O Caráter Primário da Matéria e Secundário da Consciência

P. T. Belov


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1955. págs: 269-336. A presente edição foi traduzida do original russo "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da URSS, Instituto de Filosofia, 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

capa

O Problema Fundamental da Filosofia

A grande e fundamental questão da filosofia é a questão da relação entre o pensamento e o ser, entre o espírito e a natureza. Na história das doutrinas filosóficas sempre houve e continua a haver uma grande quantidade de escolas e tendências, uma grande quantidade de teorias de toda espécie, que não concordam entre si quanto a muitos problemas, importantes e secundários, relativos à concepção do mundo. Monistas e dualistas, materialistas e idealistas, dialéticos e metafísicos, empiristas e racionalistas, nominalistas e realistas, relativistas e dogmáticos, céticos, agnósticos e partidários da cognoscibilidade do mundo, etc., etc. Por sua vez, cada uma dessas correntes encerra uma grande quantidade de matizes e de ramificações. Seria extremamente difícil orientar-se na multiplicidade de correntes filosóficas. Tanto mais que os partidários das teorias filosóficas reacionárias propositalmente inventam "novas” denominações (como o empirocriticismo, o empiromonismo, o pragmatismo, o positivismo, o personalismo, etc.), para, sob a rubrica de um novo "ismo”, ocultar o conteúdo obsoleto da teoria idealista, há muito desmascarada.

Pôr em evidência a questão principal e fundamental da filosofia é proporcionar um critério objetivo para determinar a essência e o caráter de cada corrente filosófica e é ensejar uma orientação no complexo labirinto dos sistemas, das teorias e das concepções filosóficas.

A definição científica, clara e precisa, dessa questão fundamental da filosofia foi feita pelos fundadores do marxismo. Na obra Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, Engels escreve:

"A grande questão fundamental de toda filosofia, e especialmente da filosofia moderna, é a da relação entre o pensamento e o ser."(1)

"Os filósofos se dividiam em dois grandes campos, de acordo com a resposta que dão a esse problema. Os que afirmavam o caráter primordial do espírito em relação à natureza, e que admitiam, por conseguinte, em última instância, uma criação do mundo sob uma ou outra formae esta criação é frequentemente, nos filósofos, em Hegel por exemplo, muito mais complicada e impossível do que no cristianismoformavam no campo do idealismo. Os outros, que consideravam a natureza como o elemento primordial, pertenciam às diferentes escolas do materialismo.”(2)

Todas as tentativas dos filósofos reacionários no sentido de deixar de lado essa questão básica da concepção do mundo, pretensamente "elevando-se” acima da "unilateralidade” do materialismo e do idealismo, todas as tentativas dos idealistas em ocultar a essência de suas concepções atrás do disfarce de um novo "ismo”, sempre e em toda a parte levaram e levam apenas a uma nova confusão, a um novo charlatanismo e, no final de contas, ao reconhecimento mais ou menos franco da existência do mundo de além-túmulo.

V. I. Lênin afirma:

"Por trás da prestidigiação da nova terminologia, por trás do amontoado confuso da escolástica erudita, encontramos 'sempre, sem exceção, duas tendências fundamentais, duas correntes principais, na solução dos problemas filosóficos. Considerar como primária a natureza, a matéria, o físico, o mundo exterior, e considerar como secundaria a consciência, o espírito, a sensação (a experiência, segundo a terminologia em voga em nossa época), o psíquico, etc., eis a questão capital que na realidade continua a dividir os filósofos em dois grandes partidos.”(3)

A solução marxista-leninista da questão fundamental da filosofia e inteiramente clara, categórica, e não permite nenhum desvio em relação ao materialismo. Em sua genial obra Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin nos dá uma completa formulação dessa solução.

J. V. Stálin afirma:

"Em oposição ao idealismo, que afirma que só nossa consciência tem existência real e que o mundo material, o ser, a natureza, existe apenas em nossa consciência, em nossas sensações, representações e conceitos, o materialismo filosófico marxista parte do princípio de que a matéria, a natureza, o ser, é uma realidade objetiva que existe fora e independentemente da consciência; que a matéria é o primário, porque é a fonte das sensações, das representações, da consciência, e esta é o secundário, o derivado, porque é o reflexo da matéria, o reflexo do ser; de que o pensamento é um produto da matéria ao chegar esta a um elevado grau de perfeição em seu desenvolvimento, mais precisamente, um produto do cérebro, e este é o órgão do pensamento, e, por isso, não se pode separar o pensamento da matéria, se não quisermos cometer um grosseiro erro.”(4)

A resposta idealista à questão básica da filosofia opõe-se diretamente tanto à ciência como ao senso comum e forma um todo com os dogmas da religião. Alguns idealistas (Platão, Hegel, Berkeley, os teólogos de todas as religiões, etc.) apelam sem quaisquer rodeios para a ideia de Deus, do sobrenatural, para o princípio do misticismo. Outros representantes do idealismo (machistas, pragmatistas, semanticistas, etc., etc.) chegam às mesmas teses da religião, por meio de confusos raciocínios gnosiológicos. Assim, rejeitando todos os pretensos postulados "exteriores à experiência” e só admitindo como real a consciência do sujeito que filosofa, chegam inevitavelmente ao solipsismo, isto é, à negação da existência real de todo o mundo que nos cerca, à negação da existência do que quer que seja fora da consciência do sujeito que filosofa. E, metendo-se nesse beco sem saída, apelam fatalmente para a ideia "salvadora” da divindade, em cuja consciência dissolvem todo o mundo, bem como a consciência individual do homem com todas as suas contradições.

Por mais que as teorias idealistas se distingam uma da outra, nunca houve nem há uma diferença essencial entre elas.

V. I. Lênin afirma que toda a pretensa diferença entre as escolas idealistas reduz-se apenas

"a tomar por base um idealismo filosófico muito simples ou muito complexo: muito simples, se ele se reduz abertamente ao solipsismo (eu existo e o universo é apenas minha sensação); muito complexo, se o pensamento, a representação, a sensação do homem vivo é substituída por uma abstração morta: não o pensamento, a representação, a sensação de homens particulares, mas o pensamento em geral (ideia absoluta, vontade universal, etc.), a sensação considerada como elemento' indefinido ‘psíquico', que substitui toda a natureza física, etc., etc. Milhares de matizes são possíveis entre as variedades do idealismo filosófico, e sempre se pode acrescentar a eles o matiz milésimo primeiro (o empiromonismo, por exemplo), cuja diferença em relação aos outros pode parecer muito importante a seu autor. Do ponto de vista do materialismo, essas diferenças não têm a menor importância.”(5)

Os idealistas de todos os tempos e de todos os países sempre afirmaram e afirmam uma mesma coisa, reconhecendo que a base primeira de toda consciência existente é o espírito, a ideia, enquanto os corpos materiais e toda a natureza infinita, a realidade, são declarados como secundários e derivados da consciência.

Todo homem sensato, inexperiente nas "sutilezas" da filosofia idealista, ao se lhe depararem tais afirmações dos idealistas, conjetura: Que. absurdo! Como se pode, em sã consciência, negar a realidade da existência do mundo exterior que nos cerca e de todo o universo? Essas conjeturas têm toda razão de ser. Os delírios dos idealistas pouco diferem dos delírios do alienado. Nesse sentido, V. I. Lênin compara os idealistas aos moradores das "casinhas amarelas” (isto é, dos hospícios).

No entanto, o idealismo não é simplesmente um absurdo, porque se assim fosse não se manteria durante milênios na cabeça dos homens. O idealismo tem raízes teórico-cognitivas (gnosiológicas) e raízes de classe, sociais. Não é por acaso que muitos e muitos representantes da ciência burguesa, inclusive naturalistas, são prisioneiros da religião e do idealismo. Não é por acaso que milhões e milhões de trabalhadores nos países capitalistas continuam a ter religião; a religião é a irmã mais velha do idealismo, uma variedade da concepção idealista do mundo.

As raízes gnosiológicas do idealismo se embebem nas dificuldades do conhecimento, no caráter contraditório das relações mútuas entre o sujeito (a consciência) e o objeto (o ser).

V. I. Lênin afirma:

"O modo de a razão (de o homem) entrar em contacto com determinada coisa, de copiá-la (= a conceito), não é um ato simples, direto, morto como um reflexo no espelho, mas um ato complexo, diversificado, ziguezagueante, que inclui a possibilidade de voos de fantasia que se distanciam da vida; mais: inclui a possibilidade da transformação (mais ainda: da transformação imperceptível, de que o homem não se dá conta) do conceito abstrato, da ideia, em fantasia (em última instância a Deus). Isso porque, na mais simples generalização, na mais elementar ideia geral (‘a mesa’ em geral) há uma determinada partícula de fantasia."(6)

O reflexo das coisas na consciência do homem é um processo complexo, biológica e socialmente contraditório. Por exemplo, à percepção sensível, um mesmo objeto ora parece quente, ora frio, ora doce, ora amargo, dependendo de determinadas condições. Em condições diferentes, o colorido dos mesmos corpos se apresenta de maneira diversa. Finalmente, à percepção sensível direta do homem só é acessível um círculo limitado de propriedades das coisas. Daí a conclusão da relatividade dos dados provenientes das percepções sensíveis. A mesma relatividade caracteriza o conhecimento lógico. A história do conhecimento é a história da sucessiva substituição de umas ideias e teorias obsoletas por outras, mais aperfeiçoadas.

Tudo isso se verifica com o esquecimento do principal: o fato de que, por mais contraditório que seja o processo do conhecimento, nele se reflete o mundo material real, existente fora de nós e independente de nós, e de que nossa consciência é apenas uma cópia, uma fotografia, um reflexo da matéria que existe e se desenvolve eternamente. Ao se esquecerem desse elemento principal, muitos filósofos, enredando-se nas contradições gnosiológicas, lançam-se nos braços do idealismo.

Estudando, por exemplo, os fenômenos intra-atômicos e intranucleares, e outros processos físicos, nos quais se manifestam as mais profundas propriedades da matéria, os físicos modernos submetem esses fenômenos a uma complexa elaboração matemática. A matemática representa aqui, nas mãos do físico, uma poderosa alavanca, que ajuda a estabelecer e expressar em fórmulas as leis do micromundo. Entretanto, tendo-se acostumado a operar principalmente com cálculos matemáticos, e não dispondo da possibilidade de ver diretamente os átomos e muito menos as ínfimas partículas da matéria, o físico que não se mantém firmemente nas posições do materialismo filosófico só vê os símbolos matemáticos e "se esquece” da natureza objetiva. Em consequência desse "esquecimento”, os físicos machistas declaram: a matéria desaparece e só restam equações. O resultado é que, tendo começado por estudar a natureza, o físico que não tem conhecimentos filosóficos sólidos chega a negar a existência real da natureza, rolando para o abismo do idealismo e do misticismo.

Consideremos outro exemplo, também retirado da história das ciências naturais.

Pesquisando a natureza do corpo vivo, os biólogos estabeleceram no passado que às células das diferentes espécies animais e vegetais é inerente uma coleção particular de cromossomas, filamentos sui generis, nos quais se transforma o núcleo da célula biológica no momento de sua divisão. E eis que, sem saber das causas reais da hereditariedade e de sua variabilidade, os Biólogos metafísicos concluíram, de maneira puramente dedutiva e especulativa, que a causa da hereditariedade e da variabilidade reside totalmente no cromossoma, e que no cromossoma da célula-embrião estão predeterminados todos os caracteres concretos do futuro indivíduo. E como os caracteres hereditários concretos do organismos são muitos, esses biólogos começaram a dividir (mais uma vez de maneira puramente especulativa) o filamento do cromossoma em pequenas partes isoladas ("genes”), que foram declaradas as determinantes da hereditariedade. Como, porém, o desenvolvimento das propriedades reais dos organismos vivos não se amolda ao artificioso esquema da genética cromossomática, os partidários dessa teoria, os weismannistas-morganistas, começaram a apregoar a "incognoscibilidade do genes”, a natureza imaterial da "imortal” "substância” da hereditariedade, etc., etc.

Ao invés de submeter a um completo reexame as premissas da teoria cromossomática da hereditariedade e de auscultar a atividade prática dos inovadores da produção agrícola, a genética burguesa, desconhecendo as verdadeiras forças motrizes do desenvolvimento dos organismos vivos, chega ao idealismo e ao clericalismo.

O fator principal disso é que os sábios burgueses ignoram o papel da prática no processo do conhecimento, na solução de todas as contradições gnosiológicas. Deparando-se-lhe determinadas dificuldades na ciência, no conhecimento, eles encaram sua solução de maneira puramente especulativa. E como, sem levar em conta a prática, não se pode resolver cientificamente nenhum problema teórico, os filósofos, ignorando o pape! da atividade prática no conhecimento enredam-se definitivamente em contradições e atolam-se inteiramente no pântano do idealismo.

Nesse sentido, devemos lembrar-nos do pesado jugo das tradições religiosas, que, nas condições do regime burguês, pesam desde a infância sobre a mente dos homens e constantemente os atiram para o campo do misticismo.

V. I. Lênin afirma:

"O conhecimento humano não é uma linha reta (respective não avança em linha reta), mas uma curva que se aproxima incessantemente de uma série de círculos, de uma espiral. Qualquer fragmento, segmento, pequeno pedaço dessa curva, pode ser transformado (unilateralmente transformado) em linha rela independente, completa, a qual (se por trás das árvores não virmos a floresta) levará então ao pântano, ao clericalismo (onde é consolidada pelo interesse de classe das classes dominantes). Marchar em linha reta, ir somente para um lado, como um manequim, por rotina, por subjetivismo e por cegueira subjetiva, voilà (eis — N. da R.) as raízes gnosiológicas do idealismo. E o clericalismo (= o idealismo filosófico) tem, evidentemente, raízes gnosiológicas, não é desprovido de fundamento; é uma flor estéril, sem dúvida, mas flor estéril que cresce na árvore viva do conhecimento humano vivo, produtivo, verdadeiro, poderoso, onipotente, objetivo e absoluto."(7)

Argumento costumeiro dos idealistas é o de que a consciência lida apenas com sensações e ideias. Qualquer que seja o objeto considerado, para a consciência ele é uma sensação (percepção da cor, da forma, da resistência, do peso, do gosto, do som, etc.). Dirigindo-se ao mundo exterior, a consciência — afirmam os idealistas — não sai dos limites das sensações, da mesma forma que não podemos sair de nossa própria pele.

Entretanto, nenhuma pessoa sensata jamais duvidou, por um minuto sequer, de que a consciência humana não lida simplesmente com as "sensações como tais”, mas com o próprio mundo material, com as coisas e fenômenos reais que se encontram fora da consciência e que existem independentemente dela.

Mas eis que, deparando-se-lhe a relação, dialeticamente contraditória, entre o objeto e o sujeito, o idealista começa a conjeturar: que pode haver lá, "do lado de lá” das sensações? Alguns idealistas (Kant) afirmam que "lá” existem "coisas em si” que exercem influência sobre nós, mas que são, por princípio, incognoscíveis. Outros (por exemplo, Fichte, os neokantistas, os machistas) afirmam: não há semelhante "coisa em si”, a "coisa em si” é também um conceito e, por conseguinte, mais uma "construção da própria razão”, da consciência. Por isso, afirmam, só a consciência existe realmente. Todas as coisas não são mais do que um "complexo de ideias” (Berkeley), um "complexo de elementos” (de sensações) (Mach).

Os idealistas de forma alguma podem sair do círculo vicioso das sensações, por eles próprios traçado. É fácil, porém, desfazer esse "círculo vicioso” e resolver a contradição, se levarmos em conta os argumentos da atividade prática dos homens, se colocarmos na base da solução da questão fundamental da filosofia — a relação entre o pensamento e o ser, entre a consciência e a natureza — as indicações da prática (a experiência diária, a indústria, a experiência da luta das classes revolucionárias, a experiência da vida social em seu todo).

Em sua atividade prática, os homens diariamente se convencem de que as sensações, as representações, os conceitos (se são científicos) não separam mas ligam a consciência com o exterior mundo material das coisas; convencem-se de que não há nenhuma "coisa em si” incognoscível por princípio e de que, a cada novo êxito alcançado na produção social, cada vez conhecemos mais profundamente as propriedades objetivas e as leis do mundo material que nos cerca.

Consideremos, por exemplo, a moderna técnica da aviação. No aeroplano, cada grama de metal é uma vantagem, porque aumenta a solidez da construção, e uma desvantagem, porque torna maior o peso do aparelho, reduzindo sua capacidade de manobra. Até que grau de exatidão precisamos conhecer as propriedades aerodinâmicas dos materiais e dos motores empregados na fabricação de aviões e as propriedades do ar para se calcular com justeza as possibilidades de manobra dos aparelhos que desenvolvem velocidades equivalentes à velocidade do som! E se a técnica da aviação marcha a passos tão rápidos, isso quer dizer que nossos conhecimentos sobre as coisas é digno de fé; isso quer dizer que as sensações não separam a consciência do mundo exterior, mas nos ligam com ele; isso quer dizer que a consciência não se fecha no "círculo vicioso” das sensações, mas sai dos limites desse "círculo”, para o mundo material das coisas, que o homem fica conhecendo e, após conhecê-lo, subordina a seu próprio poder.

Os êxitos alcançados pela indústria da química sintética, que produz borracha artificial, seda, lã, tintas, combinações orgânicas próximas da albumina; os resultados obtidos pela análise espectral, pelo uso do radar e pela radiotécnica em geral, os progressos verificados no estudo dos fenômenos intra-atômicos até a utilização prática das inesgotáveis fontes da energia intra-atômica — tudo isso são irrefutáveis argumentos a favor do materialismo e contra o idealismo.

Depois disso, ainda há cretinos idealistas que continuam a afirmar que nada sabemos e nada podemos saber sobre a existência do mundo material e que "só a consciência é real”. Refutando os argumentos do agnosticismo, F. Engels apresentou como exemplo a descoberta da alizarina no alcatrão fóssil como um fato de grande importância e que demonstrava de maneira clara a veracidade dos conhecimentos humanos. Em virtude das conquistas técnicas de meados do século XX, esse fato pode parecer relativamente elementar. Entretanto, sob o aspecto de princípio gnosiológico, ele conserva todo o seu valor, pois indica o decisivo papel da experiência, da prática, da indústria, na solução de todas as dificuldades do conhecimento.

Além das raízes gnosiológicas, o idealismo possui suas raízes sociais, de classe. Se o idealismo não tivesse raízes de classe, essa filosofia anticientífica não se manteria por muito tempo.

A divisão da sociedade em classes hostis, a separação entre o trabalho intelectual e o trabalho físico, e a contraposição antagônica do primeiro ao segundo, o implacável jugo da exploração — tudo is§o originou e continua a originar ilusões religiosas e idealistas relativas ao domínio do espírito "eterno" sobre a natureza "transitória”, e a ilusão de que a consciência é tudo e a matéria nada.

A extrema confusão das relações de casta e de classes nas sociedades anteriores ao capitalismo, a anarquia da produção na época do capitalismo e a impotência dos homens perante as leis espontâneas da História criaram ilusões a respeito da incognoscibilidade do mundo exterior. As conclusões do idealismo, do misticismo e da religião são úteis às classes reacionárias e servem ao capitalismo moribundo. Por isso, na moderna sociedade burguesa, tudo o que serve ao capitalismo e é contra o socialismo alimenta, apoia e anima as conjeturas idealistas.

Pode-se afirmar francamente que em nossa época, quando extraordinários êxitos são alcançados pela ciência, técnica e indústria no trabalho de dominar as leis da natureza, quando grandiosos êxitos são obtidos na luta revolucionária da classe operária para dominar as leis do desenvolvimento social, as raízes de classe do idealismo são as principais causas da manutenção dessa filosofia anticientífica e reacionária.

E não é por acaso que entre todas as variedades do idealismo, as mais em moda entre a burguesia são hoje as correntes do idealismo subjetivo, que rejeitam as leis objetivas da natureza e que deixam o campo livre para o arbítrio, a ilegalidade e o charlatanismo sem freios. O imperialismo germânico desenvolveu sua selvagem agressão aventureira sob o signo do voluntarismo de Nietzsche. Os imperialistas dos Estados Unidos empreendem hoje suas aventuras sob o signo do pragmatismo, do positivismo lógico e do semanticismo, variedades da filosofa especificamente americana, do business, variedades que justificam quaisquer vilanias, desde que prometam vantagens aos magnatas de Wall Street.

A marcha objetiva da História leva inevitavelmente ao colapso do capitalismo, à inevitável vitória do socialismo em todo o mundo. É por isso que as leis objetivas da realidade assustam tanto à burguesia reacionária e seus ideólogos. É por isso que não desejam levar em conta as leis objetivas do desenvolvimento histórico e procuram justificação para suas ações contra o povo em sistemas filosóficos anticientíficos. Justamente por isso a burguesia imperialista lança-se aos braços do idealismo e especialmente do idealismo subjetivo.

A reação imperialista nada desdenha. Tenta apoiar-se diretamente no obscurantismo da Idade Média, ressuscitando, por exemplo, a sombra de "santo” Tomás (de Aquino), um dos principais teólogos cristãos do século XIII, e formando a corrente filosófica do neotomismo.

Essas são as raízes sociais e de classe das modernas teorias idealistas. Nesse sentido, não se pode deixar de observar que, visando a enganar as massas trabalhadoras com a propaganda do idealismo, do clericalismo e do obscurantismo, a burguesia ao mesmo tempo se engana a si própria, afundando-se definitivamente na mais completa confusão anticientífica e perdendo qualquer critério para sua própria orientação na impetuosa torrente dos acontecimentos atuais. Todos sabem em que abismo os hitleristas se precipitaram, por professarem as teorias de Nietzsche, do "mito do século XX”, etc. O mesmo destino aguarda os imperialistas americanos. Querendo enganar os outros, eles próprios se emaranham nas trevas do pragmatismo, do positivismo lógico, do semanticismo, etc., acelerando assim sua própria ruína e o colapso de todo o sistema capitalista.

É esse o destino das forças reacionárias e obsoletas da sociedade, que não desejam abandonar voluntariamente a arena da História.

★ ★ ★

Toda a história da filosofia, a começar pelas escolas da China e da Grécia antigas, é a história de uma intensa luta entre o materialismo e o idealismo, entre a corrente de Demócrito e a de Platão. Na solução do problema fundamental da filosofia, o materialismo filosófico marxista apoia-se nas grandes tradições do materialismo do passado e continua essas tradições.

Combatendo implacavelmente o idealismo de todos os matizes, Marx e Engels apoiaram-se em Feuerbach, nos materialistas franceses do século XVIII, em Francis Bacon, nos materialistas da antiguidade, etc. Desmascarando o machismo, em sua genial obra Materialismo e Empirocriticismo, V. I. Lênin refere-se a Demócrito, Diderot, Feuerbach, Tchernitchévski e a outros eminentes filósofos materialistas e naturalistas do passado. V. I. Lênin nos aconselha a continuar editando as melhores obras materialistas e ateístas dos velhos materialistas, porque até hoje ainda não perderam sua significação na luta contra o idealismo e a religião.

O materialismo filosófico marxista não é, porém, uma simples continuação do velho materialismo. Embora os materialistas anteriores a Marx, ao enfrentarem o problema fundamental da filosofia, partissem, com inteira justeza, do caráter primário da matéria e secundário da consciência, eles eram em geral, como é sabido, materialistas metafísicos, contemplativos. Ao resolver a questão fundamental da filosofia, não levavam em conta o papel da atividade prática revolucionária do homem. A relação entre a consciência e o ser era comumente considerada por eles como relação puramente contemplativa (teórica ou sensível). Apesar de alguns deles se terem referido ao papel da prática no conhecimento (em parte Feuerbach e sobretudo Tchernitchévski), não podiam compreender cientificamente a própria prática, pois lhes faltava, como aos anteriores, a compreensão materialista da História.

Criticando o caráter limitado de todo o velho materialismo de Feuerbach e formulando as bases da concepção proletária e científica do mundo, Marx escreve em suas célebres Teses Sobre Feuerbach:

"A principal deficiência de todo o materialismo precedenteinclusive o de Feuerbachreside em que o objeto, a realidade, o mundo sensível, só são considerados sob a forma de objeto, ou de contemplação, mas não como atividade humana concreta, como prática (...)(8)

Idealistas no domínio da História, os materialistas anteriores a Marx não podiam, naturalmente, interpretar cientificamente as leis da origem e do desenvolvimento da consciência humana, não podiam dar uma solução materialista ao problema da relação entre a consciência social e o ser social.

Marx afirma na conclusão das Teses Sobre Feuerbach:

“Os filósofos só cuidaram de interpretar o mundo de diferentes maneiras, mas trata-se de transformá-lo."(9)

Por isso, o materialismo filosófico marxista não é nem pode ser uma simples continuação do velho materialismo. .

Muitos dos velhos materialistas se perderam quer no hilozoísmo (atribuição da sensibilidade a toda a matéria)(10) quer no materialismo vulgar. Os materialistas vulgares não veem nenhuma diferença entre a consciência como propriedade da matéria e os restantes atributos da matéria, e consideram a consciência como uma emanação especial, uma secreção do cérebro. Os erros dos velhos materialistas eram inevitáveis, porque eles não estavam em condições de resolver cientificamente o problema da consciência como produto da matéria.

Ao contrário deles, o materialismo filosófico marxista afirma que a consciência não é uma propriedade de toda a matéria, mas somente da matéria altamente organizada e organizada de maneira particular. A consciência é uma propriedade apenas da matéria viva biologicamente organizada, propriedade que surge e se desenvolve à medida que surge e se aperfeiçoam as formas vivas.

Na obra Anarquismo ou Socialismo?, J. V. Stálin afirma:

"é falsa a concepção segundo a qual o aspecto ideal e, em geral, a consciência, precede em seu desenvolvimento ao desenvolvimento do aspecto material, Quando não havia ainda seres vivos, já existia a chamada natureza exterior ‘não viva'. O primeiro ser vivo não possuía consciência alguma, possuía somente a propriedade da irritabilidade e os primeiros rudimentos da sensação. Depois se foi desenvolvendo, gradativamente, nos animais, a capacidade da sensação, passando lentamente a ser consciência, em consonância com o desenvolvimento da estrutura de seu organismo e do sistema nervoso."(11)

O camarada Stálin também critica como inconsistente o ponto de vista dos materialistas vulgares que identificam a consciência com a matéria. Escreve ele:

"(...) a ideia de que a consciência é a forma do ser não quer dizer de modo algum que a consciência seja, por natureza, a própria matéria. Assim pensavam somente os materialistas vulgares (por exemplo: Büchner e Moleschott), cujas teorias estão em contradição radical com o materialismo de Marx, aos quais Engels, com justeza, pôs em ridículo em seu Ludwig Feuerbach.”(12)

A consciência é uma propriedade particular da matéria, a propriedade de refletir as coisas exteriores e suas relações mútuas no cérebro do homem. A consciência social, por sua vez, é um produto do ser social.

Embora nem toda a natureza possua consciência, isso de forma alguma significa que esta última seja uma propriedade casual na natureza. Generalizando os dados das ciências naturais e baseando-se neles, <o materialismo filosófico marxista afirma que a consciência é um resultado inteiramente regular e, em determinadas condições, inevitável do desenvolvimento das formas da matéria. Isso porque a possibilidade da sensação da consciência, está contida no próprio fundamento da matéria como sua propriedade potencial inseparável.

Referindo-se ao desenvolvimento eterno, irresistível e inesgotável da matéria, ao aparecimento e ao desaparecimento de algumas de suas formas e sua substituição por outras, inclusive à possibilidade de a natureza infinita dar origem e fim aos seres vivos e pensantes, Engels escreve:

"(...) qualquer que seja o número dos milhões de sóis e de terras que surgem e desaparecem; por maior que fosse o tempo necessário a que, num sistema solar, se formassem as condições para a vida orgânica, mesmo que num só planeta; por mais numerosos que sejam os seres orgânicos que devem surgir e perecer antes que de seu seio saiam animais com um cérebro capaz de pensar, encontrando por um curto prazo condições próprias à sua vida, para depois serem também aniquilados sem compaixãotemos a certeza de que, em todas as suas transformações, a matéria permanece eternamente a mesma, que nenhum dos seus atributos nunca poderá perder-se, e que, por conseguinte, se ela deve na terra exterminar um dia, com uma necessidade férrea, sua floração suprema, o espírito pensante, é preciso que, com a mesma necessidade, em algum lugar e em outra ocasião, ela o reproduza."(13)

O materialismo filosófico marxista varre de seu caminho as absurdas suposições dos obscurantistas a respeito da "imortalidade da alma”, do "mundo de além-túmulo”, etc., e, apoiando-se nos firmes dados da ciência e da prática, revela as leis reais da origem material da consciência — as leis das eternas transformações de umas formas da matéria em outras, inclusive das transformações da matéria inanimada em matéria viva, e vice-versa.

Nos simples corpos minerais, evidentemente, não há irritabilidade, não há sensação. No entanto, também neles já existe a possibilidade de que, sob a condição de uma organização qualitativamente diferente da matéria (corpo vivo), surjam as formas biológicas que refletem o mundo exterior. Onde surge a albumina viva, surge também, de modo natural e inevitável, a irritabilidade e, posteriormente, a sensação.

O mesmo se deve dizer do aparecimento da consciência humana. Em comparação com a capacidade intelectual dos próprios animais superiores, a consciência é uma propriedade qualitativamente nova e de ordem superior, inexistente no mundo animal. Seu aparecimento baseia-se, porém, nas premissas biológicas preparatórias que se formam através de prolongado progresso histórico-natural das espécies animais e de sua organização nervosa superior.

A consciência é um atributo da matéria. V. I. Lênin afirma:

"(...) a oposição entre a matéria e a consciência só tem significação absoluta dentro de Imites muito restritos, no caso, exclusivamente dentro dos limites da questão gnosiológica fundamental: o que se deve considerar como primário, o que se deve considerar como secundário. Além desses limites, a relatividade dessa oposição está fora de dúvida.”(14)

Em seu trabalho Anarquismo ou Socialismo?, J. V. Stálin frisa o mesmo pensamento, referindo-se à natureza una e indivisível que se expressa em duas formas, a material e a ideal.

Nos Cadernos Filosóficos, V. I. Lênin observa novamente que

"a diferença entre o ideal e o material também não é incondicional e taxativa."(15)

Além dos limites da questão gnosiológica fundamental, o material e o ideal apresentam-se como formas diferentes de manifestação da natureza una e indivisível. A consciência humana existe realmente. Desenvolve-se historicamente no espaço e no tempo, por intermédio dos milhões e milhões de inteligências das gerações que se sucedem. A consciência do indivíduo é tão acessível à pesquisa científico-natural como qualquer outra propriedade da matéria em movimento. O grande mérito de Ivan Petróvitch Pávlov está em que ele, pela primeira vez na história da ciência, descobriu e elaborou o método objetivo (científico-natural) de estudo dos fenômenos psíquicos.

Seria errado afirmar que a consciência é algo que está fora do tempo e fora do espaço. Nas obras dos clássicos do marxismo-leninismo, em parte alguma se encontra tal caracterização da consciência. E isso não é casual, porque todas as formas da matéria e literalmente todas as suas propriedades, inclusive a consciência, encontram-se e desenvolvem-se no tempo e no espaço, porque a própria matéria existe, só pode existir, no tempo e no espaço.

Ao mesmo tempo, porém, a consciência não é, absolutamente, uma "secreção” qualquer, um "suco”, uma "exalação”, como pensam os materialistas vulgares. Onde está, então, a diferença de princípios entre a matéria e a consciência? Em poucas palavras, a diferença está no seguinte:

Qualquer substância, qualquer outra forma de matéria, encerra em si mesma seu conteúdo material: o conteúdo molecular, o conteúdo atômico ou o conteúdo eletromagnético, que se pode, por assim dizer, medir e pesar. Ao contrário, o conteúdo material da consciência não se encontra na própria consciência, mas fora dela — no mundo exterior que é refletido pela consciência. Assim, a consciência não tem outro conteúdo senão o mundo que está fora dela, independe dela e que ela reflete.

A esse respeito, V. I. Lênin criticou José Dietzgen, não porque ele reconhecesse na consciência uma propriedade da matéria, mas porque Dietzgen, utilizando uma terminologia pouco precisa, escamoteava a diferença entre o material e o ideal no domínio da questão gnosiológica fundamental, ao declarar que a diferença entre a mesa na consciência e a mesa na realidade não é maior do que a diferença entre duas mesas reais. Isso já representava uma concessão direta aos idealistas que pretendem justamente fazer passar por realidade os produtos da própria consciência.

Na verdade, a representação do objeto e o próprio objeto não são dois objetos igualmente reais. A representação do objeto é apenas a imagem mental do objeto real, não é material, mas ideal. O conteúdo objetivo do pensamento não está no próprio pensamento, mas fora dele.

Evidentemente, a consciência se acha ligada, unida, a deter- m:nados movimentos bioquímicos, fisiológicos (inclusive eletromagnéticos), que se passam no cérebro. A fisiologia moderna verificou, por exemplo, que no momento em que a consciência do homem não está tensa, mas se encontra em estado de quietude (repouso), verificam-se no cérebro vibrações eletromagnéticas uniformes (vibrações de onda alfa, cuja frequência corresponde a dez vibrações por segundo). Logo, porém, que começa um trabalho intelectual intenso, a solução de um problema matemático, por exemplo, surgem no cérebro vibrações eletromagnéticas extremamente rápidas. Cessado o trabalho intelectual, cessam também essas rápidas vibrações. Restabelece-se novamente a vibração-alfa uniforme.

Daí se conclui que o pensamento se acha ligado a determinadas tensões eletromagnéticas que se verificam no tecido cerebral. Entretanto, nesse caso, o conteúdo do pensamento não são esses movimentos eletromagnéticos que se processam no cérebro. Esses movimentos representam apenas uma condição para o processo de pensamento. O conteúdo do pensamento é o problema que o cérebro resolve. E no problema matemático estão justamente refletidas as formas de relações mútuas entre coisas e fenômenos que se encontram fora da consciência, no mundo exterior.

Nisso consiste o caráter específico da consciência como atributo da matéria. Essa diferença entre a matéria e a consciência não é absoluta, não é taxativa, porém. Ela só é admissível e obrigatória dentro dos limites da questão fundamental da filosofia. Além desses limites, a matéria, como primária, e a consciência, como secundária, manifestam-se como dois aspectos da natureza una e indivisível.

V. I. Lênin afirma que

"o quadro do mundo é o quadro de como a matéria se movimenta e de como ‘a matéria pensa'."

Os Dados Científicos Sobre o Surgimento da Consciência como Atributo da Matéria

Para os idealistas, o problema da origem da consciência é um enigma insolúvel por princípio. Os idealistas não têm possibilidade de resolver e nem mesmo de propor de maneira justa essa questão. Contornando a proposição direta do problema da relação entre o pensamento e o ser, os idealistas modernos "desejam”, em suas teorias filosóficas, permanecer apenas "dentro dos limites da experiência” (isto é, da interpretação subjetiva e idealista da experiência, como cadeia de sensações, de ideias, etc.). Por isso, de fato nada absolutamente podem dizer sobre a origem da consciência, além da tautologia sem sentido de que a consciência é a consciência.

(Se, evidentemente, não se levar em conta o apelo mais ou menos dissimulado ao sobrenatural.) Nisso consiste sua "profunda sabedoria”.

Ao contrário, o materialismo, e particularmente o materialismo filosófico marxista, ao enfrentar a questão da origem da consciência, apela abertamente para as ciências naturais de vanguarda, que estudam em minúcia e experimentalmente as mais profundas propriedades da matéria inorgânica e orgânica.

O que nos diz concretamente a ciência do século XX a respeito da origem material da consciência? Nas modernas ciências naturais, essa questão se divide em dois problemas independentes, mas estreitamente relacionados entre si:

  1. o problema da origem do ser vivo a partir da natureza inanimada e
  2. o problema do aparecimento e desenvolvimento da irritabilidade, da sensibilidade e da consciência, com o desenvolvimento progressivo das formas biológicas.

Na realidade, se a sensação, a consciência, é, em geral, uma propriedade exclusiva da matéria altamente organizada e organizada de maneira particular (matéria viva), o problema da origem material da consciência, repousa, antes de tudo, na questão da origem do ser vivo a partir da natureza inanimada, no problema da origem da vida.

Devemos desde logo ressaltar, com legítimo orgulho, que, em nossa época, é a ciência russa e depois soviética que — graças às suas grandes descobertas da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX, descobertas que deram início a diversos novos ramos científicos e que elevaram o conjunto das ciências naturais a novo nível — fornece os dados mais abundantes para a solução prática e científica do problema multissecular da origem da vida e da transformação da matéria inanimada em matéria sensível.

Continuando a orientação de Mendelêiev e Butlerov, os sábios soviéticos muito avançaram no estudo da química orgânica, das conexões mútuas e das transformações recíprocas entre a natureza orgânica e inorgânica. As descobertas de V. I. Vernádski, no campo da geobioquímica, as descobertas de N. D. Zelínski e de seus discípulos, de A. N. Bach, A. I. Opárin e seus discípulos, as conquistas alcançadas pelos institutos de pesquisas científicas de Moscou, Leningrado e de outros centros científicos no setor da química das albuminas. e da bioquímica, inclusive a obtenção artificial de albuminas (provenientes dos produtos da ressíntese), a descoberta de algumas propriedades biológicas (por exemplo, as propriedades da imunização e da fermentação) — tudo isso lança brilhante luz sobre o problema, da origem dos seres vivos a partir da natureza inanimada.

Por sua vez, as grandes conquistas alcançadas pela biologia materialista russa e depois soviética, os trabalhos de K. A. Timiriázev, I. V. Mitchúrin, N. F. Gamáleim, O. B. Lepechinskaia, T. D. Lissenko e outros eminentes biólogos e micro-biologistas; os trabalhos de I. M. Sétchenov, I. P. Pávlov e seus seguidores, também comprovam, de maneira irrefutável, a origem da matéria sensível a partir da matéria insensível, confirmando as inabaláveis teses do materialismo filosófico marxista.

★ ★ ★

As modernas ciências naturais atacam sob dois aspectos a solução do problema da origem dos seres vivos a partir dos seres inanimados, da essência da vida como processo material dê natureza bioquímica definida. Um aspecto é o da química, da geoquímica e da bioquímica, segundo o ponto de vista da análise das leis da transformação das substâncias inorgânicas em orgânicas, das leis da síntese de combinações orgânicas cada vez mais complexas até à formação das albuminas (sendo que o ser vivo surge em determinado grau de complexidade das albuminas), segundo o ponto de vista do esclarecimento da essência das reações bioquímicas iniciais. Ao contrário, o segundo aspecto é o da biologia teórica, da citologia e da microbiologia, que atacam o mesmo problema segundo o ponto de vista do estudo das próprias formas vivas, começando pelas manifestações superiores da vida e terminando pelas inferiores e mais elementares. Assim, os diferentes ramos das modernas ciências naturais, alguns dos quais procedem da natureza inanimada para a viva, enquanto outros procedem das formas vivas para a natureza inanimada, combinam-se, em seus pontos de convergência, para o estudo da origem e da essência da assimilação e da desassimilação — para o estudo do processo biológico do metabolismo.

Generalizando os dados da ciência de sua época, F. Engels escreveu no Anti-Dühring, há três quartos de século:

"A vida é o modo de existência dos corpos albuminoides; e esse modo de existência consiste, essencialmente, em que esses próprios corpos constantemente renovam os elementos químicos de que são constituídos.”

"A vida, o modo de existência dos corpos albuminoides, consiste, portanto, antes de tudo em que o corpo albuminoide em cada momento dado é ele mesmo e ao mesmo tempo outro, e isso é assim não em virtude de qualquer ação de fora, a que fosse submetido, como acontece com os corpos não vivos. A vida, ao contrário, a troca de substâncias que se verifica por meio da nutrição e da eliminação, é um processo que se verifica. por si mesmo, que é inerente e inato a seu veículo, a albumina, sem o qual não pode haver vida. Disso se segue que se a química conseguir algum dia produzir artificialmente a albumina, essa albumina deverá necessariamente manifestar fenômenos vitais, por mais fracos que sejam.”(16)

O desenvolvimento posterior das ciências naturais de vanguarda confirmou inteiramente a genial definição de Engels sobre a essência da vida e seu prognóstico sobre a possibilidade de sintetizar artificialmente os corpos albuminoides, inclusive os que possuem os primeiros sintomas do ser vivo.

Os dados da moderna ciência de vanguarda sobre a essência e origem da vida podem ser reduzidos aos seguintes: A vida não é um fenômeno casual na Terra. O conjunto de todos os seres vivos da Terra, conjunto que se denomina biosfera, é um produto necessário do desenvolvimento geoquímico da superfície de nosso planeta. A biosfera continua a representar um papel essencial, extraordinariamente importante, em todos os processos geoquímicos da crosta terrestre, determinando o caráter da formação das espécies, da formação do solo, da composição da atmosfera e em geral da distribuição dos elementos químicos nas camadas superiores da crosta terrestre, na hidrosfera e na atmosfera.

"Do ponto de vista geoquímico, os organismos vivos não são um fato casual no quimismo da crosta terrestre; formam sua parte mais essencial e inseparável. Acham-se indissoluvelmente ligados à matéria inanimada da crosta terrestre, aos minerais e às rochas (...) Os grandes biólogos há muito reconheceram a ligação indissolúvel que prende o organismo à natureza que o cerca.”(17)

Deixando de lado algumas conclusões filosóficas absolutamente erradas a que chegou o eminente sábio russo V. I. Vernádski, fundador da geobioquímica, é necessário ressaltar com, todo vigor que seus trabalhos sobre a geoquímica e a biosfera contêm generalizações e descobertas científico-naturais extremamente importantes e valiosas para a compreensão materialista da origem da vida na Terra.

O ser vivo é formado pelos mesmos elementos químicos que constituem a parte restante, mineral, da natureza. Na composição do corpo vivo organizado, entram quase todos os elementos químicos, inclusive os radioativos, do sistema periódico de Mendelêiev, uns, em maiores, outros, em menores proporções. Mas, por menor que seja a quantidade com que certos elementos químicos participam da composição do protoplasma (sua presença nos organismos só é revelada pela análise espectral), ainda assim seu papel é essencial à atividade vital da albumina e sua ausência provoca a morte do organismo.(18)

V. T. Vernádski afirma que, do ponto de vista geoquímico, a substância viva é uma substância oxigenada e rica em hidrogênio e em carbono. A importância do carbono para os organismos não é determinada, porém, pela sua quantidade, mas pelas suas extraordinárias propriedades químicas, que abrem possibilidades ilimitadas para a associação química, eixo de todas as complicações subsequentes no desenvolvimento da molécula orgânica.

O organismo vivo constitui seu corpo com as substâncias da matéria inanimada. K. A. Timiriázev demonstra em seus trabalhos que no laboratório natural que é a folha verde da planta se verifica a primeira transformação da substância inorgânica na substância orgânica que constitui a base da alimentação de todas as subsequentes formas de vida na Terra. K. A. Timiriázev demonstrou que tanto a fotossíntese orgânica como em geral todos os processos bioquímicos dos organismos estão estritamente subordinados às imutáveis leis do universo: às leis da conservação e da transformação da matéria e da energia.

K. A. Timiriázev afirma:

"Da mesma forma que nenhum átomo de carbono é criado pela planta, mas penetra nesta vindo de fora, assim também nenhuma unidade de calor, libertada pela matéria vegeta’ na combustão, é criada pela vida, mas tomada emprestada, em última instância, do sol."

"(...) A lei da conservação da energia se justifica em geral em relação aos organismos animais e vegetais, explicando-nos o vínculo que existe entre a atividade do organismo e o dispêndio de sua substância."(19)

A química, a bioquímica e a biologia provam experimentalmente que no organismo não há nenhuma força mística particular, inventada pelos idealistas ("enteléquia”, "alma”, "força vital”, etc.), e que pretensamente "dá vida” à "matéria inerte”. Todas as propriedades do ser vivo, inclusive os mais profundos processos do metabolismo, decorrem da própria complexidade interna e do caráter contraditório da matéria viva. Todo organismo é uma condensação, formada natural e historicamente, das condições exteriores. Em todas as suas fases, os organismos desenvolvem-se em indissolúvel unidade com essas condições materiais.

Diante de nossos olhos, por assim dizer, verifica-se um incessante processo químico de intercâmbio de substâncias entre a natureza viva e a natureza inanimada. Depois de certo tempo, verifica-se de fato a total renovação da composição material do organismo. As substâncias químicas que constituem o corpo vivo (e cada molécula da albumina viva) atrofiam-se e se separam do organismo, enquanto as novas combinações químicas que provêm do meio exterior, transformando-se em tecidos do organismo, adquirem todas as propriedades da matéria viva.

O acadêmico T. D. Lissenko afirma:

"Todo corpo vivo constrói-se a si mesmo com o material inanimado, em outras palavras, com o alimento, com as condições do meio exterior (...) O corpo vivo é constituído de diferentes elementos do meio exterior, que se transformam em elementos do corpo vivo.”(20)

Nesse sentido, é importante ressaltar que a matéria inanimada, sendo assimilada pelo organismo e transformando-se, assim, em matéria viva, não só reproduz integralmente todas as propriedades da substância viva, cujo lugar vem ocupar, mas também origina, além disso, propriedades biológicas novas, mais elevadas, graças ao que a vida se processa tanto no plano do desenvolvimento gradual do indivíduo, como no plano geral da filogênese.

Definido como naturalista a essência da vida, a diferença entre o ser vivo e o ser inanimado, K. A. Timiriázev confirma inteiramente o pensamento de Engels.

O grande sábio materialista russo escreve:

"A propriedade básica que caracteriza os organismos e que os distingue dos não-organismos é a constante e ativa troca de substâncias com o meio ambiente. O organismo constantemente ingere substâncias, as transforma em elemento idêntico a si mesmo (assimila), torna a modificá-las e as elimina. A vida da mais simples célula,da partícula de protoplasma —, a existência do organismo é formada por essas duas transformações: absorção e acumulaçãoeliminação e dispêndio de substâncias. Ao contrário, a existência de um cristal só é concebível na ausência de quaisquer transformações, na ausência de qualquer troca entre sua substância e as substâncias do meio."(21)

"Na partícula de substância albuminoide está potencialmente contido todo o variado quimismo do corpo vivo."(22)

Combatendo os vitalistas, os neovitalistas e outros cientistas idealistas, K, A. Timiriázev demonstra com fatos e à base de uma rica documentação experimental, que na bioquímica do corpo vivo nada há senão matéria, senão "natureza”, que se desenvolve segundo as leis da própria natureza.

Expulsos do campo da interpretação dos processos fisiológicos básicos, os biólogos idealistas tentaram transplantar seus artifícios para a interpretação da natureza da hereditariedade e de sua varabilidade. Entretanto, o idealismo foi também derrotado completamente nesse campo de batalha.

Em luta intensa contra a genética idealista, weismannista-morganista, K. A. Timiriázev, I. V. Mitchúrin e T. D. Lissenko demonstraram, de maneira profunda e sob todos os aspectos, que no organismo não existe nenhuma "substância hereditária” diferente do corpo e pretensamente imortal. As leis da hereditariedade e de sua variabilidade também têm uma natureza perfeitamente compreensível, material, constituída integralmente pelas relações mútuas entre o organismo e o meio. Procurar no organismo qualquer "substância hereditária” especial equivale a procurar nele uma "alma”, ou uma "força vital” independente do corpo do organismo.

O fato de que, multiplicando-se, os indivíduos reproduzem organismos idênticos a si mesmos não é de forma alguma provocado por quaisquer "determinantes da hereditariedade”, sobrenaturais e particulares, mas pelas leis dialéticas da conexão mútua e interdependência entre todas as partes do corpo vivo — entre os átomos e suas combinações na molécula da albumina viva, entre as moléculas no protoplasma e na célula, entre as células nos tecidos, entre os tecidos nos órgãos e entre os órgãos no organismo.

Reproduzindo-se a partir da célula sexual ou da gema vegetativa, como se "passasse por uma regeneração, o organismo desenvolve todas as suas propriedades potenciais de acordo com a lei da conexão mútua e interdependência entre as moléculas, células, tecidos, etc.

O acadêmico T. D. Lissenko escreve:

"Expressando-nos em sentido figurado, o desenvolvimento do organismo é um destorcimento, por dentro, de uma espiral torcida na geração precedente."(23)

Essas são as conclusões das modernas ciências naturais avançadas, que, de maneira consequentemente materialista, consideram a vida como uma das formas do movimento da matéria.

As modernas ciências naturais de vanguarda (astronomia, física, química, biologia) desmascaram completamente as teorias idealistas sobre a "eternidade da vida”, a "panspermia”, etc.

A vida na terra tem origem terrestre, é resultado de uma síntese natural, que se processou com extrema lentidão, de substâncias orgânicas sempre mais e mais complexas. Nos outros planetas do sistema solar(24), bem como nos planetas de outras estreias, em toda parte, a vida só pode resultar do desenvolvimento da matéria no referido planeta, porque o ser vivo é inseparável das condições de sua existência e só é concebível como produto do desenvolvimento dessas próprias condições.

No livro do acadêmico A. I. Opárin, Origem da Vida na Terra, publicado pela primeira vez em 1936, que generaliza do ponto de vista do materialismo as conquistas da ciência na URSS e no estrangeiro, estão indicados os estágios básicos da possível síntese orgânica natural, desde, as primeiras combinações de hidrocarbonatos até as albuminas capazes de se precipitarem em soluções com a forma de diversos sedimentos coloidais, que posteriormente puderam evoluir, transformando-se em substância viva. E claro que o desenvolvimento posterior da cosmogonia, da geologia, da química, da biologia inevitavelmente modificará essa compreensão, tornando mais precisas as concepções científico-naturais sobre os elos concretos do quadro geral da origem primeira do ser Vivo a partir do ser inanimado. Todavia, por mais que se modifiquem certas conclusões científico-naturais, uma coisa permanece invariável: o fato de que o ser vivo, orgânico, originou-se e continua a originar-se da natureza inorgânica, inanimada, de acordo com as leis do desenvolvimento da própria matéria.

O aparecimento da vida assinalou um grandioso salto qualitativo, uma reviravolta no desenvolvimento da matéria na Terra. A brusca reviravolta no desenvolvimento da matéria significa no caso, em última instância, que os processos químicos se transformam em bioquímicos, os quais sé distinguem, exatamente, por um novo tipo de associação e dissociação química que se processa na própria molécula orgânica.

A combinação química inanimada é um sistema fechado, no qual todos os vínculos de valência e outros são comumente substituíveis e correlacionados entre si. Isso empresta à molécula a estabilidade própria do equilíbrio. A estabilidade da molécula inanimada, o caráter estacionário de sua composição química, é alcançado pela sua relativa inercia em relação aos corpos que a rodeiam (logo que uma tal molécula entra em reação, modifica sua composição química, o que dá origem a outra combinação).

Ao contrário, a estabilidade da molécula viva é alcançada pelo fato de que sempre realiza a auto-renovação de sua composição química por meio da ininterrupta assimilação de novos e novos átomos e de seus grupos provenientes do meio exterior e por meio da eliminação dos mesmos para o exterior (desassimilação). Do mesmo modo que a forma aparentemente estável do jorro de uma fonte ou da chama de uma vela é determinada pela rápida passagem de partículas através dessas formas, a relativa estabilidade, a constância da composição química da molécula da albumina viva resulta de nela (molécula) se processar um movimento ininterrupto e regular de determinadas partículas químicas, absorvidas do exterior e expelidas para o exterior. Daí decorre a brusca dissimetria que se pode observar na molécula da albumina viva: é que ela, por um lado, está, por assim dizer, combinando-se continuamente e, por outro lado, está constantemente em processo de dissociação.

Não podemos concordar com a afirmação de que o protoplasma vivo é formado de moléculas inanimadas. A essência da vida, a troca de substâncias, regida por leis, determina o caráter das relações químicas (associação e dissociação) dentro da própria molécula da albumina viva. Será mais exato afirmar que o próprio metabolismo, que é uma unidade da assimilação e da desassimilação, decorre de um tipo qualitativamente novo de associação e dissociação química que se forma na molécula viva da albumina, em oposição às combinações químicas inanimadas.

A molécula da albumina viva é uma formação química extremamente Complexa, constituída de muitas dezenas de milhares de átomos, onde encontramos a maioria dos elementos do sistema periódico de Mendelêiev. Segundo dados atuais, da composição molecular da albumina viva chegam a participar até 50 mil diferentes aminoácidos. Esses próprios amino- ácidos são extremamente variados. O peso molecular dessa combinação química atinge de dois a três milhões. Segundo a teoria de N. I. Gavrílov e N. D. Zelínski, a molécula de albumina, extremamente volumosa (macromolécula), é formada de várias partículas (micromoléculas) menos volumosas, mas por sua vez extremamente complexas. Dentro dessa estrutura, surgem novas e novas formas de conexões químicas, que, em comparação com as conexões iniciais, covalentes ou iônicas, se distinguem por uma flexibilidade cada vez maior, pela instabilidade e pela mobilidade. O conjunto desse sistema molecular adquire, em última instância, um caráter extremamente imóvel, instável.

É por isso que as moléculas albuminoides, como nenhuma, outra combinação química, possuem a capacidade de se combinarem em associações cada vez maiores, em agregados cada vez mais complexos, tanto entre si mesmas, como com outras combinações orgânicas e inorgânicas. A estrutura físico-química dessa substância tem todas as propriedades que são inerentes aos cristais líquidos: o movimento, o crescimento, a gemação, a constituição de formas mais volumosas, peculiares às combinações cristaloides colocadas num meio adequado. A albumina viva adquire atividade fermentativa, acelerando e autorregulando a corrente dos processos bioquímicos.

A estabilidade relativa do sistema móvel da molécula viva só é mantida pelo fato de que ela, por meio da sequência regular de determinadas reações, de um lado, ininterruptamente e a cada instante acrescenta a si mesma novas e novas substâncias químicas e, por outro lado, expele substâncias químicas para o exterior.

Daí a particularidade qualitativa que diferencia a combinação química viva da inanimada consistir, também, em que a albumina viva só pode manter-se aproximadamente o que é, porque existem os correspondentes materiais químicos e condições energéticas necessários à albumina, que permite sua ininterrupta passagem através de si, com o que são mantidos a relativa constância da composição química dos elementos e um nível energético determinado de suas moléculas.

É esse o tipo qualitativamente novo de associação e dissociação química cujo surgimento na história da evolução química da Terra significou a transformação da albumina inanimada em substância viva.

À medida em que se foi tornando mais complexa a estrutura interna da substância viva (surgimento de formas pré- celulares, da célula biológica, de organismos pluricelulares, etc.) complicaram-se os processos bioquímicos do metabolismo. Papel cada vez maior adquiriu a regulação enzimática e depois a regulação nervosa desses processos. Todavia, por mais que esses processos se tornassem complexos e por mais que se elevasse o papel dos enzimas e do sistema nervoso no organismo, o vivo tem suas raízes nas características específicas internas da organização química da própria molécula da albumina viva, o que provoca sua incessante auto-renovação.

Se "a matéria viva que não tem forma celular é capaz de metabolismo, se ela se desenvolve, cresce e se multiplica” (25) não há dúvida de que cada molécula desse corpo da natureza possui suas próprias leis de assimilação e desassimilação.

O. B. Lepechínskaia afirma:

''A matéria viva começa com a molécula, albuminoide, capaz de metabolismo, sendo que essa molécula, conservando-se e desenvolvendo-se, dá origem a novas formas, cresce e se multiplica.’’(26)

As grandes descobertas de O. B. Lepechínskaia no domínio do estudo do papel que desempenha no organismo a substância viva inicial, sem estrutura celular, indubitavelmente nos convencem de que a vida realmente começa com a molécula da albumina.

Comprovam isso, de maneira particularmente evidente, as descobertas da ciência soviética sobre os vírus que são, evidentemente, as formas liminares da vida, situadas nos limites entre o vivo e o inanimado. As formas mais minúsculas dos vírus não são mais do que moléculas da albumina e em seguida agregados de moléculas albuminoides, formando toda uma escala de transições para o mundo das bactérias e dos organismos unicelulares.

K. S. Súkov, um dos eminentes especialistas soviéticos em vírus, afirma:

"A autorreprodução das partículas virulentas significa que têm capacidade de assimilação e é essa uma qualidade que as distingue, quanto aos princípios, dos corpos da natureza inanimada. Ao mesmo tempo, graças à simplicidade de sua organização, os vírus conservam várias propriedades que os aproximam extremamente das substâncias moleculares. Aí se incluem sua capacidade de cristalizar-se e sua reatibilidade química."

A seguir, K. S. Súkov escreve:

"Nessa fase do desenvolvimento da matéria viva, a vida é reversível, podendo cessar inteiramente e renovar-se de acordo com as condições ambientes.”(27)

Em outros termos, a molécula da albumina virulenta, evidentemente, pode passar (conforme as condições existentes) de um tipo aberto e móvel de associação e dissociação química dos átomos, próprio do sistema vivo, a um outro tipo, internamente fechado e estacionário, próprio do sistema da combinação química inanimada. São essas as transições naturais da química para a bioquímica, das formas inanimadas de matéria às formas vivas, descobertas na natureza pelos cientistas soviéticos.

A abundante documentação conseguida pelas ciências naturais de vanguarda do século XX demonstra e confirma amplamente a verdade do materialismo filosófico marxista com respeito à unidade de todas as formas de movimento da matéria e a verdade de que a matéria viva e sensível provém da matéria inanimada e insensível.

★ ★ ★

Defendendo o materialismo contra os ataques dos machistas e desenvolvendo e aprofundando a concepção marxista do mundo, V. I. Lênin afirma, em sua obra Materialismo e Empirocriticismo, que as ciências naturais ainda têm que realizar a grande tarefa de explicar de maneira concreta e experimental como a matéria sensível provém da matéria insensível.

V. I. Lênin afirma:

”(...) ainda falta muito por estudar no processo graças ao qual a matéria que parece inteiramente privada de sensibilidade se liga a Uma outra matéria, constituída dos mesmos átomos (ou elétrons), mas dotada dá faculdade muito claramente expressa de sentir. O materialismo postula claramente esse problema ainda por resolver, estimulando assim sua solução e novas pesquisas experimentais."(28)

E, realmente, as ciências naturais durante muito tempo não puderam dar uma resposta científica ao problema da origem material da consciência, da natureza da sensação e da Consciência. Se a astronomia, a partir da época de Copérnico e Galileu, acabou com ás concepções de Aristóteles e de Ptolomeu sobre o movimento dos corpos celestes, se a química, desde Lomonóssov e Dalton, abandonou as teorias alquimistas e flogísticas, já a ciência dos fenômenos psíquicos antes de Sétchenov e Pávlov, continuava a vegetar no nível das hipóteses anticientíficas da filosofia da natureza.

I. P. Pávlov assevera:

"Pode-se afirmar com justeza que a marcha irreprimível das ciências naturais desde Galileu sofreu pela primeira vez uma longa parada diante do estudo do segmento superior do cérebro, ou, de um modo mais geral, diante dos órgãos das mais complexas redações entre os animais s o mundo exterior. Parece que essa parada não foi fortuita, que tínhamos realmente atingido o ponto crítico das ciências naturais, porque o cérebrocuia formação superior o cérebro humano, criava e cria as ciências naturais -— se tornara ele próprio objeto de estudo para as ciências.”(29)

Enquanto os naturalistas estudavam, por assim dizer, as formas ponderáveis, sensíveis, dá matéria e do movimento, procediam de acordo com os métodos perfeitamente científicos de tratamento objetivo, materialista, dos fenômenos, reduzindo-os às leis fundamentais da natureza — as leis da conservação e da transformação da matéria e do movimento. Mas, no domínio dos fenômenos psíquicos, os naturalistas ficavam num beco sem saída e, abandonando o campo da ciência, entregavam-se às arbitrárias conjeturas da filosofia da natureza. I. P. Pávlov afirma que

"nesse ponto o fisiólogo abandonava uma posição firmemente científica (...), empreendendo a tarefa ingrata de conjeturar a respeito do mundo interior dos animais.”(30)

Evidentemente, o materialismo filosófico há muito resolveu esse problema, afirmando o caráter primário da' matéria e secundário da consciência como propriedade que é da matéria altamente organizada. Isso, porém, somente de forma teórica geral. Realmente, as ciências naturais ainda não haviam penetrado nesse setor com seus métodos de estudo experimental, fato que era aproveitado pelo idealismo, que se sentia quase senhor nessa esfera.

I. M. Sétchenov foi o primeiro a indicar às ciências naturais os meios básicos para o assalto à última fortaleza que se antepunha à ciência, o cérebro. I. P. Pávlov realizou essa conquista. Hoje, após as grandes descobertas de I. P. Pávlov, também estão esclarecidas as leis científicas básicas no domínio da vida psíquica dos animais e do homem. Provou-se que o cérebro é o laboratório material da vida espiritual. I. P. Pávlov afirma:

"E nisso o mérito é todo e indiscutivelmente russo na ciência universal, no pensamento humano em geral.”(31)

As grandes descobertas de Sétchenov e Pávlov vibraram um golpe esmagador em todos os sistemas de "filosofia sem cérebro” e de "psicologia sem cérebro”. O idealismo foi expulso também desse seu último refúgio.

Referindo-se à importância teórica dos êxitos alcançados pela ciência da fisiologia e tendo em vista sobretudo a importância das descobertas de Pávlov, V. M. Molotov afirmou na recepção oferecida no Kremlin aos participantes do XV Congresso Internacional de Fisiólogos:

"A moderna fisiologia. materialista por sua base, penetrando cada vez mais profundamente na essência dos processos vitais do organismo humano, nos processos vitais dos animais e das plantas, realiza juntamente com o desenvolvimento das demais ciências, um grande trabalho de libertação do desenvolvimento intelectual do homem, livrando-o de todo o bolor da mistica e das sobrevivências religiosas."(32)

Com sua doutrina da atividade nervosa superior, I. P. Pávlov forneceu uma profunda fundamentação científica das teses básicas do materialismo filosófico marxista sobre o caráter primário da matéria e secundário da consciência, da consciência como propriedade da matéria, como reflexo da realidade no cérebro, e do cérebro como órgão material da consciência .

Realizando uma revolução na ciência dos fenômenos psíquicos, I. P. Pávlov conseguiu os seguintes resultados:

  1. pela primeira vez na história da ciência, apresentou, fundamentou e elaborou o método objetivo, isto é, científico, de estudo dos fenômenos psíquicos;
  2. descobriu o reflexo condicionado e assim forneceu aos naturalistas um poderoso instrumento de pesquisa experimental das leis da psique, instrumento de penetração nos segredos do trabalho do cérebro;
  3. analisando o mecanismo do reflexo do mundo exterior no cérebro dos animais e do homem, estabeleceu três graus, três estágios da organização e da capacidade cognitiva (refletora) do sistema nervoso: a) o sistema dos reflexos condicionados (peculiares aos segmentos inferiores do cérebro e ao tecido não diferenciado dos animais desprovidos de sistema nervoso), caracterizado pela ligação através de um elemento condutor (isto é, ligação direta e invariável na base do contacto direto entre o corpo vivo e a excitação externa); b) o sistema da atividade condicional-refletora (grandes hemisférios cerebrais) — ligação fechada e móvel, comparada por Pávlov à ligação telefônica através do comutador, através da estação central. Em conjunto, esses dois estágios constituem o primeiro sistema de sinalização da atividade psíquica; c) o segundo sistema de sinalização é o mecanismo especificamente humano de reflexo da realidade no cérebro através da palavra articulada — por meio da palavra e dos conceitos, por meio da língua e do pensamento;
  4. revelou a estrutura da organização e da ação recíproca entre os centros da atividade nervosa superior e as leis básicas dos movimentos internos no tecido nervoso: a ação recíproca entre a excitação e a inibição, a irradiarão, e da concentrarão da excitação e da inibição, a indução recíproca desses processos, etc.;
  5. após revelar a dialética dos processos internos da atividade nervosa, explicou a natureza fisiológica dos fenômenos do sonho, da hipnose, das doenças mentais, e as particularidades dos temperamentos, expulsando, assim, o idealismo também desse domínio científico;
  6. com suas descobertas, lançou brilhante luz sobre os meios concretos pelos quais a matéria insensível se transforma em sensível sobre Os meios pelos quais se criaram as premissas biológicas para o surgimento da consciência humana;
  7. finalmente, com suas teses geniais a respeito das particularidades do segundo sistema de sinalização, apontou os meios para a descoberta pormenorizada da fisiologia do pensamento e das bases fisiológicas da interação entre a língua e o pensamento.

Analisando a vida como resultado regular do, desenvolvimento material da crosta terrestre, I. P. Pávlov procedeu ao esclarecimento decisivo de todas as manifestações da vida psíquica dos animais, partindo do ponto de vista da unidade, entre o organismo e o meio ambiente, da progressiva adaptação dos organismos às condições de sua existência, da unidade entre o ontogênese e filogênese no desenvolvimento das formas vivas. I. P. Pávlov demonstrou que toda atividade nervosa, a começar das primeiras manifestações da irritabilidade do protoplasma, se acha subordinada à função de adaptação do organismo às condições de existência e se apresenta como um meio para essa adaptação.

I. P. Pávlov afirma:

"é perfeitamente evidente que toda atividade do organismo deve ser regida por leis. Empregando a terminologia biológica, se o animal não estivesse exatamente adaptado ao meio ambiente, mais ou menos rapidamente, mais ou menos lentamente, deixaria de"existir. Sé o animal, ao invés de se dirigir para o alimento, dele se afastasse, e ao invés de fugir do fogo à ele se lançasse, etc., etc., seria, de uma ou outra forma, destruído. Assim, o animal' deve reagir em relação ao mundo exterior de tal modo que sua existência seja garantida por toda sua atividade.”(33)

Essas conclusões de Pávlov concordam inteiramente com as teses do materialismo filosófico marxista sobre a consciência,como propriedade de refletir.

Combatendo os machistas, V. I. Lênin afirma, no livro Materialismo e Empirocriticismo, que somente refletindo com veracidade a realidade exterior por meio do sistema nervoso, fica o animal em condições de assegurar a troca regular de substâncias entre o organismo e o meio. E o fato de que os, animais em geral se conduzem com acerto em suas condições, de vida, adaptando-se ao meio ambiente, atesta, de maneira convincente, que em geral os animais refletem fielmente os propriedades do mundo dos fenômenos que os cerca.

Determinando aos naturalistas a tarefa de pesquisar de que maneira se "processa' a passagem da matéria insensível à sensível, V. I. Lênin ao mesmo tempo forneceu indicações geniais a respeito da justa orientação que deve tomar o. pensamento dos cientistas para resolver, esse problema. Em dois trechos do livro Materialismo e Empirocriticismo, V. I. Lênin repete o pensamento de que se não pode afirmar que toda a matéria possui a propriedade da sensação, mas "no fundamento do próprio edifício da matéria” é lógico pressupor a existência de uma propriedade semelhante à Sensação, afim da sensação — a propriedade de refletir.(34)

Nas obras de Engels Anti-Dühring e Dialética da Natureza, há indicações perfeitamente claras no sentido de que uma propriedade qualitativamente nova, inerente apenas à matéria viva, — a propriedade da irritabilidade, da sensação — surge simultaneamente com a passagem da química à bioquímica, isto é, simultaneamente com o surgimento do metabolismo, e decorre do próprio processo de assimilação e dissimilação.

Engels afirma:

"Da troca de substâncias por meio da nutrição e da eliminação, considerada como função essencial da albumina, e da plasticidade que lhe é própria, decorrem todos os outros fatores mais simples da vida: a irritabilidade, que já implica a ação mútua entre a albumina e seu alimento; a contratilidade, que já se manifesta num grau extremamente baixo na absorção dos alimentos; a capacidade de crescimento, que, nos graus mais baixos, compreende a multiplicação por cissiparidade; o movimento interno, sem o qual não e possível nem a absorção nem a assimilação de alimento."(35)

Pesquisando a filosofia da irritabilidade da sensação I. P. Pávlov fornece uma profunda confirmação científica desses pensamentos de Engels e Lênin. Pávlov estabelece O elemento geral que nesse sentido torna afins a matéria sensível e a insensível e as liga entre si. Segundo Pávlov, o elemento geral consiste aí em que o corpo inanimado, da mesma forma que o corpo vivo, somente existe como indivíduo até que toda a estrutura de sua organização externa e interna permita-lhe contrapor-se às influências exercidas sobre ele por todo o meio ambiente. Isso, porque no mundo tudo se acha reciprocamente ligado, não há vazio absoluto, e todo o mundo restante exerce influência, por assim dizer, direta ou indiretamente, sobre cada corpo. E, não obstante, todo corpo de vez em quando se contrapõe a essa imensa influência que é exercida de fora sobre ele.

Os atos mecânicos, químicos, acústicos, ópticos e outros, pelos quais o corpo produz reflexos mortos, como se fossem em espelho, das influências exercidas sobre ele de fora, ajudam-no a manter sua forma até que esta se decomponha, até que se transmude em outras formas.

Assim se apresenta a questão para os corpos da natureza inanimada. Todas essas propriedades da matéria inanimada são também inerentes ao corpo vivo, porque é constituído dos mesmos átomos que os corpos físicos. I. P. Pávlov pergunta:

"Que se passa precisamente no fato da adaptação?"

E responde:

"Nada (...) além da ligação exata dos elementos de um sistema complexo, e em toda a sua complexidade, com o ambiente que o cerca.

Mas isso é exatamente o mesmo que se pode observar em qualquer corpo morto. Consideremos um corpo químico complexo. Esse corpo somente pode existir como tal graças ao equilíbrio dos átomos e de seus grupos entre si, e de todo esse complexo com as condições ambientes.

Exatamente da mesma forma, a grandiosa complexidade tanto dos organismos, superiores como inferiores só permanece como um todo enquanto tudo o que a constitui estiver sutilmente e com precisão ligado, equilibrado entre si e com as condições ambientes."(36)

A matéria viva, porém, tem uma estrutura incomparavelmente mais complexa do que um corpo morto. Sendo extremamente complexa por sua organização, a matéria viva está sempre e ininterruptamente trocando substâncias com o meio ambiente. Nesse ininterrupto processo de assimilação e desassimilação, o inanimado transforma-se em animado e vice-versa.

Nessas relações entre o organismo e o meio para manter a existência e garantir a regularidade do metabolismo, não bastam as propriedades mecânicas, químicas, ópticas, acústicas, térmicas, etc., de reflexo morto, como se fosse em espelho, das influências externas. C necessária a capacidade de, na relação biológica com o meio ambiente, selecionar o que se pode e o que se não pode apropriar, ingerir e assimilar, o com que se pode e o com que se não pode entrar em contacto. Assim, no próprio processo da formação do metabolismo, na transição da albumina inanimada à albumina viva, da química à bioquímica, as propriedades de reflexo simples (mecânicas, térmicas, acústicas, ópticas, etc.,) transformam-se em fenômenos de irritabilidade biológica. Ou, mais precisamente, esta surge na base dos primeiros. E partindo da irritabilidade, à medida que se desenvolvem e se tornam mais complexas as formas biológicas, surgem e se consolidam todas as outras propriedades mais elevadas de reflexo da realidade: a sensação, a percepção, a representação, etc.

Ressaltando a base natural, material, das reações nervosas superiores do animal, I. P. Pávlov escreve:

''Que essa reação seja extremamente complexa em comparação com a reação do animal inferior e infinitamente complexa em comparação com a reação de qualquer objeto morto, a essência da questão continua a mesma.”(37)

I. M. Sétchenov expressou de maneira bastante profunda o pensamento de que são materiais as causas do surgimento e do desenvolvimento das propriedades da irritabilidade, da sensação, etc., nos corpos vivos. Analisando os estágios principais do desenvolvimento progressivo das formas de sensibilidade dos tecidos vivos, a partir das manifestações mais elementares da propriedade da irritabilidade, ainda uniformemente distribuída por todo o corpo, até a diferenciação dos órgãos especiais dos sentidos (olfato, visão, audição, etc.), I. M. Sétchenov afirma:

"O meio em que o animal existe é, aqui também, o fator que determina a organização. Havendo uma sensibilidade corporal uniformemente distribuída, e estando excluída a possibilidade de deslocamento do animal no espaço, a vida se mantém somente sob a condição de que o animal se ache diretamente cercado pelo meio capaz de manter sua existência. O ambiente da vida é nesse caso, necessariamente, muito exíguo. Ao contrário, quanto mais elevada é a organização sensível por meio da qual o animal se orienta no tempo e no espaço, tanto mais ampla é a esfera dos fenômenos vitais possíveis, tanto mais diverso é o próprio meio que atua sobre a organização e tanto mais variados os modos de adaptação possíveis. Daí já se conclui claramente que, na prolongada cadeia da evolução dos organismos, a maior complexidade tanto da organização como do ambiente que sobre ela atua são fatores que se condicionam reciprocamente. E fácil compreender isso, se se considerar a vida como uma harmonia entre as necessidades vitais e as condições do meio: quanto maiores as necessidades, isto é, quanto mais elevada é a organização, tanto maior e a exigência em relação ao meio para que essas necessidades sejam satisfeitas.”(38)

Desenvolvendo e aprofundando os pensamentos de I. M. Sétchenov aqui citados, I. P. Pávlov revela o mecanismo concreto do desenvolvimento progressivo da atividade nervosa, o mecanismo da formação da psique dos animais, cada vez mais complexa até os macacos superiores. Esse mecanismo é a transformação dos reflexos condicionados em incondicionados.

I. P. Pávlov demonstrou que, além das reações de reflexão constantes (inatas) do organismo, que têm suas raízes na irritabilidade do protoplasma, os animais dotados de um sistema nervoso mais complexo são capazes de, em ligação com o processo bioquímico de troca de substâncias, formar reflexos temporários provocados pelo contacto direto do corpo vivo com o estimulante. O organismo equivale a uma membrana extremamente delicada que capta e fixa as menores modificações no ambiente que o cerca. Se um novo estimulante (um novo aroma, som, figura de um objeto, etc.) for indiferente para a manutenção das funções vitais, o animal rapidamente deixa de reagir em relação ao mesmo, por mais perceptível que o estimulante seja. Mas, se esse novo estimulante for o sinal de que se aproxima o alimento, o perigo, etc., o organismo rapidamente elabora uma ação reversa automática, estereotipada, o reflexo. Esses novos reflexos, elaborados no processo da vida individual do animal, asseguram ao organismo uma adaptação cada vez mais sutil e diferenciada em relação ao ambiente, aumentam a amplitude da atividade vital do animal.

I. P. Pávlov indica a seguir que, com a conservação da ligação direta de determinado sinal com as necessidades vitais do organismo durante uma prolongada série de gerações, o reflexo temporário, condicionado, elaborado pelo organismo, é capaz de gradualmente consolidar-se, a tal ponto que será transmitido por herança, isto é, de individual passa a geral para determinada espécie animal, de condicionado transforma-se em incondicionado.

O grande fisiólogo russo escreve:

"Pode-se admitir que certos reflexos condicionados, recentemente firmados, se transformam posteriormente, graças à hereditariedade, em reflexos incondicionados."(39)

I. P. Pávlov afirma em outro trabalho:

"É mais do que provável (e para isso já possuímos determinadas indicações baseadas em fatos) que os novos reflexos que surgem, com a manutenção das mesmas condições de vida durante uma série de gerações sucessivas, ininterruptamente se transformam em permanentes. Isso seria, assim, um dos mecanismos atuantes do desenvolvimento do organismo animal."(40)

Realmente, o próprio fato de que, com a prolongação dos exercícios e de outros fatores auxiliares, os reflexos condicionados elaborados em condições de laboratório se tornem cada vez mais sólidos, comprova a possibilidade de sua consolidação progressiva e cada vez mais profunda, que pode, em última instância, passar a ligação incondicionada.

A transformação dos reflexos condicionados em incondicionados amplia a base para a formação de novos e novos reflexos condicionados, que só podem surgir sobre as reações nervosas incondicionadas, enquanto a ampliação e o aprofundamento desse processo por meio da atividade nervosa do animal provoca o crescimento quantitativo e o aumento da complexidade qualitativa do tecido nervoso, do cérebro.

A seleção natural, atuando implacavelmente sobre todas as fases da vida dos indivíduos e das espécies, provoca e orienta esse processo de aumento de complexidade da atividade nervosa dos animais.

Revelando as bases fisiológicas da complexidade progressiva da atividade nervosa superior, I. P. Pávlov elabora ao mesmo tempo a interpretação materialista do mecanismo constitutivo dos instintos cada vez mais complexos dos animais, expulsando o idealismo também desse seu refúgio.

I. P. Pávlov afirma que

"não há nenhum caráter essencial que distinga os reflexos dos instintos. Há, sobretudo, uma grande quantidade de transições absolutamente imperceptíveis dos reflexos comuns em instintos."(41)

Comparando, uma a uma, as características dos instintos e dos reflexos, I. P. Pávlov indica que os reflexos podem ser tão complexos e constituir uma cadeia tão consecutiva de ações do animal quanto os instintos, e podem, da mesma maneira que os instintos, ser provocados por excitações que partem de dentro do organismo e abranger inteiramente a atividade vital do mesmo. Pávlov afirma:

"Assim, tanto os reflexos como os instintos são reações regulares do organismo em relação a determinados agentes, e por isso não bá necessidade de indicá-los por palavras diferentes. Tem primazia a palavra ‘reflexo' porque a ela se empresta, desde o inicio, um sentido estritamente cientifico.”(42)

A concepção materialista de I. P. Pávlov sobre a conduta instintiva dos animais e suas descobertas no domínio da concepção das causas materiais do desenvolvimento dos instintos dos animais, desde os inferiores aos superiores, permitem compreender o processo de formação das premissas biológicas básicas para o surgimento da consciência humana.

★ ★ ★

Seria um profundo erro conceber a origem da consciência humana como um processo de simples aperfeiçoamento dos instintos animais. A consciência humana é qualitativamente diferente da consciência do animal, surge e se desenvolve sobre uma base qualitativamente nova, o trabalho humano, a produção social. Por isso, somente as ciências naturais (a fisiologia, a biologia em geral) não podem resolver cientificamente o problema da origem e do desenvolvimento do pensamento.

Para tanto, o materialismo histórico, a ciência da história da sociedade, da história da língua e outras ciências sociais devem vir em auxílio das ciências naturais.

Os clássicos do marxismo demonstraram que o trabalho criou o homem e que somente graças ao trabalho se verificou a humanização de uma espécie altamente desenvolvida de macacos que outrora viveram na Terra.

Engels escreve em seu artigo O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem:

"O trabalho, dizem os economistas, e a fonte de toda riqueza. Efetivamente o é (...) ao lado da natureza que lhe fornece a matéria que transforma em riqueza. Todavia, é infinitamente mais do que isso. É a condição fundamental primeira de toda a vida humana, é a tal ponto que, em certo sentido, devemos dizer: o trabalho criou o próprio homem.”(43)

À luz das descobertas de I. P. Pávlov, é fácil conceber os meios concretos que deram origem às premissas biológicas para o surgimento do trabalho e, de maneira correspondente, às premissas para a transformação da consciência instintiva do macaco em pensamento lógico do homem.

Engels observa que nos animais superiores há em embrião, em germe, todos os tipos de atividade mental.(44) E, realmente, podem ser citados muitos exemplos de conduta bastante inteligente de animais; por exemplo, do cão, da raposa, do urso, do castor e especialmente dos macacos antropoides. Isso, evidentemente, não quer dizer que seja necessário colocar um sinal de igualdade entre a "consciência” do animal e a consciência do homem. Trata-se apenas das premissas biológicas gerais do pensamento: trata-se de que a consciência dó homem é um produto natural e histórico do desenvolvimento do cérebro, desenvolvimento que começou ainda no reino animal.

A consciência do homem é uma propriedade qualitativamente nova em comparação com o reflexo do mundo exterior no cérebro do animal. Deixando de lado o pensamento abstrato e lógico, que só o homem possuí, as próprias sensações, percepções e representações são essencialmente diferentes no homem e nos animais, porque são representações, percepções e sensações inteligentes.

Esse novo salto no desenvolvimento do cérebro verificou-se graças ao trabalho. O trabalho criou o homem e foi também o trabalho que fez surgir a consciência humana.

O macaco que antecedeu ao homem tinha uma vida instintiva e a princípio só ocasionalmente se vália de uma vara, de uma pedra ou de um osso, como instrumento, na forma em que lhe eram fornecidos pela própria natureza. Os macacos superiores e também alguns outros animais até hoje às veies empregam a pedra ou a vara como instrumento. Passaram-se muitas centenas de milhares e, talvez, de milhões de anos antes que a utilização casual do instrumento se transformasse, de acordo com as leis da "transformação dos reflexos condicionados em incondicionados, em hábito regular de determinada espécie de macacos, tornando-se instinto de trabalho, transmitido hereditariamente de geração a geração.

Ainda não se tratava, porém, de trabalho. Era o instinto. Marx distingue nitidamente a atividade de trabalho realmente humana e as "primeiras formas instintivas de trabalho peculiares dos animais",(45) porque nessas formas ainda não se tinha consciência do instinto e o "trabalho” do macaco pouco se distinguia da conduta instintiva do pássaro ou da fera que constroem ninhos ou covis.

Por conseguinte, a princípio o trabalho tinha um caráter instintivo, subordinando-se às leis da formação e do desenvolvimento de reflexos puramente animais, condicionados e incondicionados, cuja origem é materialisticamente explicada pela doutrina de I. P. Pávlov.

Logo, porém, que toda a vida posterior dessa determinada espécie de macaco começou a basear-se cada vez mais na atividade instintiva de trabalho, nas formas do trabalho instintivo, pouco a pouco, refletindo-se no cérebro bilhões e bilhões de vezes, essa ligação indireta, através do instrumento de trabalho, do organismo com a natureza ambiente, começou a consolidar-se na consciência por meio de determinadas figuras já próprias do pensamento lógico.

Depois de, durante milhões de anos, ligar-se instintivamente com o instrumento de trabalho, o macaco que antecedeu ao homem já não estava em condições de prescindir do instrumento e consegui-lo tornou-se para ele uma necessidade equivalente à; conquista de alimento. Podemos avaliar que novas relações entre o organismo e o meio deviam refletir-se no cérebro, já que a satisfação da necessidade direta de alimento era doravante precedida por uma "preocupação” preliminar, pelas ações para conseguir (procura, elaboração, conservação) esses objetos que por si mesmos não são diretamente consumidos.

Graças ao trabalho, a consciência passou a distinguir novas e novas conexões entre os fenômenos, até então ocultas. Essas conexões se refletiam e se fixavam no cérebro sob a forma de determinados conceitos e categorias que constituíam estágios na distinção do geral e regular em meio ao aparente caos de fenômenos isolados.

V. I. Lênin observa:

"O homem em diante de si uma rede de fenômenos da natureza. O homem instintivo, o selvagem, não e distingue da natureza. O homem consciente o faz e as categorias são estágio dessa distinção, isto é, estágio do conhecimento do mundo, pontos nodais na cadeia, que ajudam a conhecera e dominá-la."(46)

A consciência tem seu começo na transformação do instinto do animal em pensamento. Os fundadores do marxismo afirmam:

"Esse começo tem um caráter tão animal como a própria vida social nessa fase; e uma consciência puramente gregária, e o homem só se distingue então do carneiro pelo fato de que nele a consciência substitui o instinto, ou, então, seu instinto torna-se consciente."(47)

As experiências de I P. Pávlov e de seus discípulos com os macacos revelam todo o absurdo e o reacionarismo das considerações dos partidários da psicologia idealista da gestalt na Europa e na América, que, desde Kant, afirmam o caráter "não desmembrável” da "autoconsciência” do cão, do gato ou do macaco e a "independência" da capacidade intelectual dos animais em relação à sua atividade nervosa refletora.

Generalizando as observações experimentais realizadas com macacos, I. P. Pávlov demonstra que justamente as ações do macaco em determinado ambiente, seus choques reais com os objetos que o cercam, provocam em seu cérebro as representações correspondentes e a associação dessas representações que o ajudam a orientar-se na situação e a adaptar-se a ela.

É precisamente a ação — afirma I. P. Pávlov — que faz nascer a associação no cérebro do animal, e não ao contrário. I. P. Pávlov critica implacavelmente os "argumentos” idealistas dos psicólogos dualistas, dos positivistas, dos kantistas do gênero de Kioler, Koffka, Yerkes, Sherrington e outros, que consideram que a "consciência" dos animais nasce e se desenvolve independentemente dos movimentos, do desenvolvimento do organismo. Atendo-se, de maneira consequente, ao princípio do determinismo no domínio da ciência da psique, Pávlov estabelece as bases materiais, fisiológicas, da origem e do desenvolvimento da consciência.

I. P. Pávlov afirmava a seus discípulos:

"O macaco possui associações que vão atê as interações com os objetos mecânicos da natureza (...); se formos indagar o porquê do êxito do macaco em comparação com outros animais, por que se acha mais próximo do homem, verificaremos que é justamente porque possui mãos, atê mesmo quatro mãos, isto é, mais do que nós. Graças a isso, tem a possibilidade de entrar em relações muito complexas com os objetos que o cercam. E por isso que nele se forma uma massa de associações que os restantes animais não possuem. De acordo com isso, uma vez que essas associações motoras devem ter seu substrato material no sistema nervoso, no cérebro, então os grandes hemisférios do macaco se desenvolveram mais do que o de outros animais, sendo que se desenvolveram justamente em conexão com a diversidade das funções motoras.”(48)

Juntamente com o trabalho e tendo-se formado sua base, a língua, a palavra articulada, como envoltura material do pensamento, representou imenso papel no processo de surgimento e desenvolvimento da consciência humana, no processo de sua separação do mundo das representações instintivas do animal.

Engels afirma:

"A princípio o trabalho; depois dele, e ao mesmo tempo que ele, a linguagem: tais são os dois estimulantes essenciais sob a influência dos quais o cérebro de um macaco se transformou gradualmente em cérebro humano, que, apesar de todas as semelhanças, supera de muito o do macaco quanto ao tamanho e à perfeição."(49)

Desbaratando as concepções anticientíficas e idealistas dos partidários da teoria de Marr, J. V. Stálin afirma:

"A linguagem fonética é, na história da humanidade, uma das forças que ajudaram os homens a se distinguir do mundo animal, a se reunir em sociedades, a desenvolver sua faculdade de pensar, a organizar a produção social, a travar com êxito a luta contra as forças da natureza e a alcançar o progresso a que chegamos hoje."(50)

Os animais, que se contentam apenas com aquilo que a natureza lhes fornece já preparado, têm sua adaptação biológica ao meio ambiente limitada pelo fato de que o cérebro só reflete os fenômenos ambientes em sua relação estreita e direta com o organismo. Para isso, bastam os reflexos incondicionados e a atividade condicional refletora do cérebro. Já para o homem, cuja vida se baseia no trabalho, na produção social, não basta que o cérebro reflita as relações diretas entre o organismo e os corpos da natureza. Para a realização da produção material é necessário, além disso, o reflexo no cérebro de todas as relações possíveis, diretas, e indiretas, entre os próprios corpos e fenômenos da natureza.

Para sua comunicação entre si, basta aos animais os sons que emitem, Para o homem, no entanto, à medida que se ampliam e se aprofundam seus vínculos com a natureza e com ,os próprios homens, já não bastam os sons que o macaco é capaz de pronunciar. No processo do trabalho, da comunicação no trabalho, os macacos antropoides eram forçados a modular cada vez mais esses sons, para expressar com eles novas e novas propriedades e relações entre as coisas que os cercavam.

Engels afirma:

"A necessidade criou o órgão de que necessitava: a laringe rudimentar do macaco transformou-se, lenta mas seguramente, por meio da modulação, para se adaptar a uma modulação cada vez mais desenvolvida, e os órgãos da boca gradualmente aprenderam a pronunciar um som articulado após outro.”.(51)

Uma reviravolta radical ha ampliação e no aprofundamento das interações entre o organismo- e o meio, graças ao aparecimento do trabalho, exigiu do cérebro a passagem a um grau qualitativamente novo de análise e de síntese, ao grau do pensamento lógico, ligado à palavra, à sinalização através da palavra, ao conceito:

A doutrina de I. P. Pávlov, que se atém consequentemente aos princípios materialistas na análise dos fenômenos psíquicos, permite descobrir e compreender as novas leis fisiológicas que se formam no cérebro, no processo de passagem para o reflexo da realidade através da sinalização pela palavra, pela palavra articulada.

O grande fisiólogo afirma:

"No mundo animal em desenvolvimento, verificou-se, na fase do homem, um aumento extraordinário dos mecanismos da atividade nervosa. Nos animais, a realidade e percebida quase exclusivamente por meio de excitações e suas impressões nos grandes hemisférios, as quais chegam diretamente a células, especiais dos receptores ópticos, auditivos e outros do organismo: é o que corresponde em nós às impressões, sensações e representações do meio exterior, tanto da natureza em geral, como da Sociedade, com exceção da palavra, falada e escrita. E o primeiro sistema de sinalização da realidade, comum a nós e aos animais. A palavra, porém, constitui o segundo sistema de sinalização da realidade, especificamente nosso, o sinal dos primeiros sinais (. . .) Não há dúvida porém, .de que as leis básicas, estabelecidas no trabalho do primeiro sistema de sinais, devem também governar o segundo, porque é um trabalho do mesmo tecido nervoso ”(52)

Assim, três graus principais, três estágios básicos, marcam a história do desenvolvimento dos fenômenos psíquicos, no desenvolvimento da capacidade de a matéria viva refletir a realidade. Já nos primeiros sintomas de irritabilidade da matéria viva, atua o sistema de reações refletoras incondicionadas, provocadas pela excitação exterior. É extremamente exíguo o limite da "observação” nesse estágio, quando o organismo só é capaz de reagir adequadamente sob a influência direta de um agente vitalmente importante, e não é capaz de adaptar o aparelho refletor à situação que se modifica. O segundo estágio, que é a superestrutura erigida sobre os reflexos incondicionados, é o sistema da atividade nervosa condicional-refletora. Ampliando bruscamente o horizonte da observação, esse sistema permitiu ao organismo reagir adequadamente em relação a uma quantidade infinita de novos excitantes, apenas indiretamente ligados às necessidades do organismo, mas que indicam a aproximação de modificações no meio ambiente, importantes para ele. Finalmente, como produto superior do desenvolvimento da capacidade analítica do cérebro, forma-se o segundo sistema de sinalização — que reflete os fenômenos e as leis do meio ambiente através da palavra, através da palavra articulada.

Desenvolvendo esse pensamento, I. P. Pávlov escreve:

"No homem, é acrescentado, pode-se dizer, outro sistema de sinalização, especialmente em suas partes frontais, que não existem nos animais com as mesmas dimensões, a sinalização do sistema nervoso por meio da palavra, tendo por base ou como componente de base as irritações sinestésicas dos órgãos da palavra. Com isso, introduz-se um novo princípio da atividade nervosaa abstração e, ao mesmo tempo, a generalização dos inúmeros sinais do sistema precedente, por sua vez acompanhados da análise e da síntese desses novos sinais generalizadosprincípio que condiciona uma ilimitada orientação no meio ambiente.''(53)

Nesse novo estágio surgem possibilidades e capacidades realmente ilimitadas de o cérebro refletir a realidade. Ao contrário dos irritadores (sinais) do primeiro sistema de sinalização, cada palavra reflete todo um mundo de fenômenos e transmite o sinal correspondente. "Toda palavra (linguagem) já generaliza” (Lênin); cada palavra é a expressão generalizada de grupos e classes completas de objetos, de suas propriedades, de suas relações entre si e com o homem. Justamente através da palavra, forma-se o conceito, esse poderoso instrumento do pensamento.

Graças à palavra, o cérebro supera a limitada esfera da imagem refletida e sensível (que apenas reflete fenômenos isolados) e sai para o campo da análise de conexões cada vez mais profundas e complexas, de entrelaçamentos, de relações entre as coisas, penetrando na essência oculta das coisas. A palavra, a língua, é um poderoso meio de desenvolvimento da consciência humana. O camarada Stálin afirma:

"Quaisquer que sejam os pensamentos que surjam na cabeça do homem e qualquer que seja o momento em que surjam, só podem surgir e existir na base do material da língua, na base dos termos e frases da língua. Não existem pensamentos nus, livres do material da língua, livres da ‘matéria natural' da língua. 'A língua é a realidade imediata do pensamento' (Marx). A realidade do pensamento manifesta-se na língua. Só os idealistas podem falar de um pensamento desligado da ‘matéria natural' da língua, do pensamento sem língua."(54)

O papel da palavra, da língua, na história do desenvolvimento do pensamento, é análogo ao papel dos instrumentos de trabalho na história do desenvolvimento da produção material. Do mesmo modo que, através do sistema de instrumentos de trabalho, se consolidam e são transmitidas de geração a geração as conquistas da atividade dos homens no trabalho, graças ao que a produção social progride inexoravelmente, também nas palavras, na língua e através dela, se acumulam e são transmitidos de geração a geração os êxitos cognitivos do pensamento.

O camarada Stálin escreve:

“Diretamente ligada ao pensamento, a língua registra e fixa em palavras e em combinações de palavras, em frases, os resultados do trabalho do pensamento, os êxitos do trabalho cognitivo do homem e torna assim possível a troca de pensamentos na sociedade humana.''(55)

Esses são os estágios básicos da origem e da formação da consciência como propriedade da matéria altamente organizada, estabelecida pela moderna ciência de vanguarda, que não deixa pedra sobre pedra das ficções idealistas, que têm suas raízes nas incipientes ideias do selvagem. As potencialidades contidas no próprio fundamento da matéria''(a propriedade do reflexo) dão origem, com o surgimento' da matéria viva, à irritabilidade biológica, inicialmente ainda uniformemente distribuída ; por todo o corpo dos organismos inferiores. Com o progresso das formas biológicas surgem faculdades cada vez mais diferenciadas de sensação, de representação, até que, com a passagem do macaco ao Homem- surge a consciência humana, que, em seu desenvolvimento, "se apoia no trabalho e na palavra articulada.

O Ser Social e a Consciência Social

A filosofia é a ciência das leis fundamentais, universais, do desenvolvimento, não só da natureza, mas também da sociedade. Por isso, o problema principal e fundamental da filosofia, a relação entre o pensamento, e o ser, é também e necessariamente a questão principal; para a compreensão da essência dos fenômenos sociais, manifestando-se aqui no campo das relações recíprocas entre a consciência social e o ser social. Além disso, se na interpretação das leis básicas, do desenvolvimento da natureza, a história, da ciência registrou no passado muitas é brilhantes teorias materialistas, que atacavam cm audácia o idealismo e a religião, já no domínio da interpretação das bases do desenvolvimento Social, o idealismo campeava livremente na ciência pré-marxista. Até mesmo Os pensadores materialistas mais avançados do passado adotavam posições idealistas nos problemas da sociologia, considerando a consciência social com o primário e o ser social como secundário.

É verdade que, antes de Marx e Engels, os sábios de vanguarda (filósofos, historiadores, economistas) fizeram conjecturas isoladas que se orientavam pela concepção materialista da História; foi o caso dos historiadores franceses da época da Restauração (Quizot, Minnier, Thierry), dos economistas ingleses (A. Smith e D. Ricardo) dos russos Hertzen, Bielinski, Ogáriov e especialmente de Tchernitchévski, Dobrolíubov e Pissárev.

Assim, N. G. Tchernitchévski escreve que

"o desenvolvimento intelectual, do mesmo modo que o político e qualquer outro, depende das circunstâncias da vida econômica"

e que, na História, sempre,

"o progresso é impulsionado pelos êxitos da ciência que são condicionados fundamentalmente pelo desenvolvimento da vida de trabalho e dos meios de existência material.”(56)

Continuando a orientação de Tchernitchévski, D. I. Pissárev declara que

"a fonte de toda a nossa riqueza, a base de toda a nossa civilização e o motor real da história universal estão, evidentemente, no trabalho físico do homem, na ação direta e imediata do homem sobre a natureza."(57)

Pissárev afirma que a força decisiva da História

''sempre e em toda parte, residia e continua a residir, principalmente, nas condições econômicas gerais de existência das massas populares e não em unidades, em círculos ou obras literárias.”(58)

Mas nada disso passava de conjeturas geniais. A concepção geral das forças motrizes da História, pelos grandes materialistas russos — ideólogos da democracia revolucionária do século XIX — ainda era também idealista, porque também, segundo seu ponto de vista, o progresso intelectual determina o desenvolvimento de todos os demais aspectos da vida social, inclusive da economia. O fato marcante de que na sociedade, ao contrário do que acontece com as forças espontâneas e cegas da natureza, atuem pessoas dotadas de consciência, dê que todo procedimento do homem seja intelectivo, passa pela cabeça, embotava nos sábios a possibilidade de descobrir as condições materiais de vida da sociedade, que são primárias, decisivas e independentes da consciência humana.

Por isso, logo que os materialistas do passado passavam à interpretação dos fenômenos sociais, sempre rolavam para as posições do idealismo, afirmando que "a opinião governa o mundo”. Acompanhando essa fórmula dos enciclopedistas franceses do século XVIII, os socialistas utópicos (Saint-Simon, Fourier, Owen, etc.) esperavam, por isso, que a simples propaganda das ideias socialistas — e além disso, dirigida principalmente às camadas educadas, possuidoras, da sociedade — conseguiria abolir a exploração e a opressão do homem pelo homem, e levar ao socialismo. A inconsistência desses sonhos idealistas foi demonstrada pela própria História.

É preciso dizer que o próprio caráter da produção social, da economia, nas formações pré-capitalistas (o atraso patriarcal, a rotina, o fracionamento feudal, etc.), a própria estrutura da sociedade daquelas épocas históricas — com suas relações de casta extremamente confusas — dissimulavam as bases reais da vida social. Somente o capitalismo, ligando (através do mercado, através da divisão social e técnica do trabalho) todos os setores da produção num todo único e simplificando extremamente as relações antagônicas de classe, revelou essas bases reais, materiais, da vida da sociedade, permitindo aos ideólogos do proletariado, a Marx e Engels, transformar em ciência a teoria da sociedade.

Somente partindo das posições da classe operária foi possível compreender as leis objetivas da História. Os sábios anteriores a Marx fechavam os olhos às leis reais da vida social em virtude de suas limitações de classe. Somente com o aparecimento do marxismo surgiu, pela primeira vez na história do pensamento, uma acabada doutrina materialista da sociedade — o materialismo histórico. Engels afirma no Anti-Dühring:

"Com isso o idealismo foi expulso de seu último refúgio, a concepção da História; impunha-se uma concepção materialista da História: foi encontrado o caminho para explicar a consciência dos homens por sua maneira de viver, ao invés de explicar, como se jazia antes, sua maneira de viver por sua consciência.”(59)

Referindo-se, mais tarde, à essência da revolução realizada por Marx nas concepções sobre a História, Engels afirmou em discurso à beira da sepultura de Marx:

"Da mesma forma que Darwin descobriu a lei do desenvolvimento do mundo orgânico, Marx descobriu a lei do desenvolvimento da história humana; descobriu o fato simples, até agora oculto pelo crescimento impetuoso da ideologia, de que a humanidade precisa primeiramente comer, beber, ter moradia e vestir-se, antes de poder entregar-se à política, à ciência, à arte, à religião, etc.; e de que, portanto, a produção dos meios diretamente necessários à subsistência e, consequentemente, o grau de desenvolvimento econômico alcançado por um povo ou durante determinada época, formam a base sobre a qual se desenvolveram as instituições estatais, as concepções jurídicas, a arte e, até mesmo, as ideias religiosas do povo em questão, à luz da qual essas coisas devem por isso ser explicadas, e não ao contrário, como se tem feito até hoje."(60)

Em oposição a todas as teorias pré-marxistas e antimarxistas, sem excetuar as que são idealistas, o materialismo histórico estabelece o caráter primário do ser social e secundário da consciência social. Marx afirma:

"O modo de produção da vida material condiciona os processos de vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência dos homens que determina seu ser; ao contrário, seu ser social determina sua consciência."(61)

Tal é a férrea lógica do materialismo filosófico marxista, que, de maneira consequente e acabada, — desde os fenômenos da natureza até às manifestações superiores da vida social — considera a consciência como produto do desenvolvimento do ser material, como reflexo do ser material.

Com o surgimento e desenvolvimento da concepção materialista marxista da História, as teorias idealistas da sociedade não deixaram de existir. Os representantes da burguesia pregam até hoje, de diferentes maneiras, várias concepções idealistas sobre a sociedade, desde as "doutrinas” francamente clericais até as que são dissimuladas por uma fraseologia pseudo-socialista. De maneira idêntica às teorias dos apologistas da burguesia imperialista, as teorias dos socialistas de direita — ao contrário dos erros sinceros dos velhos utopistas — também visam, precisamente, a enganar, de maneira proposital e consciente, a classe operária e defender os privilégios da burguesia monopolista em relação à pressão revolucionária das massas. Os ideólogos e políticos socialistas de direita são inimigos jurados da classe operária, do mesmo modo que os progromistas fascistas, para os quais eles sempre abrem o caminho do poder e com os quais constantemente se unem contra os verdadeiros porta-vozes dos interesses dos trabalhadores.

Em nossa época, os sociólogos idealistas não podem negar abertamente o imenso papel do fator econômico — da indústria, do progresso industrial, etc. — na vida da sociedade, no ascenso e declínio dos Estados. Procurando apresentar como verdade uma mentira bastante conhecida, eles limitam seus esforços a demonstrar que o próprio progresso técnico, econômico, é determinado, em última instância, pela consciência, uma vez que, afirmam, a própria técnica, a economia, é criada pelos homens, movidos pela consciência do objetivo, do interesse. Os idealistas não podem absolutamente compreender que nem todas as relações que se formam na sociedade passam preliminarmente pela consciência dos homens e que as relações sociais decisivas — as relações de produção — se formam além dos limites da consciência e são impostas aos homens com a força coercitiva das leis da natureza.

V. I. Lênin afirma:

"Em todas as formações sociais mais ou menos complexas, e principalmente na formação social capitalista, os homens, quando entram em relação uns com os outros, não têm consciência das relações sociais que se estabelecem entre eles, das leis que presidem ao desenvolvimento das mesmas, etc. Exemplo: o camponês que vende seu trigo entra em ‘relaçãocom os produtores mundiais de trigo no mercado universal, mas sem ter consciência disso, sem ter consciência d"as relações que se estabelecem em consequência da troca. A consciência social reflete a existência social, eis o pensamento de Marx.”(62)

No capitalismo, por exemplo, as sucessivas gerações de proletários precisam vender sua força de trabalho aos capitalistas, precisam trabalhar para os capitalistas, porque, de outra forma, a morte pela fome os espera. E pouco importa que tenham ou não consciência de sua situação objetiva no sistema total das relações de produção capitalista, porque, enquanto os instrumentos e outros meios de produção não forem tomados dos exploradores e transformados em propriedade socialista, os proletários serão forçados a vender sua força de trabalho aos exploradores. Essa é a base econômica, material, da vida na sociedade capitalista, base que independe da consciência dos homens e que determina todos os demais aspectos da vida nessa sociedade. O materialismo histórico considera que as condições da vida material da sociedade, independentes da consciência dos homens, são as seguintes: a natureza ambiente, o meio geográfico, o crescimento e a densidade da população, isto é, a existência e a reprodução das gerações dos próprios homens que constituem a sociedade e, finalmente, como elemento principal e determinante, o modo de produção social, que encarna a unidade entre as forças produtivas e as relações de produção na sociedade.

O meio geográfico e a reprodução biológica das gerações são condições materiais que só são plenamente suficientes para o desenvolvimento biológico. As leis do desenvolvimento dos animais e das formas vegetais, as leis da seleção natural, se formam precisamente graças à ação recíproca das seguintes condições: a influência do meio sobre os organismos e o grau de fecundidade de determinada espécie (fecundidade essa que se forma num prolongado processo de adaptação dos organismos ao meio).

No caso do homem, porém, não bastam as condições puramente animais de desenvolvimento, porque os homens não se limitam a adaptar-se à natureza ambiente; eles próprios adaptam a natureza às suas necessidades, produzindo, por meio dos instrumentos de produção, tudo o que é necessário à vida: alimento, vestuário, combustível, iluminação e até mesmo o oxigênio para a respiração, onde ele não existe. É por isso que justamente o modo de produção dos bens materiais é a condição principal e decisiva para a vida material da sociedade. E por isso que o grau de influência de determinado meio geográfico sobre a sociedade e as leis que regem a população nas diversas formações econômico-sociais diferem em consonância com as diferenças no modo de produção. Além disso, é justamente o modo de produção que determina outros aspectos da vida — as concepções sobre o Estado e as concepções jurídicas, políticas, filosóficas, religiosas e estéticas dos homens.

Marx afirma:

"Na produção social de sua existência, os homens contraem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a determinado estágio de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social."(63)

Desmascarando a inconsistência das teorias idealistas sobre a sociedade, defendendo e desenvolvendo a concepção materialista dos fenômenos sociais, V. I. Lênin afirma:

"Até agora os sociólogos tinham dificuldade em distinguir, na complexa rede dos fenômenos sociais, os que eram importantes dos que não o eram (esta a raiz do subjetivismo na sociologia); não podiam encontrar um critério objetivo para essa distinção. O materialismo forneceu um critério perfeitamente objetivo destacando as ‘relações de produção’ como estrutura da sociedade e oferecendo a possibilidade de aplicar a essas relações o critério científico geral da repetição, cuja aplicação à sociologia os subjetivistas negavam. Enquanto se limitaram às relações sociais ideológicas (isto é, relações que, antes de se constituírem, passam pela consciência dos homens), não puderam descobrir a repetição e a regularidade nos fenômenos sociais dos diferentes países, e sua ciência não passou, no melhor dos casos, de uma descrição desses fenômenos, de uma coletânea de materiais brutos. A análise das relações sociais materiais (isto é, daquelas que se formam sem passar pela consciência dos homens: trocando produtos, os homens estabelecem relações de produção sem mesmo terem consciência de que ai há uma relação social de produção), a análise das relações sociais materiais permitiu imediatamente verificar a repetição e a regularidade, e generalizar os regimes de diferentes países, chegando-se a uma concepção fundamental: a formação social.”(64)

Assim como em toda a natureza, também na vida da sociedade o materialismo filosófico marxista descobre na base material, a regularidade dos fenômenos.

É imensa a significação prática dessas teses científicas inamovíveis do materialismo filosófico marxista, do materialismo histórico, para a classe operária, para o Partido Comunista. Elas fornecem uma firme base teórica para a estratégia e a tática da luta revolucionária pelo socialismo e comunismo.

O camarada Stálin afirma que se a natureza, o ser, o mundo material, é o primário, e a consciência, o pensamento, o secundário, o derivado; se o mundo material é uma realidade objetiva, que existe independentemente da consciência dos homens, e a consciência, um reflexo dessa realidade objetiva, daí se conclui que a vida material da sociedade, o ser social, também é o primário, enquanto sua vida espiritual é o secundário, o derivado; daí se conclui que a vida material da sociedade é uma realidade objetiva que existe independentemente da vontade dos homens, enquanto a vida espiritual da sociedade é o reflexo dessa realidade objetiva, o reflexo do ser.

"Conforme seja o ser da sociedade, as condições da vida material da sociedade, assim são suas ideias, teorias, concepções políticas e instituições políticas."(65)

Em sua atividade revolucionária, o Partido bolchevique se orienta consequentemente por essas teses teóricas. Organizando e levando a classe operária e, juntamente com ela, todo o povo trabalhador à luta contra o capitalismo, pelo socialismo e pelo comunismo, o Partido de Lênin e Stálin parte antes de tudo da necessidade de que seja modificada a base material da sociedade. Somente modificando a infraestrutura material, econômica, da sociedade, pode-se modificar também toda a superestrutura que sobre ela se ergue — as concepções sociais, políticas e outras e as instituições que lhe correspondem.

Todas as fases de desenvolvimento da URSS no período que se seguiu à Revolução de Outubro revelam a ligação orgânica da política do Partido bolchevique e do poder soviético com as teses fundamentais da filosofia marxista sobre o caráter primário do ser e secundário da consciência. O poder soviético promoveu a expropriação dos latifundiários e capitalistas, realizando inflexivelmente uma política de fortalecimento da economia socialista, de industrialização do país, e de aumento do peso específico da classe operária; posteriormente realizou a liquidação dos culaques como última classe exploradora e transformou milhões de explorações camponesas baseadas na pequena propriedade em grande produção colcosiana socialista.

Assim, passo a passo, formou-se e consolidou-se na URSS a infraestrutura material, econômica, do socialismo, sobre a qual se ergueu e se consolidou a superestrutura socialista, constituída pela consciência social socialista e pelas instituições políticas, jurídicas e culturais soviéticas, que correspondem a essa consciência e que organizam as massas para continuar a luta pelo comunismo.

Tomando posteriormente o caminho da passagem gradual do socialismo ao comunismo, o Partido bolchevique, seguindo a indicação do camarada Stálin, novamente colocou como tarefa principal a solução da tarefa econômica básica da URSS, isto é, a tarefa de alcançar e ultrapassar os principais países capitalistas na produção industrial por habitante.

J. V. Stálin afirma:

"Podemos e devemos fazê-lo. Somente se conseguirmos ultrapassar economicamente os principais países capitalistas, podemos esperar que nosso pais esteja inteiramente provido de artigos de consumo, teremos abundância de produtos e poderemos passar da primeira fase do comunismo à sua segunda fase.”(66)

O plano quinquenal de após-guerra de restauração e desenvolvimento da economia nacional da URSS, sua realização e superação, o histórico plano de transformação da natureza na zona árida, a epopeia das grandes obras do comunismo no Volga e no Dniéper, no Don e no Amu-Dariá, demonstram a realização prática do programa stalinista de formação acelerada das premissas materiais para a passagem do socialismo ao comunismo.

Essa é a ligação da tese filosófica inicial do marxismo-leninismo sobre o caráter primário do ser e secundário da consciência com a política, a estratégia e a tática da luta pelo comunismo.

Durante os últimos 35 anos os socialistas de direita "também” por mais de uma vez chegaram ao poder em vários países europeus. Três vezes os trabalhistas ingleses tomaram as rédeas da administração do Estado; os social-democratas alemães governaram a Alemanha durante muitos anos; os socialistas da França, da Áustria e dos países escandinavos muitas vezes formaram governo. Dissimulando-se, porém, com a cortina de fumaça das teorias idealistas e limitando-se, para efeito externo, a algumas modificações administrativas ou culturais de cúpula, nunca e em parte alguma tocaram nas bases materiais, econômicas, do capitalismo. Em virtude disso, seus "governos” nunca foram mais do que uma ponte para a chegada ao poder de partidos fascistas e outros partidos das centúrias-negras.

Somente os Partidos Comunistas e Operários, que fielmente se orientam pela teoria marxista-leninista, baseiam sua atividade na necessidade de modificações radicais, principalmente na base 'material da sociedade. A tomada do poder é necessária à classe operária justamente para que esta, utilizando o poderoso instrumento que representa um poder estatal ilimitado, possa derrocar, abolir as relações de produção capitalistas, que constituem a infraestrutura do capitalismo, e em seu lugar consolidar as relações socialistas de cooperação e ajuda mútua entre pessoas livres da exploração, que constituem a infra-estrutura do socialismo.

Da tese do materialismo marxista sobre o caráter primário do ser social e secundário da consciência social não se segue de forma alguma que se deva subestimar o papel e a significação das ideias no desenvolvimento da sociedade, subestimação que caracteriza o materialismo vulgar, o chamado "materialismo econômico” (Bernstein, Kautski, P. Struve e outros). Engels desmascarou esse gênero de rebaixamento do marxismo já nas fontes do oportunismo, nos partidos da II Internacional. Em várias cartas (a J. Bloch, F. Mehring, C. Schmidt e a outros), Engels afirma que a concepção materialista marxista da História nada tem de comum com o fatalismo econômico.

Engels escreve que,

"de acordo com a concepção materialista da História, o elemento determinante na História e, e m última instância, a produção e a reprodução da vida real. Marx e eu nunca afirmamos mais do que isso (...)”.

"A situação econômica é a base, mas os diferentes elementos da superestruturaas formas políticas da luta de classes e suas consequências, as constituições estabelecidas pela classe vencedora após uma batalha bem sucedida, etc., as formas jurídicas e até mesmo o reflexo de todas essas lutas reais no cérebro dos combatentes: as teorias políticas, jurídicas, filosóficas, as concepções religiosas e seu desenvolvimento posterior em sistema de dogmatambém influenciam o curso das lutas históricas e, em muitos casos, preponderam na determinação de sua forma. Há uma interação de todos esses elementos, interação na qual, em meio à massa infinita de acidentes (...) o movimento econômico termina por se afirmar como necessário. Não fosse assim, a aplicação da teoria a qualquer período histórico que se escolhesse seria mais fácil do que resolver uma simples equação do primeiro grau."(67)

Alinhando-se entre os oportunistas da Europa Ocidental, os inimigos do marxismo na Rússia — os chamados "marxistas legais”, os "economistas”, os mencheviques e, a seguir, os restauradores de direita do capitalismo — também interpretavam o desenvolvimento histórico como simples crescimento espontâneo das "forças produtivas”, reduzindo a nada o papel da consciência socialista e o grau de organização do proletariado, o papel da teoria, do partido político da classe operária e de seus chefes, negando em geral a importância do fator subjetivo no desenvolvimento social. Essas concepções pseudomaterialistas não são menos anticientíficas e reacionárias do que as loucas elucubrações subjetivas e idealistas. Isso porque, se estas levam ao aventurismo em política, as concepções que negam o papel do fator subjetivo na História condenam a classe operária à passividade e à resignação.

Em todas as fases da luta revolucionária, V. I. Lênin e J. V. Stálin lutaram implacavelmente contra esse gênero de teorias reacionárias no movimento operário russo e internacional. V. I. Lênin afirma:

"Sem teoria revolucionária, não pode haver movimento revolucionário.”(68)

O camarada Stálin afirma:

"A teoria é a experiência do movimento operário de todos os países, considerado em seu aspecto geral. Naturalmente, a teoria deixa de ter objetivo quando não se liga a prática revolucionária, exatamente do mesmo modo que a prática é cega, se a teoria revolucionária não ilumina seu caminho. Mas a teoria pode converter-se numa formidável força do movimento operário, se é elaborada em ligação indissolúvel com a prática revolucionária, porque ela, e somente ela, pode dar ao movimento segurança, capacidade para orientar-se e a compreensão dos vínculos internos entre os acontecimentos que nos cercam; porque ela, e somente ela, pode ajudar a prática a compreender não só como e para onde se movem as classes no presente, mas também como e para onde devem mover-se no futuro próximo."(69)

Assim, explicando a origem, o surgimento das ideias, das teorias e das concepções, como resultado do desenvolvimento do ser social, o materialismo marxista não só não nega a sua significação no desenvolvimento social, mas também, pelo contrário, ressalta de todas as formas seu papel e sua significação na História. As teorias e as concepções sempre desempenham papel ativo e freiam ou aceleram o desenvolvimento histórico, conforme sejam reacionárias ou revolucionárias as classes cujos interesses elas refletem e defendem. Por isso, as forças progressistas da sociedade sempre tem por tarefa revelar e desmascarar continuamente a essência das concepções reacionárias e assim abrir caminho para que as teorias e concepções avançadas que desenvolvem a atividade revolucionária das mansas e que as organizam para a abolição dos regimes caducos e a consolidação da nova ordem social conquistem o cérebro e o coração de milhões.

O camarada Stálin afirma:

"As novas ideias e teorias sociais somente surgem depois que o desenvolvimento da vida material da sociedade coloca perante a sociedade novas tarefas. Alas, depois de surgirem, tornam-se uma força importante que facilita a execução das novas tarefas colocadas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade e que facilita o progresso da sociedade. E precisamente então que se manifesta a grandiosa importância organizadora, mobilizadora e transformadora das novas ideias, das novas teorias, das novas concepções políticas e das novas instituições políticas. Por isso, as novas ideias e teorias sociais surgem a rigor porque são necessárias à sociedade, porque sem sua ação organizadora, mobilizadora e transformadora é impossível dar solução às tarefas já maduras do desenvolvimento da vida material da sociedade. E como surgem na base das novas tarefas colocadas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, as novas ideias e teorias sociais abrem caminho, tornam-se patrimônio das massas populares, que elas mobilizam e organizam contra as forças caducas da sociedade, facilitando, assim, a derrubada dessas forças obsoletas da sociedade que freiam o desenvolvimento da vida material da sociedade.

Eis como as ideias e teorias sociais, as instituições políticas, que surgem na base das tarefas já maduras do desenvolvimento da vida material da sociedade, do desenvolvimento do ser saciai, atuam depois, por sua vez, sobre o ser social, sobre a vida material da sociedade, criando as condições necessárias para levar a termo a realização das tarefas já maduras da vida material da sociedade e tornar possível seu desenvolvimento posterior."(70)

A teoria — afirmou Marx — se torna uma força material, quando penetra nas massas.

A história do movimento operário na Rússia, a experiência mundial e histórica do bolchevismo e a história da construção do socialismo e do comunismo na URSS revelam na realidade a inesgotável importância dessas teses do materialismo marxista para a prática da luta revolucionária.

Lênin e os leninistas não esperaram que o progresso gradual do capitalismo expulsasse definitivamente o feudalismo da vida russa, que o movimento operário espontâneo se elevasse, "por si mesmo”, ao nível da consciência socialista, e, desbaratando os "marxistas legais” e os "economistas”, criaram o partido político independente da classe operária, — o partido marxista de novo tipo — desenvolveram com audácia o trabalho de organização e de agitação, introduzindo a consciência socialista na classe operária e fundindo, através do Partido, o movimento operário de massas com a teoria do socialismo científico.

Lênin, Stálin e os bolcheviques não esperaram que a chamada burguesia liberal terminasse a transformação política e econômica da Rússia no sentido burguês, depois do que ao proletariado se abririam, "por si mesmas", as perspectivas diretas para a revolução socialista. Não. Combatendo os princípios seguidistas dos mencheviques, os bolcheviques, chefiados por Lênin e Stálin, orientaram-se no sentido de que precisamente o proletariado chefiasse a revolução popular russa, democrático-burguesa, orientando-se no sentido da transformação da revolução democrático-burguesa em socialista.

A classe operária russa, esclarecida e organizada, educada e temperada no espírito do papel hegemônico da atividade revolucionária leninista-stalinista, de seu papel dirigente das grandes forças do povo na luta revolucionária, derrubou o jugo do capitalismo, construiu o socialismo numa sexta parte do globo terrestre, enquanto os socialistas de direita da Europa Ocidental — agentes venais de Wall Street no movimento operário — continuam a exortar os operários a esperarem que o capitalismo "por si mesmo”, "pacificamente”, se transforme em socialismo.

Às melancólicas lamentações dos mencheviques acerca de que "a Rússia ainda não atingira o nível de desenvolvimento das forças produtivas com o qual é possível o socialismo”, de que a Rússia precisava ser alfabetizada, "civilizada”, para que pudesse conquistar o socialismo, Lênin responde:

"Dizeis que para a criação do socialismo é necessária a civilização. Muito hem. Por que não podemos, então, em primeiro lugar, criar as premissas da civilização em nosso país, com a expulsão dos latifundiários e dos capitalistas russos, e depois então começar o movimento para o socialismo?''(71)

Por que não utilizar, para um desenvolvimento, consideravelmente mais acelerado do que no capitalismo, das forças produtivas do país, uma força tão poderosa como o Estado proletário, a administração planificada da economia nacional, a abolição das classes parasitárias, etc.?

Mal se passaram duas décadas depois da Grande Revolução Socialista de Outubro e já a URSS, cujo Estado é dirigido pelos bolcheviques, se transformava de país agrário e economicamente atrasado em poderosa potência industrial que, pelos ritmos do progresso industrial deixava muito atrás os países capitalistas mais desenvolvidos, passando a ocupar o primeiro lugar na Europa pelo volume global da produção industrial, tendo-se transformado num país inteiramente alfabetizado, no país da cultura mais avançada, no país do socialismo vitorioso, que tomou o caminho da transição gradual para a segunda fase do comunismo.

E, ao contrário, durante as mesmas décadas, a Alemanha, por exemplo, onde temporariamente vencera a princípio a ideologia reacionária dos socialistas de direita alemães, e depois os hitleristas, que foi outrora o país mais avançado e civilizado da Europa, caiu ao nível da barbárie fascista. E somente a derrota da Alemanha hitlerista pelo Exército Soviético abriu ao povo alemão o caminho para o renascimento social e cultural.

Em sua atividade, o Partido de Lênin e Stálin leva constantemente em conta a grande força motriz que é a consciência social avançada. Desenvolvendo uma gigantesca construção econômica, o Partido bolchevique simultaneamente amplia cada vez mais o dinâmico trabalho de superação das sobrevivências do capitalismo na consciência dos homens e de educação comunista das massas. Não é por acaso que uma das mais importantes funções do Estado do socialismo vitorioso, além da econômica e organizadora, seja a cultural e educativa realizada pelos órgãos do Estado. As resoluções tomadas no período de após-guerra pelo CC do PC (b) da URSS sobre as questões ideológicas; os debates realizados sobre as questões de filosofia, biologia, fisiologia, linguística e em outros setores do conhecimento; as diretrizes traçadas pelo camarada Stálin, seus trabalhos dedicados às questões de linguística e ao desenvolvimento de outras ciências — tudo isso comprova que, a par da criação da base material e técnica do comunismo, o Partido de Lênin e Stálin luta pela garantia das premissas espirituais para que a URSS passe à segunda fase do comunismo.

Essa é a significação metodológica, para a prática da luta revolucionária, das teses do materialismo marxista sobre o caráter primário do ser social e secundário da consciência social e, ao mesmo tempo, sobre o ativo papel organizador, mobilizador e transformador das ideias sociais avançadas. Essa é a integridade monolítica e lógica do materialismo filosófico marxista, que afirma o caráter primário da matéria e secundário da consciência.


Notas de rodapé:

(1) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, E.P.E., 1952. pág. 15. (retornar ao texto)

(2) Ibid., pág. 16. (retornar ao texto)

(3) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 321. (retornar ao texto)

(4) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 542; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 47. (retornar ao texto)

(5) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XIV, pág. 255. (retornar ao texto)

(6) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed russa, 1947, pág. 308. (retornar ao texto)

(7) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed russa, 1947, pág. 330. (retornar ao texto)

(8) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, E.P.E., 1952. pág. 54. (retornar ao texto)

(9) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, E.P.E., 1952. pág. 56. (retornar ao texto)

(10) Até mesmo G. V. Plekhânov rendia tributo a esse ponto de vista. (retornar ao texto)

(11) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. I, pág. 313; ver ed. bras.. Ed. Vitória. Rio, 1952. pág. 283. (retornar ao texto)

(12) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. I, pág. 317; ver ed. bras.. Ed. Vitória. Rio, 1952. pág. 287. (retornar ao texto)

(13) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa. 1952, págs. 18-19. (retornar ao texto)

(14) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XIV, págs. 134-135. (retornar ao texto)

(15) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed russa, 1947, pág. 88. (retornar ao texto)

(16) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, págs. 77-78. (retornar ao texto)

(17) V. I. Vernádski — Ensaios Sobre Geoquímica, Editora do Estado, Moscou- Leningrado, 1927, pág. 41. (retornar ao texto)

(18) Pode-se afirmar, por exemplo, que os solos em que não há um microelemento como o cobre, não podem ser usados para o cultivo de gramíneas; o solo que não contém boro não serve para o cultivo de beterraba, etc. (retornar ao texto)

(19) K. A. Timiriázev — Obras Escolhidas, ed. russa, Moscou, 1948, t. II, pág. 341, 340. (retornar ao texto)

(20) T. D. Lissenko — Agrobiologia. 4.ª ed. russa, 1948, págs. 459-460. (retornar ao texto)

(21) K. A. Timiriázev — Obras Escolhidas, ed. russa, Moscou, 1948, t. II, pág. 334. (retornar ao texto)

(22) Ibid., pág. 371. (retornar ao texto)

(23) T. D. Lissenko — Agrobiologia. 4.ª ed. russa, 1948, pág. 463. (retornar ao texto)

(24) A ciência dispõe de dados suficientemente autênticos sobre a vida em Marte. Os sábios soviéticos criaram um novo Setor das ciências naturais, a astrobotânica, que estuda a flora de Marte. Com insistência cada vez maior aumentam as suposições de que também em Vênus existe vida. (retornar ao texto)

(25) O. B. Lepechínskaia — A Célula, Sua Vida e Origem. Moscou, 1950, pág. 26. (retornar ao texto)

(26) Ibid., pág. 46. (retornar ao texto)

(27) Questões de Filosofia, nº 2, págs. 81-82. (retornar ao texto)

(28) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XIV, pág. 34. (retornar ao texto)

(29) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, págs. 181.(retornar ao texto)

(30) Ibid., pág. 183. (retornar ao texto)

(31) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, pág. 48.(retornar ao texto)

(32) Pravda de 18 de agosto de 1935. (retornar ao texto)

(33) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, 1951, t. IV, pág. 22. (retornar ao texto)

(34) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XIV, pág. 34. (retornar ao texto)

(35) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 78. (retornar ao texto)

(36) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, págs. 135-136. (retornar ao texto)

(37) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, 1951, t. III, liv. 1, pág. 65. (retornar ao texto)

(38) I. M. Sétchenov — Obras Escolhidas de Filosofia e Psicologia, ed. russa, E.P.E., 1947, págs. 414-415. (retornar ao texto)

(39) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, 1951, t. III, liv. 1, pág. 273. (retornar ao texto)

(40) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, pág. 196. (retornar ao texto)

(41) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, 1951, t. IV, pág. 24. (retornar ao texto)

(42) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, 1951, t. IV, pág. 26. (retornar ao texto)

(43) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa. 1952, pág. 132. (retornar ao texto)

(44) Ibid., págs. 140 e 176. (retornar ao texto)

(45) K. Marx — O Capital, ed. russa, 1951, t. I, pág. 185. (retornar ao texto)

(46) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed russa, 1947, pág. 67. (retornar ao texto)

(47) K. Marx e F. Engels — OBRAS, ed. russa. 1938, t.IV, pág. 21. (retornar ao texto)

(48) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, pág. 492. (retornar ao texto)

(49) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa. 1952, pág. 135. (retornar ao texto)

(50) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, pág. 46; ver revista Problemas, no 35, pág». 51. (retornar ao texto)

(51) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa. 1952, pág. 134. (retornar ao texto)

(52) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, pág. 234. (retornar ao texto)

(53) I. P. Pávlov — Obras Escolhidas, ed. russa, 1951, pág. 472. (retornar ao texto)

(54) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, pág. 39; ver revista Problemas, no 35, pág». 47. (retornar ao texto)

(55) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, pág. 22; ver revista Problemas, no 35, pág». 46-47. (retornar ao texto)

(56) Notas de N. G. Tchernitchévski à tradução da Introdução à História do Século XIX, de Cervinus; ver N. G. Tchernitchévski — Coletânea de Artigos, Documentos e Memórias, Moscou, 1928, págs. 29-30. (retornar ao texto)

(57) D. I. Pissárev — Obras Completas, 5ª ed. russa, 1910, t. IV, pág. 586. (retornar ao texto)

(58) Id., 1912, t. I, pág. 171. (retornar ao texto)

(59) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 26. (retornar ao texto)

(60) K. Marx e F. Engels — Obras Escolhidas, ed. russa, 1948, t. II, pág. 157. (retornar ao texto)

(61) Id., t. I, pág. 322. (retornar ao texto)

(62) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XIV, pág. 309. (retornar ao texto)

(63) K. Marx e F. Engels — Obras Escolhidas, ed. russa, 1948, t. I, pág. 322. (retornar ao texto)

(64) V. I. LêninOBRAS. 4.ª ed. russa, t. I, págs. 122-123; ver Obras Escolhidas, Ed. Vitória, Rio, 1955, t. I, pág. 113 (retornar ao texto)

(65) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 545; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 48. (retornar ao texto)

(66) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, págs. 578-579. (retornar ao texto)

(67) K. Marx e F. Engels — Obras Escolhidas, ed. russa, 1948, t. II, págs. 467-468. (retornar ao texto)

(68) V. I. LêninOBRAS. 4.ª ed. russa, t. V, pág. 341. (retornar ao texto)

(69) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. VI, págs. 88-89. (retornar ao texto)

(70) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 546-547; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 49. (retornar ao texto)

(71) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XXXIII, pág. 439. (retornar ao texto)

Inclusão 08/04/2015