seu direito de voto no interesse da sua classe. A crença supersticiosa no "grande partido liberal", que dominou os operários ingleses quase quarenta anos, quebrou-se. Viram com exemplos flagrantes que eles, os operários, são, em Inglaterra, o poder decisivo, apenas se quiserem e souberem aquilo que querem; e as eleições de 1892 foram o começo do saber e do querer. O movimento operário continental cuidará do resto: os alemães e os franceses, que nos parlamentos e conselhos locais possuem já uma representação tão rica, manterão viva de um modo bastante suficiente, através de ulteriores êxitos, a emulação dos ingleses. E se, num tempo não já muito afastado, se constatar que este novo parlamento não pode fazer nada com o senhor Gladstone e que o senhor Gladstone não pode fazer nada com este parlamento, então, o partido operário inglês estará também, por certo, suficientemente constituído para pôr proximamente fim ao jogo de alternância [Schaukelspiel] dos dois velhos partidos, que se sucedem um ao outro no governo e eternizam precisamente por isso a dominação burguesa.
Londres, 21 de Julho de 1892.»(26*) (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(24*) James Keir Hardie e John Eurns. (retornar ao texto)
(25*) John Havelock Wilson. (retornar ao texto)
(26*) Traduzido do alemão. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
Notas de fim de tomo:
[N89] Trata-se da reforma eleitoral, adoptada pela Câmara dos Comuns inglesa em 1831 e definitivamente confirmada pela Câmara dos Lordes em Junho de 1832. A reforma abriu as portas do Parlamento aos representantes da burguesia industrial. O proletariado e a pequena burguesia, que constituíram a principal força na luta pela reforma, foram enganados pela burguesia liberal e permaneceram sem direitos eleitorais. (retornar ao texto)
[N90] Trata-se do Bill adoptado pelo Parlamento inglês em Junho de 1846 sobre a abolição das leis dos cereais. As chamadas leis dos cereais (Corn Laws), aprovadas com vista a restringir ou a proibir a importação de trigo do estrangeiro, foram promulgadas na Inglaterra em benefício dos grandes latifundiários (landlords). A aprovação do Bill de 1846 foi uma vitória da burguesia industrial, que lutava contra as leis dos cereais sob a palavra de ordem de liberdade de comércio. (retornar ao texto)
[N92] The People’s Charter (A Carta do Povo), que continha as exigências dos cartistas, foi publicada a 8 de Maio de 1838 como projecto de lei a ser apresentado ao Parlamento; era composta por seis pontos: sufrágio universal (para os homens a partir dos 21 anos de idade), eleições anuais para o Parlamento, votação secreta, igualdade das circunscrições eleitorais, abolição da exigência de propriedade para os candidatos a deputados ao Parlamento, remuneração dos deputados. As três petições dos cartistas com a exigência de aprovação da Carta do Povo, entregues ao Parlamento, foram rejeitadas por este em 1839, 1842 e 1849. (retornar ao texto)
[N94] A manifestação de massas marcada pelos cartistas para 10 de Abril de 1848 em Londres, com o objectivo de entregar ao Parlamento a petição sobre a aprovação da Carta do Povo, fracassou devido à indecisão e às vacilações dos seus organizadores. O fracasso da manifestação foi utilizado pelas forças da reacção para o lançamento de uma ofensiva contra os operários e de acções repressivas contra os cartistas. (retornar ao texto)
[N98] Em 1867, na Inglaterra, sob a influência do movimento operário de massas, realizou-se a segunda reforma parlamentar. O Conselho Geral da I Internacional participou activamente no movimento que reivindicava esta reforma. Em resultado dela, o número de eleitores em Inglaterra aumentou para mais do dobro e uma parte dos operários qualificados conquistou o direito de voto. (retornar ao texto)
[N279] A lei que proibia o pagamento do trabalho com mercadorias foi aprovada em 1831; no entanto, muitos fabricantes violavam-na. A lei da jornada de trabalho de dez horas (Ten Hours' Bill), que apenas se aplicava aos adolescentes e às mulheres, foi aprovada pelo Parlamento inglês a 8 de Junho de 1847. (retornar ao texto)
[N280] Pequena Irlanda (Little Ireland): um dos bairros operários mais miseráveis nos arredores sul de Manchester. Sete Mostradores (Seven Diais): bairro operário no centro de Londres. (retornar ao texto)
[N281] Cottage-system: atribuição de habitação ao operário pelo industrial em condições leoninas, descontando-se no salário o valor do aluguer. (retornar ao texto)
[N282] Trata-se da greve de mais de 10 000 mineiros no Estado da Pensilvânia (EUA), que decorreu entre 22 de Janeiro e 26 de Fevereiro de 1886. No decurso da greve, os operários dos altos-fornos e dos fornos de coquificação, que reclamavam aumento dos salários e melhoria das condições de trabalho, alcançaram uma melhoria parcial destas. (retornar ao texto)
[N283] The Commonweal (O Bem-Estar Público): semanário inglês publicado em Londres de 1885 a 1891 e de 1893 a 1894, da Liga Socialista; em 1885 e 1886 Engels publicou nele alguns artigos. (retornar ao texto)
[N284] Em 1884, na Inglaterra, sob a pressão do movimento de massas das zonas rurais, realizou-se a terceira reforma parlamentar, tornando-se extensivas às circunscrições rurais as condições de obtenção do direito de voto estabelecidas em 1867 (ver nota 98 acima) para a população das circunscrições urbanas. Depois desta reforma ficavam ainda sem direito de voto importantes sectores da população da Inglaterra: o proletariado rural e os pobres da cidade, assim como todas as mulheres. (retornar ao texto)
[N285] A British Association for the Advancement of Science (Associação Britânica para o Avanço da Ciência) foi fundada em 1831 e existe ainda hoje na Inglaterra; os materiais das reuniões anuais são publicados como relatórios. (retornar ao texto)
Inclusão | 27/07/2012 |