Imperialismo

Marx, Engels, Lênin, Stálin, etc.
compilação Calvino Filho


DIVISÃO E REDIVISÃO DO MUNDO


capa

O capital fez-se internacional e monopolista.

O mundo já está repartido entre um punhado de grandes potências, isto é, de potências_ que prosperam com o saque e a opressão das nações. Quatro grandes potências da Europa: Inglaterra, França, Rússia e Alemanha, com uma população de 250 a 300 milhões de habitantes, com um território de uns sete milhões de quilômetros quadrados, têm colônias com uma população de quase quinhentos milhões de habitantes (494,5 milhões) e com um território de 64,6 milhões de quilômetros quadrados, isto é, quase a metade da superfície do globo (133 milhões de quilômetros quadrados, sem as regiões polares). A isso tem-se que acrescentar três Estados Asiáticos: China, Turquia e Pérsia, despedaçados agora pelos saqueadores, a saber: Japão, Rússia, Inglaterra e França, que fazem uma guerra de “libertação”. estes três Estados asiáticos, que podem denominar-se semicoloniais (na realidade, são já colônias em 90%), têm 360 milhões de habitantes e 14,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície (isto é, quase 150% da superfície total da Europa).

Além disso, a Inglaterra, a França e a Alemanha têm invertido no estrangeiro um capital de nada menos de 70 milhões de rublos. Para obter uma rendazinha “legal” desta bela soma — uma rendazinha de mais de três milhões de rublos anuais — servem os comitês nacionais de milionários, chamados governos, providos de exércitos e de marinhas de guerra, que “colocam” nas colônias e semi-Colônias os filhinhos e irmãozinhos do “senhor Bilhão” na qualidade de vice-reis, de cônsules, de embaixadores, de funcionários de todo gênero, de curas e demais sanguessugas.

É assim que está organizado, na época do mais alto desenvolvimento do capitalismo, o saque, por um punhado de grandes potências, de cerca de mil milhões de habitantes da terra. E sob o capitalismo é impossível qualquer outra organização. Renunciar às colônias, às “esferas de influência”, à exportação de capital? Pensar nisso significa reduzir-se ao nível de um vigariozinho que prega todos os domingos aos ricos a grandeza do cristianismo e aconselha-os a dar ao pobres... quer dizer, se não uns tantos milhares de milhões, pelo menos umas tantas centenas de rublos por ano.
Lênin — Marx, Engels y el Marxismo — Págs. 203-304 — ELE, 1947 — La consigna de los Estados Unidos de Europa.

O que caracteriza o imperialismo não é simplesmente a luta pela partilha territorial do mundo, mas o fato de que no princípio do século XX, isto é, ao começar a época do imperialismo, todo o globo terrestre já estava repartido entre os Estados imperialistas. Os dados seguintes demonstram isso.

Todos os países colonizadores europeus, assim como os Estados Unidos da América, possuíam, em 1876, 10,3% de toda a superfície da África; em 1900 já possuíam 90,4%; na Polinésia (ilhas do Pacífico) possuíam em 1876, 56,8% e em 1900 98,8%; na Ásia, em 1876, 51,5% e em 1900, 56,6%; na Austrália 100% e 100% respectivamente, e na América 27,5% e 27,2%. Se levarmos em conta que uma parte considerável da Ásia (China, Pérsia, Turquia), assim como todos os Estados da América do Sul eram semi-vassalos das grandes potências imperialistas, estas cifras comprovam que no começo do século XX o mundo inteiro já estava repartido entre os países imperialistas.
Luis Segal — Princípios de Economia Política — Cap. XI (5) — Pág. 330 — EPU, 2.a ed., 1947.

...no período de cem anos, pelas armas ou pela bolsa, como diz Araquistain, os Estados Unidos entraram na posse de territórios que medem 2.846.258 milhas quadradas, que adicionados à área dos primitivos treze Estados (892.135), perfazem o total de 3.738.395 milhas quadradas, superfície atual dos Estados Unidos e suas possessões insulares.

A pequena República norte-americana “efetuou, num século, mais conquistas do que todos os Césares juntos, desde que reinaram”(1), sem se lembrar de que, como dizia William Stead, todos os Impérios morrem de indigestão...
Olympio Guilherme — A realidade Americana — Pág. 24 — Calvino. Filho, editor, 1934.

A época do capitalismo moderno nos mostra que entre os grupos capitalistas se estão estabelecendo determinadas relações sobre a base da partilha econômica do mundo, e que, ao mesmo tempo, em conexão com isso, se estão estabelecendo entre os grupos políticos, entre os Estados, determinadas relações sobre a base da partilha territorial do mundo, da luta pelas colônias, da “luta pelo território econômico”.
Lênin — Obras Escogidas — T. I — Pág. 1017 — ELE, 1948 — El imperialismo, fase superior del capitalismo — Cap. V.

...Os capitalistas repartem o mundo,, não como consequência de sua particular perversidade, e sim porque o grau de concentração a que se chegou obriga-os a seguirem esse caminho para obter proventos; e repartem-no “segundo o capital”, “segundo a força. ” Outro modo de partilha é impossível no sistema de produção de mercadorias e do capitalismo. A força varia, por sua vez, consoante o desenvolvimento econômico e político; para compreender o que está acontecendo, tem-se que saber quais são os problemas que se solucionam com a mudança das forças, mas saber se as ditas mudanças são “puramente” econômicas ou extraeconômicas (por exemplo, militares) é uma questão secundária que não pode fazer mudar em nada a concepção fundamental sobre a época atual do capitalismo. Substituir a questão do conteúdo da luta e das transações entre os grupos capitalistas pela questão da forma desta luta e destas transações (hoje pacífica, amanhã não pacífica e depois de amanha novamente pacífica) significa descer até ao papel de sofista.
Lénine — Obras Escogidas — T. I — Pág. 1917 — ELE, - 1948 — ELE imperialismo, fase superior del capitalismo - Cap. V.

... O imperialismo do começo do século XX acabou de repartir o globo entre um punhado de Estados, e cada um explora hoje (para tirar super- -lucros) uma parte do “mundo inteiro”, menor apenas do que a Inglaterra explorava em 1858; do qual cada um tem — graças aos trastes, aos cartéis, ao capital financeiro, a suas relações de credor para com devedor — o monopólio sobre o mercado mundial; do qual cada um goza, em certa medida, de um monopólio colonial (vimos que de 75 milhões de quilômetros quadrados, superfície de todas as colônias do mundo, 65 milhões, isto é, 86%, estão concentradas nas mãos de seis grandes potências; 61 milhões de quilômetros quadrados, seja 81%, são retidos por três potências).
Lênin — Obras Escogidas — T. I — Pág. 1048 — ELE, 1948 — El imperialismo, fase superior del capitalismo — Cap. VIII.

Por meio da exportação do capital e da criação de cartéis internacionais, os magnatas do capital financeiro procedem a uma partilha econômica do mundo entre si. Mas essa partilha econômica leva inevitavelmente à luta pela partilha territorial e política entre os Estados imperialistas correspondentes, uma vez que o Estado nas mãos da oligarquia financeira não só é uma arma de opressão no interior do país, como também uma arma de luta para a exploração das massas laboriosas do exterior. A luta pela partilha econômica do mundo engendra a luta pela sua partilha territorial, pela subordinação política dos países atrasados aos Estados imperialistas.
Luis Segal — Princípios de Economia Política — Cap. XI (5) — Págs. 329-330 — EPU, 2.a ed., 1947.

Os países exportadores de capital repartiram o mundo entre si, no sentido figurado da palavra; mas o capital financeiro realizou a partilha direta do mundo.
Lênin — Obras Escogidas — T. I — Pág. 1009 — ELE, - 1948 — El imperialismo, fase superior del capitalismo - Cap. IV.

Para terminar com a questão da partilha do mundo, devemos todavia notar o seguinte: Nem só a literatura norte-americana, depois da guerra hispano-americana, e a inglesa, depois da guerra anglo-boer, expuseram esta questão de modo completamente aberto e definido, nos fins do século XIX e princípios do XX; nem só a literatura alemã, que seguia mais zelosamente do que ninguém o desenvolvimento do “imperialismo britânico” julgou sistematicamente este fato. A literatura burguesa da França também tratou da questão de modo suficientemente claro e vasto, até onde isso é concebível do ponto de vista burguês. Remetamo-nos ao historiador Driault, o qual no seu livro: “Os problemas políticos e sociais dos fins do século XIX, no capítulo sobre ‘as grandes potências e a partilha do mundo’”, dizia o seguinte:

“No transcurso dos últimos anos, todos os territórios livres da Terra, com exceção da China, foram ocupados pelas potências da Europa e pelos Estados Unidos. Devido a isso já se produziram vários conflitos e certos deslocamentos de influência que não são mais do que precursores de explosões muito mais terríveis num futuro próximo. Pois que é preciso apressar-se: as nações que não se proveram correm o risco de nunca receber seu quinhão e de não tomar parte na exploração gigantesca da Terra, que será um dos principais fatos do próximo século (isto é, do século XX). Eis aqui por que toda a Europa e a América, durante os últimos tempos, foram presas da febre de expansão colonial do ‘imperialismo’, que constitui o traço mais característico, mais notável dos fins do século XIX”. E o autor acrescenta: “Com uma tal partilha do mundo, com essa caça furiosa às riquezas e dos grandes mercados da Terra, a importância relativa dos impérios criados neste século XIX está em completa desproporção com o posto que ocupam na Europa as nações que os criaram. As potências predominantes na Europa, que são os árbitros do seu destino, não predominam igualmente em todo o mundo. E devido a que o poderio colonial, a esperança de possuir riquezas embora ignoradas, terá evidentemente uma repercussão na importância relativa das potências europeias, a questão colonial — ‘o imperialismo’ se quiserdes – que já transformou as condições políticas da Europa mesmo, as irá modificando cada vez mais.” (Driault)
Lênin — Obras Escogidas — T. I — Págs. 1022-29 — ELE, 1948 — El imperialismo, fase superior del capitalismo — Cap. VI.

...O imperialismo, que significa a partilha do mundo e a exploração não somente da China e implica proventos monopolistas elevados para um punhado de países os mais ricos, cria a possibilidade econômica da corrução das camadas superiores do proletariado e com ele nutre, dá forma, reforça o oportunismo. O que não se deve esquecer são as forças contrárias ao imperialismo em geral e ao oportunismo em particular.
Lenin — Obras Escogidas — T. I — Pág. 1045 — El imperialismo, fase superior del capitalismo — Cap. VIII.

A comparação dos dados de Lênin, sobre a partilha do mundo entre as grandes potências e os dados mais recentes mostram que os característicos fundamentais do imperialismo revelados por Lênin confirmaram-se; isto não prova somente que a teoria do imperialismo de Lênin suportou vitoriosamente a prova da história, como reflete também os traços decisivos da época atual que se revela como a época da crise geral do capitalismo, como a época da revolução proletária mundial. As alterações mais importantes na partilha do mundo são: as seguintes:

1 — A Rússia tsarista saiu do concerto das potências imperialistas. Essa “prisão dos povos”, como a chamaram, foi transformada numa união livre de nacionalidades gozando de direitos iguais, nacionalidades que, sobre a base dum aumento enorme de forças produtivas, estão em via de desenvolver uma cultura que é nacional na sua forma e socialista no seu conteúdo. Há também as grandes mudanças no mundo colonial. Segundo os dados citados por Lênin, no umbral do século XX, as colônias constituíam 56,6% da superfície da Ásia (sem contar as semi-Colônias, nem a Coreia. Em 1932 a superfície colonial baixou para 20,6% (contando a Coreia e excluindo as províncias chinesas recentemente ocupadas pelo Japão), ou seja uma redução da superfície das possessões coloniais no continente asiático de cerca de 64% em relação ao começo do século XX. Esta enorme redução é devida à emancipação da parte asiática da Rússia — Sibéria e Rússia asiática central, — que estavam incluídas entre as colônias, segundo as cifras de Lênin.

2 — Nos quadros citados por Lênin, a China está compreendida na categoria das semi-Colônias. A revolução chinesa e a frente de unidade nacional antijaponesa que se criou na China introduziram nesses quadros uma correção de importância histórica mundial. O povo chinês bate-se corajosamente contra as tentativas do imperialismo japonês para fazer da China sua colonia. Bate-se pela emancipação completa do seu país. As Repúblicas da Mongólia e de Tanna-Tuva libertaram-se por si próprias do jugo imperialista.

3 — Nos dados de Lênin, a Turquia, o Irã e o Afeganistão estão também compreendidos na categoria das semi-Colônias. Hoje, porém, a Turquia conquistou sua independência depois de sua guerra de libertação; o Irã (Pérsia) e o Afeganistão têm feito consideráveis progressos na mesma direção.

Todas estas mudanças, consideradas no seu conjunto, significam que o monopólio colonial do imperialismo foi profundamente solapado. A liberação das colônias tsaristas foi o resultado da Revolução de outubro; mas a revolução na China, a liberação da Turquia, etc., foram também o resultado da influência direta da Revolução de outubro. Tudo isso se tornava possível porque a Revolução de outubro tinha transformado a Rússia que, baluarte da reação mundial para o esmagamento das lutas de liberação nacional, transformara-se no principal baluarte dessas lutas pela libertação. A construção de empresas industriais gigantes, iguais às mais possantes do mundo, no território das antigas colônias tsaristas, os enormes sucessos da construção socialista nas nações outrora oprimidas da U.R.S.S., o rápido desenvolvimento de sua cultura nacional, mobilizam os trabalhadores do Oriente para uma batalha decisiva contra o imperialismo. A nação chinesa está na vanguarda desta luta gigantesca.

4 — Noutras partes, comparando os dados citados por Lênin aos de 1932, vê-se também que a esfera da influência colonial se estendera principalmente em seguida à transformação em colônias de países dependentes e semicoloniais. Nas páginas precedentes (vide pág. 149 deste livro — C.F.), demos uma lista das conquistas coloniais mais importantes dos tempos modernos; mas esta expansão do domínio colonial é ilustrada de maneira mais frisante ainda pela conquista da Abissínia pela Itália e pela conquista da Mandchúria e de algumas outras regiões da China do Norte e do Centro pelo Japão. A este respeito, é digno de nota que Lênin tenha previsto que as futuras tentativas do imperialismo para aumentar suas possessões coloniais se produziriam essencialmente por via de lutas visando a partilha e submissão final da China. Esta previsão foi brilhantemente confirmada. O Japão faz uma guerra de banditismo contra a China para fazer dela uma colônia. Contudo, temos todos os motivos para crer que os planos imperialistas do Japão fracassarão finalmente diante da heróica resistência, cada vez maior, do povo chinês.

5 — Enfim, os dados mais recentes revelam um reagrupamento importante na distribuição das colônias entre as potências imperialistas. A partilha do mundo na base das relações de forças nascidas da guerra mundial eliminou a Alemanha do número das potências coloniais e aumentou as possessões coloniais da Grã-Bretanha, da França, da Itália e do Japão. Hoje estamos no limiar de nova guerra mundial para uma nova partilha do mundo. A invasão japonesa da China, a invasão italiana da Abissínia e a intervenção ítalo-alemã na Espanha marcam o começo dessa guerra. Os magnatas do capital financeiro na Alemanha, que sonham com a desforra, preparam febrilmente essa guerra por intermédio de seus agentes fascistas. O fascismo alemão é o principal instigador da próxima guerra mundial. O grau de maturidade dos novos conflitos por uma nova partilha do mundo é ilustrado pelo fato de que hoje a distribuição das colônias é mais desigual do que nunca. Ela corresponde ainda menos do que em 1914 à força econômica e militar das respectivas potências. Para prová-lo basta lembrar que a Grã-Bretanha, que perdeu certo número de posições importantes na economia mundial no decurso das duas últimas décadas, possui hoje mais colônias do que antes da guerra, e que o Japão, cujo desenvolvimento técnico e econômico não só é muito inferior ao dos Estados Unidos, como também dos grandes Estados imperialistas europeus, tenta, com a conquista da Mandchúria e do Norte da China, tornar-se uma das maiores potências coloniais do mundo. Mas o característico da luta imperialista que se prepara para uma redistribuição das colônias é a necessidade de ligá-la à luta contra a revolução chinesa — que abalou o sistema mundial de colonização até seus alicerces — e, sobretudo, à luta contra a U.R.S.S., berço da revolução mundial. A política de paz seguida firmemente pela União Soviética e o poderio crescente desta última retardam sem cessar o desencadeamento da guerra para a qual tendem todos os esforços dos militaristas japoneses, os fascistas alemães e italianos, ajudados pelas frações mais reacionárias da burguesia inglesa. A primeira guerra mundial e a Revolução de Outubro causaram danos irreparáveis ao sistema colonial do mundo imperialista; mas o resultado da guerra que se prepara será ainda mais desastroso para o imperialismo mundial.
E. Varga et L. Mendelsohn — Données complementaires à l’imperialisme de Lénine — Págs. 345-348 — Editions Sociales, 1950.


Notas de rodapé:

(1) Cesar Cantú: História Universal, vol. XX, p. 403. (retornar ao texto)

Inclusão: 14/06/2020